OS PERIGOS DA MISTURA
ENTRE ÁLCOOL E ENERGÉTICO
Médico alerta que a bebida energética contém cafeína, substância que pode
causar arritmia cardíaca.
Em casos muito raros, overdoses de
cafeína já foram fatais. A dose oral estimada para causar a morte, que varia
devido a fatores como o peso da pessoa, é de 5 a 10 gramas.
Seria muito difícil, provavelmente
impossível, ingerir cafeína suficiente para morrer bebendo o café comum.
Segundo estimativas do governo, uma xícara de 225 ml de café moído contém de 60
a 120 miligramas de cafeína. Considerando uma quantidade de cafeína de um lado
e uma dose fatal de outro, você teria de beber pelo menos 42 xícaras em uma
dada ocasião.
Mas a cafeína é encontrada em
quantidades maiores nas bebidas energéticas, em medicamentos e preparações de
ervas.
Concentrações de cafeína no plasma
sanguíneo acima de 15 miligramas por litro de sangue podem causar reações
tóxicas, e overdoses de cafeína é uma causa relativamente comum de emergências
de envenenamento, com 4.183 casos relatados em 2007 pela Associação Americana
de Centros de Controle de Venenos. Entre todos esses casos, houve apenas uma
morte.
Quando a cafeína chega a matar, as
causas relatadas são batimentos cardíacos anormais, convulsões e afogamento no
próprio vômito.
A utilização de bebidas
energéticas pelos jovens é tratada como alerta pelos médicos. A situação gera mais
preocupação quando o produto é associado à ingestão de álcool e este tipo de comportamento
é facilmente identificado entre aqueles que frequentam bares e boates.
De acordo com o médico
cardiologista Ricardo Rodrigues, de Londrina, os energéticos possuem cafeína e a
substância pode causar arritmia cardíaca. “Por outro lado, sabemos que o álcool
também pode provocar alteração no ritmo do coração, já que é tóxico não apenas para
o sistema nervoso central, mas também para o coração quando ingerido em altas doses”,
explicou.
O médico disse que um
dos problemas das bebidas energéticas é a redução da sensação de cansaço. “Eu considero
o cansaço um sinal de alerta de que o corpo precisa de descanso. Quando se mascara
esta sensação, obriga-se o corpo a trabalhar além do que ele suporta isso pode gerar
problemas, já que o organismo precisa de um tempo para se recompor ", disse.
Segundo o médico, o álcool
e os energéticos estão relacionados ao aumento da pressão cardíaca. “A combinação
destas bebidas ainda pode provocar aceleração nos batimentos do coração e dores
no peito (angina)”, acrescentou.
O médico disse que quem
costuma ingerir a mistura geralmente consome mais álcool do que o normal, já que
o sabor do energético mascara o gosto forte do álcool. “Outro problema que deve
ser levantado é o fato do energético deixar a pessoa em estado de alerta reduzindo
o efeito depressivo do álcool. Isso acaba expondo o consumidor ao uso exagerado
das duas substâncias", destacou.
Outra situação que deve
ser levada em conta é o fato de algumas pessoas terem problemas cardíacos assintomáticos
e não saberem da existência da doença. “Uma pessoa pode conviver alguns anos com
problemas no coração sem ter sintomas e isso pode ser agravado a partir da ingestão
da mistura entre bebidas energéticas e alcoólicas", destacou. Para o cardiologista,
não há uma situação corriqueira em que possa ser indicada a utilização deste tipo
de bebida.
DEPENDENTE
Para a psicóloga Etienne
Gonze de Oliveira, como o energético dá condições para que a pessoa se mantenha
bebendo por mais tempo, e acaba servindo como potencializador dos efeitos do álcool
no organismo. “Isso facilita com que as pessoas ultrapassem seus limites e se coloquem
em situações de risco. O álcool em abuso pode levar a pessoa a participar de situações
que se estivesse sã não gostaria de se envolver”, afirmou.
A psicóloga lembrou que
a pessoa que consome álcool pode ficar dependente da substância e que o uso do álcool
é uma porta de acesso para outras drogas.
"Percebemos que os
jovens têm contato com o álcool cada vez mais cedo, o consumo está mais evidente
também entre as mulheres. Como é uma droga lícita e que promove a interação social,
facilita o contato com outros tipos de drogas", concluiu.
