MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS
DA
ATIVIDADE DE FARMÁCIA
UPA
24 HORAS DE TERESÓPOLIS
RIO
DE JANEIRO - 2012
DIRETORA MÉDICA
UPA 24 HORAS TERESÓPOLIS
DRA, JULIANA DE
OLIVEIRA WILKEN
MANUAL BÁSICO DE NORMAS E PROCEDIMENTOS
DA ATIVIDADE DE FARMÁCIA
ERROS DE MEDICAÇÃO
O
sistema de controle para redução dos erros deve ter foco nos processos e
não
nas pessoas (Lucien Leape – 1998)
Quando
são divulgadas no país notícias de morte de vários pacientes pelo uso indevido
de medicamentos, o impacto na opinião pública traz à tona um problema que já
vem sendo discutido nos países mais evoluídos, há algum tempo. Pode-se
verificar a importância deste fato, no grande volume de publicações e
editoriais, na maioria dos periódicos internacionais críveis do mundo.
Em
1961, Barker & McConnell publicaram um estudo mostrando que em cada seis
doses de medicamentos administradas, uma continha erro. Em Março de 1975, houve
uma publicação do artigo de Michael Cohen no periódico Hospital Pharmacy, sobre
a análise das notificações de erros.
Nos
anos 80 e 90, as notícias sobre erros ganharam espaço na mídia, com publicações
nos jornais sobre erros fatais, pois os eventos graves ocorridos no Boston’s
Dana Farber Câncer Institute foram alvo de notícia na NBC. Johnson &
Bootman estimaram em US$ 76 bilhões
o
custo de efeitos adversos nos ambulatórios por sequela de erros. Um artigo
publicado no The Lancet estima que 7000 mortes ocorrem anualmente como
resultado de erros entre pacientes de ambulatório e internados, superando as
causadas por acidentes no trabalho.
Em
1991 foi publicado por um grupo de trabalho, Harvard Medical Practice Study, um
estudo retrospectivo com 30195 pacientes internados nos hospitais
novaiorquinos, em 1984.
Este
estudo concluiu que em 3,7 % dos pacientes com manifestação de efeitos
iatrogênicos, 19,4% foram causados por medicamentos, sendo 45% dos efeitos
causados por erros.
O
sistema implantado pelo FDA no período de 1993-98 coletou 5307 casos de erros
de medicamentos e recebeu 6000 notificações de erros sendo 50% das mesmas
relativas à confusão com rotulagem e embalagens dos medicamentos.
Dentre
os erros, 68,2% produziram sérios danos aos pacientes, com fatalidade em 9,8%
dos casos. Em 469 casos fatais, 48,6% aconteceram em pacientes com mais de 60
anos.
Os
tipos mais comuns de erros que induziram à morte em pacientes foram
administração de dose imprópria (40,9%), medicamento errado (16%) e via de
administração errada (9,5%). As causas mais comuns destes erros foram
desconhecimento (44%) e erros de comunicação (15,8%).
Outro
levantamento de 696 casos relacionou 30% de erros por falta de conhecimento,
29,2% por falta de conhecimento dos pacientes, 17,5% erro de cálculo de doses e
13,4% relacionados a nomes incorretos, dose ou abreviaturas empregadas.
O
periódico Archives of Internal Medicine publicou, em 9 de setembro de 2002, um
estudo prospectivo de cohort, onde, de forma geral, ocorreram erros em 19% das
doses, sendo que 7% foram potencialmente perigosos. Nas 36 Instituições, em 611
(19%) das 3216 doses havia erros. Os erros mais comuns foram horário errado
(43%), omissão na administração (30%), dose errada (17%) e medicamento não
autorizado (4%).
Erros
potencialmente perigosos, julgados a partir do potencial em causar reações
adversas, foram cometidos em 7% das doses, ou seja, mais de 40 erros por dia em
um hospital de 300 leitos.
À
parte todos estes relatos, a Organização Mundial de Saúde preconiza como
aceitável a taxa de 7% de erro, vinculada ao preparo e administração dos
medicamentos.
Os
efeitos adversos previsíveis são a maior causa de mortalidade, morbidade e
aumento dos custos sanitários. Dentre esses efeitos, existe um número
significativo de erros de medicamentos, ocorridos em cerca de 670.000
pacientes/ano nos EUA, a um custo de US$ 2,8 milhões, para um hospital de 700
leitos.
Os
informes publicados na mídia pelo Committee on Quality of Health Care in
América assinalou que os erros assistenciais ocasionam entre 44000 e 98000
mortes/ano, uma mortalidade maior que o câncer de mama, AIDS e acidentes.
Como
visto, existe um sério problema de erros com medicamentos e alguma ação deve
ser tomada para sua redução, pois além de ser causa significativa de morbidade
e mortalidade em pacientes hospitalizados, os erros de medicação são fonte de
aumento de custos de atendimento.
É
necessária, então, a implantação de sistemas de monitoramento contínuo de
ordenação, dispensação e administração dos medicamentos, com políticas de
prevenção da ocorrência dos erros. Estes sistemas requerem pessoal treinado e
supervisionado, comunicações eficientes, rotinas de trabalho bem estabelecidas,
sistema de manuseio efetivo e seguro, avaliação de procedimentos e produtos
finais, qualidade no gerenciamento e equipamentos
adequados,
para evitar o desenvolvimento de barreiras e permitir o estudo efetivo dos
problemas. A identificação e documentação das causas de erros minimizam a sua
recorrência.
O
que acontece com a assistência à saúde que permite um número tão elevado de
problemas relativos a medicamentos?
Primeiramente,
o conhecimento dos profissionais de assistência à saúde sobre medicamentos não
se atualiza em acompanhamento à proliferação de novos produtos no mercado e à
disponibilidade de um número crescente de medicamentos de conhecimento e
manuseio mais complexos. Segundo, a terapia medicamentosa tornou-se mais
intensiva e a cultura profissional sanitária tende a limitar ao invés de
favorecer a comunicação aberta sobre os
erros
assistenciais e suas causas. Em terceiro lugar, o sistema de uso de
medicamentos possui, ainda, um escasso nível de informatização.
Os
farmacêuticos, cujo trabalho é o de tornar o uso de medicamentos mais seguro e
racional, deparam-se com prescrições cada vez mais ilegíveis ou incompletas,
prescrições com overdoses, sub-doses e vias erradas de administração. Mesmo que
estes profissionais possuam maior nível de formação para detecção dos erros e
sejam mais experientes na implementação de projetos de redução dos mesmos, às
autoridades de saúde cabem iniciativas de implantação de normas nos hospitais
do Brasil, visando treinamento e melhoria da qualidade da assistência
farmacêutica, pois a ocorrência de erros nas medicações compromete a confiança
dos pacientes no sistema de saúde e aumenta os custos.
Como
consequência, a finalidade deste complexo e frágil sistema de utilização de
medicamentos que não é outra além de proporcionar terapêutica segura, adequada
e eficiente aos pacientes, nem sempre se concretiza.
Os
problemas com os erros são multidisciplinares e multifatoriais e os erros
ocorrem por insuficiência de conhecimento, lapsos mentais, desempenhos
insatisfatórios ou defeitos e falhas dos sistemas. Podem ser cometidos por
profissionais experientes e inexperientes, incluindo farmacêuticos, médicos,
enfermeiros, pessoal de apoio, estudantes, administradores, fabricantes farmacêuticos
e pacientes ou acompanhantes.
Os
maiores fatores que contribuem para os erros são os processos de segurança
inadequada, o desconhecimento das formas farmacêuticas e a nomenclatura
confusa.
Os
processos inadequados de segurança manifestam-se nas instituições que possuem
falhas no monitoramento das prescrições, na preparação dos medicamentos, na
dispensação, no controle de distribuição ou na administração de formas
farmacêuticas.
A
falha no conhecimento das formas farmacêuticas ocorre porque a deficiência na
educação e informação para os profissionais e acompanhantes faz com que os
profissionais sejam mal informados sobre as propriedades, a disponibilidade e o
uso adequado das várias formas do mercado. Esta lacuna dificulta a observação da
manifestação de efeitos adversos, induzidos pelo uso incorreto.
Nomenclatura
dos medicamentos – a implantação de uma nomenclatura que não induza ao erro de
medicamento é um processo complicado, pois envolve as satisfações comercial,
profissional e a necessidade de segurança.
