VIROSES : HEPATITE
HEPATITES VIRAIS
INTRODUÇÃO
O termo hepatite é utilizado para designar uma inflamação do fígado que pode ser decorrente de causas diversas, como infecções virais, doenças autoimunes e toxicidade por drogas. Esta inflamação é caracterizada por um aumento nos níveis séricos das transaminases (AST e ALT), que são enzimas produzidas pelas células hepáticas, as quais acabam sendo liberadas em maior quantidade quando estas estão sendo agredidas.
Vários medicamentos utilizados na prática clínica podem produzir, como efeito adverso, uma hepatite, que pode variar de quadros leves, sem repercussão clínica, a quadros graves, com prejuízo da função hepática, podendo, em casos extremos, levar à necessidade de transplante hepático.
Entretanto, o mais comum é um aumento discreto nos níveis das transaminases que, se não pesquisado, passaria totalmente despercebido, com retorno aos níveis normais destas enzimas após a suspensão do uso do medicamento implicado.
As doenças autoimunes são caracterizadas por uma reação do sistema de defesa contra o próprio organismo, e o fígado pode ser o alvo desta reação, levando a graus variados de hepatite que, se não tratada, pode levar ao comprometimento da função hepática.
As infecções virais também podem provocar hepatite. Alguns vírus, como os vírus das hepatites A, B e C, apresentam tropismo principalmente pelo fígado e o resultado das infecções por estes vírus leva ao desenvolvimento de hepatite como manifestação principal de doença.
Outros vírus, como os vírus do sarampo e da mononucleose infecciosa (Epstein-Bar), por exemplo, apresentam doenças caracterizadas por outros sintomas, mas em sua evolução encontramos um quadro de hepatite associado, geralmente de grau leve ou moderado.
As infecções pelos vírus das hepatites A, B e C serão discutidas a seguir, sendo enfatizados os aspectos clínicos, epidemiológicos, o prognóstico e as formas de prevenção para cada uma destas infecções.
HEPATITE D
ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS
AGENTE ETIOLÓGICO - É o vírus da hepatite C é constituído por ácido ribonucléico (RNA),
provavelmente pertencente à família Flaviridae e mais próximo do vírus do gênero
Pestivirus.
RESERVATÓRIO - O homem. Experimentalmente, o chimpanzé.
MODO DE TRANSMISSÃO - Transfusional, principalmente em usuários de drogas endovenosas e
usuários de hemodiálise. As transmissões sexual e de mãe-filho são menos frequentes.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO - De 2 semanas a 5 meses (média de 5 a 10 semanas). A transmissão transfusional
encurta esse período.
PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE - Inicia-se 1 semana antes do início dos sintomas da doença aguda. O
indivíduo pode se tornar portador crônico.
COMPLICAÇÕES
Ø Evolução para formas persistentes prolongadas.
Ø Forma fulminante com hemorragias.
Ø Septcemia.
ASPECTOS
CLÍNICOS
DESCRIÇÃO
Como as
demais hepatites virais, a Hepatite D pode se apresentar sob a forma ictérica
grave, como também ser assintomática.
Nos casos
sintomáticos, observa-se 4 períodos:
a)
corresponde à incubação do agente;
b)
caracteriza-se por mal-estar, cefaleia, febre baixa, anorexia, astenia, fadiga,
artralgia, náuseas, vômitos, dor abdominal e aversão a alguns alimentos e
fumaça de cigarro, que dura, em média, 7 dias;
c)
aparecimento de icterícia, que dura, em média, 4 a 6 semanas e surge quando a
febre desaparece, sendo precedida (24
a 48 horas) por colúria. As fezes ficam descoradas e
pode surgir hepato ou hepatoesplenomegalia. Os sintomas do período anterior vão
desaparecendo gradativamente;
d) é o
período de convalescença com sensação de bem-estar, desaparece a icterícia,
colúria, dor abdominal, fadiga e anorexia. Aparece o prurido cutâneo, em consequência
da icterícia. As infecções podem ser persistentes em até 90% dos casos, dos
quais, 60% evoluirão para hepatite crônica em 10 - 20 anos, e 40% para doenças
hepáticas, entre as quais a mais temida é o carcinoma hepatocelular.
