MANUAL
DE NORMAS E PROCEDIMENTOS
DA
ATIVIDADE DE FARMÁCIA
RIO
DE JANEIRO - 2012
DIRETORA MÉDICA
UPA 24 HORAS TERESÓPOLIS
DRA, JULIANA DE
OLIVEIRA WILKEN
CAPÍTULO XI
INTRODUÇÃO A FARMACOVIGILÂNCIA
Por Denise de Oliveira
Kühner Farmacêutica especialista em Farmácia Hospitalar Pós-graduada pela
Universidade Veiga de Almeida - RJ
1
- Introdução
2.
Objetivos
3.
Funções de um Centro de Farmacovigilância
4.
Ensaios clínicos na indústria farmacêutica x prática clínica
5.
Por que há necessidade de delimitar a segurança na utilização dos medicamentos?
6.
Conhecimento dos fármacos x especialização
7.
O que é uma reação adversa a um fármaco (RA’s ou RAM’s )?
1. INTRODUÇÃO
A
Farmacovigilância é uma ciência essencialmente observacional. Sua atividade é
eminentemente clínica, orientada para o paciente e direcionada para a pesquisa
dos mecanismos e ações dos medicamentos. É a identificação e avaliação dos
efeitos, agudos ou crônicos, do risco dos tratamentos farmacológicos no conjunto
da população ou em grupos de pacientes expostos a tratamentos específicos, ou
seja, é o resultado do casamento entre a farmacologia e epidemiologia. Sua
principal preocupação são os efeitos adversos, identificados principalmente
após a comercialização dos produtos (estudos clínicos fase IV).
Os
estudos de farmacovigilância se mostraram úteis para o conhecimento do uso dos
medicamentos, os hábitos de prescrição dos médicos e a incidência,
característica e fatores predisponentes das reações adversas aos medicamentos
(RA’s ou RAM’s).
A
pergunta que o notificador pode se fazer diz respeito ao tipo de reação adversa
que se busca na rede internacional de Farmacovigilância.
As
reações que interessam são aquelas que motivaram a hospitalização do paciente,
as que puseram em risco a sua vida ou, ainda, desencadearam a morte do paciente
e, finalmente, as produzidas por medicamentos de comercialização recente.
Os
sistemas de prevenção de reações adversas devem ser implantados nos Serviços de
Farmácia, como ferramenta complementar na otimização da crescente intervenção
do farmacêutico nas atividades da farmacoterapia.
Tem
como objetivo a maior rentabilidade da terapia medicamentosa em termos de
eficácia e segurança, porque não há sentido em se falar de segurança se não se
conhece o perfil de reações adversas dos medicamentos, principalmente dos novos
fármacos.
Do
mesmo modo, o conhecimento exato do perfil dos pacientes no país passa a ser
realizado a partir de informações próprias e não de informações divulgadas
pelas investigações de outros países.
Por
que é importante notificar e avaliar as reações adversas aos medicamentos?
Porque elas são uma causa expressiva de morbidade e mortalidade. Em janeiro de
2000, um estudo publicado pelo Instituto de Medicina (Academia Nacional de
Medicina EUA) notificou que, entre os pacientes internados, aproximadamente 50%
das mortes (44.000 em um total de 98.000) em um ano foram devidas a erros
médicos, sendo que 7.000 mortes (7,14%) ocorreram por reações adversas, a um
custo de U$ 7,4 bilhões.
Outros
estudos colocam as Reações Adversas (RA’s) como responsáveis pelo quarto lugar
na causa mortis, à frente das doenças pulmonares, diabetes, AIDS, pneumonia e acidentes
automobilísticos.
No
entanto, conforme os dados atuais de pesquisa realizada pelo FDA
(www.fda.org/cder), este custo anual soma cerca de US$136 bilhões e é
responsável por uma entre cinco doenças/mortes nos pacientes hospitalizados.
