BACTERIOSES : COQUELUCHE
Popularmente conhecida como “ tosse comprida
”, a coqueluche é uma doença infecciosa aguda.
O
bacilo da coqueluche não ataca logo, quando penetra na árvore respiratória.
Fica uns 10 ou 15 dias incubado, sem que nenhum sintoma apareça.
A
irritação das mucosas provoca então os sintomas de uma gripe qualquer - Um
pouco de febre, corrimento nasal, olhos avermelhados e lacrimejantes. Tosse com
pouca intensidade, úmida e com catarro, é o período catarral.
Após
seis ou sete dias, aparecem finalmente os sintomas bem característicos, que
identificam sem dúvida a coqueluche. A tosse torna-se mais seca, insistente e
irritante. À noite surgem verdadeiras crises e a criança perde o sono, fica
irritada e abatida.
Após
umas duas semanas, começa o período ainda mais característico, que justifica o
nome popular de “Tosse Comprida”. Ocorrem acessos em que a tosse se prolonga e
se repete cinco, seis e até dez vezes consecutivas. A criança retém a
respiração e inspira profundamente, procura retomar o fôlego e se cansa com o
enorme esforço. A laringe estreita-se, no espasmo ao passar por ela, o ar
produz o ruído alto e estridente que a linguagem popular denominou “Tosse de
Cachorro” Durante os acessos, principalmente os mais violentos, a pele fica
arroxeada; a respiração difícil torna deficiente a oxigenação do sangue, a
criança no esforço põe a língua para fora, os olhos ficam vermelhos e
lacrimejantes. Os acessos de tosse aparecem com freqüência, intensidade e duração
variável de uma criança para outra.
O
período dos acessos de tosse, chamado convulsivos, dura muita semanas Em
crianças nervosas e emotivas, a tosse convulsiva pode pendurar por mais tempo,
com grande influência de fatores psicológicos.
AGENTE
ETIOLÓGICO:
Bordetella Pertussis ou Bacilo da coqueluche; é um bacilo GRIAM NEGATIVO, abróbio não imóvel e pequeno,
provido de Cápsula (formas patogênicas) e de fimbrias.
FONTE DE INFECÇÃO: O homem é o único reservatório da
natureza. As fontes de infecções são secreções dos brônquios e laringe de
indivíduos contaminados;
PERIODO DE INCUBAÇÃO: De 7
à 14 dias, podendo variar até 20 dias.
PERIODO DE
TRANSMISSIBILIDADE: Pode
ocorrer desde de uma semana após o contagio, até três semanas do aparecimento
do período paraxístico. Tem alta transmissibilidade no período catarral.
MODO DE TRANSMISSÃO: a transmissão pode ocorrer:
·
Por contato direto com doenças,
pelas gotículas e secreções que eliminam.
·
Por
contato indireto, através de fômites (objetos recentemente contaminados)
SUSCETIBILIDADE: a coqueluche tem distribuição
universal. Maior incidência nos meses frios do ano e a comete crianças na 1º
década de vida e em maior número no sexo feminino.
DISTRIBUÇÃO, MORBIDADE, MORTALIDADE E LETALIDADE:
Entre
populações aglomeradas, a incidência pode ser maior em fins de inverno e começo
da primavera, porém em populações dispersas a incidência estacional é variável.
Não existe uma distribuição geográfica preferencial. A aglomeração populacional
facilita a transmissão. Não existe característica individual que predisponha à
doença a não ser presença ou ausência de imunidade específica. A morbidade da
coqueluche no país é muito elevada, com
média de 36.173 casos notificados por ano, no período de 1981- 1991; a partir
de então vem decrescendo paulatinamente. A mortalidade tem estado em torno de
0.3 por 100.000 habitantes. A letalidade da doença tem importância mais
acentuada no grupo das crianças menores de seis meses, onde se concentram cerca
de 50% dos óbitos por coqueluche.
QUADRO
CLÍNICO
Fase Catarral: com duração de uma ou duas semanas,
inicia-se com manifestações
respiratórias e sintomas leves ( febre um pouco intensa, mal estar
geral, coriza e tosse ), seguidos pela instalação gradual de surtos de tosse,
cada vez mais intensos e freqüente que passam a ocorrer as crises de tosses
paroxísticas.
Fase paroxística: com duração de duas a seis semanas,
apresenta como manifestações típicas os paroxismos de tosse seca, ( durante os
quais o paciente não consegue inspirar e apresenta protusão da língua,
congestão facial e , eventualmente, cianose com sensação de asfixia),
finalizados por inspiração forçada, súbita e prolongada, acompanhada de um
ruído característico, o guincho, seguidos de vômitos. Os episódios de tosse
paroxística aumentam a freqüência e intensidade nas duas primeiras semanas e,
depois, diminuem paulatinamente. Nos intervalos dos paroxismos a criança passa
bem.
Fase de Convalescença: os paroxismos de tosse desaparecem e
dão lugar a episódios de tosse comum, essa fase pode persistir durante mais
algumas semanas. Infecções respiratórias de outra natureza, que se instalam
durante a convalescença da coqueluche, podem provocar reaparecimento
transitório dos paroxismos.
Coqueluche em indivíduos
não adequadamente vacinados:
a coqueluche nem sempre se manifesta sob a forma clássica acima descrita.
