POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
(SUS)
1
- INTRODUÇÃO
Sob as propostas de mudanças do setor
saúde, a constituição de 1988 introduz o conceito de seguridade social. Assim a
proteção social passa a ser entendida como a lógica da universalização e como
um direito de cidadania. Os direitos passam a integrar um conjunto de ações,
segundo o artigo 194 da Constituição Federal de 1988 como “um conjunto
integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinadas
a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e a assistência social
“.
Os direitos de acesso à saúde são então
estendidos ao conjunto de cidadãos independente de contribuição.Assim a
Constituição Brasileira, no seu capítulo de seguridade social coloca, além da
assistência médica, alguns outros benefícios de forma extensa como por exemplo
a equiparação dos direitos urbanos e rurais, que todos os idosos e deficientes
sem meios de manutenção recebam um salário mínimo, independente de contribuição
previdenciária, o programa do seguro desemprego, abono de dois salários mínimos
para quem pagar a previdência, no mínimo 36 meses nos últimos quatro anos. A
Constituição Brasileira de 1988 preocupou-se em afirmar estas mudanças supra
mencionadas na proteção social e anuncia em seus princípios no paragrafo único
do artigo 194 :
1 - universalização da cobertura do atendimento;
2 - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às
populações urbanas e rurais;
3 - seletividade e distributividade na prestação dos
benefícios e serviços;
4 - irredutibilidade no valor dos benefícios;
5 - equidade na forma de participação e custeio;
6 - diversidade na base de financiamento;
7 - caráter democrático e descentralização da gestão
administrativa, com a participação da comunidade, em especial trabalhadores,
empresários
2 - A EQUAÇÃO POLÍTICAS SOCIAIS/ CIDADANIA NA ATUALIDADE
Com o advento do que poderíamos
classificar de reforma sanitária, inicialmente representada pelas Ações
Integradas de Saúde (AIS), como trincheira de um paradigma não hegemônico, que
evoluiu para o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) e, finalmente
para o Sistema Unificado de Saúde (SUS), que foram gestados inicialmente na
previdência social, por um grupo de sanitaristas, que acreditavam na
possibilidade de se conseguir atingir patamares mais próximos da equidade, da
universalização e da humanização do atendimento, além da possibilidade de
hierarquizar as redes de saúde no que se referia ao atendimento da população
iniciou-se um processo mais democrático e que tinha como ponto de partida o
processo de cidadania.
Infelizmente tais conceitos foram
utilizados indevidamente e hoje apesar das conquistas constitucionais o que
podemos observar é um tremendo retrocesso dos ideais básicos do projeto inicial
pensado, em detrimento a conceitos contra hegemônicos, privados, que em curto
espaço de tempo serão os responsáveis e predominantes, em termos de paradigma
para a saúde como um modo geral.
3- ANÁLISE COMPARADA DE MODELOS DE SISTEMAS DE SAÚDE: A
UNIVERSALIZAÇÃO EXCLUDENTE: REFLEXÕES SOBRE A TENDÊNCIA DO SISTEMA DE SAÚDE
BRASILEIRO
A fórmula “Saúde - Direito dos
Cidadãos, Dever do Estado”, elaborada no meio do movimento sanitarista e
consagrado como princípio constitucional em 1988, sintetiza admiravelmente a
concepção que informa a primeira experiência brasileira de uma política social
universalizante.
A reforma Sanitária, não
obstante suas marchas e contra marchas, configura uma ruptura pioneira no
padrão de intervenção estatal no campo social moldado na década de 30.
A instituição de um sistema de
saúde de acesso universal e igualitário rompe, assim, definitivamente com o
modelo corporativista, do benefício como privilégio, e, adicionalmente assume a
obrigação de quitar parte da nossa imensa dívida social. A interpretação que se
tornou hegemônica a respeito do desenvolvimento do sistema de saúde brasileiro
na década de 70, em especial em relação ao binômio público/privado, e que
informou o projeto sanitarista.