Há relatos
da forma fulminante, mais são raros. Na maioria dos pacientes, a doença
progride lentamente: 20% evoluem para a cirrose em 10 anos, com aumento da
mortalidade após 20 anos de doença. O risco de cronicidade é de 85%, após a
infecção aguda pós-transfusional.
A forma
fulminante, embora rara, pode ser grave, com necrose maciça ou submaciça do
fígado, rapidamente progressiva (10
a 30 dias), com letalidade elevada (80%).
DIAGNÓSTICO
Ø Clínico
Ø Epidemiológico
Ø Laboratorial.
DIAGNÓSTICO
LABORATORIAL
Os exames
inespecíficos mais importantes são as dosagens de aminotransferases (transaminases);
ALT (alanina aminotransferase, antes chamada TGP), que, quando estiver 3 vezes
maior que o valor normal, sugere hepatite viral, podendo atingir até mais de
2.000UI/L. As bilirrubinas estão elevadas e o tempo de protombina pode estar
diminuído (indicador de gravidade).
Outros
exames podem estar alterados, como a glicemia e a albumina (baixas). Na
infecção persistente, o padrão ondulante dos níveis séricos das
aminotransferases, especialmente a ALT (TGP), diferentemente da hepatite B,
apresenta-se entre seus valores normais ou próximos a eles e valores altos. A
definição do agente é feita pelos marcadores sorológicos da hepatite C:
Anti-HCV (aparece 3 a
4 meses após a elevação das transaminases, ou 18 dias, dependendo dos testes
utilizados) e o RNA-HCV.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Com as
outras hepatites virais e tóxicas. Doenças hemolíticas e biliares.
TRATAMENTO
Apenas
sintomático.
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS
No Brasil, a
infecção ocorre, mas ainda não se conhece a sua distribuição e taxas de
prevalência – incidência. Sabe-se que predomina em adultos jovens e que a
suscetibilidade é geral.
VIGILÂNCIA
EPIDEMIOLÓGICA
Objetivos - Conhecer
a magnitude, tendência, distribuição por faixa etária e áreas geográficas.
Investigar situações com concentração de casos (pós-transfusão ou uso de
substâncias parenterais), para adoção de medidas de controle.
Notificação - Não está incluída como doença de notificação compulsória. Os casos
devem ser registrados para que se estabeleça a magnitude e se possa investigar
seu nexo com transfusões de sangue e uso de hemoderivados.
Definição
de caso:
a) Suspeito
sintomático: indivíduo com uma ou mais
manifestações clínicas agudas (febre, icterícia, mal-estar geral, fadiga,
anorexia, náuseas, vômitos, dor abdominal, fezes acólicas, colúria) e que
apresenta dosagens de transaminases maior ou igual a três vezes o valor normal.
b) Suspeito assintomático: indivíduo assintomático e sem história clínica sugestiva de hepatite
viral, que apresenta dosagem de transaminases elevadas, em qualquer valor.
c) Agudo confirmado: paciente que, na investigação sorológica, apresenta um ou mais
marcadores sorológicos para hepatite C positivos.
Contato:
v Parceiro sexual de paciente infectado;
v Pessoa que compartilha seringas e agulhas contaminadas;
v Indivíduo que manipula e ou fora acidentado com sangue ou material
biológico contaminado;
v Paciente submetido a procedimentos cirúrgicos ou odontológicos, que tenha
compartilhado instrumental contaminado;
v Receptor de sangue e/ou hemoderivados contaminados;
v Usuário de hemodiálise;
v Pessoa que convive no mesmo domicílio de um paciente diagnosticado.
Portador: indivíduo
que conserva o vírus da hepatite C por mais de 6 meses.
Pode ser
clinicamente sintomático ou assintomático, com transaminases “normais” ou
aumentadas.
Medidas
de Controle
Os
profissionais de saúde devem seguir as normas de biossegurança. Os portadores e
doentes devem ser orientados para evitar a disseminação do vírus, adotando
medidas simples, tais como: uso de preservativos nas relações sexuais, não doar
sangue, uso de seringas descartáveis evitando o compartilhamento; os serviços
de hemoterapia (hemocentros e Bancos de Sangue), de doenças sexualmente transmissíveis
e de saúde do trabalhador devem notificar os portadores por eles diagnosticados
e encaminhá-los ao serviço de Vigilância Epidemiológica municipal ou estadual,
para completar a investigação e receber assistência médica.
