BACTERIOSES : TUBERCULOSE
A partir dos últimos anos do século XVII,
associou-se à tuberculose pelo menos duas representações. A primeira, a definia
como uma “doença romântica “, idealizada nas obras literárias e artísticas ao
estilo do romantismo e identificada como uma doença característica de poetas e
intelectuais. A segunda, gerada em fins do século XIX, qualificava a doença
como “mal social” e firmou-se, claramente, no decorrer do século XX.
No Brasil, a percepção da tuberculose como doença
social firmou-se neste século, estando presente no discurso médico, respaldado
pelos dados estatísticos. Estes indicam de forma incontestável, desde o início
do século, uma maior incidência de tuberculose junto às classes populares, em
virtude das precárias condições de vida. Apesar da associação da doença às
condições de vida, percebe-se que as orientações para o controle da
tuberculose, ao longo deste século, assumiram o fator biológico como seu
principal determinante, sustentadas por um saber técnico-científico que se
desenvolveu progressivamente.
A identificação do bacilo de
Koch, em 1882, como o agente etiológico da tuberculose foi um marco fundamental
para o conhecimento da doença. Significou também uma importante contribuição para
o fortalecimento da teoria da transmissibilidade das doenças, que vinha se
desenvolvendo com as pesquisas de Pasteur e outros cientistas, além de reforçar
a concepção biologizante das doenças. Essa descoberta impulsionou novas
tentativas em direção ao controle e tratamento específico da tuberculose, não
apresentando porém, neste contexto, avanços terapêuticos significativos.
Como terapêutica para a
tuberculose prevaleceu, desde o século XIX, o tratamento higieno-dietético.
Este tinha como pressuposto a cura espontânea do doente quando em condições
favoráveis, traduzidas por uma boa alimentação e repouso e incorporando o clima
das montanhas como um fator fundamental no tratamento. Sua indicação envolvia o
isolamento dos pacientes, viabilizada por meio da criação de sanatórios e
preventórios.
No Brasil , ao longo do século
XX, a formulação e implementação das políticas de controle da tuberculose foram
assumidas por instituições estatais e filantrópicas tiveram papel relevante na
difusão e aplicação das ideias preconizadas para o combate à tuberculose.
Destacou-se, no Rio de Janeiro, a Liga Brasileira contra a Tuberculose, fundada
em 1900, como resultado de um movimento de médicos e intelectuais convencidos
de que não podiam se omitir no combate à doença que causava tão alta
mortalidade, principalmente na capital federal. A liga, até 1907, criou dois
dispensários e desenvolveu u intensivo trabalho de propaganda sobre o problema
da tuberculose e os meios para minimizá-lo. Nesse sentido, em 1913, passou a
publicar sistematicamente uma revisa, e em 1921, iniciou a publicação do
Almanaque. No ano de 1927, criou o Preventório Rainha Dona Amélia, destinado
aos filhos de tuberculosos. Em vários estados brasileiros criaram-se também
contra a tuberculose que foram, durante esse período, as únicas instituições
que implementaram uma política de combate à doença.
A reforma Carlos Chagas, em 1920,
que deu origem ao departamento nacional de Saúde Pública, inaugurou uma fase de
maior intervenção do Estado no combate à tuberculose, criando a Inspetoria de
Profilaxia da Tuberculose. No Distrito Federal, tanto o poder como as entidades
filantrópicas ampliam a disponibilidade de atendimento organizado dispensários
e enfermarias exclusivas para tuberculosos.
A criação do Ministério da
Educação e Saúde Pública, em 1930, e as reestruturações ocorridas ao longo da
década, ampliaram a intervenção estatal no combate à tuberculose, permanecendo,
no entanto, a convivência com as iniciativas filantrópicas.
No contexto da década de 1930, consolidou-se
a incorporação institucional de novas tecnologias, como a vacina BCG, a
baciloscopia, a abreugrafia, o pneumotórax e outras cirurgias torácicas.
A atuação do Estado foi
intensificada na década de 1940, com a criação do Serviço Nacional de Tuberculose,
em 1941, e da Campanha Nacional contar a Tuberculose, em 1946.
A Campanha assumiu como proposta,
neste momento, a expansão da estrutura hospitalar e sanatorial em todo o país.
A descoberta da quimioterapia
antibiótica, a partir da década de 1940, iria alterar mundialmente, de forma
bastante radical, o perfil epidemiológico, a ação institucional e o
conhecimento científico em relação à tuberculose, além de repercutir nas
representações sobre a doença.
