FORMULÁRIO HOSPITALAR NACIONAL DE
MEDICAMENTOS
MEDICAMENTOS ANTI - INFECCIOSOS
PARTE 2
SULFONAMIDAS E SUAS ASSOCIAÇÕES
A
sulfadiazina, dada à penetração no espaço subaracnoideu, pode ser usada em
esquemas de tratamento da meningite meningocócica.
O
sulfametoxazol + trimetoptim (cotrimoxazol) é a primeira escolha nas pneumonias
por Pneumocystis carinii.
É
ativa em diversas infecções urinárias e nas prostatites bacterianas pela sua
especial penetração no tecido prostático.
O
trimetropim isolado é utilizado no controlo de infecções urinárias recorrentes,
nomeadamente em casos pediátricos aguardando cirurgia corretiva.
QUINOLONAS
O
ácido nalidíxico, hoje pouco utilizado, é o protótipo deste grupo de
antibióticos. As fluoroquinolonas sintéticas possuem formulações orais com boa
biodisponibilidade e semividas longas. O seu espectro de ação é, sobretudo
dirigido a microrganismos Gram-negativo, incluindo pseudomonas; abrange ainda o
estafilococo.
A
ciprofloxacina é considerada a de maior atividade antimicrobiana intrínseca. A
norfloxacina está exclusivamente indicada nas infecções urinárias baixas, por
atingir na urina a sua concentração máxima, sendo praticamente desprovida de
ação sistêmica. As novas quinolonas recentemente introduzidas não apresentam
mais valias terapêuticas para o meio hospitalar.
A
rápida emergência de resistências em relação a este grupo, nomeadamente de
pseudomonas e estafilococo, tende a reduzir-lhe as suas potencialidades
iniciais. Não se recomenda a sua utilização em crianças, grávidas e mães em
período de aleitamento.
OUTROS ANTIBACTERIANOS
Outros
agentes quimioterapêuticos, dispersos por vários grupos, continuam a ter uma
grande importância na prática clínica. A nitrofurantoína mantém uma excelente
eficácia em relação à maior parte dos agentes causadores das infecções
urinárias baixas, permitindo o seu tratamento sem perturbação da flora
bacteriana endógena.
A
clindamicina tem um espectro de ação sobre microrganismos Gram-positivo,
incluindo estafilococos. Tem também boa atividade sobre bactérias anaeróbias,
incluindo Bacteroides fragilis. O metronidazol, inicialmente apenas utilizado
como tricomonicida e amebicida, revelou ser um agente eficaz no tratamento de
infecções por bactérias anaérobias, incluindo Bacteroides fragilis.
Os
glicopeptídeos, vancomicina e teicoplanina, têm um espectro de ação
exclusivamente sobre bactérias Gram-positivo. Têm indicação no tratamento de
infecções graves em doentes com hipersensibilidade comprovada aos lactâmicos
beta e nas infecções por Staphylococcus aureus resistentes à meticilina ou por
enterococos resistentes à ampicilina.
A
sua utilização deve reservar-se para situações bem identificadas, uma vez que
constituem uma das poucas alternativas para o tratamento destas situações, pelo
risco de emergência de resistências, já confirmado em enterococos e eminente em
estafilococos.
As
oxazolinidonas, representadas atualmente pelo linezolida, são bacteriostáticas,
podendo ser utilizadas por via parentérica ou por via oral. Apresentam um espectro
de ação dirigido a estafilococos (incluindo os resistentes à meticilina) e
enterococos (incluindo os resistentes à vancomicina).
As
polimixinas, a cujo grupo pertence a colistina, são muito ativas sobre
bactérias Gram-negativo, incluindo Pseudomonas aeruginosa, sem emergência
sensível de resistências.
Não
são absorvidas por via oral e a sua toxicidade limita fortemente o uso
sistémico. A colistina tem sido utilizada por via inalatória, em doentes com
fibrose quística, no intuito de controlar as infecções repetitivas por P.
aeruginosa.
ANTITUBERCULOSOS
A
tuberculose é uma infecção de evolução crônica e, por isso, o seu tratamento,
ao contrário do tratamento da generalidade das doenças infecciosas, tem de ser
feito durante um período longo, nunca inferior a 6 meses.