Os
nomes dos medicamentos devem ser razoavelmente memoráveis e significativos para
médicos, enfermeiros, farmacêuticos e pacientes e as subclasses terapêuticas
tendem a padronizar os sufixos das substâncias, para permitir melhor identificação
do mecanismo de ação (captopril, enalapril, lisinopril, fosinopril).
ERROS COM MEDICAÇÃO:
Um
erro de medicação, definido pelo National Coordinating Council for Medication
Error Reporting and Prevention (NCCMERP) é “qualquer evento previsível que pode
causar ou induzir ao uso impróprio do medicamento, causando danos ao paciente,
quando a terapia está sob controle do profissional de saúde, paciente ou
consumidor. Estes eventos podem ser relacionados à prática profissional, aos
produtos, procedimentos e sistemas, incluindo prescrições, rotulagem, embalagem
e nomenclatura; manipulação; dispensação; distribuição; administração;
educação; monitoramento e uso”.
Devemos
considerar, também, que as manifestações adversas induzidas pelo uso dos
medicamentos (adverse drug event – ADE) podem ser quaisquer danos leve ou
grave, causados pelo uso clínico e podem ser previsíveis e não previsíveis.
As
consideradas previsíveis são os danos causados pelos erros e as imprevisíveis
são os danos produzidos apesar do uso adequado do medicamento (dano sem erro) e
se manifestam com as reações adversas.
A
possibilidade de manifestação de uma reação adversa depende das características
do paciente, da doença a ser tratada, da medicação envolvida, da dose
envolvida, da natureza do erro, do nível de monitoramento do paciente e da
natureza do efeito adverso resultante.
À
medida que novos medicamentos e doses se tornam disponíveis, é necessário
monitorar os erros e garantir a segurança do paciente.
À
exceção dos erros por omissão, a dose do medicamento deve habitualmente ser
administrada ao paciente, ou seja, uma dose errada que seja verificada a tempo
e não administrada, não pode ser considerada erro. Os erros de prescrição
(medicamentos ou doses impróprias) estão excluídos desta definição.
A TEORIA DO ERRO DE
MEDICAÇÃO:
Quando
ocorre um acidente aéreo, a primeira pergunta não é quem o causou e sim o que.
Na área da saúde, não existe a crença de que médicos, farmacêuticos e
enfermeiras possam ser falhos. A sociedade não só espera como exige uma
performance perfeita do profissional, em relação ao conhecimento, à
assistência, ao melhor desempenho, à proteção e à segurança. Por isso, o erro é
visto como falta de caráter.
A
realidade, porém, é que, independentemente do nível de conhecimento, de
assistência ou de esmero no trabalho, errar é humano. O reconhecimento deste
fato fornece uma ferramenta poderosa na descoberta da causa real dos erros e
permite futuras prevenções.
Para
melhor entendimento das causas de erros, devemos saber que existem dois modos
de ação: automático e racional.
No
modo automático, os processos mentais são rápidos e não requerem esforço. Não é
necessário pensar, as ações são inconscientes e só requerem atenção, se houver
alguma mudança. Quando se “está no automático”, os erros são deslizes,
cometidos por falta de atenção a algum momento crítico ou por distração.
Ocorrem quando um indivíduo conhece o procedimento, mas o executa de modo
errado ou parcialmente.
Já
o modo racional requer concentração mental. É preciso receber a informação e
comparar com o conhecimento prévio, para então saber como agir. Como resultado,
este processo é lento, sequencial e demanda algum esforço. Por isso, os erros
que ocorrem nestes dois processos são diferentes.
Os
erros que ocorrem no modo racional envolvem problemas no julgamento da ação, em
situações incomuns, onde as decisões são regidas por informação insuficiente ou
inadequada e onde as normas não são aplicadas. Pode haver, então, a tendência
de padronizar as ações e condutas ou de utilizar a primeira informação que vem
à mente e ignorar qualquer nova informação contrária ao primeiro impulso e
ainda acreditar na validade da ação escolhida, buscando evidências que a
suportem. Todos estes fatores afetam a habilidade do modo
racional.
Os
erros podem ser ativos ou latentes. Um erro ativo tem efeito imediato, como
virar em uma rua na contra-mão. Os erros latentes são situações potenciais fora
de controle do indivíduo, ou seja, é “um acidente prestes a acontecer”, como se
houvesse uma árvore exatamente na esquina, no ângulo de visão do motorista que
precisa dobrar a rua. O objetivo primário de qualquer sistema de erros deve
ser, então, identificar os erros latentes e redesenhar ou modificar os
processos para corrigir os erros antes que aconteçam.
Como
o processo de uso dos medicamentos é complexo e envolve pelo menos uma pequena
variação para cada paciente, é praticamente impossível a padronização de normas
e rotinas, induzindo um aumento proporcional à complexidade do processo de uso
dos medicamentos.
CATEGORIAS DE ERROS DE
MEDICAÇÃO:
Segundo
o programa de monitoramento dos erros implantado pela USP em 1999 (MedMARX), os
erros de medicamento podem ser divididos em doze categorias.
1)
Erro de omissão – falta de administração de dose prescrita, antes da
administração da nova dose, se houver. Pode ser também enquadrada nesta
categoria a falha na orientação do paciente em relação à terapia, para garantir
compreensão e aderência ao tratamento.
OBS:
Se o paciente se recusar a tomar o medicamento, não há erro.
2)
Dose sem autorização – administração ao paciente de medicamento não autorizado.
Esta categoria inclui dose administrada ao paciente errado, dose administrada
em duplicata, administração de dose não prescrita e dose administrada fora dos
parâmetros clínicos (como os medicamentos SOS, se não estiverem prescritos). Ou
ainda, administração de medicamento não prescrito – não entendeu a prescrição
médica e “acha” que é determinado medicamento.
3)
Dose errada - os erros envolvidos nas doses são comuns e apresentam risco
considerável para os pacientes. Este risco deve aumentar à medida que aumenta a
diversidade das formas no mercado. Os efeitos relacionados com erros envolvendo
doses incluem: o aumento dos efeitos adversos devido à velocidade de absorção
ou liberação rápidas; troca de vias de administração e de forma farmacêutica,
sem o cálculo correspondente; efeitos adversos pelas
características
da forma farmacêutica (betametasona administrada EV); via errada de
administração; overdose medicamentosa, na administração de medicamentos que
contenham a mesma substância, em conjugação com outras; resposta falha ou
inadequada, pelas diferenças na biodisponibilidade (dispensação de invirase ao
invés de fortovase); resposta falha ou inadequada, por diferenças na velocidade
de ação (morfina de liberação prolongada para alívio imediato da dor) ou
resposta falha ou inadequada, devido ao uso inadequado de um medicamento, por
falta de orientação do paciente.
É
considerado erro qualquer dose prescrita em número errado de formas
farmacêuticas (X comprimidos) ou qualquer dose acima ou abaixo da dose
prescrita em determinada concentração (20%); administração de medicamentos de
liberação imediata ao invés dos medicamentos de liberação prolongada e
designação ambígua de concentrações ou embalagem. No caso de pomadas, soluções
tópicas e spray, o erro ocorre somente se a administração não seguir a dosagem
quantitativamente expressa na prescrição (spray por X segundos).
Ou
ainda: Troca de medicamentos, por:
v -preparação de mais de um medicamento
por vez
v -falta de leitura do rótulo – costume
de uso de determinada marca
v -mudança de leitos de um paciente
4)
Via de administração – administração de medicação por via diferente da prescrita,
ou troca de via de administração, por maior costume de administração de
endovenosos do que de intramusculares.
5)
Velocidade de infusão – administração de medicamento em velocidade diferente da
prescrita ou da estabelecida nas normas hospitalares.
6)
Forma farmacêutica errada – a forma pode ser simples, mas podem haver
diferentes concentrações e tamanhos de um comprimido de liberação prolongada ou
formulações com propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas diferentes,
como os injetáveis lipossomais.
As
diferentes formas existem para permitir a administração por diferentes vias, a
liberação ou retenção de substâncias ou tem a finalidade de aumentar a
conveniência para o paciente, para administração a populações especiais
(crianças), para reduzir os efeitos adversos, para aumentar os efeitos
terapêuticos, para liberação de substância em órgão-alvo, para aumentar
biodisponibilidade ou para uso em diferentes indicações.
No
entanto, enquanto o benefício para o paciente é a aquisição da formulação
adequada, o uso impróprio de formas e apresentações induz a risco potencial.