Apesar de ter ocorrido
inicialmente uma queda acentuada dos índices de mortalidade da doença, o uso
dos antibióticos ocasionou o surgimento de bacilos resistentes às drogas. O
aprofundamento de estudos e experimentações utilizando a associação desses
medicamentos e a descoberta de novos quimeoterápicos, acompanhados por
pesquisas no campo da microbiologia, possibilitaram a superação da resistência
bacteriana. A União Internacional contra a Tuberculose promoveu, a partir de
1961, investigações sobre o uso desses quimioterápicos envolvendo diversos países,
inclusive o Brasil, que resultaram em avanços terapêuticos significativos.
Com comprovação da eficácia
desses quimioterápicos na cura da tuberculose, alcançada ao longo das décadas
de 1950 e 1960, o tratamento passou a ser primordialmente ambulatorial,
tornando desnecessária, em sua maioria, a internação do paciente. Como
consequência, nas décadas seguinte foram, paulatinamente, sendo desativados os
sanatórios e a grande maioria dos hospitais destinados à tuberculose, que
passaram a atender a outras áreas da medicina ou mesmo alteraram seu setor de
atuação.
Nos anos de 1970 intensificou-se
a ação do Estado no controle da doença até alcançar sua completa monopolização
na década seguinte. Foi criada, em 1970, a Divisão Nacional de Tuberculose, em
substituição ao Serviço Nacional de Tuberculose. Essa década teve como marco
fundamental para a tuberculose, o início da implementação do Programa Nacional
de Controle da Tuberculose, contido no II Plano Nacional de Desenvolvimento.
A consolidação do uso dos antibióticos
como terap6eutica eficaz para o tratamento da tuberculose, ao lado das medidas
profiláticas e da simplificação do diagnóstico, levou a uma mudança no perfil
epidemiológico da doença com queda acentuada no índice de mortalidade. Essa
alteração contribuiu para o estabelecimento de uma nova relação entre as
pneumopatias, dando corpo à pneumologia. Nesse sentido, em 1976, a Divisão Nacional de Tuberculose transformou-se em
Divisão Nacional de Pneumologia
Sanitária, passando a se ocupar não só da tuberculose como de outras
pneumopatias consideradas de interesse da Saúde Pública.
ASPECTOS GERAIS
A tuberculose é uma doença
infecciosa crônica que constitui um sério problema de saúde pública no mundo.
Estatísticas mostram que a cada ano, em todo o mundo, adoecem dez milhões de
indivíduos e morrem cerca de três milhões. A distribuição é universal.
As microbactérias são bactérias
em forma de bastonetes, aeróbicas e não esporuladas. São também denominadas
BAAR (bacilos álcool-ácido resistentes), pois uma vez coradas resistem à
descoloração por ácido ou álcool. Os bacilos da tuberculose (M.tuberculosis)
são bastonetes retos e finos, medindo cerca de 0,4 x 3 micra.
O bacilo da Tuberculose
instala-se preferencialmente nos pulmões, mas também pode ter localização
extrapulmonar (ossos, órgãos genitais, rins, intestinos e outros). A
tuberculose caracteriza-se por tosse persistente, perda de peso e febre.
O tratamento da tuberculose é
ambulatorial exceto em : Meningite tuberculosa, álcoolista crônico, meningo,
complicações graves da tuberculose, estado geral debilitado, indicação
cirúrgica. Qualquer situação que impossibilite a ida do paciente ao posto.
As drogas usadas são, geralmente,
uma combinação de estreptomicina isoniazida e ácido para-aminossalicílico, administrada
dentro de um período de 1 a
2 anos. O paciente deve permanecer em repouso, durante um período e este
repouso deve ser acompanhado de breves caminhadas, que deveram sendo
gradativamente aumentadas.
Agente Etiológicoà A tuberculose humana é causada pelo Myco- bacterium
tuberculosis, também conhecido como bacilo de Koch, em homenagem ao pesquisador
alemão Roberto Koch (1843-1910), que descobriu e cultivou em laboratório, o
agente patogênico causador da doença.
Fonte de Infecçãoà O principal reservatório é homem bacilífero
positivo e, em alguns casos também o gado bovino infectado.
O paciente que elimina grandes quantidades de
bacilos no escarro constitui principal fonte de infecção.