Na década de 80, em função do
fortalecimento de novos mecanismos de financiamento ( os planos de saúde )
capazes de viabilizar o acesso ao setor privado das camadas médias, à margem da
intervenção da política oficial. Este fenômeno gera implicações sobre o projeto
universalizante que são analiados posteriormente. A exclusão de significativos
grupos sociais, sobretudo as camadas média, por mecanismos usuais de
racionamento de oferta atuam como elemento de acomodação do sistema. Dai o
caráter excludente da universalização do acesso ao sistema de saúde no Brasil.
3.1 - ALTERNATIVAS
PARADIGMÁTICAS
3.1.1- INGLATERRA
: UNIVERSALIZAÇÃO INCLUSIVA NUM SISTEMA PÚBLICO
O Serviço Nacional de Saúde Inglês (
National Health Service ) foi criado em 1948. Tais reformas deram origem,
segundo Marshall ( 1975 ) ao Welfare State Inglês, que se apoiava basicamente
em três pilares:
1 - O Sistema Nacional de Seguridade Social
2 - O Sistema Educacional
3 - O National Health Service
Os recursos do tesouro tem sido até
hoje, a principal fonte de financiamento dos sistema baseados no seguro saúde,
cuja lógica de operação induziria a uma tendência à concentração da oferta de
médicos e serviços nos locais mais ricos, em geral já saturados. A rede
hospitalar, na qual era significativa a participação dos hospitais
filantrópicos, foi nacionalizada e o regime de trabalho passou a ser
predominantemente assalariado. O NHS foi organizado em três níveis:
1 - Os serviços médicos gerais compunham o primeiro,
oferecendo consultas, inclusive serviços odontológicos, farmacêuticos e
oftalmológicos, constituindo o espaço de atuação dos clínicos gerais ( general
practioners ) que mantinham uma relação contratual com o serviço, resguardando
assim sua autonomia.
2 - O segundo nível, administrado pelo governos locais, correspondia
aos serviços de assistência médica e saúde pública e incluía as maternidades,
os serviços médicos para crianças, os visitadores sanitários, a educação para a
saúde, os programas de vacinação e imunização e os serviços de ambulância.
3 - O terceiro nível era configurado em sua maioria pelos
conselhos hospitalares regionais.
A ausência de barreiras ao acesso ao
atendimento, ou seja a universalização, e uma característica básica do NHS, que
combinada com o predomínio do setor público na oferta dos serviços, lhe confere
caráter paradigmático nas comparações internacionais de sistemas de saúde.
3.1.2 ESTADOS UNIDOS : HEGEMONIA PRIVADA E AÇÃO RESIDUAL
DO ESTADO
Em termos de seu aparelho de seguridade
social, costuma-se indicar os Estados Unidos da America como caso paradigmático
de uma vertente que teria que ser colocada num polo oposto a da experiência
européia. Podemos citar duas característica que distinguem o sistema Americano
do Europeu :
1- O aparelho de seguridade social norte americano foi
montado sob uma predominantemente liberal, privilegiando o setor privado como o
espaço legitimo de constituição da oferta destes serviços específicos;
2- O Estado tem uma ação direcionada a setores sociais
bastante definidos. Neste caso o Estado realiza uma política de gastos voltada
para amparar desempregados e grupos minoritários como é o caso dos idosos.
Os países Europeus edificaram um aparelho de
proteção social sob a égide de um conceito de cidadania que tornava - por
consentimento e exigência social - todos os cidadãos alvos de políticas de
Welfare direcionadas pelo Estado, entretanto os EUA direcionavam suas políticas
para grupos populacionais excluídos do acesso aos serviços de proteção social
pela lógica do mercado. Johnson criaria em 1965 dois programas na área de
atenção à saúde. O primeiro, o MEDICAID para atendimento dos pobres e
indigentes que não estivessem inseridos na lógica do mercado. O segundo programa
seria o MEDICARE que tinha como principal finalidade viabilizar o acesso dos
idosos aos serviços de saúde. Pela ótica do paradigma Americano poderíamos
considerar o financiamento do setor saúde, em dois setores:
1- Subsistema Privado: onde os gastos são financiados a
partir do desempenho dos beneficiários ou de alguma forma de seguro privado.