Basicamente,
o esquema terapêutico inicial deve incluir três fármacos com mecanismos de ação
diferentes. Dadas as características biológicas do M. tuberculosis, qualquer
fármaco tuberculostático ou tuberculicida deve administrar-se uma só vez por
dia, numa dose adequada à massa corporal. A estreptomicina, o etambutol, a
isoniazida, a pirazinamida e a rifampicina, são os que a experiência
classificou como antituberculosos de primeira linha.
O
aumento de estirpes de M. tuberculosis resistentes a antibacilares
convencionais ou multirresistentes (simultaneamente resistentes à isoniazida e
à rifampicina), bem como a possibilidade de micobacterioses atípicas, em
situações de grave imunodeficiência, leva à necessidade de recorrer a antibacilares
de segunda linha (o ácido p-aminossalicílico, a cicloserina, a etionamida, a
capreomicina e a canamicina), ou a fármacos tradicionalmente não utilizados no
tratamento da tuberculose (rifabutina, quinolonas e macrólidos).
ANTILEPRÓTICOS
A
lepra não é uma doença muito comum em Portugal. Além disso, a descoberta de agentes quimioterapêuticos eficazes
contra o M. leprae permite que a grande maioria dos leprosos seja tratada fora
dos hospitais. A OMS recomenda o uso de associações, em todos os casos de
lepra, com os seguintes objetivos: tratar a doença, prevenir a resistência
bacteriana e interromper a transmissão do M. leprae através da sua rápida
eliminação. Os fármacos disponíveis são: a clofazimina, a dapsona, a
rifampicina e, em situações especiais, a talidomida.
ANTIFÚNGICOS
São
fármacos pouco seletivos e com elevada toxicidade dadas as semelhanças entre as
células fúngicas e as humanas (por serem ambas eucarióticas). A anfotericina B
é o antifúngico de referência nas micoses sistêmicas, dada a sua elevada
eficácia, associada a um espectro de ação que abrange os mais relevantes
agentes implicados nestas infecções, nomeadamente candida, cryptococcus e
aspergillus.
Só
existe disponível para administração parentérica intravenosa. Tem uma importante
toxicidade renal, podendo ainda originar hipocaliémia, cefaleias, náuseas, vômitos,
febre, mialgias e cólicas abdominais. É assim importante que a sua
administração se processe de acordo com as estritas recomendações do seu uso
(dose, hidratação do doente, tempo de perfusão) com monitorização renal,
hematológica e hidroeletrolítica.
Foram
introduzidas algumas formulações lipídicas a que se atribui menor toxicidade e
igual eficácia. No entanto, não está bem demonstrada qual a equivalência, peso
a peso, da eficácia antifúngica, estando sempre recomendadas doses 3 a 5 vezes
superiores às da anfotericina "desoxicolada" (anfotericina
"clássica"). Assim, uma vez que os cuidados a ter na sua utilização
são fundamentalmente os mesmos, e dado o elevado custo, não se justifica a
generalização do seu uso. A flucitosina foi utilizada por via parentérica e
oral no tratamento das micoses sistêmicas por candida ou criptococo, muitas
vezes em associação com a anfotericina B.
A
sua elevada toxicidade sobre a medula óssea, bem como o crescente aparecimento
de resistências têm progressivamente reduzido a sua utilização. O cetoconazol é
utilizado por via oral ou tópica no tratamento de micoses devidas a uma grande
variedade de espécies, entre as quais os dermatófitos e as cândidas. A sua
absorção oral é, no entanto, irregular e são conhecidos casos de toxicidade
hepática.
Os
derivados triazólicos, de que são exemplo o fluconazol e o itraconazol (mais
recentemente, o voriconazol), são um grupo importante na terapêutica das
infecções fúngicas sistémicas, nomeadamente por candida (o itraconazol e o
voriconazol têm também ação sobre Aspergillus). O fluconazol tem uma boa
penetração tecidular, incluindo no sistema nervoso central.
Estão
atualmente disponíveis novos antifúngicos de ação sistémica, de classes
diferentes. Não se justifica, no entanto, a sua introdução neste Formulário,
uma vez que ele já contém fármacos para as mesmas indicações e com experiência
consolidada.