FONTE Michelle Aligleri, Reportagem Local, Folha de Londrina
O relato de pais e médicos e pesquisas,
sobretudo americanas chamam a atenção para um hábito comum no Carnaval, mas arriscado:
tomar bebida alcoólica com energético. Segundo o cardiologista Luciano Vacanti,
a mistura potencializa o risco de arritmias, pois as duas substâncias “irritam”
o músculo do coração (o miocárdio). Ele afirma, ainda, que há casos descritos nos
Estados Unidos de adolescentes que, após ingerirem energéticos, desenvolveram taquicardias
que precisaram ser revertidas nos hospitais.
O médico Anthony Wong, chefe do Ceatox
(Centro de Assistência Toxicológica) do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas
(SP), relata que este é um hábito que está virando uma epidemia mundial. “Pior que
quanto mais jovem é a pessoa menos controle ela tem sobre as bebidas alcoólicas.
É necessário tomar uma atitude de controle por parte das autoridades com o crescente
abuso dessa associação”, opina.
Há vários motivos apontados pelos consumidores
para se misturar as bebidas. Entre eles, disfarçar o gosto do álcool (principalmente
no caso de destilados), além de esticar a balada. Por ser estimulante, o energético
carrega o mito de anular os efeitos depressivos do álcool, o que é verdade em parte
porque a bebida reduz a sensação de sonolência, mas os reflexos continuam mais lentos
sob o efeito do álcool.
PERCEPÇÃO ALTERADA
Pesquisas vêm comprovando que o consumo
de álcool com energéticos pode estimular o alcoolismo, dar mais disposição para
beber (a pessoa fica mais tempo em uma balada ou bar bebendo, por exemplo) e tornar
o indivíduo mais suscetível aos problemas relativos ao consumo de álcool (machucam-se
mais ou sofrem mais acidentes, necessitam de ajuda médica ou enfrentam problemas
sexuais).
Alexandre Clemente Chame, de 36 anos, percebeu
alguns desses sintomas após abusar na dose de energéticos em uma casa noturna. “Não
costumo beber destilado, mas como meus amigos tinham comprado uma garrafa, resolvi
tomar a bebida com energético para acompanhar”. Percebi principalmente que fiquei
até mais tarde na balada, costumo ir embora mais cedo, e acabei esticando até umas
cinco da manhã.
Daí bebi bem mais que de costume. No dia
seguinte, a ressaca foi pior. Na hora até pensei: ‘esse negócio’ ajuda a não bater
o carro na volta porque eu parecia estar mais desperto, mas depois percebi que poderia
ter sido até pior, pois eu achava que estava normal para dirigir”.
Um dos maiores riscos dessa combinação
é realmente o de mascarar os sintomas. De acordo com a psicoterapeuta Ilana Pinsky,
professora do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo), não sentir os efeitos do álcool pode parecer bom, mas não é. É uma maneira
de tapear o que o corpo está sentindo. “A pessoa não fica tão bem quanto pode pensar,
pode dirigir de maneira arriscada, e os órgãos do corpo são afetados da mesma maneira,
ela sentindo ou não”.
ADVERTÊNCIAS
Segundo a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, a Anvisa, a venda de energéticos é autorizada no Brasil desde 1998, após
a avaliação da agência sobre a segurança dos produtos. “Não existe nenhuma proibição
quanto a comercialização dessas bebidas por parte da Comunidade Europeia e as mesmas
estão dispensadas de registro na Anvisa”.
No entanto, há requisitos específicos de
composição: taurina: máximo 400 mg/100 ml; cafeína: máximo 35 mg/100 ml; álcool
etílico: máximo 0,5 ml/100 ml; inositol: máximo 20 mg/100 ml; clucoronolactona:
máximo 250 mg/100 ml.
Além disso, as embalagens devem conter
obrigatoriamente as seguintes advertências, em destaque e em negrito: "Crianças,
gestantes, nutrizes, idosos e portadores de enfermidades: consultar o médico antes
de consumir o produto" e "Não é recomendado o consumo com bebida alcoólica".
Segundo a Anvisa, os primeiros alertas
se devem ao fato de o produto ter uma “elevada quantidade de cafeína em sua formulação”.
Já a restrição à associação com álcool é feita, pois “pode potencializar os efeitos
da bebida alcoólica e fazer com que o usuário tenha um julgamento errado sobre seu
estado de embriaguez (tem a percepção de que não está bêbado, mas os efeitos deletérios
do consumo de álcool sobre a coordenação motora continuam)”.
