FORMAS DE
FINANCIAMENTO DOS GASTOS COM SAÚDE
As formas de
financiamento dos gastos sociais são derivações de idéias econômicas com
políticas fiscais implementadas em cada governo e devem ser entendidas à luz de
cada espaço em cada tempo específico. As finanças públicas, expressa em
práticas tributárias e na elaboração do orçamento podem ser sintetizadas no uso
de instrumentos fiscais para o atendimento dos seguintes objetivos :
a ) assegurar ajustamentos na alocação de recursos;
b) conseguir ajustamentos na distribuição da renda, da
riqueza ou dos seus efeitos indiretos, como é o caso do acesso às políticas
sociais;
c) garantir a estabilização econômica;
Em muitos casos
esses três objetivos são incompatíveis com o modelo teórico utilizado para a
elaboração do orçamento. Pode ocorrer um paradoxo entre a necessidade de
distribuição de renda e as estratégias de estabilização econômica proposta e
utilizadas pelos economistas. Basicamente deve haver sempre transparência sobre
as prioridades contidas no orçamento, que essas prioridades sejam o reflexo dos
interesses da nação o que contribui para a diminuição da sonegação fiscal.
Quanto mais
diversificadas forem as bases fiscais de uma nação maior será o grau de
liberdade do Estado em financiar políticas de interesse geral. Estas podem ser
classificadas em bases diretas e bases indiretas.
A - BASES DIRETAS
DE TRIBUTAÇÃO
As bases diretas de
tributação representam fluxos (renda ) e estoques ( propriedades, capital, etc
) de riqueza recebidos e mantidos pelos agentes econômicos. Elas dão origem aos
chamados impostos diretos, como é o caso do imposto de renda, do imposto sobre
herança, e outros. A dificuldade da tributação direta está na existências de
grandes mercados informais que podem ser considerados em relação as suas
magnitudes como inversamente proporcional ao processo de sonegação. Utilizar
uma base direta para financiar despesas vinculadas a saúde não tem sido uma
solução convencional utilizada pela maioria dos governos, entretanto essas
bases diretas são do ponto de vista da equidade, perfeitas para o financiamento
da saúde, na medida em que se complementam do ponto de vista da simetria
social.
De um modo geral os
governos utilizam tais recursos para cobrir suas prioridades temporais a cada
momento. Entretanto em nível de subsídios, existe sempre a possibilidade de uso
da lógica das bases diretas para o financiamento da saúde.
B - BASES
INDIRETAS DE TRIBUTAÇÃO
São aqueles que
incidem sobre a produção e circulação de mercadorias. Estas bases tendem a ser
mais regressivas em função da dificuldade sempre existente de diferenciar
grupos sociais a partir de níveis de consumo.
Além disso existe a possibilidade dessa tributação ser
repassada aos preços especialmente em economias cartelizadas ou que apresentem
um grau de monopólio elevado. Pode ser utilizado subsídios para determinadas
áreas, entretanto tal fato pode reduzir drasticamente a carga fiscal,
especialmente em países onde os níveis de renda ou produção são muito baixos.
A questão relacionada a fiscalização desse tipo de tributo
também é bastante complexa e difícil de ser realizada, principalmente quando a
circulação e produção informal de mercadorias é bastante elevado. Apesar dessa
dificuldade, a nível internacional, vários países têm apontado os impostos
sobre consumo, faturamento ou valor agregado como bases do futuro frente à
dificuldade de fiscalizar cada vez mais o trabalho informal ou a terceirizados
e o fluxo de renda entre pequenos produtores.
C - CONTRIBUIÇÕES
SOCIAIS
São os impostos,
taxas ou outras formas de arrecadação que são vinculadas ao uso dos recursos em
políticas sociais como por exemplo é o caso da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social - COFINS.
VII - MODELOS DE
FINANCIAMENTO DA ATENÇÃO À SAÚDE
Resumidamente
podemos definir os modelos de financiamento para suporte às políticas de saúde
através do quadro abaixo.