2- Subsistema Público: voltado para segmentos populacionais
bastantes delimitados.
A proposição central deste artigo procura mostrar que os
Estados Unidos estaria impondo como referência paradigmática básica para a
análise estrutural do sistema de saúde brasileiro e os fatos em questão
estariam substanciados em três evidências:
v - composição, do ponto de vista do
financiamento do gasto, público/privado da oferta dos serviços de saúde.;
v - caracterização das clientelas que
circundam os subsistemas referidos;
v - nas formas de financiamento
emergentes ( planos de seguros individuais ou de grupo ) que garantem o
dinamismo e a autonomia do setor privado.
4 - BRASIL:
DIAGNÓSTICO, REFORMA E TENDÊNCIAS
SITUAÇÃO NOS ANOS
70
A ênfase na opção privatista se
manifestou de diversas formas na política do INPS e, após 1978, do INAMPS, mas
produziu, segundo esta interpretação, um resultado inequívoco: o fortalecimento
do setor privado. Para este fenômeno também concorreu também outro fator, que
foi a orientação para os agentes privados das linhas de financiamento à saúde
do FAS - Fundo de apoio ao Desenvolvimento Social.
ANOS 80 : INOVAÇÕES FINANCEIRAS E AUTONOMONAÇÃO DO SETOR
PRIVADO
Um dos fatos que indubitavelmente
marcaram com maior intensidade os anos 80 no que diz respeito ao sistema de
saúde brasileiro refere-se ao surgimento e acelerada proliferação de diversas
inovações financeiras vibializadoras do acesso de amplas camadas populacionais
ao sistema privado de saúde.
As inovações financeiras surgidas nos anos 80 aproximam
sensivelmente a estrutura de financiamento dos Serviços de Saúde no Brasil ao
quadro Norte Americano. Pode-se citar o surgimento ( ou expansão acelerada ) de
pelo menos três instrumentos de financiamento ao acesso privado aos serviços de
saúde:
1 - Planos de Saúde Individualmente Contratados;
2 - Planos de Seguro de Grupo com Participação Financeira
das Empresas Privadas;
3 - As Caixas Própias das Empresas Estatais;
A universalização, consagrada como
princípio constitucional em 1988, resultou da combinação da apontada tendência
estrutural à absorção gradual de novos segmentos com longo esforço político do
movimento sanitarista.
Portanto a universalização no caso
brasileiro, dadas as suas especificidades parece ter assimido a função, não de
incluir efetivamente todos os segmentos sociais na alçada do atendimento
público de saúde, mas de garantir o atendimento aos setores mais carentes e
resistentes aos mecanismos de racionamento. Com esta caracterização específica
do processo de universalização, ou seja, excluindo para o subsistema privado os
segmentos médios em diante, abre-se um espaço para que o Estado se capacite a
atender mais eficientemente os setores sociais que continuaram possindo no
subsistema público o seu referencial básico de assistência.
Configurou-se assim
um extenso elenco de medidas e procedimentos que formalizaram uma “agenda de
reforma pós Welfare “ ( Benett, 1990 ). Essa nova agenda de reforma dos
serviços de saúde estava centrada numa mudança de paradigma da intervenção
estatal em campo social, cujos elementos centrais seriam ( OECD,1987) :
1 - Resposta do Estado ao consumidor: A mudança crucial e
fundamental do paradigma foi na direção de tentar transformar o compromisso
governamental - de garantia do direito de acesso aos serviços para todos os
cidadãos - em políticas que se baseavam num conceito de demanda expressa
segundo as preferências do consumidor a que levavam em consideração a questão
dos custos.
2 - Inovações nas formas de organização da distribuição de serviços:
O governo não seria o provedor de serviços por excelência e, da mesma forma, o
financiamento desses serviços não deve provir de impostos gerais. Entretanto o
Estado deve reter importante papel regulador, conferindo o desempenho do setor
e estabelecendo o ambiente geral do processo decisório.