Alguns indivíduos podem apresentar formas atípicas da doença, por não estarem
adequadamente imunizados ( 3 doses de DPT + 1 dose de reforço )
Coqueluche em menores de 6 meses:
lactentes jovens (< de 6 meses) constituem o grupo de indivíduos
particularmente propensos a apresentar formas graves, muitas vezes letais, de
coqueluche. Nessas crianças, a doença manifesta-se através de paroxismos
clássicos, associados, às vezes, com episódios de parada respiratória
(asfixia), cianose, sudorese, convulsões e vômitos intensos, exigindo
hospitalização, vigilância permanente e cuidados especializados. Pode haver
importante perda de peso e desidratação.
Diagnóstico Diferencial: com as infecções respiratórias
agudas: traqueobronquites, bronqueolites, adenoviroses, laringites, etc.
Complicações: as principais complicações da doença
são:
Respiratórias: pneumonia B. pertussis, pneumonia por outras etiologias, ativação de
tuberculose latente, atelectasia, bronquiestasia, enfisema, pneumotórax,
ruptura de diafragma, otite média e apnéia.
Neurológicas: encefalopatia aguda, convulsões,
coma, hemorragias intra-cerebrais, hemorragia sub-dural, estrabismo e surdez.
Outras: hemorragias sub-conjuntivais,
epistaxe, edema da face, úlcera do frênulo lingual, hérnias (umbilicais,
ingüinais e diafragmáticas), conjuntivite, desidratação e/ou desnutrição
(devido a vômitos freqüente pós-crise).
Tratamento: o uso de medicamentos sintomáticos tem
sido utilizado. A eritromicina pode ser administrada para promover a diminuição
do período de transmissibilidade da doença.
Profilaxia:
v Vacinação: vacina tríplice, 3 doses,
iniciando-se aos dois meses, quatro meses e seis meses, com reforço após um
ano;
v Educação sanitária ao público;
v Isolamento respiratório.
Diagnóstico
Laboratorial
Específicos: em situações de surto, é recomendável,
sempre que possível, a identificação do agente infeccioso, através de cultura,
pelo menos numa amostra dos casos, para que se possa conhecer a incidência da Bordetella pertussis.
Cultura: é o método de excelência para
identificar o agente etiológico da coqueluche. Para melhorar a probabilidade de
sucesso, diferentemente dos procedimentos utilizados para coleta de material
por "swab" (cotonete com algodão) a amostra deve ser colhida com
bastão especial, cuja ponta é coberta por dácron ou de alginato de cálcio, isto
porque o algodão interfere no crescimento da
Bordetella pertussis. A seguir deve ser transportada para meios de cultura
especiais (Regan-Lowe ou Bordet-Gengou). Observe-se que o crescimento, em
condições ideiais, para essa bactéria consegue-se em torno de 60 a 76% das vezes. Interferem
no crescimento bacteriano nas culturas: uso de antimicrobianos ou de vacina
específica, momento da coleta (quando passada a fase aguda da doença).
Sorologia: seria o método ideal para confirmar o
diagnóstico de coqueluche, desde que, existisse comercialmente em larga escala,
pudesse ser rápido, facilmente reprodutível e de baixo custo. Por essas
características, até o momento não se dispõe de testes adequados nem
padronizados. Os novos métodos em investigação apresentam limitações na
interpretação, sensibilidade, especificidade e reprodutibilidade, além de
necessitarem de laboratórios especializados. Dessa forma, a confirmação
diagnóstica continua sendo o isolamento da bactéria de secreções de nasofaringe
semeadas em meio de cultura.
Outros Métodos Laboratoriais que podem
ser utilizados: neutralização
da toxina, detecção do antígeno pelo método com anticorpos monoclonais e método
da adenilatociclase: têm alta sensibilidade e especificidade, porém não foram
padronizados. É importante salientar que o isolamento e detecção de antígenos,
produtos bacterianos, ou sequencia genômicas de Bordetella pertussis são aplicáveis ao diagnóstico de fase aguda. A
sorologia deve ser reservada para diagnósticos mais tardios ou levantamentos
epidemiológicos.
Inespecíficos: para auxiliar na confirmação e/ou
descarte dos casos pode-se realizar exames complementares: no período catarral,
pode existir uma leucocitose relativa (de 10.000 leucócitos) que, no final
dessa fase, já atinge um número, em geral, superior a 20.000 leucócitos/mm3.
No período paroxístico, o número de leucócitos pode elevar-se para 30.000 ou
40.000, associado a uma linfocitose de 60 a 80%.
Velocidade de Hemossedimentação (VHS):
a coqueluche oferece
uma condição singular, apresenta VHS normal ou diminuída (geralmente inferior a
3), embora seja de origem infecciosa, o que permite distingui-la dos demais
processos catarrais das vias respiratórias, nos quais a VHS se encontra, em
geral, acelerada.
Exames Radiológicos: recomenda-se a realização de RX de
tórax em menores de 4 anos, para auxiliar no diagnóstico diferencial e/ou
presença de complicações.
Cuidados
de enfermagem:
Isolamento
respiratório por sete dias após o início da anti-bioticoterapia:
v Máscara para todas as pessoas que
entraram no quarto;
v Avental para quem manusear o paciente;
v Lavar as mãos antes e após tocar o
paciente;
v Todo material não descartável deve ser
descontaminado antes do processamento;
v Quarto ensolarado e livre de correntes
de ar;
v Oferecer líquidos com frequência;
v Higiene oral e dos ouvidos com frequência;
v Incentivar alimentação;
v Quando a criança tossir, ampara-la
virando-a de costas e passando o braço sob os seios;
v Observação constante. Qualquer
alteração respiratória, chamar o médico;
v Controlar sinais vitais. Em casos de
febre alta, chamar o médico.
FONTE
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância
em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. GUIA
DE BOLSO, 6ª edição revista Série B. Textos Básicos de Saúde, brasília / DF,
2006
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