MODELOS DE FINANCIAMENTO DA SAÚDE
Camadas da população
|
Modelo assistencialista
|
Modelo previdencialista
|
Modelo universalista unificado
|
Modelo universalista diversificado
|
Classes de baixa renda
|
Fontes fiscais
|
Sem recursos definidos
|
Fontes fiscais e contribuições sociais gerais
|
Fontes fiscais e contribuições sociais gerais
|
Trabalhadores formais e classe média
|
Pagamento direto pelos serviços
|
Contribuições sociais sobre folha de salários
|
Fontes Fiscais e contribuições sociais gerais
|
Contribuições sociais sobre folha de salários -compulsória
|
Grupos de alta renda
|
Pagamento direto pelo serviço
|
Pagamento direto pelos serviços
|
Fontes fiscais e contribuições sociais gerais
|
Pagamento direto pelos serviços, planos privados especiais
- voluntários
|
1 - MODELO
ASSISTENCIALISTA
É um modelo voltado
somente para a atenção à saúde das camadas de baixa renda e normalmente devem
ser financiado somente com recursos fiscais, isto é, um mix de diversas fontes
de impostos. Neste modelo não haveria fonte vinculada de recursos, embora possa
existir uma alíquota vinculada ao volume de impostos ( 10% da receita
tributária total ou do orçamento fiscal por exemplo ). Este sistema torna
rígido o processo de alocação de recursos o que não é bem visto pelos
economistas que ficam amarrados para atender a determinadas prioridades
governamentais. O modelo assistencialista de proteção costuma ser de maior
proporção em países onde a pobreza absoluta atinge grandes contingentes da
população.
2 - MODELO
PREVIDENCIALISTA
É um modelo de
atenção médica não universal, voltado somente para grupos especiais como
trabalhadores formais, tende a ser financiado a partir de contribuições
compulsória de empresas e de trabalhadores. É comum a participação do Estado
para cobrir o custo de administração desses sistemas.
É um sistema difícil de ser utilizado para o alcance da
equidade. Existem sistemas previdenciários que utilizam outras bases de
financiamento agregando uma grande diversidade de contribuições sociais (
salário, folha, lucro, faturamento, e orçamento fiscal ), como foi o caso do
sistema brasileiro após 1988.
A lógica presidencialista repousa, portanto, em sistemas de
prestação onde prevalece o mix público -privado de serviços. Vale dizer,
também, que existem modelos presidencialistas onde as prestadoras de serviços
de saúde são concorrentes e outros onde estas não são concorrentes, como ocorre
nas ISAPRES chilenas, onde ao optar por uma ISAPRES, o trabalhador e seu grupo
familiar tem que receber toda a assistência médica provida,promovida ou
adquirida por ela. Este modelo também e facilmente encontrado em modelos de
seguro saúde baseados em Health Maintenance Organizations
3 - MODELO
UNIVERSALISTA: UNIFICADO
São modelos que tem
como objetivos cobrir a totalidade da população, ou seja, a universalização da
assistência à saúde, e deveria em tese ser financiado com recursos oriundos de
impostos gerais, dado que dizem respeito ao cumprimento de funções gerais do
Estado, e não de funções de grupos específicos. O modelo universalista
unificado se baseia em estratégias única de financiamento, ou se mix são postas
em fundos de saúde que funcionam como caixa única pata o financiamento de todos
sos programas definidos para o setor. Podem ter seu financiamento de forma
descentralizada.
4 - MODELO
UNIVERSALISTA : DIVERSIFICADO
O modelo
universalista diversificado tem a sua lógica calcada na viabilidade do
financiamento do sistema poder ser efetuado sem estar alicerçado numa única
estratégia de cobertura e financiamento dos serviços. Alguns sistemas de saúde
universais podem estar referenciados a estratégias mistas ou diversificadas de
cobertura, levando-se em conta os seguintes casos :
a ) para baixa renda, sistemas de atenção médica gratuitos,
financiados com recursos fiscais.
b ) para trabalhadores formais e classes médias, sistemas
baseados em contribuições sobre a folha de salários.
c) para as camadas de mais alta renda da população, sistemas
baseados em desembolso direto de recursos, em planos voluntários complementares
de seguro de saúde.
A CONSTITUIÇÃO DO
FINANCIAMENTO DO SETOR SAÚDE NO BRASIL APÓS A CONSTITUIÇÃO DE 1988
A Constituição
brasileira cria o orçamento da seguridade social ( OSS ) colocado no artigo
195.