3 - Financiamento e recuperação de custos: O financiamento,
tanto da infraestrutura quanto da melhoria dos serviços, por outros meios que
não os orçamentos gerais ( isto é, a arrecadação fiscal ) seria mais efetivo na
sustentação de uma posição financeira equilibrada entre os níveis
federal/central e estadual/local. Isto estimularia, segundo seus defensores,
maiores inovações na perspectiva de recuperação de custos ao invés de
introdução de novos impostos ou taxas específicas.
4 - Reforma gerenciais (ou responsabilização interna ):
Seria buscada nas instituições estatais através de mudanças na estrutura
gerencial. Os objetivos centrais eram :
a - a busca de meios para responder à demanda real e não às
decisões programáticas e burocráticas sobre o que as pessoas necessitariam ou a
que deveriam ter acesso;
b - a revisão do desempenho dos funcionários públicos, que deveriam
proporcionar serviços efetivos e eficientes e não atuar segundo decisões e
demandas de sindicatos ou corporações profissionais;
c - a restrição e o redimensionamento do emprego público,
uma vez que os serviços governamentais deveriam responder às demandas da
população e não constituir um meio clientelista de troca política;
d - o estímulo à flexibilização (leia-se privatização) dos
meios de provisão de serviços, com vista a aumentar a eficiência, superando as
pesadas e monolíticas instituições estatais.
5 - Reinterpretação da representação (ou responsabilização
externa): Propondo-se substituir as escolhas políticas ou burocráticas pela
escolha do consumidor. A vinculação entre a cobrança política e a distribuição
de serviços também foi posta em dúvida nessa nova agenda.
A - CO -
PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA DO USUÁRIO (COST - SHARING) OU TICKET MODERADOR
Esta estratégia de
contenção de gastos vem sendo introduzida em diversos países na Europa, desde
os anos 70, e à participação do usuário no financiamento da assistência médica
no momento da utilização são atribuídas tanto funções alocativas quanto
financeiras. No que concerne à alocação de recursos, a introdução dos tickets
está relacionada a objetivos racionalizadores das várias formas de assistência
sobre as quais eles recaem, tomando positivo o seu custo para o
usuário/consumidor.Evidentemente esse mecanismo age sobre a demanda em nível
microeconômico, mas em compensação, em termos macroeconômicos, os tickets
revelaram-se, por toda parte, impotentes para o gerenciamento dos gastos
sanitários.
B - MANAGED CARE
OU “ASSISTÊNCIA MÉDICA ADMINISTRADA”: CONTROLAÇÃO DE GASTOS, REGULAÇÃO (PÚBLICA
E PRIVADA) E CONTROLE DA UTILIZAÇÃO
A “assistência
médica administrada” (ou managed care ) foi formulada inicialmente a partir da
crença no poder da organização e da regulação privada para influenciar os
padrões de prestação de serviços centrados no mercado privado independente do
governo, e a preços acessíveis para a população . Originada nos EUA esses
planos propõem-se a integrar a prestação e o financiamento de serviços
assistenciais e conter os custos através de medidas reguladoras da relação
médico paciente. Os aspectos relevantes da assistência médica administrada são:
1 - contratos com profissionais e serviços selecionados,
para a prestação integral da atenção médica a membros de planos de seguro,
usualmente mediante o pagamento de um montante fixo anual ou mensal;
2 - formas de controle da utilização e da qualidade da
atenção pré -fixadas e aceitas pelos prestadores;
3 - incentivos financeiros para os pacientes, com finalidade
de induzir a utilização dos prestadores associados aos planos e/ ou
preferenciais;
4 - premissa de corresponsabilização dos médicos nos riscos
financeiros da atenção alterando fundamentalmente o seu papel como agente de
demanda;
5 - aceitação pelos médicos e serviços de menores preços e
maiores controles sobre sua autonomia técnica e financeira, em troca de um
fluxo permanente e garantido de pacientes.