HEPATITE A
A hepatite A
é uma doença infecciosa aguda, causada pelo vírus da hepatite A, que produz
inflamação e necrose do fígado. A transmissão do vírus é fecal-oral, através da
ingestão de água e alimentos
contaminados ou diretamente de uma pessoa para outra. Uma pessoa infectada com
o vírus pode ou não desenvolver a doença. A hepatite A ocorre em todos os
países do mundo, inclusive nos mais desenvolvidos. É mais comum onde a infraestrutura
de saneamento básico é inadequada ou inexistente. A infecção confere imunidade
permanente contra a doença. Desde 1995, estão disponíveis vacinas seguras e
eficazes contra a hepatite A, embora ainda de custo elevado.
TRANSMISSÃO
O ser humano
é o único hospedeiro natural do vírus da hepatite A. A infecção pelo vírus da
hepatite A, produzindo ou não sintomas, determina imunidade permanente contra a
doença. A principal forma de transmissão do vírus é de uma pessoa para outra.
A
transmissão é comum entre crianças que ainda não tenham aprendido noções de
higiene, entre os que residem em mesmo domicílio, ou seja, parceiros sexuais de
pessoas infectadas. Dez dias depois de uma pessoa ser infectada, desenvolvendo
ou não as manifestações da doença, o vírus passa a ser eliminado nas fezes
durante cerca de três semanas.
O período de
maior risco de transmissão é de uma a duas semanas antes do aparecimento dos
sintomas. A transmissão pode ocorrer através da ingestão de água e
alimentos contaminados por pessoas infectadas, que não obedecem
normas de higiene, como a lavagem das mãos após uso de sanitários.
O consumo de
frutos do mar, como mariscos crus ou inadequadamente cozidos, está particularmente
associado com a transmissão, uma vez que esses organismos concentram o vírus
por filtrarem grandes volumes de água contaminada.
A
transmissão através de transfusões, uso compartilhado de seringas e agulhas
contaminadas é pouco comum, ao contrário das infecções pelo HIV e pelo vírus da
hepatite B.
RISCOS
A infecção
pelo vírus da hepatite A ocorre em todos os países do Mundo. O risco,
dependendo da infraestrutura de saneamento básico, varia de um país para outro
e, dentro do mesmo país, de uma região para outra. Nos países em
desenvolvimento, onde os investimentos em saneamento básico em geral não
constituem prioridade, a infecção é comum em crianças, e a maioria dos adultos
é, consequentemente, imune à doença.
Em países
desenvolvidos, a hepatite A ocorre episodicamente e, por esse motivo, grande
parte da população adulta é suscetível à infecção. Esse padrão tende a ser
semelhante nas classes socioeconomicamente mais privilegiadas dos países em
desenvolvimento, como o Brasil.
A Austrália,
o Canadá, a Escandinávia, a Nova Zelândia, o Japão e a maioria dos países da
Europa Ocidental, são áreas de risco relativamente baixo. Nos Estados Unidos,
considerado de risco intermediário, estima-se que a cada ano ocorram cerca 200
mil casos da infecção. Cerca de um terço da população americana tem evidência
sorológica de ter sido infectada pelo vírus da hepatite A em alguma época da
vida.
O Brasil tem
risco elevado para a aquisição de hepatite A, em razão de condições deficientes
ou inexistentes de saneamento básico, nas quais é obrigada a viver grande parte
da população, inclusive nos grandes centros urbanos. A hepatite A, contudo, não
faz parte da Lista
Nacional de Doenças de Notificação Compulsória.
Os dados
oficiais disponíveis, portanto, são escassos e incompletos e, provavelmente,
refletem apenas a disponibilidade de recursos para confirmação diagnóstica,
variável em cada Estado e em cada município. Em geral, os casos de hepatite A
são notificados apenas quando são detectados eventuais surtos da doença. Em
1997 o Ministério da Saúde registrou 808 casos de hepatite A, a maioria na
Região Sul (510 casos).