MAIS VULNERÁVEIS
O cardiologista e médico do esporte Nabil
Ghorayeb fecha a questão dizendo que o problema está no uso indiscriminado dos energéticos
sem que se saiba dos riscos. “As pessoas não costumam ler os rótulos e, se não tivesse
qualquer tipo de perigo, não teriam advertências nas embalagens dos produtos”.
“O risco maior está na dose,
principalmente para quem tem sensibilidade à cafeína ou predisposição às
arritmias ou faz parte do grupo citado nas embalagens (crianças, idosos,
nutrizes, grávidas, com problemas de saúde)”.
Ghorayeb alerta para as pessoas ficarem
atentas a sinais de maior sensibilidade, como palidez, aceleração do coração, aumento
da pressão, etc.. “A intoxicação por cafeína é manifestada pela presença de ansiedade,
insônia, desconforto no estômago, tremores, taquicardia, agitação e até raros casos
de morte foram descritos na Austrália, Irlanda e Suécia”, acrescenta Vacanti.
"ENGANAR" O SONO¨
Para os pais, Ilana Pinsky recomenda que
a informação é a maior arma contra o problema. “É essencial conhecer o que é energético,
suas propriedades, o que é considerado um excesso de consumo. E conversar com os
filhos sobre isso, informar-se primeiro para depois informar o filho”, aconselha
a psicoterapeuta.
Ilana completa explicando que faz parte
da característica da nossa sociedade tentar burlar o que estamos sentindo e se faz
isso de uma maneira excessiva, o tempo todo, e não só na questão do álcool. Talvez
esta também possa ser a explicação para o consumo crescente de energéticos, uma
busca por “enganar” o sono, a timidez (no caso da associação com o álcool) e o corpo,
prolongando a sensação de diversão na balada ou a malhação na academia.
Mas é preciso lembrar que o preço pode
ser caro demais. Recentemente, pediatras americanos anunciaram que, nos últimos
anos, já foram registrados mais de 2,5 mil casos de internações e atendimentos por
intoxicação por cafeína em menores de 19 anos. E já que essa associação é prática
comum e permitida, por enquanto não há outro jeito: quem deve ficar alerta e moderar
na dose é o consumidor!
O QUE DIZ O FABRICANTE
O
fabricante de um dos energéticos mais populares do mercado, o Red Bull, diz que,
“em relação ao uso associado ao álcool, não há nenhum indício de que o Red Bull®
Energy Drink tenha qualquer efeito (positivo ou negativo) associado ao seu consumo.
Isto foi confirmado pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla
em inglês), em comunicado de 2009, que concluiu não haver interação entre a taurina,
a glucoronolactona, a cafeína e o álcool, mesmo durante atividade física”.A empresa
também alega que um consumo moderado de cafeína (menos de 400 mg por dia, o que
equivalente a 5 latinhas do energético) não afeta negativamente a saúde cardiovascular.
E completa: “o Red Bull® Energy Drink é vendido em mais de 160 países porque autoridades
de saúde do mundo todo concluíram que o mesmo é de consumo seguro”.
O consumo regular de bebidas energéticas
com altos índices de cafeína favorecem o alcoolismo, revela um estudo com mil
estudantes de universidades americanas.
A pesquisa
concluiu que consumidores frequentes de energéticos cafeinados bebem álcool
mais regularmente e em maior quantidade que os demais, aumentando seu risco de
alcoolismo.
Os
consumidores frequentes de bebidas energéticas correm ainda mais risco de
sofrer problemas relacionados ao álcool, como desmaios e ressaca, e são mais
suscetíveis a se machucar, revela o estudo, liderado por Amelia Arria,
pesquisadora da Universidade de Maryland.
O trabalho faz
parte de uma pesquisa mais ampla sobre o alcoolismo, que será divulgada no
próximo ano.
O relatório é
divulgado em meio a um intenso debate nos Estados Unidos sobre os riscos de
bebidas que combinam álcool e cafeína e são especialmente direcionadas aos
jovens.
Michigan, Nova
York, Oklahoma, Utah e Washington preparam medidas que proíbem bebidas que
combinam cafeína ao álcool, do mesmo modo que muitas universidades americanas.
FONTE
: UOL NOTÍCIAS CIÊNCIA
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