Na sua origem os
planos de pré pagamento no EUA sofreram ferenha oposição da corporação médica e
foram apoiados pelos movimentos trabalhistas e de consumidores, tanto por serem
considerados uma forma mais solidária de assistência ( “os saudáveis
subsidiariam os doentes “, uma vez que os preços são os mesmos para todos.
O governo Nixon se
apropriou e redefiniu a prática de grupo e pré pagamento, cunhando o nome de
Health Maintenance Organization - HMOs, como alternativa política que a um só
tempo preservaria a assistência médica empresarial e possibilitaria a
diminuição da taxa de crescimento do gasto sanitário.
Nos anos 80, a
montagem de novas alianças em torno de questões dos custos da assistência
médica norte-americana possibilitou um grande deselvolvimento dessas
práticas.
No final da década
de 80, o managed care se havia constituído na principal linha de defesa na
estratégia dos empregadores privados contra o rápido crescimento dos gastos com
os seguros -saúde de seus empregados. Existem diversos programas de managed
care, ou assistência administrada, mas entre os modelos predominantes estão as
Health Maintenance Organizations-HMOs, as proferred Providers Organization -
PPOs e os chamados points -of-service plan, que é uma versão mais recente.
Vejamos como se constituem :
1 - HEALTH
MAINTENANCE ORGANIZATION - HMOs
Combinam seguro de
assistência médica e mercado de serviços, ou seja funcionam como um grupo de
pré-pagamento, contratualmente responsável pela provisão de um pacote de
serviços mais ou menos abrangente, com pouco ou nenhum adicional para os seus
membros. Isto significa que se seus filiados utilizam menos serviços do que o
contratado inicialmente, a organização lucra. O tamanho da HMOs parece
fundamental para este balanço e autores estimam que não devam ultrapassar a
aproximadamente 50.000 membros.
2 - PREFERRED
PROVIDERS ORGANIZATION - PPO
As PPOs constituem
uma forma modificada de HMOs. São planos de seguro que oferecem prêmios mais
baixos porque negociam descontos com médicos e hospitais específicos, no
pagamento por unidade de serviço, em troca de determinado volume de trabalho.
3 - POINT-OF-
SERVICE PLAN
A diferença
essencial em relação as anteriores está nos incentivos aos pacientes ( melhores
benefícios, co-pagamentos mais baixos ) para canalizarem suas demandas de
serviços médicos através dos clínicos gerais, fortalecendo o papel deste
profissional na contenção da demanda.
C - COMPETIÇÃO : A
ESSÊNCIA DOS MODELOS DE REFORMA SANITÁRIA DOS ANOS 80
As palavras-chaves
eram regulação e competição, colocadas em oposição. Regulação, nessa discussão,
se referia ao controle estatal de qualquer espécie, e competição não tinha um
significado preciso, mesmo entre os economistas: na assistência médica, era
vista como podendo produzir uma enorme variedade de resultados, dependendo da
estrutura legislativa e institucional que atuava.
A partir dessa
discussões, os anos 80 assistiram a uma série de processos de reforma dos
sistemas de serviços de assistência médica, onde o discurso retórico sempre
esteve centrado na competição ( o que tem permanecido noas anos 90 ) . O que
verifica-se na prática é um aumento da regulação estatal, uma vez que os
mercados, como se sabe, jamais funcionam sem a mão invisível do Estado.
Na Europa advogam a
introdução nos sistemas públicos de mecanismos concorrenciais que imitam o jogo
do mercado. Duas têm sido particularmente discutidas, constituindo novos
modelos paradigmáticos para a área sanitária, sobretudo para as reformas dos
sistemas nacionais de saúde: o mercado interno ( internal market )
implemedntado na reforma Inglesa de 1989/1981, e a competição pública ( Public
Competition ), que está sendo estudada e desenvolvida em alguns Condados da
Sueécia ambas tem como paradigma a denominação Competição Administrada (
Managed Competition ) que teve origem nos EUA.