Os
erros com as formas farmacêuticas ocorrem em todas as etapas do processo de uso
dos medicamentos e envolvem todos os que lidam com os medicamentos (médicos,
farmacêuticos, enfermeiros e pacientes). É também considerado erro a
administração de medicamento pela via correta, mas de forma farmacêutica
diferente, como a administração de uma pomada oftálmica ao invés de um colírio.
A substituição de um líquido por um comprimido de mesma concentração, não deve
ser considerado como erro.
7)
Tempo de administração errado – administração de uma dose determinadas horas
antes ou depois do tempo agendado; administração de medicamento sem definição
prévia de intervalo entre doses.
8)
Preparação errada da dose – ocorrem por diluição ou reconstituição incorretas,
falta de diluição completa da suspensão, emprego de medicamento vencido,
administração de medicamento fotossensível sem proteção adequada e mistura de
medicamentos física ou quimicamente incompatíveis. Ou ainda, contaminação do
preparo no manuseio descuidado de medicamentos, por vezes potencialmente
citotóxicos, permitindo formação de aerossóis, a abertura de frascos e ampolas
de medicamentos voláteis, deixando-os expostos ao ar, por certo período de
tempo, a formulação ou manipulação incorreta do medicamento antes do
fornecimento, os erros na rotulagem e a rotina de manuseio excessiva para
poucos funcionários.
9)
Técnica de administração incorreta - situações onde o medicamento correto é
empregado, pela via correta, mas a técnica usada é imprópria, como na
instilação incorreta de uma pomada oftálmica ou no uso incorreto de um equipo.
Administração rápida, em bolus, de um medicamento próprio para infusão lenta
(em dripping) ou administração de um medicamento irritante.
10)
Erros de prescrição – seleção incorreta da droga (sem considerar as indicações,
contraindicações, alergias conhecidas, terapia já existente e outros fatores),
dose errada, forma farmacêutica incorreta, posologia incorreta, dose maior ou
menor, via de administração errada ou concentração erradas, velocidade de
administração errada ou desconsideração nas instruções de uso de um produto;
prescrições ilegíveis; escrituração em nomenclatura e abreviaturas diversas das
padronizadas na instituição; transcrição imprópria; cálculo errado da dose.
11)
Erro de monitoramento – falha na avaliação da eficácia dos sistemas, na
detecção de problemas ou na interpretação dos dados laboratoriais, para
verificação da resposta do paciente à terapia.
12)
Erro de cálculo – a necessidade de cálculo das doses de medicamento para
crianças e lactentes pode levar a maior margem de erros, com grande índice de
morbidade e mortalidade.
ERROS vs USO DE
MEDICAMENTOS:
No
sistema de avaliação das causas de erro implantado pela farmacopéia americana
(USP – MedMARX -1999), 25% dos casos apurados em 16 meses aconteceram durante a
administração de medicamentos. Quando o sistema de distribuição empregado é a
dosagem unitária, estima-se em 33% o tempo gasto pela enfermagem na
administração de medicamentos.
Os
sistemas de individualização de dose ou o coletivo de distribuição requerem
maior tempo. Dados estatísticos provam que uma enfermeira com curso superior
consome em média 2 min/dose (1,5 a 3,7 min) de seu tempo no preparo de
medicamentos, para cada período de administração (a cada 4 horas, por exemplo),
para cada enfermaria de 3 leitos, comprometendo, ao final do mês, o tempo
equivalente a 10 (dez) horas de trabalho.
Esse
tempo se estende para 4 min, se o manipulador for um auxiliar de enfermagem.
Como os erros podem estar envolvidos em falhas de mais de um sistema, deve
haver registros escritos, notificando os erros clinicamente importantes
observados no uso dos medicamentos. Estes documentos devem ser analisados para
monitorar as ações necessárias para evitar a repetição do ocorrido.
ATRIBUIÇÕES DA
ORGANIZAÇÃO HOSPITALAR:
ATRIBUIÇÕES NO HOSPITAL:
As
instituições de saúde devem divulgar, analisar e prevenir os erros de
medicação, através da implantação de sistemas de prescrição eletrônica para
avaliação contínua do uso de medicamentos, monitorando principalmente o uso dos
fármacos associados à alta frequência de reações adversas. Este programa deve
dispor, para os farmacêuticos, o acesso às informações clínicas sobre os
pacientes, com manutenção de arquivo sobre a terapia medicamentosa dos mesmos.
O
sistema também deve monitorar e incentivar a comunicação por escrito e oral
entre o pessoal envolvido no processo de uso dos medicamentos, para facilitar a
prescrição, dispensação e administração em tempo hábil.
Qualquer
alteração na prescrição deve ser efetuada e divulgada antes da administração do
medicamento, principalmente para os enfermeiros. As orientações sobre o
processo de uso dos medicamentos, nos programas de treinamento para o
profissional, devem divulgar as posturas em relação ao sigilo e segurança das
informações sobre os pacientes, partilhadas entre os profissionais usuários do
sistema.
Deve
existir um protocolo que estabeleça os responsáveis pela coleta, avaliação e
registro de erros na organização. O grupo revisor deve investigar as causas e
desenvolver programas para diminuir a ocorrência dos erros.
ATRIBUIÇÕES NO SERVIÇO
DE FARMÁCIA:
O
sistema de monitoramento dos erros, bem como os seus processos de prevenção,
depende da implantação de normas e procedimentos para avaliação e seleção do
uso de medicamentos; da seleção apropriada de pessoal de apoio envolvido no
manuseio dos medicamentos, da preparação, dispensação e educação dos pacientes;
da avaliação de competência, supervisão e educação técnica; do cumprimento fiel
da rotina de trabalho estabelecida no manual e normas e procedimentos; do veto
à interrupção do trabalho dos funcionários manipuladores, enquanto preparam os
medicamentos e da definição das responsabilidades relativas ao armazenamento,
dispensação e administração de medicamentos.
O
horário de funcionamento para o serviço de farmácia deve ser adequado à
provisão da assistência farmacêutica, no máximo de tempo possível. Na
impossibilidade de funcionamento ininterrupto, deve ser permitido o acesso
exclusivo aos medicamentos empregados nas emergências. O sistema de
distribuição deve estabelecer restrição ao estoque de medicamentos nos postos
de enfermagem.
Os
produtos comumente envolvidos em erros sérios ou cuja margem de segurança é
estreita, assim como as formas concentradas de produtos que necessitam diluição
em grandes volumes, devem ter monitoramento especial. Todas as áreas devem ser
inspecionadas rotineiramente pela farmácia, para garantir integridade,
embalagem, estocagem e rotulagem adequadas dos produtos.
O
farmacêutico deve garantir que todos os produtos usados na organização tenham
alta qualidade, selecionando somente os que apresentarem biodisponibilidade e
embalagem / rotulagem adequados. Deve manter os produtos no prazo de validade e
divulgar informações sobre os produtos novos do mercado.
Todos
os medicamentos não administrados por interrupção de tratamento ou alta do
paciente devem retornar para a farmácia o mais rapidamente possível.
É
recomendável a implantação de sistemas computadorizados que permitam
verificação automática de doses, duplicação das doses, manifestações de
hipersensibilidade, interações medicamentosas e outros aspectos do uso.
A
farmácia, juntamente com a enfermagem e equipe médica, deve conduzir um
programa educacional contínuo para discutir os erros, suas causas e os métodos
mais eficientes para prevenção.
ATRIBUIÇÕES NAS
PRESCRIÇÕES:
Nos
leitos, as oportunidades de erros ocorrem quando os pacientes são transferidos
para diferentes leitos ou clínicas ou quando são assistidos por médicos que
trabalham em regime de plantão e não se familiarizam com os pacientes. A
identificação do pacientes chamando-o pelo nome também pode ser causa de erro,
já que pacientes confusos podem responder afirmativamente quando um nome é
pronunciado, mesmo que não seja o seu próprio.
A
alternativa para minimizar esses erros é implantar no hospital a identificação
de pacientes através de pulseiras, que podem ser lidas por código de barras.
Na
determinação da terapia adequada, os prescritores devem ter conhecimento
atualizado do mercado farmacêutico, através de revisão da literatura ou outras
fontes de consulta, além do conhecimento sobre as manifestações das doenças
incomuns na prática clínica.