Na Região
Sudeste foram registrados 44 casos, todos no Estado do Rio de Janeiro. Esses
dados são obviamente incompletos. Em 1997, apenas o município do Rio de Janeiro
computava um total de 57 casos de hepatite A, número que passou a 321 em 1999, a maioria entre
pessoas com menos de 15 anos. Foram ainda notificados 6556 casos de hepatite de
causa não determinada.
Desses, uma
parcela significativa foi provavelmente causada pelo vírus da hepatite A. Mesmo
nos Estados mais desenvolvidos são detectadas epidemias como a ocorrida em
Valença (RJ) em 1993, com 1069 casos.
Os estudos
de prevalência no Brasil na população, através de exames sorológicos,
demonstram uma redução dos índices. A prevalência está em torno de 65%,
enquanto chega a 81% no México e a 89% na República Dominicana. Os índices de
infecção pelo vírus da hepatite A estão relacionados à idade e às condições socioeconômicas
das populações.
No Brasil,
chegam a 95% nas populações mais pobres e a 20% nas populações de classe média
e alta. A diferença é mais acentuada entre crianças e adolescentes. Nas pessoas
com mais de 40 anos de idade, a prevalência da infecção quase sempre é superior
a 90%, refletindo as condições de risco existentes na infância.
Embora o
risco de infecção pelo vírus da hepatite A, seja alto em todas as Regiões do
país, pode-se presumir que, de modo semelhante às outras doenças de transmissão
fecal-oral (hepatite E,
cólera),
as áreas menos desenvolvidas apresentem risco ainda mais elevado.
Também,
podem ser consideradas de risco elevado a periferia dos grandes centros urbanos
e municípios onde a infraestrutura de saneamento básico (água e esgotos
tratados) seja inexistente ou inadequada.
MEDIDAS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL
A hepatite A
pode ser evitada através das medidas de prevenção contra doenças transmitidas
por água e
alimentos, da vacinação e, em algumas situações, da utilização de
imunoglobulina intramuscular. As medidas de
proteção contra doenças transmitidas por contaminação de água e
alimentos, incluem a utilização de água clorada ou fervida e o
consumo de alimentos cozidos, preparados na hora do consumo.
Deve-se
lavar criteriosamente as mãos com água e sabão antes das refeições e evitar o
consumo de bebidas e qualquer tipo de alimento adquiridos com vendedores
ambulantes.
Desde 1995,
foram licenciadas duas diferentes vacinas contra a hepatite A, ambas produzidas
a partir do vírus inativado, com imunogenicidade e eficácia semelhante.
Um mês após
a primeira dose, as vacinas produzem mais de 95% de soro conversão (imunidade)
em adultos, que chega a 97% em adolescentes e crianças acima de dois anos. As
vacinas estão liberadas para aplicação a partir dos dois anos de idade, uma vez
que a eficácia e segurança abaixo dessa faixa etária ainda não foram
adequadamente avaliadas.
Os efeitos
adversos geralmente são discretos, podendo ocorrer dor, vermelhidão e edema no
local da aplicação em 20%-50% das pessoas. A aplicação é intramuscular, feita
em duas doses com intervalo de seis meses entre cada uma.
Recomenda-se
aos viajantes que recebam a primeira dose da vacina contra a hepatite A no
mínimo 30 dias antes da partida. A vacina está indicada para pessoas que sejam suscetíveis
(não imunes), presumida ou comprovadamente.
As
indicações prioritárias são para as crianças com mais de dois anos, pessoas que
trabalham com crianças (como educadores de creches), portadores de doença
hepática crônica (risco de maior evolução para a forma grave), pessoas com
risco elevado (usuários de drogas injetáveis, homossexuais), idosos e viajantes
que se dirigem para áreas com risco alto de transmissão.
Os dados
disponíveis sugerem que a imunidade conferida pela vacina seja superior a dez
anos. A realização sistemática de testes para verificar uma possível infecção
anterior pelo vírus da hepatite A é desnecessária, mas em algumas
circunstâncias pode ser vantajosa.