ANTIVÍRAIS
A
grande maioria das infecções por vírus é autolimitada e resolve-se
espontaneamente nos indivíduos imuno competentes. Há no entanto, infecções vírais
muito graves, com alta mortalidade ou que podem tornar-se crônicas, com
implicações na morbidade e na mortalidade. A disponibilidade de fármacos
antivírais específicos é reduzida. Um dos poucos exemplos é o aciclovir, eficaz
na infecção por Herpes simplex, terapêutica que conseguiu inverter a grave
evolução da encefalite herpética.
O
seu mecanismo de ação em relação ao Herpes simplex é muito específico não se
estendendo aos outros vírus do mesmo grupo. Apenas o Varicella-zoster tem
alguma sensibilidade ao fármaco que pode ser útil nos casos de localização com
previsíveis sequelas muito graves ou em casos de doentes com grau extremo de imunodeficiência.
A
sua utilização não deve, pois, generalizar-se às situações mais correntes,
benignas ou autolimitadas, tanto mais que já existem casos de resistência no
Herpes simplex. Ainda do grupo Herpes, as infecções ou reativações por
citomegalovirus, em casos de imunodeficiência, respondem, em graus variáveis,
ao ganciclovir e ao foscarneto.
Foram
introduzidos dois pró-fármacos (valaciclovir e valganciclovir) que apresentam
maior comodidade posológica por via oral. No que diz respeito às infecções virais
crônicas, são exemplos as causadas por vírus da hepatite B (VHB), por vírus da
hepatite C (VHC) e pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH), responsável
pela síndrome de imunodeficiência adquirida (SIDA).
Na
hepatite crônica por VHB tem sido usado o interferon alfa, a lamivudina e, mais
recentemente, o adefovir; na hepatite crônica por VHC, o interferon alfa ou o
peginterferão, associado ou não à ribavirina. Quanto aos fármacos antirretrovirais
utilizados no controlo da infecção por VIH (apenas eficazes sobre VIH1), existe
um apreciável número pertencendo a classes diferentes: inibidores nucleósidos
da transcriptase reversa (NITR), inibidores não nucleósidos da transcriptase
reversa (NNITR), inibidores da protease (IP) e, por último, inibidores da
fusão. Aos NITR pertencem zidovudina (AZT), didanosina (ddI), zalcitabina
(ddC), estavudina (d4T), lamivudina (3TC), abacavir (ABC) e, embora com
estrutura química um pouco diferente, tenofovir. Os NNITR incluem nevirapina
(NVP) e efavirenz (EFV).
Um
maior número de fármacos integra os IP: indinavir, ritonavir, saquinavir,
nelfinavir, amprenavir e lopinavir (este existe apenas em associação com o
ritonavir). Os inibidores da fusão são, para já, representados por enfuvirtida,
de introdução recente, apenas disponível na forma injetável, subcutânea. A
terapêutica em associação é, atualmente, a regra, sendo os NITR e os IP os
pilares mais regularmente utilizados em tratamentos iniciais. Problemas
relacionados com tolerância e toxicidade medicamentosa, interações fisiológicas
e farmacológicas, bem como diversos padrões de resistências do VIH, tornam esta
terapêutica um ato complexo, que deve ser executado com experiência e bom
senso.
De
fato, e apesar da decisão de iniciar tratamento obedecer a critérios objetivos,
a escolha e manutenção do esquema inicial devem ser personalizadas, tal como as
alterações e substituições que, por razões várias, vierem a ocorrer.
Em
relação aos antirretrovirais com finalidade terapêutica, as necessidades são
muito diferentes de hospital para hospital, consoante tenham, ou não, esta
valência, bem como a extensão e duração da mesma (doentes tratados há mais
tempo têm maior probabilidade de reações adversas graves e de resistências).
Assim,
dada a diversidade referida, caberá a cada hospital fazer a seleção dos
fármacos que correspondam às suas necessidades.