Antes
da prescrição de novos medicamentos ou da adição de novas terapias, após
anamnese do paciente, é recomendável a revisão da terapia previamente
prescrita, para prevenir antagonismos ou sinergismos medicamentosos, com o
necessário monitoramento dos sinais e sintomas clínicos, além de avaliar a
necessidade de continuidade dos tratamentos. Do mesmo modo, os profissionais
prescritores devem estar familiarizados com a padronização existente na instituição.
A
terapia medicamentosa com formas farmacêuticas para uso oral deve ter
preferência entre as prescrições, pois há possibilidade de reversão (parcial,
pelo menos) do processo de administração.
As
prescrições verbais ou pelo telefone devem ser reservadas somente para
situações emergenciais ou cirúrgicas, nas quais é impossível ou impraticável
para o prescritor escrever ou digitar a ordem. O prescritor deve ditar as
ordens vagarosamente, claramente e de modo articulado, para evitar confusão.
Quando
possível, o prescritor deve explicar ao paciente ou acompanhante a medicação
prescrita, incluindo as precauções especiais ou quaisquer observações
necessárias, discorrendo sobre as reações de hipersensibilidade que possam
ocorrer.
As
instruções a respeito da suspensão dos medicamentos devem ser claras.
ATRIBUIÇÕES DOS
FARMACÊUTICOS:
A
ausência de profissional farmacêutico nas instituições hospitalares contribui
fortemente para a ocorrência de erros. Estudos relatam que os farmacêuticos
possuem maior habilidade na detecção de erros do que a equipe de enfermagem
(87,7% vs 82,1%). A diferença é mais evidente se os erros são mais sérios, como
por exemplo, na verificação de concentrações erradas (93,3% vs 83,3%).
Pesquisas recentes nos EUA confirmam que a participação
farmacêutica
nos processos de prescrição, transcrição, dispensação e administração podem
reduzir os erros em pelo menos 66%.
Os
farmacêuticos integrados na equipe interdisciplinar com médicos e outros
profissionais de saúde podem prover terapia eficiente e custo-efetiva, através
da implantação e avaliação de um plano terapêutico que apresente resultados
definidos nos pacientes, pois o envolvimento do farmacêutico com os pacientes
provou ser um componente-chave na garantia de melhor emprego dos medicamentos.
Espera-se
que o farmacêutico possa colaborar com o prescritor, na implantação e
monitoramento de um plano terapêutico que produza efeitos definidos nos
pacientes, orientando sobre o protocolo mais indicado, sobre a administração de
medicamentos e possíveis duplicidades de prescrição, revisando as interações
medicamentosas, na avaliação de dados laboratoriais e clínicos pertinentes,
assim como na participação de atividades que ajudem a promover o uso seguro,
efetivo e racional dos medicamentos. Para recomendar e reconhecer a terapia
apropriada, os farmacêuticos devem estar familiarizados com a literatura do
momento e participar de programas de educação continuada e/ou outros meios.
Além
das orientações sobre as prescrições, os farmacêuticos podem fornecer
informação a enfermeiros e prescritores sobre os regimes terapêuticos e sobre o
correto emprego dos medicamentos. Não devem nunca assumir ou formar opinião
sobre a prescrição médica de interpretação confusa.
Na
manipulação dos medicamentos, os farmacêuticos devem manter ordem e limpeza da
área de trabalho e desenvolver cada etapa isoladamente, com o mínimo de
interrupção possível. Assim como na manipulação, a disposição física da área de
dispensação deve prevenir erros. O ambiente deve ser configurado para a redução
de fadiga (iluminação, refrigeração, nível de ruído, mobiliário, tempo para
descanso, horário de trabalho), disposto de forma a evitar distrações (telefone
e interrupções pessoais) e fornecer recursos suficientes para a carga de
trabalho.
Também
é vital que o farmacêutico verifique permanentemente os processos de
dispensação, para garantir que os erros não sejam introduzidos neste ponto do
processo. No entanto, verificações parciais são ineficazes. Os fatores que
contribuem para os erros podem ter vícios e o sistema de verificação precisa
ser avaliado completa e periodicamente, para garantir sua eficiência, pois
independentemente do sistema de distribuição empregado, a segurança do mesmo
depende diretamente da perfeição humana.
Antes
da dispensação de medicamentos em situações não emergenciais, os farmacêuticos
devem rever a prescrição original (ou sua cópia fiel) Se houver qualquer
dúvida, o prescritor deve ser consultado antes da dispensação.
Devem
garantir a verificação de todo o trabalho desenvolvido pelo pessoal de apoio e
participar, no mínimo, de processo de auto-avaliação na leitura de prescrições,
rótulos e cálculos de doses. Para os produtos de alto risco, todo o trabalho
deve ser revisado por outro farmacêutico, quando possível, principalmente nos
casos onde é necessário o cálculo de doses, para garantir a exatidão dos
medicamentos, rótulos, embalagens, quantidade, dose e instruções.
Os
farmacêuticos devem dispensar os medicamentos prontos para uso, sempre que possível,
através de distribuição por dose unitária, utilizando eficientemente os
rótulos, inclusive os auxiliares, para garantir com tal prática, a prevenção de
erros (agite bem; para uso externo somente; uso tópico).
Os
farmacêuticos envolvidos somente na dispensação estão afastados demais das
prescrições, das transcrições (se houver) e da administração dos medicamentos,
para garantir o seu uso seguro.
Todos
os medicamentos e correlatos devem ser fornecidos para os leitos a tempo hábil
e com segurança para as administrações, após o recebimento das prescrições, de
acordo com normas previamente estabelecidas e amplamente divulgadas na
instituição. Se as doses não forem dispensadas ou se a terapia atrasar por
depender de resolução de qualquer problema (alergia ou contraindicações), o
farmacêutico deve informar à enfermagem o atraso, notificando a razão.
Na
orientação e treinamento sobre o uso dos medicamentos, é recomendável que os
farmacêuticos observem como os medicamentos estão sendo empregados nas enfermarias,
para garantir que os procedimentos de armazenamento e dispensação são cumpridos
e para ajudar as enfermeiras a garantir a segurança dos pacientes.
No
sistema de distribuição implantado, os medicamentos que retornam à farmácia
devem ser avaliados para detectar quaisquer problemas relacionados com erros
(omissão de doses e drogas não prescritas). O sistema de distribuição não deve
permitir “empréstimos” de medicamentos de um paciente para outro (ou para outra
área do hospital), com a finalidade de estocar medicamentos não usados.
Todos
os arquivos devem ser mantidos por tempo suficiente para permitir identificação
de pacientes que tenham recebido produtos erroneamente.
Essa
documentação sobre erros é o elemento que garante o trabalho de monitoramento
dos mesmos e deve ser utilizada com a finalidade de aumentar a qualidade do
serviço.
ATRIBUIÇÕES DOS
ENFERMEIROS:
Pelo
direto envolvimento com os pacientes e pelas características de seu trabalho,
os enfermeiros, mais do que os outros profissionais, têm condição de detectar e
registrar os erros. Os enfermeiros são frequentemente a ponta final da tríade
(médicos, farmacêuticos e enfermeiros) do processo de uso dos medicamentos.
Possuem então, um papel importante na redução dos riscos de erros.
Pela
familiaridade com a padronização dos medicamentos empregada, devem avaliar as
medicações prescritas em relação às indicações e efeitos dos medicamentos, a
correlação entre os nomes genéricos e nomes de marca, verificando, também, as
reações adversas, a duplicação de terapias e as possíveis interações
medicamentosas. As oportunidades de erros surgem quando a enfermagem não possui
informação suficiente sobre a terapia prescrita.
Esta
informação pode ser obtida com outros enfermeiros, farmacêuticos, literatura ou
outros meios. Esta é uma das condições em que a presença do farmacêutico é
recomendável.
Deve
haver comunicação apropriada com o prescritor, quando necessária.
A
transcrição de prescrições deve ser evitada o máximo possível e deve ser
reconhecida como oportunidade primária de erros (73%). Os fatores que
contribuem para os erros são prescrições incompletas ou ilegíveis, caligrafia
incompleta ou ilegível também da enfermagem, uso de abreviaturas e
desconhecimento sobre os medicamentos.
Também
há risco de troca de dose, via de administração ou posologia. As transcrições
só devem ser enviadas se a prescrição original estiver clara e não houver
dúvidas a respeito do regime prescrito. Se for absolutamente necessária a
transcrição das prescrições, os seguintes procedimentos devem ser implantados,
para minimizar as oportunidades de erro: o prescritor deve ser contactado se a
prescrição estiver ilegível; as prescrições incompletas não devem ser
transcritas, e devem conter o nome do medicamento, a dose, via de
administração, a forma farmacêutica e a frequência de administração; sem
abreviaturas, com indicações clinicas quando possível, escrituradas em local
livre de interrupções ou distrações e confirmadas com um colega.