A
imunoglobulina é capaz de evitar a infecção em 85% das pessoas, quando
utilizada em até duas semanas após a exposição ao vírus da hepatite A. Está
indicada em contactantes não imunes de pessoas com hepatite A e viajantes que
não possam receber a vacina, incluindo os menores de dois anos, ou que não
tenham recebido a primeira dose pelo menos 15 dias antes da partida para áreas
de risco elevado.
MANIFESTAÇÕES
A infecção
pelo vírus da hepatite A pode ou não resultar em doença. Em cerca de 70% das
crianças com menos de seis anos de idade, a infecção não produz qualquer sintoma.
A infecção, causando ou não sintomas, produz imunidade permanente contra a
doença.
As
manifestações, quando surgem, podem ocorrer de 15 a 50 dias (30, em média)
após o contato com o vírus da hepatite A (período de incubação). O início é
súbito, em geral com febre baixa, fadiga, mal estar, perda do apetite, sensação
de desconforto no abdome, náuseas e vômitos.
É comum a
aversão acentuada à fumaça de cigarros. Pode ocorrer diarreia, mais comum em
crianças (60%) do que em adultos (20%). Após alguns dias, pode surgir icterícia
(olhos amarelados) em cerca de 25% das crianças e 60% dos adultos. As fezes
podem então ficar amarelo-esbranquiçadas (como massa de vidraceiro) e a urina
de cor castanho-avermelhada.
Em geral
quando a pessoa fica ictérica, a febre desaparece, há diminuição dos sintomas e
o risco de transmissão do vírus torna-se mínimo. Em crianças, a icterícia
desaparece em 8 a
11 dias, e nos adultos em 2 a
4 semanas.
A evolução
da doença em geral não ultrapassa dois meses. Em cerca de 15% das pessoas, as
manifestações podem persistir de forma discreta por até seis meses, com
eventual reaparecimento dos sintomas. A recuperação é completa, o vírus é
totalmente eliminado do organismo.
Não há
desenvolvimento de doença hepática crônica ou estado de portador. A letalidade
da hepatite A, considerando-se todos os casos é cerca de 0,3%. Em adultos a
evolução grave é mais comum, e o número de óbitos pode chegar a 2% em pessoas
com mais de 40 anos.
A
confirmação do diagnóstico de hepatite A não tem importância para tratamento da
pessoa doente. No entanto, é fundamental para a diferenciação com outros tipos
de hepatite e para a adoção de medidas que reduzam o risco de transmissão entre
os contactantes.
É importante
ainda que seja feita a notificação do caso ao Centro
Municipal de Saúde mais próximo, para que possam ser adotadas
medidas que diminuam o risco de disseminação da doença para a população. A
confirmação é feita através de exames sorológicos.
O método
mais utilizado é o ELISA, com pesquisa de anticorpos IgM contra o vírus da
hepatite A no sangue, que indicam infecção recente. Esses anticorpos geralmente
podem ser detectados a partir do quinto dia do início dos sintomas.
A hepatite A
não tem tratamento específico. As medidas terapêuticas visam reduzir o incômodo
dos sintomas. No período inicial da doença pode ser indicado repouso relativo,
e a volta às atividades deve ser gradual. As bebidas alcoólicas devem ser
abolidas. Os alimentos podem ser ingeridos de acordo com o apetite e a
aceitação da pessoa, não havendo necessidade de dietas.
HEPATITE B
|
||
CONCEITO
Infecção das células hepáticas pelo HBV
(Hepatitis B Virus) que se exterioriza por um espectro de síndromes que vão
desde a infecção inaparente e subclínica até a rapidamente progressiva e
fatal.
Os sintomas são falta de apetite, febre, náuseas, vômitos, astenia, diarreia dores articulares, icterícia (amarelamento da pele e mucosas) entre
os mais comuns.
SINÔNIMOS
Hepatite sérica.
AGENTE
HBV (Hepatitis B Virus), que é um vírus DNA (hepadnavirus)
COMPLICAÇÕES/CONSEQUÊNCIAS
Hepatite crônica, Cirrose hepática, Câncer do fígado (Hepatocarcinoma),
além de formas agudas severas com coma hepático e óbito.
TRANSMISSÃO
Pelos seguintes líquidos corpóreos : sangue e líquidos grosseiramente
contaminados por
sangue, sêmem e secreções vaginais e, menos comumente, a saliva.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO
30 à 180 dias (em média 75 dias).