a - MANAGED
COMPETITION ou “COMPETIÇÃO ADMINISTRADA “
O termo competição
administrada “managed competition “foi criado por Alain Enthoven em 1977. A
primeira formulação dessa proposta, que propunha a criação “um sistema nacional
de seguro -saúde cuidadosamente modelado e administrado, baseado na idéia da
livre escolha por consumidores conscientes dos preços dos serviços e na
competição de preços entre planos alternativos de financiamento e distribuição
de serviços ( Enthoven,1988 ). O objetivo maior da managed competition, no
plano téorico, é reconciliar iquidade e eficiência.
b - O MODELO DO “
MERCADO INTERNO “( INTERNAL MARKET ) ou WORKING FOR PATIENTS ( 1989/ 1991 )
BRITÂNICO.
A proposta do
mercado interno, em termos sucintos, procura a separação entre financiamento e
provisão, mediada por contratos entre compradores e prestadores ). Tem como
eixo central o recurso à competição para a seleção de prestadores que conseguem
fornecer um determinado pacote de prestações com uma relação qualidade/preço. A
melhor oferta pode ser comprada de um serviço público, de um serviço privado
lucrativo ou não, ou ainda de empresas pertencentes ao setor terciário. O
contracting out caracteriza-se como uma versão particular da extensão de
mecanismo de concorrenciais ao âmbito público e, dependendo do caso, como
expansão da oferta privada ( Granaglia, 1993 ).
As principais
argumentações, a favor e contra, dos benefícios dessa reforma podem ser
resumidos à seguir:
1 - Redução da ineficiência técnica : a Competição é vista
como um instrumento capaz de constranger os seus hospitais a reduzirem seus
custos unitários. É complicado conjugar a ética e autonomia clínica dos profissionais
dà alocação mais eficientes dos recursos.
2 - Implantação de economia de escala nos serviços
sanitários: os serviços se especializariam naquilo que têm de melhor desempenho
e este processo de especialização comportaria a passagem de recursos de um
serviço a outro.
3 - Redução dos preços dos fatores de produção: em teoria
supõe-se que o mercado interno criaria diferenças geográficas, seja em termos
salariais, seja em relação a especialidades.
4 - Qualidade da assistência, acessibilidade e livre escolha
do paciente: Os indicadores para a avaliação da qualidade são escassos e
complexos, além de que a acessibilidade e a livre escolha do paciente são
temáticas estreitamente relacionadas com o tema equidade.
C - O MODELO DA
COMPETIÇÃO PÚBLICA (PUBLIC COMPETITION ) OU REFORMA SUECA
Os princípios
organizativos básicos de seu modelo ideal é constituído por três componentes:
1 - propriedade e gestão pública das instituições prestadoras
do serviço;
2 - livre escolha do médico e do serviço pelo paciente, de
forma diferente do conceito tradicional de livre escolha, porém uma vez que a
seleção dos serviços e profissionais deve restringir-se a elencos dos
institutos e centros existentes numa determinada área e financiados com capital
público;
3 - flexibilidade orçamentária, uma vez que requer
ajustamentos contínuos e disponibilidade de recursos para incentivos em função
de produtividade e eficiência;
A pretensão da
mudança que se propõe, para um modelo público paradigmático como o sueco, é,
por um lado promover a eficiência interna do sistema através da introdução de
incentivos ao estilo daqueles existentes no mercado, mas mantendo a estrutura
pública de alocação de recursos; por outro lado melhorar a capacidade
estrutural dos serviços sanitários públicos para satisfazer às múltiplas
demandas contraposta pela população.
D - COMPARAÇÃO
ENTRE OS DOIS MODELOS : COMPETIÇÃO PÚBLICA E MERCADO INTERNO
Competição Pública ( Public Competition )
|
Mercado Interno ( Internal Market )
|
Ênfase na mudança econômica : Apoia-se na escolha do
paciente, isto é, na demanda
|
Basear-se precipuamente na oferta
|
Principal agente de mudança : Aumenta o poder do paciente
mediante o qual concentra incentivo sobre médicos, staff e políticos, nessa
ordem.
|
Aumenta o poder do manager, que deve conciliar qualidade e
custo na escolha da assistência mais barata.
|
Nível de mudança do sistema : Concentra esforços nas
mudanças de incentivos sobre prestadores, portanto, nos serviços.
|
Concentra-se principalmente no crescimento da autoridade
no âmbito dos distritos.
|
E - O MODELO DO
RELATÓRIO DEKKER OU DA REFORMA HOLANDESA
A reforma proposta
pelo relatório Dekker na Holanda tem sido referida como paradigmática para os
sistemas de saúde tipo seguridade social, centrados no seguro doença, que
contam com expressiva participação do setor privado.