Nas
situações de emergência ou nas cirúrgicas, onde não há possibilidade de
escrituração ou digitação de uma prescrição, a enfermagem, ao receber as ordens
verbais deve, para minimizar a oportunidade de erros, confirmar oralmente a
prescrição e selecionar um funcionário para o recebimento de prescrições pelo
telefone, transcrever a prescrição para o prontuário do paciente assim que
possível e garantir assinatura e data no prontuário, de acordo com as normas da
instituição.
As
doses só devem ser administradas se a prescrição original estiver clara e não
houver dúvidas a respeito do regime prescrito.
Antes
da administração dos medicamentos, os enfermeiros devem avaliar a identidade e
integridade das medicações dispensadas, porque a administração de dose
incorreta pode ser resultado de prescrição incorreta, transcrição incorreta,
erro no preparo de uma dose oral ou EV, envio pela farmácia de dose errada,
recebimento de dose de outro paciente ou recebimento de dose errada do
paciente.
Para
minimizar a oportunidade de erro, todas as prescrições devem ser revistas antes
da administração dos medicamentos e comparadas com os medicamentos enviados
pela farmácia, destinados para o paciente em questão, antes da administração da
primeira dose.
Se
não houver familiaridade com o medicamento, é necessário buscar referências.
Deve-se verificar a via de administração e o rótulo, lidos atentamente e mais
de uma vez, para garantir administração da dose prescrita. Se a dose for
preparada no posto de enfermagem e for necessário o cálculo da quantidade de medicamento
necessária para o preparo da dose, solicitar do colega a confirmação dos
cálculos.
A
identidade do paciente, bem como a medicação, a dose a via e o tempo devem ser
verificados antes da administração de cada dose prescrita. No horário de administração
devem ser discutidos com o paciente e/ou acompanhante o propósito e os efeitos
do medicamento. O paciente deve ser observado após a administração, para
garantir que as doses foram administradas e que os medicamentos tiveram o
efeito desejado, assim como
observar
quaisquer queixas em relação a efeitos adversos.
O
profissional de enfermagem responsável pela operação de equipamentos
eletrônicos de infusão deve possuir conhecimento sobre as funções e limitações
do equipamento.
Todas
as doses devem ser administradas no tempo determinado, a menos que haja
esclarecimentos pendentes. As doses de medicamentos não devem ser removidas da
embalagem ou ter seus rótulos retirados, antes da completa administração. A
documentação sobre a administração deve ser escriturada o mais rapidamente
possível.
Quando
as doses não forem padronizadas em protocolo, a velocidade de administração, os
cálculos de dose e outros devem ser avaliados e conferidos por um segundo
profissional.
O
uso de medicamentos estocados no posto de enfermagem constitui-se um problema,
pois a administração de um dos medicamentos para suprir a falta de dispensação
altera o registro da farmácia em relação ao estoque presente no posto. Para
minimizar as oportunidades de erro, é importante que a farmácia seja contactada
para o esclarecimento ou correção.
Deve
haver razão para a falta de fornecimento da dose, e a resolução do problema não
pode ficar pendente.
A
omissão de administração de doses também é considerada um erro. Em alguns
casos, a omissão da dose tem impacto significativo no paciente. Os fatores que
contribuem para a omissão de doses são excesso de pacientes, excesso de
medicamentos, mão de obra insuficiente, medicação não disponível quando
necessária, paciente ausente do leito no momento da administração para
procedimentos, transferência para outra clínica ou esquecimento.
Para
minimizar a oportunidade de erro, é recomendável padronizar os horários de
administração, estabelecer norma para administração dos medicamentos a
pacientes ausentes do leito e comunicar o regime de doses à equipe de
enfermagem que irá receber o paciente transferido.
Se
houver dúvidas sobre o volume ou o número demasiado de doses destinados para um
único paciente, faz-se necessária nova interpretação da prescrição,
estabelecendo-se contato com o prescritor.
Todos
os funcionários que manipulam correlatos para administração de medicamentos
devem compreender perfeitamente seu funcionamento e as chances de erros que
podem ocorrer no manuseio inadequado.
Os
enfermeiros devem garantir completa compreensão dos pacientes e acompanhantes
sobre o uso dos medicamentos e esclarecer quaisquer dúvidas, assim como
divulgar as observações necessárias.
Quando
o paciente questionar sobre qualquer medicação prescrita, o enfermeiro deve
escutar, responder às perguntas e, se necessário, rever a prescrição e o
produto dispensado, antes da administração ao paciente, para garantir que não
haja erros (via de administração errada, paciente errado, doses administradas
anteriormente). Se o paciente se recusar a tomar o medicamento, a recusa deve
ser registrada em prontuário.
ATRIBUIÇÕES DE PACIENTES
E ACOMPANHANTES
PESSOAIS:
Os
pacientes tem o direito de saber todos os aspectos de seu tratamento, incluindo
sua terapia medicamentosa. Quando o estado do paciente permitir, a equipe deve
encorajá-lo a participar ativamente, tirando dúvidas sobre os protocolos de
tratamento, pois quando o paciente obtém maiores informações pode ajudar a
prevenir os erros no tratamento.
Para
melhor utilizar os medicamentos, os pacientes devem ser encorajados a informar
diretamente aos prescritores sobre suas alergias, sintomas, sensibilidades e
medicamentos de uso contínuo; devem comunicar suas práticas de auto-medicação,
mesmo diferentes da conduta prescrita e devem sentir-se livres para perguntar
sobre procedimentos e tratamentos prescritos.
Os
pacientes devem ser orientados sobre o uso adequado de medicamentos e
correlatos, visando garantir o melhor benefício terapêutico e evitar efeito
colateral ou erro na terapia; devem aprender os nomes dos produtos prescritos e
administrados, assim como as concentrações e horários das dosagens. Pode ser
boa ideia instruir o paciente a manter uma lista de sua própria terapia,
incluindo medicamentos caseiros e fitoterápicos.
Nesta
lista também devem ser incluídos os medicamentos que não podem ser
administrados, relatando seus motivos.
ATRIBUIÇÕES DOS
FABRICANTES:
Como
visto, os erros de medicamento podem representar um problema sério na
assistência sanitária. Embora haja numerosos fatores, a confusão na
nomenclatura está constantemente associada aos erros. Apesar não haver
justificativa aparente, pois o procedimento ideal é a leitura dos rótulos pelo
menos três vezes antes da administração dos medicamentos, as embalagens
semelhantes, assim como os nomes com similaridade ortográfica ou fonológica
(parece
como ou soa como) contribuem com 29% dos erros, pois induzem os farmacêuticos e
enfermeiros a intercâmbios não intencionais de medicamento, resultando em danos
ao paciente, que podem até levar à morte.
As
embalagens de fabricantes cujos rótulos utilizam o mesmo tipo de letra, o mesmo
padrão de cor para todos os diferentes medicamentos, mesmo tamanho e cor de
frasco ou mesma cor de tampa, não estimulam a memória visual perceptiva e
requerem calma e atenção redobradas do profissional de saúde que manipula os
medicamentos, para evitar erro de troca.
O
uso de números e abreviaturas também pode induzir a outras interpretações e
gerar confusão.
Devem
ser evitadas quaisquer similaridades de nomes entre as marcas existentes no
mercado, conforme estabelecido na - resolução ANVISA RDC nº 333, de 19/11/03,
artigo 3º: “A formação de nomes comerciais para medicamentos deve seguir os
critérios abaixo:
1.
- O nome não pode ser assemelhado ou gerar confusão com outro nome de
medicamento já registrado ou protocolado na ANVISA na forma impressa,
manuscrita ou
falada.
2.
- O nome comercial não pode causar confusão ou semelhança com a denominação
genérica da substância ativa conforme DCB, DCI, CAS ou sinonímias destes
adotadas para estes compostos.
.3.
- O nome comercial não pode causar confusão ou semelhança com quaisquer letras
ou números na forma impressa, manuscrita ou falada.
4.
- Pode ser utilizado nome assemelhado a outro já registrado desde que se
diferencie por no mínimo 3 letras distintas, presentes ou ausentes, limitando a
probabilidade de haver confusão na escrita para resguardar a identidade do
produto realmente prescrito”.