“ a seguridade social será financiada por toda sociedade de
forma direta ou indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
Orçamentos da União, Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; as receitas
dos Estados . Distrito Federal e dos Municípios destinados a seguridade social
integrarão seus respectivos orçamentos e não integrarão o orçamento da União,
ou seja, estas instâncias ficarão com sua parcela de contribuição à seguridade
social sem passar pelos cofres da União “.
O OSS passa a ser
constituído pelas seguintes fontes :
Fonte 100 - recursos do tesouro
Fonte 122 - concurso prognóstico (antigo Fundo de
Desenvolvimento Social - FAS )
Fonte 140 - PIS/PASEP
Fonte 151 - Contribuição sobre o lucro
Fonte 153 - COFINS ( antigo FINSOCIAL )
Fonte 154 - Contribuição sobre folha
Fonte 156 - seguridade social do servidor
O OSS passa a
integrar o Orçamento Geral da União, ficando a destinação de recursos sob
responsabilidade dos órgãos que a integram, tendo em vista metas estabelecidas
pela Lei de Diretrizes Orçamentárias da União ( LDO ), muito embora como
veremos adiante isto não tenha ocorrido na prática.
Estas fontes de
receitas tiveram origem, entre outras, no orçamento do Sistema Nacional de
Previdência Social, e englobava : o Instituto Nacional de Previdência Social (
INPS ), responsável pelos benefícios, o Instituto Nacional de Assistência
Médica da Previdência Social ( INAMPS ), prestador de assistência médica e
social e o Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência
Social ( IAPAS ), como órgão arrecadador do sistema.
O Ministério da
saúde vinha sendo financiado por recursos oriundos do Tesouro Nacional, e principalmente
por recursos do Fundo de Desenvolvimento Social (FINSOCIAL ), criado em 1982
para aumentar a receita, sendo provenientes de 0,5% da receita bruta das
empresas, instituições financeiras e de seguros e de 5% sobre o imposto de
renda devido por empresas prestadoras de serviços.
Em 1990 por conta
das mudanças instituídas, o INAMPS e toda a sua estrutura é incorporado ao
Ministério da Saúde, trazendo consigo sua principal fonte de receita
financiadora (Fonte 154 ), repassada pelo Ministério da Previdência e
Assistência Social ( MPAS ) ao Ministério da Saúde sob o nome de
transferências/INAMPS. Assim, esta passa, depois do COFINS/FINSOCIAL, a ser a
principal fonte de custeio da saúde no Brasil.
No inicio de 1990
começam a surgir disputas por receitas do OSS, o que se traduz em inúmeros
cortes para o orçamento da saúde. Em 1991 o governo cria a Lei 8.212, de 24 de
julho de 1991, que dispõe sobre o plano de custeio da seguridade, alterando os
compromissos da União com a seguridade, segundo disposto nos artigos :
- artigo 16 - cobertura de eventuais insuficiências
financeiras da seguridade social somente quando decorrentes do pagamento de
benefícios da prestação continuada da previdência social, na forma da lei
orçamentária anual (aposentadorias e pensões ).
- Artigo 17 - permite o uso de recursos típicos da
seguridade como a fonte 151 e 153 para o pagamento do Excedente Público da
União na proporção de até 55% do total da despesa de 1992, 45% em 1993, 30% em
1994 e 10% em 1995, além de financiar em despesas com pessoal e administração
geral do INSS, INAMPS, LBA, e FUNABEM ( artigo 18 ).
Em relação ao
disposto no artigo 16, a saúde é colocada em uma situação crítica pois além da
utilização de receitas de seguridade para outros fins, houve também uma menor
arrecadação.
É importante
assinalar o fato da contribuição da União ser definida como recursos adicionais
do orçamento fiscal, portanto não compõem o conjunto de recursos da seguridade
e sim se adicionam a ela, desobrigando a União de maiores compromissos com a
saúde e com o novo sistema de proteção social.