TRATAMENTO
Não há medicamento para combater diretamente o agente da doença,
trata-se apenas os sintomas e as complicações.
PREVENÇÃO
Vacina, obtida por engenharia genética, com grande eficácia no
desenvolvimento de níveis protetores de anticorpos (3 doses). Recomenda-se os
mesmo cuidados descritos na prevenção da AIDS, ou seja, sexo seguro e
cuidados com a manipulação do sangue.
| ||
HEPATITE C
Por se tratar
de um artigo da maior importância quanto ao manejo da Hepatite C aguda, o que
pode refletir nas medidas de profilaxia pós-exposição de acidentes com
patógenos sanguíneos, optamos por uma análise mais profunda do artigo, ao invés
de um simples resumo. (...)
ASPECTOS GERAIS
Mais de 180
milhões de pessoas no mundo são portadores crônicos do vírus da hepatite C.
A quantidade
de partículas virais por mililitro de sangue que é de varia entre 101 a 106. O risco de
transmissão do vírus ocorre em exposições percutâneas ou mucosas envolvendo
sangue ou qualquer outro material biológico contendo sangue. O risco estimado
após exposições percutâneas é de 1,8
a 3%.
Não existe
nenhuma medida específica eficaz para redução do risco de transmissão após
exposição ocupacional ao vírus da hepatite C. Os estudos não comprovaram nenhum
benefício profilático com o uso de gamaglobulina ou do interferon
pós-exposição. A única medida eficaz para eliminação do risco de infecção pelo
vírus da hepatite C é por meio da prevenção da ocorrência do acidente.
Apesar de
não haver nenhuma medida específica para a prevenção da contaminação pelo vírus
da hepatite C, é importante que sempre sejam realizadas a investigação do
paciente-fonte e o acompanhamento sorológico do profissional de saúde para se
comprovar uma doença ocupacional caso haja a contaminação do profissional.
Em
exposições com paciente-fonte infectado pelo vírus da hepatite C e naquelas com
fonte desconhecida, está recomendado o acompanhamento do profissional de saúde
com realização de dosagem de transaminase glutâmico-pirúvica (TGP) no momento,
6 semanas e 6 meses após o acidente e o acompanhamento sorológico (anti-HCV por
técnica imunoenzimática) 6 meses após o acidente.
A pesquisa
de RNA viral por técnicas de biologia molecular permite o diagnóstico precoce
de soro conversão e deve ser realizada nas primeiras 2 a 6 semanas após a exposição.
Resultados promissores parecem ser encontrados com o tratamento de casos agudos
de infecção.
HEPATITE E
A hepatite E
é uma doença infecciosa aguda, causada pelo vírus da hepatite E, que produz
inflamação e necrose do fígado. A transmissão do vírus é fecal-oral, e ocorre
através da ingestão de água
(principalmente) e alimentos
contaminados. A transmissão direta de uma pessoa para outra é rara.
Uma pessoa
infectada com o vírus pode ou não desenvolver a doença. A infecção confere
imunidade permanente contra a doença. A hepatite E ocorre mais comumente em
países onde a infraestrutura de saneamento básico é deficiente e ainda não
existem vacinas disponíveis.
TRANSMISSÃO
O ser humano
parece ser o hospedeiro natural do vírus da hepatite E, embora haja
possibilidade de um reservatório animal (o vírus já foi isolado em porcos e
ratos) e seja possível a infecção experimental de macacos. A transmissão do
vírus ocorre principalmente através da ingestão de água
contaminada, o que o pode determinar a ocorrência de casos isolados
e epidemias. As epidemias em geral acometem mais adolescentes e adultos jovens
(entre 15 e 40 anos).
A
transmissão entre as pessoas que residem no mesmo domicílio é incomum. O
período de transmissibilidade ainda não está bem definido. Sabe-se que 30 dias
após uma pessoa ser infectada, desenvolvendo ou não as manifestações da doença,
o vírus passa a ser eliminado nas fezes por cerca de duas semanas.