Os
antiretrovírais podem ainda ser utilizados na prevenção da infecção por VIH
pós-exposição concreta, como é o caso paradigmático dos acidentes por picada
nos profissionais de saúde. Por isso, os hospitais deverão estar apetrechados
para fazer face a esta eventualidade, que implica uma decisão para execução
urgente. A atitude a tomar varia com o tipo de acidente e com o grau de risco.
Na
opção de quimioprofilaxia, esta pode fazer-se com um fármaco (geralmente AZT)
no caso de risco moderado, associar um segundo NITR (frequentemente 3TC) ou,
mesmo, um terceiro anti-retrovírico (IP), se o risco for grande. O AZT, também
disponível para administração parentérica, é o anti-retrovírico utilizado na
prevenção da transmissão vertical, dadas a sua eficácia comprovada e segurança
em relação à mãe e ao filho.
ANTIPARASITÁRIOS
Anti-helmínticos
Há
no mundo milhões de pessoas infestadas com parasitas helmínticos, muitas delas
por mais de um agente. Nas infestações por Ascaris lumbricoides, Necator
americanus, Ancylostoma duodenale, Trichuris trichiura e Enterobius
vermicularis, os fármacos de escolha são o albendazol e o mebendazol.
Nas
infestações por Enterobius vermicularis continua também a ser útil o pirantel.
Nas infestações por Taenia saginata, Taenia solium, Diphyllobothrium latum ou
Hymenolepis nana, o fármaco preferido é o praziquantel. No quisto hidático,
hidatidose ( Echinococcus granulosu) em que o Homem não é o hospedeiro
definitivo, o albendazol é eficazmente utilizado como complemento da cirurgia.
Na cisticercose, nomeadamente na neurocisticercose ativa, o albendazol ou o
praziquantel podem ser utilizados. Esta terapêutica deve revestir-se das
adequadas precauções (dado o risco cerebral, por inflamação relacionada com a
destruição do quisto) pelo que se recomenda geralmente o uso prévio de
dexametasona. Nas esquistosomíases o praziquantel é o fármaco de primeira
escolha. Antimaláricos O paludismo é a doença infecciosa com maior mortalidade
a nível mundial, sendo o seu principal responsável o Plasmodium falciparum. A
cloroquina é utilizada no tratamento das infecções causadas por P. vivax, P.
malariae, P. ovale ou estirpes sensíveis de P. falciparum.
As
alternativas terapêuticas por via oral, no caso de resistência à cloroquina,
são a mefloquina e a halofantrina. No caso de infecções por P. vivax ou P.
ovale, à terapêutica com cloroquina deve seguir-se a administração de
primaquina para a prevenção das recidivas. Apenas a cloroquina e a quinina
podem ser administradas por via parentérica.
A
eficácia da terapêutica com quinina pode ser reforçada pela associação com a
doxiciclina. Um novo grupo de antimaláricos, muito promissor, é o dos derivados
da artemisinina, em especial associados como no já aprovado arteméter e
lumefantrina; a sua área de aplicação é o das infecções agudas por Plasmodium
falciparum, onde, pelo seu mecanismo de ação, dificulta o aparecimento de
formas resistentes. Alguns destes fármacos são utilizados em quimioprofilaxia,
com esquemas diferentes conforme os padrões de resistência nas várias regiões
do globo.
Outros
antiparasitários A pentamidina, conhecida há muito tempo no tratamento da
doença do sono e das leishmanioses, é atualmente muito utilizada no tratamento
das infecções por Pneumocystis carinii, principalmente em regimes profiláticos.
No caso de intolerância à associação de sulfametoxazol + trimetoprim, além da
pentamidina já referida, também se pode utilizar a atovaquona.
Os
antimoniais pentavalentes, representados no Formulário pelo antimoniato de
meglumina, têm indicação no tratamento das leishmanioses, mantendo uma
excelente atividade nas infecções verificadas na área mediterrânica, ao
contrário de outras regiões, como a Índia, onde ocorrem resistências. Nas
situações em que não possam ser utilizados, a alternativa é a anfotericina B.
A
pirimetamina, usada durante muito tempo na profilaxia da malária, é atualmente
terapêutica de primeira linha associada à sulfadiazina, na toxoplasmose
cerebral dos doentes com SIDA.
FONTE
INFARMED
Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde I.P de Portugal http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED
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