Segundo
Kroll M.H e Elin R.J, os pacientes internados apresentam algum percentual de
reação adversa, quando medicados, respectivamente, por um (7%), dois (16%),
três (66%) e quatro (100%) tipos diferentes de medicamentos. Avaliaram, também,
que o consumo médio é de dois medicamentos por paciente.(
2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
DA FARMACOVIGILÂNCIA
v Aumentar a segurança e a assistência
ao paciente, em relação ao uso dos medicamentos e às intervenções médicas e
paramédicas
v Aumentar a saúde e a segurança
pública, em relação ao uso dos medicamentos
v Contribuir com a avaliação dos
benefícios, danos, eficácia e risco dos medicamentos, garantindo seu uso
seguro, racional e mais efetivo (incluindo custos), assim como promover a
compreensão, a educação e o treinamento clínico em farmacovigilância através de
efetiva comunicação com a população e com os profissionais de saúde.
3. FUNÇÕES DO CENTRO DE
FARMACOVIGILÂNCIA
1)
Coletar, analisar, e cadastrar as notificações sobre a suspeita das reações
adversas remetidas, garantindo o caráter confidencial da notificação.
2)
Acompanhar a literatura científica pertinente às reações adversas
3)
Desenvolver métodos para avaliar a incidência e o significado das reações
adversas
4)
Efetuar estudos científicos sobre o aparecimento de reações adversas
5)
Promover o retorno dos resultados apurados pelas informações para distribuição
pelo hospital, para repasse para outros centros e/ou para divulgação
internacional.
6)
Agrupar as notificações no centro de informações sobre medicamentos, a fim de
disponibilizar qualquer consulta.
4. ENSAIOS CLÍNICOS NA
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA X PRÁTICA CLÍNICA
A
seleção de pacientes é extremamente restrita, se comparada à população global.
Na
prática clínica raramente um paciente faz uso de um só medicamento. Os estudos
sobre os medicamentos nos ensaios clínicos da fase II são realizados no homem,
em pacientes portadores de doença para a qual o medicamento se destina, com a
finalidade de demonstrar atividade, avaliar a segurança e determinar a
dose/posologia adequados.
Nem
todos os efeitos adversos são detectados nos ensaios clínicos fase III. Não há
possibilidade de testar interações medicamentosas entre todos os fármacos e o
que está sendo submetido a estudo.
Só
a utilização sistemática na prática clínica é capaz de permitir avaliação dos
efeitos inesperados, infrequentes ou desconhecidos.
Não
se administra o medicamento em pessoas muito jovens ou muito idosas.
Não
se administra (ou pouco se administra) o medicamento a pacientes com
comprometimento em órgãos diversos como hepatopatia, insuficiência renal ou
alterações fisiológicas como as que ocorrem na gravidez.
As
características genéticas, fisiológicas e patológicas dos pacientes certamente
variam de um país a outro.
EXEMPLO:
1)
Roacutan – restrição severa para gravidez. Contudo, os estudos realizados e
publicados não revelam os efeitos da isotretinoína em relação a possíveis
alterações genéticas na espermatogênese. Só foram realizados estudos de
motilidade e morfologia.
2)
Talidomida - (10.000 crianças nascidas com focomelia). Somente nos anos
recentes há controle de comercialização.
Aliado
ao exposto existe estudos que relatam uma concepção médica de que:
v - Todas as reações adversas severas já
foram notificadas quando a droga chega ao mercado
v - É difícil determinar se uma droga é
responsável pela reação adversa
v - A reação adversa só deve ser
notificada se houver certeza absoluta de relação entre a reação e a droga
v - A notificação de um único caso não
deve ser uma contribuição expressiva.
5. POR QUE HÁ
NECESSIDADE DE DELIMITAR A SEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO DOS MEDICAMENTOS?
Os
medicamentos atuais, com o avanço da biologia molecular e com a descoberta
recente dos mecanismos de ação de receptores e seus subtipos, bem como a
codificação enzimática e genética, direcionam a pesquisa farmacêutica cada vez
mais para o aprimoramento da especificidade das substâncias, na busca de
moléculas concorrentes com os agonistas ou antagonistas desses receptores, como
indutoras/inibidoras dos mecanismos enzimáticos ou como
indutoras/inibidoras/substitutas de mecanismos genéticos.
EXEMPLOS:
1. Irbesartana – inibidor da angiotensina
II
2. Tolcapone – inibidor da COMT
3. Sildenafil – inibidor da
fosfodiesterase tipo V
4. Etanercept – inibidor do fator tumoral
de necrose (encontrado no líquido sinovial de pessoas com artrite) produzido por
tecnologia de DNA recombinante.