A maioria dos
autores afirmam que a proposta Holandesa é provavelmente a mais radical em
termos de reformas dos serviços de assistência médica previstas para os anos 90
nos países da OECD, cujas principais medidas são :
v . criação de um regime uniforme de
seguro-doença nacional, ou seguro básico compulsório para todos os cidadãos,
canalizando as atuais fontes de financiamento num único sistema de seguros;
v . integração de serviços de saúde e
sociais num mesmo regime;
v . intervenção direta do poder público
na definição do volume e dos custos dos serviços de saúde através de um regime
de concorrência administrada., que envolvam tanto seguro doença quanto serviços
de assistência médica propriamente dito.
IX - CONCLUSÕES
A nova agenda de
reformados serviços de saúde, que já não são tão novas assim, estava centrada
numa “mudança de paradigma “ ( OECD, 1987 ) da intervenção estatal em campo
social ( Bennett, 1990 ), cujas justificativas eram as mesmas utilizadas para
decretar o fim do Welfare State, e o elemento central seria a implementação de
políticas que se baseavam no conceito de demandas expressa segundo as
preferências do consumidor que levaram em consideração a questão dos custos.
Seus pontos
fundamentais eram a eficiência gerencial responsabilização interna com os
gastos dos serviços, respostas às preferências do consumidor e reequilíbrio da
alocação de recursos entre o governo, nos seus diferentes níveis, e o mercado,
istoé, descentralização para níveis subnacionais e para o setor privado. Isto
significou mudança da ênfase na produção direta de serviços pelo governo para
provisão em um ambiente regulatório apropriado, com introdução de mecanismos
competitivos que, teoricamente, estimulariam a ação individual, proporcionariam
melhor respostas do mercado e das organizações não lucrativas.
Portanto as
reformas dos anos 80, e que continuam nos anos 90, foram importantes não apenas
por aquilo que mudaram mas também pelo que preservaram ( Saltman, 1994 ) . De um
lado, deram maior visibilidade à complexidade dos sistemas sanitários;
ressaltaram a importância da gerência, assim como evidenciaram as dificuldades
trazidas pelas transposições mecânicas, para a área social, de teses vitoriosas
no campo econômico. Do outro, significaram que os mecanismos e incentivos
competitivos foram reinterpretados e um setor público fortemente regulador foi
o resultado mais imediato dos primeiros anos da implantação dessas reformas .
Ou seja apesar do pouco tempo de implementação das experiências reformistas dos
países considerados paradigmáticos ( como o EUA e Reino Unido ) e embora as
reformas tenham sido justificadas por uma retórica neoliberal às vezes radical,
o resultado visível até o presente momento é paradoxal.
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29 - “Filosofando, Introdução a Filosofia “Aranha, Arruda L,
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30 -” Bestilizados ou Bilontras ? “ Carvalho, José Murilo in
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31 - “Seguridade Social e Saúde . In : Revista Saúde em
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32 - Ministério da Saúde.” AIH a mais, AIH a menos “. in :
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número 2, maio de 1994.
33 Ministério da Saúde. “Relatório de estudo comparativo dos
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Brasília, maio de 1994.
34 - Ministério da Saúde. “Internações Hospitalares,
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35 - Ministério da Saúde. “Orçamentos 1995,1996 e proposta
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36 - Ministério da Saúde. Pauta da Reunião de Acompanhamento
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37 - Opiniões efetuadas na Imprensa sobre a proposta do
CPMF.
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