O CRESCIMENTO DOS
GASTOS COM SAÚDE E AS SUAS CAUSAS
Os gastos com saúde
vêm crescendo substancialmente desde o pós-guerra, especialmente em países
desenvolvidos, considerados de primeiro mundo, conforme podemos verificar
através do quadro abaixo:
GASTOS COM SAÚDE POR PERCENTAGEM DO PIB. PAÍSES SELECIONADOS
1960 - 1990
Países
|
1960
|
1970
|
1980
|
1990
|
Alemanha
|
4,7
|
5,5
|
7,9
|
8,0
|
Bélgica
|
3,4
|
4,0
|
6,6
|
7,5
|
Canadá
|
5,5
|
7,2
|
7,4
|
9,1
|
Espanha
|
2,3
|
4,1
|
5,9
|
6,6
|
E.U.A
|
5,2
|
7,4
|
9,2
|
12,7
|
França
|
4,2
|
5,8
|
7,6
|
8,9
|
Itália
|
3,3
|
4,8
|
6,8
|
7,5
|
Japão
|
2,9
|
4,4
|
6,4
|
6,5
|
Reino Unido
|
3,9
|
4,5
|
5,8
|
6,1
|
Suécia
|
4,7
|
7,2
|
9,5
|
8,8
|
Fonte : Shieber & Poullier ( 1989 ) apud Rubio ( 1990 )
. Dados para 1990 do relatório do Banco Mundial ( 1993 )
GASTOS COM SAÚDE EM ALGUNS PAÍSES - VALORES EM DÓLAR PER
CAPITA e % DO PIB - ANO 1987
PAÍS
|
DÓLAR / PER CAPITA
|
% DO PIB
|
ALEMANHA
|
1073,00
|
8,1
|
AFRICA DO SUL
|
75,60
|
4,0
|
ARGENTINA
|
95,60
|
4,0
|
BRASIL
|
80,80
|
3,0
|
BÉLGICA
|
879,00
|
7,2
|
CHILE
|
65,50
|
5,0
|
COLÔMBIA
|
86,80
|
7,0
|
DINAMARCA
|
791,00
|
6,0
|
ESPANHA
|
521,00
|
6,0
|
ETIÓPIA
|
3,90
|
3,0
|
FRANÇA
|
1090,00
|
8,5
|
GUATEMALA
|
123,50
|
13,0
|
GRÉCIA
|
336,00
|
5,3
|
IRLANDA
|
561,00
|
7,4
|
ITÁLIA
|
884,00
|
7,2
|
LUXEMBURGO
|
1094,00
|
7,5
|
PAÍSES BAIXOS
|
1041,00
|
8,5
|
PORTUGAL
|
385,00
|
6,4
|
REINO UNIDO
|
758,00
|
6,1
|
CANADA
|
1515,00
|
8,8
|
ESTADOS UNIDOS
|
2594,20
|
14,5
|
FINLÂNDIA
|
949,00
|
7,4
|
JAPÃO
|
917,00
|
6,8
|
NORUEGA
|
1149,00
|
7,5
|
SUÉCIA
|
1233,00
|
9,0
|
SUÍÇA
|
1225,00
|
7,7
|
URUGUAI
|
131,40
|
6,0
|
Fonte : Relatório do Banco Mundial - 1987
As principais
causas enumeradas como fatores de elevação dos custos do setor saúde, ao longo
da fase áurea do Welfare State, são :
1 - Extensão Horizontal e Vertical de cobertura - derivada
do programa de universalização. Entende-se como extensão horizontal da
cobertura a inclusão de novos segmentos de clientela e de extensão vertical de
cobertura a complexificação e a diversificação da oferta de serviços
médicos-sanitários.
2 - Envelhecimento da Estrutura Etária da População - as
mudanças decorrentes da queda da fecundidade e da mortalidade nos países
centrais propiciaram um aumento relativo da atenção médica a um contingente de
mais de 60 anos que normalmente exige atenção médica mais complexa e de maior
custo.
3 - As Transformações nas Estruturas de Morbi - mortalidade
- a substituição da importância das doenças infecta-contagiosas na estrutura de
mortalidade e morbidade pelas doenças crônico-degenerativas alteraram o perfil
epidemiológico e também substancialmente o custo do setor saúde.
4 - Mudanças no Campo da Tecnologia Médica e nas Funções de
Produção em Saúde e seus Impactos na Produtividade - a complexificação das
tecnologias utilizadas para diagnóstico e tratamento das doenças também
contribuíram para um aumento do custo do setor saúde.