5. Propranolol e atenolol – bloqueadores
(seletivos ou não) da ação adrenérgica em receptores beta.
5.1 - A QUEM CABE A
RESPONSABILIDADE SOBRE A SEGURANÇA DOS MEDICAMENTOS?
v À Vigilância Sanitária?
v À Indústria?
v Ao profissional de saúde?
v À sociedade?
Todo
o indivíduo que utilizar profissionalmente o medicamento deve preocupar-se com
as consequências da sua administração.
A
implantação de rotinas de farmacovigilância requer, também, conscientizar a
equipe médica e outros profissionais, da importância da notificação da reação
adversa para avaliação do perfil de reações adversas dos medicamentos em
relação à população brasileira, que tem hábitos nutricionais e características
diferentes dos europeus ou norte-americanos, onde freqüentemente ocorrem os
ensaios clínicos.
A
equipe de enfermagem também deve participar do processo, porque o paciente
muitas vezes tem receio de se queixar ao médico.
A
vigilância sobre os medicamentos deve poder garantir três aspectos:
1-
Utilização da mesma linguagem – A definição de reação adversa deve ser a mesma
em todo o universo de trabalho, com a implantação de um sistema homogêneo de
coleta de dados e padronização do critério de causa.
2-
Estabelecimento de uma rede que permita aos profissionais efetuar seu trabalho
de vigilância das RA’s.
3-
Padronização do modo de tomada de decisões, para que o sistema seja também
capaz de cobrar a melhoria da segurança e qualidade junto ao mercado
farmacêutico.
6. CONHECIMENTO DOS
FÁRMACOS X ESPECIALIZAÇÃO
Os
numerosos medicamentos introduzidos na prática médica nas últimas décadas têm
representado notável progresso no diagnóstico, tratamento e profilaxia de
diversas enfermidades. Contudo, diversos estudos têm comprovado importantes
morbidades e mortalidade relacionadas diretamente ao emprego dos medicamentos.
Segundo
Steel et al, o tratamento clínico contemporâneo encontra-se direcionado para
diagnósticos inteligentes e sofisticados, sem dispensar atenção equivalente à
prática racional e apropriada da terapia medicamentosa e à avaliação crítica
dos seus efeitos, levando ao aparecimento de doenças iatrogênicas em 18% dos
casos. Em 20% destes pacientes, as reações foram consideradas severas.
Também
de acordo com Myers, “A explosão do conhecimento na medicina criou uma situação
na qual o médico competente pode gravar somente pequena fração da vasta gama de
conhecimentos. O cérebro pode manipular somente 5 a 7 diagnósticos ou hipóteses
terapêuticas ao mesmo tempo... podendo ocasionar erros no julgamento dos diagnósticos.”
7. O QUE É UMA REAÇÃO
ADVERSA A UM FÁRMACO (RA ou RAM)?
Vários
estudiosos sobre o assunto, assim como muitas organizações voltadas para a
saúde, buscaram uma definição clara e completa de uma reação adversa, como
descrita a seguir:
A- ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DE SAÚDE (OMS)
“Qualquer
resposta a uma droga nociva e não intencional, que ocorre em doses usadas
normalmente em homens para profilaxia, diagnóstico ou tratamento de doenças ou
ainda, para modificação de função fisiológica”
B KARCH E LASAGNA:
“Qualquer
resposta a uma droga que é nociva e incompreensível que ocorra em doses usadas
para profilaxia, diagnóstico ou terapia, excluindo reações de taquifilaxia” Ref:
Karch & Lasagna – “Adverse Drug Reactions. A critical Review” – JAMA; 234;
1236-41; 1975.
C- ASSOCIAÇÃO AMERICANA
DE FARMACÊUTICOS HOSPITALARES:
“Qualquer
resposta inesperada, indesejável, incompreensível ou excessiva a um
medicamento, que:
v - Requeira interrupção do tratamento
(terapêutico ou diagnóstico), mudança na terapia ou modificação da dose;
v - Necessite ou prolongue internação,
ou ainda que se faça necessário tratamento de suporte (complementar);
v - Complique significativamente o
diagnóstico
v - Afete negativamente o prognóstico
v - Resulte temporariamente “ou
definitivamente em sequelas, incapacidades ou morte.”