Apesar
desta determinação regulamentar existem colidências de marcas, não verificadas
pela agência reguladora, que concede registro de nomes semelhantes ou mesmo
iguais para substâncias medicamentosas diferentes.
A
resistência dos fabricantes ao implementar métodos efetivos para minimizar a
confusão e dificultar os erros se deve, em parte, à maior complexidade, maior
custo e necessidade de modificação de procedimentos.
A
recomendação de se prescrever os medicamentos utilizando-se o nome genérico da
substância pode induzir a erros na dispensação da farmácia, porque existem
várias marcas no mercado com o mesmo nome comercial, acrescido apenas de
algumas letras diferentes para distinção que, no entanto, correspondem a
medicamentos diferentes, ou seja, a prática de se adicionar letras (XR, CD,
OROS, etc) para identificação e fixação da marca, pode significar mudança na
posologia, alteração da associação medicamentosa, associação medicamentosa,
alteração na forma farmacêutica ou alteração na concentração. A terminologia
varia para cada fabricante, sem haver uma padronização e/ou regulamentação.
Esta
prática é empregada pelas indústrias, para permitir que o fabricante usufrua um
mesmo investimento no mercado para o lançamento e comercialização de dois
produtos. No entanto, esta prática induz à deficiência de uma clara definição
das diferenças nas propriedades da formulação, aliada à possibilidade da
omissão de escrituração do sufixo, ao se prescrever o medicamento pelo nome
genérico. Do mesmo modo, esta nomenclatura variada não permite a identificação
da ação do medicamento.
As
instruções especiais devem ser colocadas em destaque nos rótulos, como por
exemplo, a necessidade de diluição antes da administração.
Para
as soluções injetáveis de grande volume e minibolsas, o nome da substância deve
ser lido tanto na posição normal como na invertida.
Os
fabricantes devem ser incentivados a lançar no mercado as apresentações mais
próximas da dosagem unitária, para facilitar seu uso nas rotinas práticas de
manipulação e devem divulgar, junto aos profissionais, quaisquer mudanças nas
formulações dos produtos ou nas formas farmacêuticas.
Quanto
à embalagem e rotulagem, as que efetivamente divulgam as propriedades e riscos
dos medicamentos alertam pacientes e acompanhantes sobre o uso adequado da
formulação.
O
empacotamento e rotulagem pela farmácia dos medicamentos prescritos devem
minimizar os erros, fornecendo informações aos pacientes, relativas à segurança
e ao uso adequado do fármaco, colocadas em destaque nos rótulos. Se necessário,
é recomendável a confecção de folhetos explicativos, acompanhados do
medicamento, para fornecimento de informação aos pacientes, produzidos pelo
farmacêutico dispensador.
O
melhor termo a ser empregado nos medicamentos injetáveis deve ser “uso único”
ao invés de “dose única”, indicando que é necessário o descarte após uma única
administração do medicamento. O termo dose única pode confundir o usuário, já
que há possibilidade de uma seringa conter medicamento suficiente para mais de
uma dose. Para evitar confusão, as impressões dos rótulos devem exprimir a
concentração do medicamento em mg/ml e mg/total, além do volume de
reconstituição, pois a impressão 10 mg/ml em um frasco de 10 ml pode ser lida
como 10 mg/frasco, induzindo a administração de dose 10 vezes maior.
Os
frascos de produtos para doses múltiplas devem expressar a concentração em
mg/ml.
Os
medicamentos expressos em % ou mEq devem indicar o volume total do frasco.
Os
medicamentos em suspensão devem informar a concentração em mg/ml e na dose
usual
Ex:
cefalexina 50 mg/ml ou 250 mg/5 ml.
A
validade do medicamento deve ser impressa com data estabelecida para não causar
confusão na interpretação. Determinadas empresas colocam “válido por...meses
após a data de fabricação”.
SISTEMA DE PREVENÇÃO DOS
ERROS:
As
instituições sempre desestimularam as ações de reportagem dos erros, por receio
das ações disciplinares, por vergonha ou pelas repercussões legais implicadas
no monitoramento e divulgação dos erros, gerando, com isso, relutância na
implantação dos sistemas de monitoramento. Vários estudos documentam que o medo
da punição é a maior barreira na detecção e divulgação dos erros e reações
adversas, induzindo as instituições hospitalares a “aliviar” os processos de
avaliação dos erros, criando um ambiente onde os erros são escondidos ou
negados. Como resultado, prevalecem os focos de culpa, ao invés das ações de
identificação e prevenção de erros. Este medo precisa ser erradicado, para
permitir aumento da segurança e qualidade. Criar uma cultura de segurança não
significa livrar-se da cultura de culpas, mas envolve a mudança no pensamento e
direciona as atenções para o ciclo de uso do medicamento. Por outro lado, a
desvantagem da notificação não punitiva e
confidencial
é a falta de conhecimento do número real de eventos, pois as notificações
anônimas são difíceis de validar e, paradoxalmente, cria-se uma cultura de
irresponsabilidade e aumento dos erros.
Por
isso, um dos objetivos primários da implantação do sistema deve ser o
treinamento contínuo de profissionais e pacientes.
Um
sistema pode ser definido como um grupo interdependente de itens, pessoas ou
processos, com um propósito comum.
A
ferramenta para uma instituição implementar um sistema de monitoramento e
prevenção de erros é o conhecimento dos pontos de risco e as fraquezas
inerentes ao seu próprio processo de uso dos medicamentos. Não existe uma
padronização de processos de monitoramento dos erros, porque cada instituição
tem culturas, recursos e prioridades diferentes e se encontram, também, em
estágios diferentes nos processos de implantação de boas práticas e
acreditação.
O
sistema deve ser formatado e implementado por uma equipe multidisciplinar,
constituída por médicos, farmacêuticos, enfermeiros e profissionais
administrativos, ligados à direção do hospital, tendo como objetivos
principais:
v -Identificar os pontos vulneráveis
(pontos de risco);
v - Implementar estratégias efetivas que
permitam prevenir ou reduzir os erros;
v -Avaliar os resultados destas
estratégias
Estes
sistemas devem ter como procedimentos principais a descrição da gravidade do
erro, em termos de frequência e importância clínica; devem explicar a
terminologia empregada na pesquisa de erros e examinar os métodos utilizados
para detecção dos mesmos, além de rever criticamente a validade dos estudos de
erros de medicação.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO DOS
ERROS:
Para
desenho do sistema é recomendável o estudo dos seguintes princípios básicos:
v -treinamento pessoal – os funcionários
devem ter ciência de que a responsabilidade sobre a segurança dos pacientes não
é exclusiva da direção ou de uma comissão e sim de todos os profissionais
sanitários da instituição. Quando os funcionários conhecem suas
responsabilidades e as da equipe, bem como as inter-relações de suas atividades
é mais fácil detectar os erros, antes do acontecimento de qualquer evento. Do
mesmo modo, é importante que os pacientes estejam cientes de sua própria
terapia.
v -Limitações humanas – a eficiência do
sistema de utilização dos medicamentos depende em grande parte da atuação dos
profissionais e pacientes. As novas tecnologias melhoram os processos, porém,
não são todas as instituições que possuem recursos para sua aquisição. O
sistema deve considerar, então, como fatores de risco, a natureza do trabalho,
o espaço físico, as possibilidades de ocorrência dos erros e os custos, a
experiência e treinamento da equipe, os serviços médicos prestados
(necessidades de pacientes especiais, como pediátricos, oncologia e geriatria),
o aumento do número ou da quantidade de medicamentos por paciente, os fatores
ambientais, a carga de trabalho e cansaço dos staffs, a comunicação pobre entre
as equipes de saúde, a forma farmacêutica dos medicamentos prescritos
(injetáveis estão mais sujeitos a causas de erro), o tipo de sistema de
distribuição empregado (evitar as farmácias satélites), o armazenamento
impróprio de medicamentos, a quantidade de medidas e cálculos necessários, a
padronização da nomenclatura para prescrição dos medicamentos, as embalagens ou
rótulos, a categoria dos antimicrobianos comumente prescritos, a escrita
ininteligível, a frequência de prescrições verbais e a falta de normas e
procedimentos efetivos. A maior estratégia deve ser a simplificação dos
procedimentos fundamentais, como a limitação do número de medicamentos e
apresentações, a padronização de horários de dispensação e administração, a
utilização de protocolos para administração de medicamentos de risco e a
restrição de estoque de determinadas soluções fora da farmácia (Ex: KCl)
v - Antecipação ao inesperado – na
implantação de uma atitude proativa na prevenção e antecipação dos erros, as
instituições devem analisar os processos e implantar medidas para a garantia da
segurança nos pontos e procedimentos onde foram reconhecidas deficiências,
antes ou depois da identificação dos erros. É recomendável, também, avaliar o
potencial de risco relativo à segurança dos novos procedimentos e tecnologias
incorporadas na Instituição, além da implantação de rotinas de treinamento
sobre esses novos procedimentos, para todos os funcionários.
v -Criação de um ambiente de aprendizado
– o conceito de segurança deve ser incorporado aos aspectos educativos das
instituições, até que seja aceita a ideia de que a comunicação de um erro é uma
oportunidade para melhoria da segurança e aprendizado. Para esta consciência é
necessário garantir o anonimato e a liberdade das ações de divulgação dos
erros, a fim de aumentar o número das mesmas e fomentar um fluxo de comunicação
entre todos os profissionais, independentemente da escala hierárquica na
organização.
IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS
DE PREVENÇÃO DOS ERROS:
Os
procedimentos para melhoria dos processos podem ser implantados a curto ou a
longo prazo, a partir dos princípios descritos anteriormente e facilitam a
aplicação das normas e práticas.
RECOMENDAÇÕES A CURTO
PRAZO:
a)
padronização da prescrição médica – se não houver prescrição eletrônica no
sistema de informatização, é recomendável a escrituração de normas que incluam
todos os dados sobre o medicamento prescrito, com o nome genérico da
substância, a via e local de administração, a forma farmacêutica, dose,
concentração, quantidade, posologia e hora de administração. É recomendável
exprimir o efeito desejado do medicamento, quando a droga é prescrita.
Para
evitar dúvidas na interpretação das prescrições, os médicos devem evitar
expressões vagas; especificar concentrações exatas (como mg, ao invés de um
comprimido), prescrever utilizando a nomenclatura previamente padronizada pela
Comissão de Farmácia e Terapêutica ou empregando o nome genérico e por extenso
(pois abreviaturas como AZT, por exemplo, podem ser interpretadas como
zidovudina, aztreonam ou azatioprima).
Nas
expressões decimais, utilizar sempre zero à esquerda,– 0,5 g ou dar preferência
à prescrição de 500 mg. Prescrever “unidades” ao invés de U (em insulinas, p.
ex), para não poder ser interpretado como zero. Usar exclusivamente o sistema
métrico internacional.
É
recomendável que a Comissão de Farmácia e Terapêutica oriente os profissionais
prescritores em relação à escrituração de suas prescrições. As prescrições
devem ser legíveis e os prescritores com caligrafia ruim devem imprimi-las ou
digitá-las, se possível, pois a prescrição manuscrita ilegível deve ser
considerada erro potencial.
b)
padronização de outros procedimentos - As normas e procedimentos devem
padronizar os horários, com a finalidade de facilitar o serviço de enfermagem e
farmácia.
Ex:
três vezes ao dia – administrar medicamentos às 8:00, 16:00 e 22:00 horas.
c)
limitação da variedade e sistemas de administração de medicamentos – é
recomendável a limitação de tipos de bomba de infusão a um ou dois modelos.
d)
manuseio dos medicamentos de alto risco exclusivamente na farmácia – são
considerados medicamentos de alto risco aqueles que, quando utilizados
incorretamente, têm possibilidade de induzir um evento adverso no paciente, ou
seja, fármacos com ampla faixa terapêutica e vários tamanhos de cápsulas e
comprimidos; formas não comumente comercializadas; formas líquidas orais que
requerem reconstituição ou medição (suspensões); líquidos orais com embalagens
de vários tamanhos e volumes; fármacos com diversas concentrações; líquidos de
preparação extemporânea; injetáveis de dose múltipla; injetáveis com mais de um
volume; injetáveis com mais de uma concentração; múltiplas formulações;
processos de preparação não rotineiro ou complicado; injetáveis para uso que
não endovenoso; medicamentos para injeção por várias vias; formulações contendo
combinação de substâncias; correlatos complicados ou difíceis de manusear.
e)
desenvolvimento de protocolos de uso – devem ser implantados e divulgados os
procedimentos especiais de manuseio dos medicamentos de alto risco,
estabelecendo-se um limite de dose para cada um, um limite de concentrações
disponíveis (particularmente heparina e morfina), assim como a utilização de
rótulos e embalagens especiais e algumas práticas diferenciadas, como a dupla
verificação da prescrição, manipulação e administração
destes
medicamentos.
f)
garantir a disponibilidade permanente da assistência farmacêutica na validação
e processamento de todas as prescrições médicas, assim como nas enfermarias.
g)
permitir acesso dos profissionais sanitários ao prontuário do paciente – os
profissionais devem ter acesso à terapia medicamentosa para verificar a
idoneidade dos medicamentos prescritos e administrados.
h)
garantir disponibilidade de informação atualizada sobre os medicamentos – na
publicação de boletins informativos periódicos de circulação interna, através
de programas informatizados de informação sobre medicamentos e do pronto acesso
à padronização e memento terapêutico pela intranet. É recomendável, também, uma
avaliação sistemática (pelo menos a cada seis meses) dos possíveis erros
potenciais dos novos medicamentos incluídos na padronização.
i)
orientação aos pacientes – os pacientes devem ser instruídos sobre qual, como e
porque devem tomar os medicamentos e orientados a esclarecer quaisquer dúvidas
a respeito do próprio tratamento, especialmente os polimedicados. Devem ser
orientados, incluso, a manter consigo uma lista dos medicamentos que estão
tomando.
RECOMENDAÇÕES A LONGO
PRAZO:
Essas
recomendações requerem um plano de implementação a longo prazo, já que implicam
no investimento em equipamentos e recursos humanos.
a)
estabelecer o mais eficiente sistema de distribuição de medicamentos para o
hospital – o sistema de distribuição de medicamentos por dose unitária é, sem
dúvida o ideal para a prevenção dos erros de medicamentos, mas a sua
implantação e manutenção são caras e, dependendo dos recursos disponíveis, pode
ser inviável para a estrutura de funcionamento da instituição. O ponto mais
importante a ser considerado em qualquer hospital é que o sistema de
distribuição a ser desenhado afeta toda a dispensação não urgente do hospital.
Por
isso, seja qual for o sistema empregado, o imprescindível no monitoramento dos
erros é o processo de validação da prescrição médica pelo farmacêutico.
b)
prescrição eletrônica – como já exposto, a prescrição eletrônica reduz
significativamente os erros, porque elimina dúvidas na escrituração da
prescrição e garante prescrição completa, de forma padronizada e correta. A
prescrição assistida também diminui os erros de seleção incorreta de
medicamentos, informa sobre o controle de doses, permite acesso à informação
sobre o paciente e alerta sobre interações, contraindicações e alergias.
NOTIFICAÇÃO, ANÁLISE E
DOCUMENTAÇÃO DOS ERROS:
A
eficácia de um processo de monitoramento depende de vários fatores, como a
presença de incentivos ou de desestímulos para o registro dos erros, além de
eficácia na interpretação, conclusão e divulgação dos mesmos. Por isso, um
segundo aspecto importante no monitoramento dos erros é a determinação de suas
causas e da gravidade de suas consequências sobre os pacientes.
No
processo de gerenciamento da qualidade, os programas devem buscar a diminuição
da quantidade de erros, o aumento das notificações e a eliminação das causas
associadas a um grande nível de severidade. Para isso, são necessários mecanismos
de rastreamento das drogas (ou classes) envolvidas nos erros, com avaliação,
inclusive, do método de distribuição empregado, além da provisão de orientações
para o paciente e a educação e aconselhamento para as equipes.
O
sucesso de qualquer programa implantado no hospital depende da equipe de
profissionais envolvidos em sua execução, da escolha da clínica piloto para
início de funcionamento, da comunicação entre os profissionais envolvidos e da
divulgação dos resultados, para êxito e posterior ampliação para o resto da
instituição.