5 - Fatores Socioeconômicos e Culturais - o consumo de
serviços de saúde tem tornado-se inelástico com o tempo, nos países centrais. O
papel do Governo, das escolas, da mídia e da propaganda faz com que
independentemente do nível de renda, o consumidor mantenha rígida a sua pauta
de serviços de saúde.
6 - Estruturas Securitárias - o aumento cada vez maior do
seguro como elemento de indenização e proteção dos riscos de prestadores de
serviços e indivíduos, costumam elevar fortemente os custos dos serviços de
saúde.
FORMAS DE
RACIONALIZAÇÃO DE GASTOS COM SAÚDE
Um dos princípios
básicos da economia da saúde é adotar medidas racionalizadoras que propiciem
redução de custos sem que ocorram impactos negativos no nível de saúde.
As distorções que
levam ao aumento dos gastos com saúde podem ser derivadas de dois fatores
básicos :
a) do comportamento dos médicos;
b ) do comportamento dos usuários do serviço;
Assim sendo podemos
assinalar como formas de racionalização de gastos médicos algumas alternativas
tais como :
a - Do comportamento dos Médicos
1 - O pagamento pós Ato Médico
Possui algumas
conseqüências, tais como :
1.1 - Quebra da lógica da integralidade das ações de saúde,
e não estimula o comportamento preventivo nos serviços de saúde, levando o
médico a não se preocupar com a origem do problema detectado. A questão em tela
pode ser minimizada pela substituição da ótica ato/procedimento pela do
diagnóstico que entretanto não aumenta necessariamente a preocupação com a
questão de prevenção.
1.2 - Supõe que a produtividade é maior e que, portanto,
mais pacientes são vistos, o que é positivo quando médicos são escassos.
1.3 - No caso do pagamento por ato/procedimento, aumenta o
número de serviços por paciente. No caso de pagamento por diagnóstico (DRG ),
tende a decorrer um desestímulo ao número de atos.
1.4 - O pagamento por ato/procedimento/diagnóstico aumenta o
risco de corrupção, dado o alto custo de fiscalização.
1.5 - Tende a concentrar os serviços nas regiões e áreas
onde a população detém maior renda no caso do subsistema privado. ou onde o
controle é mais difícil, no caso dos sistemas públicos.
1.6 - Superestima a “performance “ do médico e do ato médico
“
1.7 - Favorece o uso da alta tecnologia e os níveis
secundários e terciários de atenção.
1.8 - Requer fortes mecanismos de controle, administração,
fiscalização e avaliação.
1.9 - Supõe uma regulação baseada no preço e não na
quantidade dos serviços consumidos, o que pode favorecer a estratégias de
indução de demanda.
2 - O Assalariamento Médico
Possui algumas
conseqüências, tais como :
2.1 - Supõe um comprometimento do médico em termos de uma
determinada carga horária com o serviço.
2.2 - Possibilita o atendimento de demandas imprevisíveis.
2.3 - Teoricamente não estimula distorções relacionadas a
preço e a quantidade dos serviços.
2.4 - Possibilita que este suba na hierarquia através do
mérito, da competência ou da antiguidade.
2.5 - Propicia uma baixa fidelidade entre paciente e médico
e vise e versa.
2.6 - Como a remuneração normalmente e fixa, possibilita a
diminuição de horas trabalhadas como forma de maximização de salário.
2.7 - Possibilidade de criação de corporativismo como forma
de proteção de eventuais controles burocráticos.
3 - Pagamento por Capitação (Valor mensal Per Capita )
Apresenta algumas
vantagens e desvantagens, tais como :
3.1 - É consistente com a definição de saúde como produto
final do processo de atenção sanitária e a qualificação como produto
intermediário dos serviços sanitários.
3.2 - Para estimular o esforço de prevenção os médicos podem
acabar levando suas populações de abrangência ao uso excessivo de exames ou a
consultas a especialistas o que pode acarretar aumento de custo.
3.3 - O pagamento per capta fixo, não sendo diferenciado por
idade e sexo, poderá trazer prejuízo aos indivíduos mais jovens ou mais velhos
que tendem a consumir mais serviços.
b ) Formas de Racionalização do Comportamento dos Usuários
de Serviços
1 - Taxas Moderadoras - São usadas quando se assume que
serviços consumidos acima de determinado níveis devem ser considerados
excessivos ( quarta consulta por ano por exemplo ) .A taxa moderadora visa
inibir o consumo e diminuir o supérfluo.