D- FDA - PARA PROPÓSITO
DE REGISTRO:
“Evento
adverso sério – como o que causa morte do paciente, risco de vida (ou grande
possibilidade de levar a óbito), hospitalização (inicial ou prolongada),
incapacidade (significativa, persistente ou permanente), anomalia congênita ou
requeira intervenção para prevenir dano permanente”.
O
efeito adverso de um medicamento, dependendo do fármaco, da sensibilidade do
paciente e da patologia apresentada pode se restringir desde a um desconforto
abdominal, por exemplo, ou resultar em morte por toxicidade. Aproximadamente 3%
a 5% dos pacientes admitidos em hospitais apresentam reações adversas a
medicamentos. Uma vez internados, 15 a 30% desses pacientes apresentam reações
adversas.
Como
nos casos de internação é comum a prescrição de até cinco fármacos diferentes
em média, por paciente, sujeitos talvez a interações várias ou antagonismos, 1%
desses pacientes vão a óbito.
Face
à elevada variedade de substâncias administradas, um grande número de
prescrições apresentam impropriedades prescritivas que contribuem no surgimento
dessas reações e, em alguns países, já são motivos de grande preocupação, em
virtude do aumento no custo hospitalar, tanto direto como indireto, pelo
aumento no tempo de internação e por terapias adicionais necessárias ao seu
controle.
Participar
nos estudos clínicos e no programa de farmacovigilância do hospital, para o
farmacêutico, é então indispensável, já que é o profissional que detém
maior
conhecimento sobre ações farmacológicas e reações adversas das substâncias
terapêuticas.
Somente
com um controle efetivo das prescrições pelo farmacêutico é possível diminuir
esta incidência idiossincrásica.
7.1 – REAÇÕES ADVERSAS E
OS MECANISMOS DE PRODUÇÃO DOS EFEITOS
7.1.1 - REAÇÕES ADVERSAS
DEPENDENTES DOS PACIENTES E PREVISÍVEIS
Nem
todas as pessoas possuem a mesma predisposição para manifestação de reações
adversas. Muitas vezes é impossível prevê-las. Porém, em certas ocasiões, pode detectar-se
algum fator de risco, que levante a hipótese de manifestação da reação adversa.
A IDADE:
As
idades extremas, como os indivíduos maiores de 60 anos e os recém-nascidos
apresentam maior probabilidade de sofrer efeitos adversos. Em ambos os casos a
reação ocorre por alterações na distribuição e eliminação de alguns fármacos ou
por variações na sensibilidade dos receptores.
B SEXO:
Existem
poucos estudos bem fundamentados que identificam este como o fator de
predisposição de reações adversas.
C ANTECEDENTES DE
ALERGIAS E FUNÇÕES ORGÂNICAS COMPROMETIDAS:
Os
pacientes que apresentam enfermidades alérgicas têm maior probabilidade de
manifestar reações adversas. Do mesmo modo, os comprometimentos hepático e/ou
renal favorecem a manifestação das reações adversas, por deficiências na
biotransformação e eliminação dos medicamentos.
D POLITERAPIA:
Os
indivíduos que recebem grande número de medicamentos de forma simultânea podem
desenvolver com
maior
facilidade os efeitos adversos, devido a interações entre os fármacos.(18)
7.1.2 – REAÇÕES ADVERSAS
DEPENDENTES DOS PACIENTES E IMPREVISÍVEIS
A TOLERÂNCIA:
É
o fenômeno pelo qual a administração contínua e repetida de determinada dose de
medicamento diminui progressivamente a intensidade dos efeitos. O necessário
aumento da dose para manter os efeitos na mesma proporção faz com que a
tolerância também seja um mecanismo progressivo.
B HIPERSENSIBILIDADE:
Para
o desenvolvimento desta reação, é necessária a exposição prévia do indivíduo ao
fármaco, para indução do mecanismo imunológico. A intensidade da manifestação
não está diretamente relacionada com a dose administrada. Estas reações não são
explicadas pelas propriedades farmacológicas dos medicamentos e estão
relacionadas com as defesas imunológicas dos indivíduos.
C IDIOSSINCRASIA:
É
o efeito de ocorrência mais rara, definida como uma sensibilidade peculiar de
alguns indivíduos a certos fármacos. Esta sensibilidade está relacionada a
defeitos enzimáticos e é hereditária. São reações que não dependem de dose nem
de exposição anterior do indivíduo ao fármaco.
