ARMAZENAGEM E DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAMENTOS*
A
armazenagem e distribuição se constituem na última das três macro fases da
atividade de abastecimento já citadas.
Neste
tópico serão dissertados apenas os procedimentos relativos aos medicamentos.
A
armazenagem, no caso de medicamentos, se compõe de um conjunto de procedimentos
técnicos e administrativos que envolvem as atividades de:
v Recebimento;
v Estocagem e guarda;
v Distribuição.
RECEBIMENTO *Texto
elaborado por Aldery Silveira Júnior
O
recebimento dos medicamentos é uma das etapas mais importantes do armazenamento.
Consiste, primordialmente, no ato de conferência em que se verifica se os
medicamentos que foram entregues estão em conformidade com as especificações, quantidades
e qualidade previamente estabelecidas no edital.
No
recebimento, realizam-se dois tipos de atividades de verificação: as de
aspectos
administrativos e as de especificações técnicas.
Aspectos Administrativos
v Estão intimamente relacionados ao
pedido de compra, buscando atender aos requisitos estabelecidos em edital ou ao
contrato, quanto às quantidades a serem entregues, aos prazos de entrega e aos
preços registrados. Essa verificação deve ser efetuada da seguinte forma:
v Análise dos documentos fiscais – os
medicamentos só deverão ser recebidos acompanhados de documentação fiscal (por
exemplo: nota fiscal, nota de empenho, nota de movimentação de medicamento,
guia de remessa, etc).
v A não conformidade do documento em
relação aos produtos entregues deve ser registrada em formulário próprio e
encaminhado ao setor responsável para a solução da pendência junto ao
fornecedor.
v Verificação da quantidade recebida –
deve estar em conformidade com a quantidade solicitada.
v Os prazos de entrega – devem ser
verificados e comparados com os prazos preestabelecidos.
v Os preços – devem ser também
verificados e comparados com os estabelecidos nas propostas e/ou atas de
registro de preços.
Especificações Técnicas
v São aquelas relacionadas aos aspectos
qualitativos e legais (cumprimento da legislação vigente de medicamentos,
etc.). Verifica-se o cumprimento dos requisitos exigidos, em relação a:
v Especificações dos produtos – os
medicamentos devem ser entregues em conformidade com a solicitação no que tange
a: forma farmacêutica, concentração, apresentação das embalagens e suas
condições de conservação e inviolabilidade.
v Registro sanitário do produto – os
medicamentos recebidos devem apresentar nas embalagens o número do registro do
Ministério da Saúde. Os medicamentos só podem ser comercializados se forem
registrados no Ministério da Saúde.
v Certificado de análise ou laudo de
controle de qualidade – documento emitido pelo controle de qualidade do
fabricante do produto, no qual são certificadas as especificações técnicas de
qualidade do medicamento.
v No edital de licitação, deve ser
exigido que os medicamentos por ocasião da entrega venham acompanhados dos
laudos de controle de qualidade, com os resultados, as faixas de normalidade e
a farmacopéia de referência.
v Responsável técnico – deve ser
observado se nas embalagens dos medicamentos constam o nome do farmacêutico, o
número do Conselho Regional de Farmácia e a unidade Federativa na qual está
inscrito.
v Embalagem – os medicamentos devem
estar em suas embalagens originais, devidamente identificadas e sem
apresentarem sinais de violação, aderência ao produto, umidade e inadequação em
relação ao conteúdo. Devem estar de acordo com o estabelecido na legislação
vigente (Portaria SVS nº 802/98, de 08/10/98).
v Rotulagem – deve estar de acordo com o
que estabelece a legislação vigente (Artigo 3º da Portaria SVS nº 802/98, de 08/10/98).
v Validade – data limite de vida útil do
medicamento, expressa na embalagem. Recomenda-se que no edital de licitação
conste que os medicamentos, no ato da entrega, possuam prazo de validade por tempo
suficiente para seu pleno consumo, considerando as condições de entrega,
distribuição e de transporte existentes.
ESTOCAGEM E GUARDA
Estocar
consiste em ordenar adequadamente os produtos em áreas apropriadas, de acordo
com suas características e condições de conservação exigidas (termolábeis, medicamentos
sob controle especial da Portaria nº 344 da ANVISA, inflamáveis, material
médico hospitalar, etc.).
Para
a estocagem de medicamentos, deve-se dispor de área física suficiente e
apropriada
aos diferentes tipos de produtos a serem armazenados.
No
caso específico de medicamentos, recomenda-se que haja uma Central de
Estocagem,
que pode receber a denominação de uma Central de Abastecimento Farmacêutico
(CAF), nos moldes apresentados a seguir.
Central de Estocagem de
Medicamentos
Área
destinada à estocagem e conservação dos produtos, visando assegurar a
manutenção
da sua qualidade, enquanto estocados, conforme as características de cada medicamento.
