BACTERIOSES : CÓLERA
Histórico
Os
antigos navegadores árabes e europeus sabiam da existência,nos grandes deltas
da Ásia meridional, de uma doença cholera, cuja característica principal era a
diarreia associada à alta mortalidade.
Uma
das mais antigas observações a esse respeito foi a de Gaspar Coelho,sob o
título Lendas da Índia,quando se referia à letalidade alta,observada durante o
surto de 1503 exército do soberano de Calcutá.
Não
se tem certeza da etimologia do termo cholera.
Um
dos primeiro a usar esse termo foi Hipócrates e acredita-se que,em grego
arcaico.cólera signifique fluxo de bile.
No
Tibete, durante o reinado de Ti-Songde-tsen, período de 802 a 845 a.C., quando
foram escritos os trabalhos sânscritos, aparecem referências, à cólera como
visuchita.
Esse
termo pode significar ritmo intestinal anormal ou apenas distúrbios estomacais
ou intestinais.
A
palavra cólera, por si só, gera nas
populações um sentimento de medo derivado das pandemias que causaram tais
devastações que o transmitiram aos nossos dias.
A
lembrança do passado, particularmente das pandemias do século XIX, criou o
pânico em certos meios médicos, resultando reações exageradas da parte de
certos países. Embora a cólera atualmente seja muito menos violenta, continua a
constituir um problema de saúde pública e um problema econômico internacional.
A
cólera contribuiu de maneira decisiva para a noção de saúde internacional. O
espectro da cólera, herança dos tempos passados, deve ser desmitificado.
O
termo cólera, já usado pelos gregos, segundo parece, provém do hebraico choli-ra, que significa doença maligna.
Na Índia chama-se mari, palavra
industânica que significa "doença mortal".
Parece
que a cólera existe, na Índia, desde a mais remota antiguidade.
Robert Koch descobriu o Vibrio cholerae, em 1884, no Egito.
Definição
Definição
A cólera é uma doença infecciosa intestinal aguda de alta contagiosidade, causada por uma bactéria que é capaz de produzir uma enterotoxina que causa um processo de perda rápida de líquido isotônico do intestino com um teor baixo de proteínas, concentração média de bicarbonatos de aproximadamente o dobro do plasma e concentração de potássio de quatro vezes a do plasma normal., se o doente não for tratado logo que aparecem os primeiros sintomas, pode morrer por desidratação, pois a diarreia costuma ser brusca e intensa.
A diarreia é aquosa abundante e incontrolável, distúrbios hidroeletrolíticos e vômitos, pode levar o indivíduo a uma desidratação grave e à acidose metabólica. Todos os sinais clínicos e alterações metabólicas resultam da perda desse líquido gastrintestinal, algumas vezes em quantidades que excedem
Além da diarreia, um doente com cólera pode apresentar uma acentuada perda de peso; forte abatimento e cansaço; a pele e as mucosas bastante secas; fortes cãibras musculares e diminuição no volume da urina. A disseminação da doença é favorecida pelos deslocamentos das pessoas através dos meios de transportes, podendo alcançar outras regiões mais distantes principalmente pelo avião, que contribui para uma propagação mais rápida da doença.
Sinonímia
É uma doença
também conhecida pelos seguintes nomes:
·
Cólera morbo.
·
Cólera
asiática.
·
Cólera
índica.
·
Cólera
epidêmica.
·
Doença das
mãos sujas
(nome popular).
Agente etiológico
No Brasil, o agente etiológico que prevalece é a bactéria Vibrio cholerae; gênero Vibrio; família Vibrionaceae; bastonetes Gram-negativos; aeróbios ou anaeróbios facultativos; pleomórficos; retos ou curvos; móveis por meio de flagelo polar único; não esporulados ou microcistos. São encontrados principalmente em ambiente aquático, na água do mar ou água doce e em associação com animais aquáticos.
Fonte
de infecção
São os doentes desde o período de incubação até a fase de convalescença e os portadores assintomáticos.
Reservatório
O homem é o
único reservatório do V. cholerae.
Tipos de epidemia
·
Epidemia explosiva: ocorrem muitos casos em
um curto período de tempo em menos de uma semana, ocasionadas por uma fonte de
veículo comum (água, molusco, frutos do mar etc).
·
Epidemia de curso lento: ocorre pequeno
número de casos diários ou semanais.