7.1.3 – REAÇÕES ADVERSAS
DEPENDENTES DOS MEDICAMENTOS
A SUPERDOSAGEM RELATIVA:
Quando
um fármaco é administrado em doses habituais, mas suas concentrações
plasmáticas extrapolam a janela terapêutica, por variações farmacocinéticas (às
vezes induzidas por outros fármacos).
B EFEITOS SECUNDÁRIOS:
São
os efeitos manifestados como consequência do efeito farmacológico esperado,
independentes da ação farmacológica principal.
Ex:
morte de flora bacteriana intestinal por antimicrobianos, resultando em diarreia.
7.2 – REAÇÕES ADVERSAS
QUANTO AO MECANISMO DE AÇÃO
Algumas
RA’s de maior importância e incidência são definidas nos ensaios clínicos (fase
III) quando se administra várias concentrações do fármaco em grupos de estudos
previamente estabelecidos, onde se notifica as manifestações (estudos
multicêntricos, randomizados ou duplo cego).
7.2.1 – DOSE DEPENDENTES
São
previsíveis e podem ser reproduzidas em animais de laboratório, na etapa prévia
à comercialização do medicamento. São farmacologicamente possíveis de prever,
têm alta incidência e morbidade, baixa mortalidade e podem ser tratadas
ajustando-se as doses.
7.2.2 – DOSE
INDEPENDENTES
São
efeitos totalmente aberrantes e inesperados, considerando-se as propriedades
farmacológicas de um medicamento administrado em doses terapêuticas habituais,
em um paciente que apresenta a farmacocinética normal do medicamento
administrado.
Não
são farmacologicamente previsíveis, não são dose dependentes, têm incidência e
morbidade baixas, alta mortalidade e devem ser tratados com a suspensão do
fármaco.
7.3 - PROBABILIDADE DE
OCORRÊNCIA DAS REAÇÕES ADVERSAS
REAÇÃO DEFINIDA – é conhecida por ser um evento
clínico, incluindo anormalidade de exames laboratoriais, ocorre em espaço de
tempo esperado em relação à administração do medicamento, o que não pode ser
explicado pela doença de base, por outros medicamentos ou por substância
química. O teste de readministração do medicamento é positivo.
A PROVÁVEL
É
também um evento clínico confirmado em exame laboratorial, manifestado no tempo
esperado em relação à administração do medicamento, não explicado pela doença,
por outros medicamentos ou por substância química e que seguem resposta clínica
razoável após a retirada. Há resposta clínica, em tempo previsto, que se
manifesta na suspensão do medicamento. Não há necessidade de testar a
readministração.
B POSSÍVEL
É
um evento clínico, incluindo anormalidade de exames laboratoriais, que ocorre
em espaço de tempo plausível em relação à administração do medicamento, mas que
pode ser atribuído à doença de base, a outros medicamentos ou à substância
química. A informação da retirada do medicamento pode ser ausente ou não
conclusiva.
C DUVIDOSA
é
um evento clínico, incluindo anormalidade de exames laboratoriais, que ocorre
em espaço de tempo plausível em relação à administração do medicamento e que
determina improvável relação causal, no
qual
outros medicamentos, substância química ou doenças subjacentes fornecem
explicações possíveis.
D CONDICIONAL/NÃO
CLASSIFICADA
É
um evento clínico, confirmado em exame laboratorial, relatado como um evento
adverso, sobre o qual é essencial a coleta de maiores informações para uma
avaliação mais apropriada, ou quando os dados adicionais estão sob observação.
E NÃO ACESSÍVEL/NÃO
CLASSIFICÁVEL
Notificação
sugerindo reação adversa que não pode ser julgada por informação insuficiente
ou contraditória e que não pode ser suplementada ou verificada.
7.4 - EFEITOS DE MORBIDADE
v – Menor
– Se não for necessário nenhum antídoto, terapia ou prolongamento da
internação.
v – Moderado
– Requer antídoto ou terapia e prolonga a internação por pelo menos um dia.
v – Severo
– Requer suspensão da droga e tratamento intensivo para a sobrevivência.
v – Letal
– Causa direta ou indiretamente a morte do paciente.