Período de Incubaçãoà Entre a infecção e a doença propriamente dita, a
incubação pode variar de 6 meses a anos, sendo que o primeiro ano constitui
período de maior risco;
Período de
transmissibilidadeà A transmissibilidade ocorre
enquanto o paciente eliminar bacilo. O grau de transmissibilidade depende da
quantidade de bacilos eliminados no ato de tossir, espirrar ou falar.
Modo de transmissãoà De pessoa a pessoa, principalmente pelo ar, através
das gotículas de Flugge e núcleos de Wells, eliminados pela tosse de pacientes
bacilíferos positivos.
Suscetibilidadeà A distribuição é universal, maior em crianças até 3
anos, adolescentes e adultos jovens. Acomete com maior incidência os
desnutridos, alcoólatras e indivíduos imunodeprimidos.
Quadro clínicoà Após a instalação do bacilo de Koch nos pulmões
instala-se a relação bacilo-hospedeiro, podendo desenvolver, a partir daí, uma
tuberculose-infecção ou uma tuberculose-doença.
·
Tuberculose-infecção: ocorre
quando o indivíduo foi cotaminado pelo bacilo de koch mas não desenvolve a
doença, devido a seu estado imunológico. O organismo é capaz de se defender da
doença.
·
Tuberculose-doença: ocorre quando
a resistência do indivíduo não é suficiente para defender-se da doença.
A principal localização da
tuberculose é pulmonar, com cerca de 90% dos casos. A tosse persiste com expectoração,
consistindo o principal sinal de tuberculose pulmonar. Esta expectoração é
geralmente purulenta (amarelo-esverdeada) ou até sanguinolenta, podendo ainda
aparecer: febre, astenia, mal-estar, emagrecimento, anorexia e sudorese noturna
em um quadro mais grave o indivíduo apresenta dispnéia e dor toráxica.
Diagnósticoà Segundo as normas do Ministério da Saúde para o
controle da tuberculose, o diagnóstico dos casos de tuberculose baseia-se nos
seguintes métodos:
1) Exame bacteriológico;
2) Prova tuberculínea;
3) Exame diagnóstico;
4) Outros métodos diagnósticos.
1)
Exame
bacteriológicoà Consiste no método mais
importante do diagnóstico e controle do tratamento.
Os métodos de pesquisa bacteriológica são utilizados
com a seguinte ordem de prioridade:
§ Exame microscópico direto (baciloscopia direto do
escarro)
§ Exame de cultura para bacilo de Koch (BK)
(Baciloscopia indireta do escarro através da semeadura).
O Ministério da Saúde aponta a
baciloscopia direta do escarro como método prioritário, uma vez que verificam
as fontes de infecção, geralmente indivíduos portadores de tuberculose pulmonar
com tosse expectoração , positivos ao exame do escarro direto. A cultura para
bacilo de Koch é utilizada somente para diagnóstico de formas extrapulmonares da
tuberculose, ou nos casos com baciloscopia direta negativa persistente de
indivíduos que apresentam sintomas clínicos e sinais radiológicos sugestivos de
tuberculose pulmonar ou extrapulmonar.
2) Prova tuberculínica à
Utilizada como método auxiliar de
diagnóstico da tuberculose em pacientes que não foram vacinados com BCG intradérmico, a prova tuberculínica,
isoladamente, não diagnostica a tuberculose pulmonar.
A prova tuberculínica consiste na
administração, por via intradérmica, de 0,1 ml de tuberculina, sendo utilizada
pelo Ministério da Saúde a PPD-RT23- número da partida). A leitura da prova é
realizada 72 a
96 horas após a aplicação, através da medida da induração, expressa em
milímetros, com a seguinte classificação:
v Não reatores: menos de 5 mm de induração:
v Reatores fracos: entre 5 e 9 mm de induração;
v Reatores fortes: 10 mm e mais de induração.
v Essa classificação, através dos resultados obtidos,
irá traduzir que:
v Não reatores: pessoas não infectadas pelo bacilo da
tuberculose, analérgico ou apresentando reações inespecíficas.
v Reatores fracos: pessoas infectadas pelo bacilo da
tuberculose ou por outras microbactérias,
v Reatoresforte: pessoas infectadas pelo bacilo da
tuberculose, doentes ou não.