Período
de incubação
De 6 horas a
6 dias após o contágio, a média fica entre 2 a 3 dias.
Período
de transmissibilidade
Enquanto os
vibriões estiverem presentes nas fezes há perigo de transmissão da doença, uma
margem segura é de 20 dias após a cura.
Transmissão
·
Através do vômito e fezes de pessoas
contaminadas.
·
Transmissão indireta: água e alimentos
contaminados, sendo esse tipo de transmissão responsável pelas epidemias.
·
Transmissão direta: através de mãos
contaminadas levadas diretamente a boca.
·
A doença mantém-se através do ciclo de
transmissão homem/ meio-ambiente/ homem.
·
Pode ocorrer também a transmissão de homem
para homem, num ambiente hospitalar, através da manipulação dos enfermos e de
cadáveres.
Resistência
do vibrião colérico
O vibrião
colérico resiste mais em baixa temperatura. Na água salgada o vibrião vive mais
tempo que na água doce e se reproduz mais rapidamente.
Água doce
Temperatura
Tempo de vida:
·
10°C 10 a 19 dias.
·
25°C 7 dias.
·
35°C 4 dias.
Água do mar
·
10°C até 26
dias.
·
25°C 9 dias.
·
35°C 3 dias.
Esgoto
·
10°C 12 dias.
·
25°C 12 dias.
·
35°C 2 dias.
Fatores predisponentes
·
Fatores socioeconômicos: a doença tem uma
maior incidência em comunidades desfavorecidas; de um nível socioeconômico
baixo; em regiões economicamente desfavoráveis.
·
Fatores higiene e saneamento: a higiene tanto
individual como coletiva precárias e condições de saneamento com baixa
infraestrutura ajudam a proliferação da cólera.
·
Fatores climáticos: aumentam as
possibilidades de transmissão da doença.
Formas
clínicas
·
Cólera siderante ou cólera seca: forma grave
da doença que evolui rapidamente á morte. o doente morre com sintomas de choque
mas sem apresentar a diarreia, porque não houve tempo de se manifestar. Na
autópsia o intestino está muito distendido por um líquido com aspecto de "água de arroz" contendo vibriões.
Esta distensão resulta de uma paralisia intestinal.
·
Diarreias benignas: os portadores não
apresentam nenhum sinal clínico da doença, mas transmitem a doença pelas fezes.
·
Cólera clássica: apresenta o quadro clínico
característico da doença.
Sinais
e sintomas
A maioria
dos casos de cólera apresenta-se na forma branda, como uma diarreia leve ou
moderada, apresentando vômitos, mas em alguns casos pode evoluir para uma forma
mais grave com os seguintes sintomas:
cólera
clássica
·
Vômitos;
·
Diarreia aquosa abundante e repentina cerca
de 100 evacuações/dia, no inicio a diarreia tem coloração escura, depois evolui
para uma cor esbranquiçada assemelhada a ”água
de arroz”;
·
Desidratação acentuada;
·
Cólicas abdominais;
·
Olhos fundos;
·
Enrugamento da pele ao nível das
extremidades;
·
Prostração;
·
Perda de peso rápida;
·
Sede intensa;
·
astenia;
·
Diminuição do turgor de pele;
·
Hipoglicemia;
·
Hipotensão (baixa da pressão arterial).
forma
gravíssima (nesta fase todos os sintomas acima continuam, acrescidos dos
seguintes)
·
Desequilíbrio hidroeletrolítico;
·
Desequilíbrio acidobásico;
·
Câimbras musculares localizadas
principalmente nos MMII (membros inferiores) e no abdômen;
·
Respiração tipo abdominal profunda;
·
Paciente não se queixa mais de sede;
·
Não consegue ingerir mais líquidos;
·
Redução considerada de fezes eliminadas;
·
Nefrose tubular aguda;
·
Acidose metabólica;
·
Colapso circulatório;
·
Falência respiratória;
·
Choque;
·
Coma.
Obs: Se não houver assistência médica
imediata e eficiente pode ocorrer o óbito.
Diagnóstico
·
Anamnese.
·
Exame físico.
·
Exame clínico.
·
Exames laboratoriais.
·
Cultura do material coletado a partir das
fezes e vômitos.
Diagnóstico
diferencial (para não
ser confundida com as seguintes patologias com sintomas semelhantes)
·
Enterites e enterocolites bacterianas.