7.5 - INCIDÊNCIA DAS
REAÇÕES ADVERSAS EM RELAÇÃO AO MEDICAMENTO
Existem
vários fatores que explicam a manifestação de reações adversas, como a dose do
medicamento, a forma farmacêutica e a duração do tratamento. Também possui
importância a idade do paciente, o sexo, a patologia e suas características
genéticas.
Em
relação ao comportamento do paciente, é necessário considerar que 60% dos
pacientes não conseguem identificar corretamente os medicamentos que estão
tomando; 40% usam drogas prescritas por dois ou mais médicos, aumentando o
índice de interações medicamentosas; 12% dos pacientes empregam automedicação e
60% dos pacientes consideram os remédios completamente seguros.
7.6 - EFEITOS NÃO
CLASSIFICADOS COMO REAÇÕES ADVERSAS (3)
EFEITO COLATERAL:
É
uma reação esperada, bem conhecida, que requer pequena ou nenhuma mudança no
tratamento, como: sonolência, boca seca ou náusea. São efeitos que tem
frequência esperada e intensidade relacionada com a dose administrada.
Os
efeitos de suspensão, síndromes de abuso de drogas, envenenamento acidental e
complicações por overdoses não podem ser considerados manifestações de reações
adversas
A
prática clínica mais comum na manifestação de uma reação adversa é a redução da
dose ou a suspensão do tratamento.
7.7 - NOTIFICAÇÃO DAS
REAÇÕES ADVERSAS
Seja
qual for o método empregado, deve ter como objetivo o fornecimento de alto
índice de concordância e reprodutibilidade.
Os
diferentes métodos empregados devem poder responder pelo menos se a
manifestação da doença apresenta um tempo razoável após a administração do
fármaco; se segue algum tipo de resposta conhecida após a administração; se
melhora com a suspensão do medicamento; se reaparece com nova administração do
medicamento ou se pode ser explicada pela própria evolução da doença tratada
ou, ainda, por outros tratamentos concomitantes.
É
necessário, também, investigar se o efeito adverso se manifestou por mudança em
algum protocolo, como por exemplo, na alteração não intencional da velocidade
de infusão de um medicamento.
7.8 - RELAÇÃO DE
CAUSALIDADE – CONDIÇÕES
O
diagnóstico de uma reação adversa não dispõe de provas específicas. Por isso,
só se realiza por exclusão e não passa do caráter de suspeita. Para que uma
reação adversa seja corretamente notificada, é necessário estabelecer uma
adequada relação entre causa-efeito, de acordo com o uso do medicamento e o
aparecimento da reação.
Ao
estabelecer esta relação, é necessário considerar que nem todas as reações
adversas são específicas; que o paciente em geral não recebe monoterapia que,
na maioria dos casos, administram-se vários medicamentos de forma simultânea (o
que dificulta a análise) e que a reação adversa pode cursar com sintomatologia
clínica muito parecida com a patologia de base do paciente.
A
relação de causalidade entre uma reação adversa e o medicamento suspeito
depende principalmente da confirmação da administração do medicamento suspeito,
do conhecimento da dose diária e total do medicamento usado, da descrição da
reação, com seus sinais e sintomas, da interpretação dos testes de laboratório
e das concentrações plasmáticas anormais; dos tempos transcorridos até o
aparecimento dos sintomas de reação adversa, para cada medicamento (de acordo
com a farmacocinética); das características de evolução a partir da suspensão
do fármaco e diminuição ou desaparecimento da RA; das características de
evolução a partir da readministração do fármaco, e reaparecimento da RA; do
estudo de outras causas possíveis do efeito adverso, entre elas outros fármacos
que podem causar a mesma reação e enfermidades concomitantes que podem cursar
com a mesma sintomatologia, além da publicação e arquivamento de notificações
prévias sobre a exposição ao mesmo fármaco. É necessário, também, levantar o
histórico médico ou familiar e a indicação da prescrição.
Com
a finalidade de evitar interpretações subjetivas, tem-se proposto o emprego de
algoritmos diversos ou tabelas de decisão. Um algoritmo é, em síntese, um
conjunto de perguntas que pretende qualificar ou quantificar cada suspeita da
relação medicamento RA, com certo grau de probabilidade.
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