2 - Co-pagamento - É um caso de taxa moderadora, onde é
previsto que todo e qualquer serviço deveria ser, em parte, custeado pelo
consumidor. Neste caso assume-se,por exemplo, um determinado percentual de
co-pagamento para cada tipo de serviço, independente da quantidade que venha a
ser consumida.
3 - Tetos Máximos - São valores estabelecidos como custeio
para serviços cobertos por mecanismos de seguro saúde calcados em estratégias
de reembolso ao serviço ou ao indivíduo. Os valores que ultrapassarem o teto
deverão portanto ser pagos pelo indivíduo.
4 - Franquias - São mecanismos de financiamento através do
qual todo e qualquer serviço consumido de saúde corresponde a um valor mínimo
pago pelo indivíduo, sendo a diferença entre o custo total e o valor mínimo
coberta pelo sistema de saúde. As franquias funcionam como mecanismo oposto aos
tetos máximos e podem inibir o consumo supérfluo de serviços mais freqüentes.
5 - Pré - pagamento - Consiste em mecanismo pelos quais o
beneficiário paga um valor fixo calculado atuarialmente para poder ter direito
a uma cesta de serviços de saúde, a qual pode ter ou não cláusulas de
cobertura.
6 - Eliminação de Mecanismo de Livre Escolha - É a
utilização de profissionais e estabelecimentos credenciados para a prestação do
serviço de saúde. Esta modalidade exige mecanismos de fiscalização visando
impedir a diminuição da qualidade do serviço.
7 - Procedimentos Administrativos Rígidos - Seria o caso de
criação de normas associadas aos atos médicos, tais como a utilização de
medicamentos mais baratos dentro de um mesmo principio ativo, restrição de
exames entre outros.
8 - Cobranças de Taxas Diferenciadas por Grupos de Risco -
Quando o valor a ser cobrado é diretamente proporcional ao risco.
O PARADOXO ENTRE
RACIONAMENTO E UNIVERSALIZAÇÃO
A evolução do
sistema público de saúde brasileiro está profundamente vinculado ao
desenvolvimento do seu sistema previdenciário, sendo que o mesmo sofreu
profunda evolução desde os primórdios de sua constituição tanto em relação a
visão vinculada em sua essência ao mundo do trabalho quanto a sua lógica
inicial, que evoluiu de um sistema de benefícios exclusivo a certas corporações
para um modelo universalista .
Esta
universalização foi instaurada pela Constituição Federal de 1988, com a
pretensão de além de ser universalista garantir realmente os direitos sociais a
todos os seus cidadãos. Entretanto ao contrário do modelo Inglês, acaba por ser
estruturada de forma excludente, na medida que a velocidade do crescimento do
aparato institucional não acompanhou a do aumento de abrangência de demanda.
(Favaret, 1990 ).
Esta dicotomia
levou à utilização de diversos mecanismos de racionamento que visavam
basicamente garantir a eficácia do sistema, mas que acabaram por comprometer a
sua eficiência, fazendo com que setores menos necessitados da sociedade,
acabassem por recorrer ao sistema privado de saúde.
É interessante
notar que apesar do setor público ter gasto de 3 a 4 vezes mais do que o setor
privado em ações de saúde, isto não foi traduzido em termos práticos em
melhorias no atendimento e efetiva universalização dos serviços.
A situação social
gerada em função da análise efetuada provocou um intenso questionamento, tanto
da parte dos profissionais de saúde, como também do meio acadêmico, que
passaram a colocar em pauta a questão do pressuposto de eficiência e eficácia
dos serviços públicos de saúde oferecidos e a adequada distribuição dos mesmos.
É importante ressaltar que a sociedade civil como um todo e,
principalmente, a população mais carente e cuja renda só lhe permite a
utilização deste tipo de serviço público, se auto-excluiu ou foi excluída do
processo de questionamento ao modelo vigente, ficando sem alternativas viáveis
de contra ponto ao modelo proposto.
Uma parcela da sociedade (classe alta e média), por terem
acesso a rede de saúde privada já não se sentem mais comprometida com a saúde
pública, inclusive olham o serviço público de saúde com desconfiança.