·
Intoxicações químicas e medicamentosas:
arsênico, antibióticos, tártaro emético.
·
Febre tifoide.
·
Retocolite ulcerativa grave.
·
Disenteria amebiana.
Tratamento
Objetivo do
tratamento inicial é a reposição de líquidos e eletrólitos através de soro
perdidos durante os episódios de diárréia e vômitos.
·
Sintomático: conforme os sintomas
apresentados e suas intercorrências.
·
Reposição hídrica.
·
Internamento hospitalar é indicado nos casos
de desidratação grave com choque hipovolêmico, insuficiência renal aguda,
distúrbio hidroeletrolítico grave gestantes, idosos e pacientes que tiveram
evolução inferior a seis horas.
·
Antibiocoterapia por indicação médica é
recomendada para permitir a diminuição da duração da diarréia e o do volume de
fezes, abreviar o período de excreção de vibriões pelas fezes.
·
Repouso no leito.
·
Isolamento entérico para pacientes colérico;
as técnicas para esse tipo de paciente deve ser aplicadas pleos profissionais
que trabalham com este tipo de paciente.
Obs: Não se deve utilizar drogas antieméticas, pois podem provocar distensão abdominal e manifestações extrapiramidais com depressão do Sistema Nervoso. Deve haver desinfecção concorrente e terminal em ambientes hospitalares.
Os
antiespasmódicos no caso da cólera inibem o peristaltismo intestinal,
aumentando a proliferação de germes, prolongando o quadro clínico e dando a
falsa impressão de melhora.
Deve-se evitar o uso de analgésicos e antipiréticos que possam produzir depressão de sistema nervoso central.
Complicações
·
Edema agudo do pulmão.
·
Acidente Vascular Encefálico (AVE).
·
Aborto nas gestantes ou parto prematuro.
·
Insuficiência Renal Aguda (IRA).
·
Broncopneumonia.
·
Pleurisia.
·
Gangrenas pulmonares.
·
Gangrena dos MMSSII.
·
Flebotromboses.
·
Crises convulsivas.
·
Icterícia.
·
Hemoglobinúria.
·
Choque hipovolêmico ( principal causa de
óbito).
Profilaxia
Na prevenção da cólera deve ser dada prioridade aos princípios básicos de higiene.
Medidas sanitárias:
·
Notificação Obrigatória e Imediata às
Autoridades Sanitárias.
·
Isolamento hospitalar ou domiciliar dos
doentes.
·
Campanhas de educação sanitária para a
população.
·
Desinfecção concorrente e terminal em
ambiente hospitalar.
·
Quimioprofilaxia dos contatantes.
·
Em períodos epidêmicos a população deve ser instruída
para tratar dejetos humanos com produtos químicos (hipoclorito, creolina,
fenol), tanto em fossas sépticas como em vasos sanitários.
·
Educar a população para só consumir água
potável.
·
Doentes devem ser isolados e seus dejetos
tratados adequadamente com produtos químicos.
·
Medidas e técnicas devem ser adotadas diante
de cadáveres coléricos, porque estes permanecem contagiosos, principalmente em
ambiente frio (necrotérios ou morgues).
medidas
gerais:
·
Consumir água tratada, filtrada e fervida.
·
Combate as moscas.
·
Uso de inseticidas.
·
Evitar durante a epidemia o uso de mariscos
como alimento.
·
Não consumir legumes crus, tomates e frutas
com casca.
·
Preparo adequado dos alimentos.
·
Lavar bem os alimentos ingeridos cru.
·
Evitar consumir alimentos de vendedores
ambulantes.
·
Evitar comer frutas e legumes crus em locais
onde existam casos de Cólera; se forem comidos crus, devem ser bem lavados em
água clorada ou previamente fervida.
·
Não evacuar perto dos rios, lagos e poços.
·
Condições eficientes de saneamento básico e
do ambiente, é muito importante para a profilaxia da doença.
·
Fervura e pasteurização do leite.
·
Proteger os alimentos e utensílios da cozinha,
das moscas.
medidas
internacionais:
·
Notificação imediata e obrigatória aos países
vizinhos e a OMS, no caso de epidemias.
·
Vigilância dos contatantes.
·
Quarentena imediata dos suspeitos.
·
Fiscalização dos meios de transporte.
FONTE
MINISTÉRIO
DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância
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