Os indivíduos vacinados com BCG intradérmico apresentarão,
na maioria dos casos, ( cerca de 80% ), reações fortes à prova tuberculínea,
porque estes indivíduos já tiveram contato com o bacilo por ocasião da
vacinação. Isto não significa que a pessoa está infectada pelo bacilo, mas
neste caso a prova tuberculínea perde seu significado.
É recomendado que não se aplique a tuberculina nos
casos de lesões na pele, nos locais de aplicação e nem testar novamente os
reatores fortes.
3)
Exame
radiológico à o exame radiológico só é empregado em grupos selecionados, a partir do
diagnóstico de casos de tuberculose.
Ficam, então, estabelecidos os seguinte resultados:
-
Normal: ausência de imagens
patológicas nos campos pulmonares.
-
Seqüela: imagem compatível com
lesão cicatricial.
-
Suspeito: imagem compatível com
processo tuberculose ativo.
-
Outras doenças: imagem sugestiva
de pneumonia não tuberculosa.
4)
Outros
Métodosà também são utilizados os exames químicos,
citológicos e anatomopatológicos para auxílio diagnóstico nas suspeitas de
tuberculose extrapulmonar.
A partir do diagnóstico, o
Ministério da saúde define como casos de tuberculose, para fins de tratamento:
v Indivíduos com baciloscopia positiva.
v Indivíduos com cultura positiva.
v Indivíduos adultos, sintomáticos persistentemente
negativos à baciloscopia direta suspeitos ao RX, reatores fortes, com história
de contrário atual ou recente, com achados clínicos e outros compatíveis que
permitam ao médico um diagnóstico de probabilidade de tuberculose.
v Crianças, sem confirmação bacteriológica, reatores,
com história de contágio atual ou recente, achados clínico, radiológicos e
outros compatíveis, a critério do médico.
v Educação sanitária ao público;
v Controle de pacientes, contactantes e suspeitos;
v Visita domiciliar do Enfermeiro Sanitarista, com
finalidade de estimular o tratamento ambulatorial:
v Quimioprofilaxia dos familiares;
v Vacinação pelo BCG até um ano de idade, podendo se
estender até 4 anos. Dose única.
Cuidados de
Enfermagem
Isolamento Respiratório ( IRe );
v máscara para todas as pessoas que entrarem no
quarto;
v avental apenas para manusear o paciente;
v lavar as mãos sempre que tocar o paciente ou artigos
potencialmente contaminados;
v material não descartável deve ser descontaminado
antes do reprocessamento;
v proporcionar repouso no leito;
v manter boa higiene oral e corporal;
v controlar diariamente o peso do paciente;
v observar e anotar quantidade e aspecto do escarro,
vômitos e fezes;
v incrementar prescrição de enfermagem.
Conduta para mãe contagiante ou bacilifera ( não tratada ou com
tratamento iniciado a menos de três semanas do nascimento da criança ):
v não suspender a amamentação
v diminuir o contato íntimo mãe-filho
v amamentar com máscara ou similar
v lavar, cuidadosamente, as mãos
v rastrear comunicantes, especificamente os
domiciliares
v administrar, ao RN hidrazida ( INH ) na dose 10
mg/kg/dia uma vez ao dia, durante três meses.
v Após três meses de hidrazida ( INH ), realizar um
teste tuberculínico O ( PPD ), adotando
as seguintes condutas
v Teste positivo ( criança reatora ):
v rastrear doença:
v se necessário tratar de acordo com as normas do M.S.
v se não houver infecção ativa, manter a
quimioprofilaxia até o 6º mês.
v Teste negativo:
v Proceder a vacinação co BCG-ID e suspender a
hidrazina ( INH ).
Durante todas as etapas continuar com a amamentação.
Conduta para mãe não-contagiante
ou abacilífera: (com tratamento iniciado a mais de três semanas do nascimento
da criança ):
·
Não suspender a amamentação
·
Proceder à vacinação com BCG-ID
Observações:
·
Na impossibilidade de seguimento
do R.N., proceder a variação com BCG-ID e administrar hidrazina ( INH ) por um
período de seis meses.
·
Nos casos em que o diagnóstico de
TB materno for realizado após o início da amamentação, o lactante deve ser
considerado potencialmente infectado e rastreado. Não suspender a amamentação.
·
A administração de drogas
tuberculósticas à mãe não contraindica a amamentação.
FONTE
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde,
Departamento de Vigilância Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. GUIA DE BOLSO, 6ª
edição revista Série B. Textos Básicos de Saúde, brasília / DF, 2006
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