As outras parcelas ( classes média baixa, baixa e porque não
classe de miseráveis ) só podem recorrer à rede pública de saúde que encontram-se
sucateada.
Além disso, devido
a sua baixa capacidade de organização política não conseguem vocalizar os seus
direitos. Resumindo, paradoxalmente ao que foi previsto na Constituição de
1988, em relação ao direito à saúde, o que observamos atualmente é um quadro
prático divorciado da teoria e que caminha possivelmente para um modelo
semelhante ao sistema de saúde Americano (meritocrático residual ), pela
promoção do Estado Liberal Clássico Brasileiro atual. O próprio sistema de
saúde privado, também oferece, em sua maioria, serviços de qualidade duvidosa e
não são fiscalizados pelo Estado.
O SISTEMAS DE AUTORIZAÇÃO DE INTERNAÇÃO
HOSPITALAR ( AIH )
O sistema de
autorização para internação hospitalar (AIH ), surgiu em 1982, como proposta do
CONASP, substituindo uma outra forma de remuneração do setor privado conhecida
como GIH ( Guia de Internação Hospitalar ), que na época era considerada como
um cheque em branco passado pelo setor público de saúde para o setor privado. A
AIH é um modelo de pós-pagamento, por procedimento e seus valores são definidos
pela esfera federal. Os valores das AIHs são os mesmos tanto para o setor
público, como para o setor privado, ficando os hospitais universitários no
sistema com o privilégio de receber uma remuneração 50% maior.
Cada Estado da
Federação tem um limite máximo de AIHs por mês, sendo que este teto é
atualmente estabelecido através de parâmetros demográficos, o que propicia
distorções e falhas no sistema. As AIHs distribuídas são limitadas e equivalem
a 10% da população do Estado. Deste total o Estado fica com 2% e o Município
com 8%. O modelo a principio pode parecer justo favorecendo a equidade, mas na
verdade ele não leva em consideração quaisquer diferenças regionais e outros
indicadores tão importantes para o planejamento de distribuição de recursos.
Existe um teto
financeiro por Estado que corresponde aos números de AIHs x Valor Médio
Histórico de Procedimentos. Aqui reside um dos grandes problemas desse tipo de
financiamento, pois sempre que se baseia um determinado valor em série
histórica, sem se levar em conta os investimentos diferenciados por região,
necessários ou mesmo já agilizados no período anterior, nada mais se faz do que
perpetuar problemas. Os valores dos procedimentos também não são reajustados de
acordo com a realidade o que favorece a fraude no sistema, que não possui um
processo de Controle e Avaliação adequado.
É responsabilidade
do Estado e do Conselho Estadual de Saúde a responsabilidade do estabelecimento
de tetos para os setores públicos, privados e instituições filantrópicas. As
sobras de AIHs, caso existam,podem ser utilizadas através da ação de uma Câmara
de Compensação entre Municípios que responderiam pela redistribuição. Do mesmo
modo, a sobra financeira é distribuída entre os Municípios, desde que estes
estejam no sistema de gestão parcial semiplena.
BIBLIOGRAFIA
1 - Economia e Financiamento do Setor Saúde no Brasil -
Medici André Cezar, Ad SAÚDE Temática, livro de 216 p, Faculdade de Saúde
Pública de São Paulo/USP, 1994. Observação : Na elaboração da monografia em
tela foram utilizadas tabelas e textos completos da obra do autor supra mencionado.
2 - A Inovação Institucional, Distributivismo e Crise: A
Política de Saúde nas Décadas de 80 e 90: Costa, Nílson do Rosário - Trabalho,
com algumas modificações, da tese de Doutorado “Políticas Públicas e Justiça “-
doc 42 p.
3 - Financiamento do Setor Saúde no Brasil : Subsídios para
Reflexão - Monografia elaborada para a Disciplina Políticas de Saúde ( Mestrado
em Saúde Pública ), ENSP/FIOCRUZ, 1995, Ramminger, Avila e Gustavo, doc 42 p c/
anexos.
4 - “Políticas Sociais e Cidadania “ Leite M.S.P, Physis. in
: Revista de Saúde Coletiva. Vol 1, número 1, 1991, p 117-131.
5 - “ Trajetória Política do Brasil 1500 - 1964 “ Iglésias,
Francisco, São Paulo, Cia de Letras, 1993.
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