No
desenho de um sistema de monitoramento dos erros a equipe de trabalho é
responsável por:
v - Apresentar o programa aos
profissionais sanitários, definindo suas metas e a estratégia de implantação,
para conseguir o compromisso dos mesmos e criar uma cultura de comunicação
aberta dos erros, garantindo o caráter confidencial dos procedimentos.
v -Escriturar os procedimentos
operacionais padrão, documento indispensável segundo as normas de boas
práticas, para orientação quanto aos detalhes do programa: notificação,
análise, registro, normas e resultados.
NOTIFICAÇÃO DOS ERROS:
O
processo de notificação dos erros deve estudar os procedimentos relativos à
aceitação, facilidade, rapidez e viabilidade para o hospital. Deve ser definido
o tipo de comunicação (por escrito ou através do sistema informatizado) com
descrição do evento, nome do paciente, especialidade farmacêutica implicada e
as consequências para o paciente.
Para
facilitar a identificação desses erros, o NCCMERP adotou um sistema de
classificação e notificação em 1996, com nove categorias diferentes de
gravidade, em função de fatores de morbidade e nível de prejuízo ao paciente.
Em um sistema de monitoramento dos erros é igualmente importante a comunicação
e registro de todos os erros, independentemente do dano causado ao paciente ou
de circunstâncias que podem induzir ao erro (como duplicidade terapêutica, erro
de cálculo de dose ou de transcrição), porque todos apontam as falhas do
sistema.
CATEGORIA DEFINIÇÃO
Categoria A - Erro potencial ou ausente A
Circunstâncias com capacidade de causar erro (embalagens e etiquetas)
Categoria B Erro sem dano -Erro sem alcançar o
paciente (armazenamento incorreto, erros detectados antes da administração)
Categoria C Erro alcança o paciente, sem causar
dano
Categoria D Erro alcança o paciente e requer
monitoramento e intervenção para não causar dano
Categoria E Erro com dano - Erro contribuiu ou
causou dano temporal ao paciente com intervenção
Categoria F Erro contribuiu ou causou dano
temporal ao paciente
com
prolongamento da hospitalização
Categoria G Erro causou dano permanente ao
paciente
Categoria H Erro compromete a vida do paciente e
requer intervenção para manutenção de sua vida
Categoria I Erro mortal -Erro contribui para a
morte do paciente
AVALIAÇÃO E
CLASSIFICAÇÃO DOS ERROS:
A
equipe de avaliação também deve ser multidisciplinar e será responsável por
revisar cada notificação, avaliar o impacto e/ou as consequências do evento
para o paciente e especificar
o
mais completamente possível as causas de ocorrência do evento, identificando em
qual etapa do processo houve a ocorrência e o tipo de erro envolvido. Esta
análise fornece à instituição um maior conhecimento da realidade do sistema de
uso dos medicamentos e permite o emprego das ferramentas necessárias à
prevenção de futuros eventos.
Na
classificação dos erros em função de sua gravidade, o sistema criado pela USP
(MedMARX) emprega o seguinte algoritmo, que pode ser aplicado pela Comissão de
Farmácia e Terapêutica, na definição e classificação dos erros:
v Os erros prejudicam o paciente?
v O erro contribuiu ou resultou em
morte?
v O erro causou sequelas?
v Houve intervenção para impedir
sequela?
v O erro provocou risco de vida?
v A sequela é permanente?
v A sequela é temporária?
v Foi necessária internação ou
prolongamento da mesma?
DOCUMENTAÇÃO DOS ERROS:
É
absolutamente necessário estabelecer um sistema de feed-back que informe aos
profissionais o resultado das avaliações. Este resultado deve ser fidedigno, já
que a informação utilizada de forma incorreta favorece a falta de informação
futura. A divulgação do evento deve se dar a nível geral, para que as partes
afetadas não se sintam acusadas ou marcadas, causando um efeito contrário ao desejado.
Deve ser divulgada, também, a afirmação de que o conhecimento sobre um número
maior de erros não significa que se está
cometendo
mais erros, mostra somente que há maior notificação.
AÇÕES RECOMENDADAS NA
DETECÇÃO DE UM ERRO:
v Providenciar a terapia corretiva para
o paciente.
v Documentar e divulgar o erro
imediatamente para médicos, enfermeiros e gerentes farmacêuticos, e
providenciar o registro por escrito, de acordo com as normas estabelecidas.
v Para erros clinicamente
significativos, iniciar imediatamente a investigação da causa. Os fatos
documentados devem relacionar o que aconteceu, onde aconteceu, por que
aconteceu, como aconteceu e quem estava envolvido. Devem ser recolhidas
evidências, como embalagens ou rótulos, arquivadas para referências futuras,
enquanto os fatores são eliminados ou resolvidos.
v Os registros significativos dos erros
e as suas ações corretivas devem ser comunicados para o supervisor da área
envolvida, para o administrador, para a comissão de ética e para o conselho
legal.
v Os membros da equipe envolvidos nos
erros devem apurar como o erro ocorreu e como sua recorrência pode ser
prevenida. A coletânea de informações sobre o registro de erros com
medicamentos e outros meios que demonstrem falha contínua de profissionais, devem
servir como ferramenta gerencial e educacional no desenvolvimento da equipe,
para evitar erros previsíveis ou, se necessário, modificação das atribuições do
indivíduo
v ou medidas disciplinares.
v Os supervisores, chefes de
departamentos e comissões devem rever periodicamente os registros de erros,
determinar as causas e desenvolver ações locais, para prevenir sua recorrência.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
1) US
Pharmacist Continuing Education - “Preventing Medication Errors”; November 2002
2)
Otero, MJ; Martin, R; Bobles, MD; Codina, C - “Errores de Medicación” -Libro de
Farmácia Hospitalaria – Sociedad Española de Farmácia Hospitalaria – 3a Edición
– 2002
3)
“Anatomy of an Error” – curso disponível em www.mederrors.com
4) AMERICAN
SOCIETY OF HOSPITAL PHARMACISTS. ASHP Statement on
Reporting
Medical Errors - Am. J. Health-System Pharm. V. 57, p. 1531-2, 2000.
5)
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – Resolução ANVISA RDC nº 333 – Dispõe
sobre a Rotulagem de Medicamentos e outras Providências – 19 de novembro de
2003.
6) Crane,
Vicki S; “New Perspectives on Preventing Medication Errors and Adverse Drug
Events” - Am. J. Health-System Pharm. V. 57, p. 690-7, 2000.
7) Cada,
Dennis J; “Preventing IV Medication Errors”-Hospital Pharmacy. V37(11) p.1139,
2002.
8) AMERICAN
SOCIETY OF HOSPITAL PHARMACISTS. Workshop session 2:
“Recommendations
for Applying Technology and Preventing Human Error” - Am. J. Health-System
Pharm. V. 57, p. 572-3, 2000.
9) Davis, Neil
M; “Initiatives for Reducing Medication Errors: The Time is Now” - Am. J.
Health-System Pharm. V. 57, p. 1487-92, 2000.
10) Sellers, J
A; “Too Many Medication Errors, not Enough Pharmacists” - Am. J. Health-System
Pharm. V. 57, p. 337, 2000.
11) Stump,
Lisa S; “Re-engineering the Medication Error-reporting Process: Removing the
Blame and Improving the system”- Am. J. Health-System Pharm. V. 57, p. S10-17,
2000.
12) National
Coordinating Council for Medication Error Reporting and Prevention – NCCMERP
Taxonomy of Medication Errors – 1998 – disponível em www.nccmerp.org.
13) Lambert,
Bruce; “Predicting Look-alike and Sound-alike Medication Errors” - Am. J.
Health-System Pharm. V. 54, p. 1161-71, 1997.
14) Allan,
Elizabeth; Barker, Kanneth; “Fundamentals of Medication Error Research”- Am. J.
Health-System Pharm. V. 47, p. 555-71, 1990.
15) Phillips,
J & cols; “Retrospective Analysis of Mortalities Associated With Medication
Errors”- Am. J. Health-System Pharm. V. 58, p. 1824-29-17, 2001.
16) AMERICAN
SOCIETY OF HOSPITAL PHARMACISTS - “ASHP Guidelines On Preventing Medication
Errors in Hospitals”- Am. J. Health-System Pharm. V. 50, p. 305-14, 1993.
17) Kenagy JW,
Stein, GC; “Naming, Labeling and Packaging of Pharmaceuticals”- Am. J.
Health-System Pharm. V. 58, p. 3033-41, 2001.
18) United
States Pharmacopeia. Summary of the 1999 information submitted to MedMARx, a
national database for hospital medication error reporting.
Nenhum comentário:
Postar um comentário