RISCOS
A infecção
pelo vírus da hepatite E é mais comum em países em desenvolvimento, onde a infraestrutura
de saneamento básico é inadequada ou inexistente. As epidemias estão
relacionadas a contaminação da água, e ocorrem mais comumente após inundações.
A infecção por ingestão de alimentos contaminados, mesmo frutos do mar crus ou
mal cozidos, parece pouco comum. Existem registros de epidemias na Índia,
Paquistão, Rússia, China, África Central, Nordeste da África, Peru e México,
áreas onde o vírus E chega a ser responsável por 20% a 30% das hepatites virais
agudas.
Na Europa
Ocidental e nos Estados Unidos, menos que 2% da população tem evidência sorológica
de infecção pelo vírus E. Nesses lugares, os casos de hepatite E são
esporádicos e, em geral, ocorrem em viajantes que retornam de áreas endêmicas.
No Brasil
não existem relatos de epidemias causadas pelo vírus da hepatite E. Os dados
disponíveis são escassos e incompletos, embora demonstrem a ocorrência da
infecção. A infecção foi detectada em vários estados brasileiros, através de
métodos sorológicos. Na Bahia, em 1993, em 701 pessoas, detectou-se reatividade
para o vírus da hepatite E em 2% de doadores de sangue, em 25% de portadores de
hepatite A,
em 11,5% dos pacientes com hepatite B, 0% em hepatite aguda C e em 26% dos
pacientes com hepatite aguda não A, não B não C. E.
Em Mato
Grosso e São Paulo a reatividade para o vírus da hepatite E foi de 3,3% e 4,9%
respectivamente. Em 1996, no Rio de Janeiro, a ocorrência da infecção pelo
vírus da hepatite E foi demonstrada, em 17 (7,1%) de 238 pessoas, a maioria (16
de 17) em maiores de 12 anos.
MEDIDAS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL
A hepatite E
pode ser evitada através das medidas de prevenção contra doenças transmitidas
por água e
alimentos. Estas medidas incluem a utilização de água clorada ou
fervida e o consumo de alimentos cozidos, preparados na hora do consumo.
Deve-se
lavar cuidadosamente as mãos com água e sabão antes das refeições. O consumo de
bebidas e qualquer tipo de alimento adquiridos com vendedores
ambulantes deve ser evitado. Ainda não existem vacinas contra a
hepatite E, e nem estudos que comprovem a eficácia do uso profilático de
imunoglobulina.
MANIFESTAÇÕES
A infecção
pelo vírus da hepatite E pode ou não resultar em doença. As manifestações,
quando surgem, podem ocorrer de 15
a 60 dias (40, em média) após o contato com o vírus da
hepatite E (período de incubação). A evolução da doença em geral é benigna, com
icterícia, mal estar, perda do apetite, febre baixa, dor abdominal, náuseas,
vômitos e urina escura. Menos comumente podem surgir diarreia e dor nas
articulações. As grávidas, principalmente no último trimestre de gestação, têm
risco maior de evolução para hepatite fulminante, com alto índice de letalidade
(20%).
A
confirmação do diagnóstico de hepatite E não tem importância para tratamento da
pessoa doente, põem. é fundamental para a diferenciação com outros tipos de
hepatite. A confirmação é feita através de exames sorológicos. Os métodos mais
utilizados são o ELISA, imunofluorescência e PCR para detectar HEV RNA no soro
e fezes. A pesquisa de anticorpos IgM contra o vírus da hepatite E no sangue se
reativa, indica infecção recente. Esses anticorpos geralmente podem ser
detectados quatro semanas após exposição.
A hepatite E
não tem tratamento específico. As medidas terapêuticas visam reduzir a intensidade
dos sintomas. No período inicial da doença está indicado repouso relativo, e a
volta às atividades deve ser gradual. As bebidas alcoólicas devem ser abolidas.
Os alimentos
podem ser ingeridos de acordo com o apetite e a aceitação da pessoa, não
havendo necessidade de dietas. A recuperação é completa, e o vírus é totalmente
eliminado do organismo. Não há desenvolvimento de doença hepática crônica ou
estado de portador crônico do vírus.
FONTE
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde,
Departamento de Vigilância Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. GUIA DE BOLSO, 6ª
edição revista Série B. Textos Básicos de Saúde, brasília / DF, 2006
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