A
denominação de Central de Abastecimento Farmacêutico é utilizada especificamente
para medicamentos, com a finalidade de diferenciá-la de almoxarifado, depósito,
armazém e outros espaços físicos destinados à estocagem de outros tipos de materiais.
Características de uma
Central de Abastecimento Farmacêutico
A
Central de Abastecimento Farmacêutico, para assegurar condições ideais de
conservação
e contribuir para a manutenção da estabilidade dos medicamentos, deverá atender
a alguns requisitos básicos:
v Localização – local de fácil acesso
para o recebimento e distribuição dos produtos, com espaço suficiente para a
circulação e movimentação de veículos.
v Identificação externa – identificação
visível por meio de nome e logotipo.
v Sinalização interna – letras ou placas
indicativas nas estantes e locais de extintores de incêndio, entre outros.
v Condições ambientais – condições
adequadas de temperatura, ventilação, luminosidade e umidade.
v Higienização – manutenção constante.
Deve estar sempre limpa, isenta de poeira e outras sujidades. A limpeza, além
de demonstrar aspecto de organização, é uma norma de segurança, que deve ser
rigorosamente seguida.
v Equipamentos e acessórios suficientes
– dispositivos necessários à movimentação e estocagem dos produtos.
v Segurança – segurança apropriada à
proteção das pessoas e dos produtos em estoque.
v Dimensão – não existe padrão
estabelecido para determinar a dimensão adequada de uma Central de
Abastecimento Farmacêutico. O tamanho varia em função das atividades desenvolvidas,
quantidade e tipos de produtos a serem estocados; periodicidade das aquisições;
intervalo de tempo da entrega de medicamentos pelos fornecedores; sistema de
distribuição (se centralizado ou descentralizado); quantidade de equipamentos, acessórios
e recursos humanos; áreas necessárias à funcionalidade do serviço (área administrativa,
recepção/expedição) e áreas específicas de estocagem.
Instalações
Devem
ser projetadas em conformidade com o volume operacional do serviço.
Físicas
v - Piso: plano, para facilitar a
limpeza, e suficientemente resistente para suportar o peso dos produtos e a
movimentação dos equipamentos.
v - Paredes: cor clara, pintura lavável,
isentas de infiltrações e umidade.
v - Portas: preferencialmente esmaltadas
ou de alumínio.
v -Teto: deve-se evitar telhas de
amianto porque absorvem muito calor.
Elétricas
Sabe-se
que a maioria dos incêndios é provocada por curtos-circuitos. A
manutenção
permanente das instalações elétricas deve ser prioridade dos responsáveis pelo
setor. Os seguintes cuidados devem ser observados:
v - Desligar todos os equipamentos,
exceto os da rede de frio, diariamente, antes da saída do trabalho.
v - Evitar sobrecarga de energia, com o
uso de extensões elétricas.
v - Usar um equipamento por tomada, não
fazendo o uso de adaptadores.
v - Solicitar contrato de manutenção
elétrica ou realizar vistorias periódicas nas instalações. Sanitárias
Devem
ser apropriadas e sem comunicação direta com as áreas de estocagem.
Equipamentos e
Acessórios
De
acordo com o espaço físico disponível, volume e movimentação de estoque,
entre
outros, recomenda-se:
v Aparelhos de ar condicionado –
utilizados para o controle adequado da temperatura no local de armazenagem
daqueles medicamentos que necessitam de condições especiais de conservação. A
quantidade de aparelhos necessários e a definição de sua potência deverão ser
calculadas conforme dimensão do local onde estão instalados. O fabricante (e/ou
vendedor) fornece tais informações.
v Armários de aço com chave – para o
armazenamento dos medicamentos sujeitos a controle especial (Portaria SVS/MS nº
344/98), no caso de centrais de armazenamento de pequeno e médio porte.
v Carrinhos para transporte de
medicamentos – existem em diversas formas e tamanhos, de acordo com as
necessidades específicas.
v Cestas de polietileno ou similar –
utilizadas para a estocagem de produtos leves. São práticas, ajustáveis, de
diversos tamanhos e cores e ocupam pouco espaço.
v Caixa plástica (minicontenedores) –
recipientes empilháveis ou não, de pequena capacidade, com tamanho variável,
destinados ao acondicionamento de caixas pequenas ou produtos frágeis.
v Empilhadeiras – veículos destinados ao
transporte de medicamentos, podendo ser manuais ou elétricas. As elétricas são
usadas em armazenamento vertical, de grandes quantidades, em centrais de
armazenamento de grande porte.
v Equipamentos de informática – em
quantidade suficiente, conforme as possibilidades, para atender às necessidades
da Central.
v Exaustores eólicos – acessórios
utilizados em áreas quentes por que ajudam na renovação do ar circulante,
melhorando a ventilação.
v Higrômetros – usados para a medição da
umidade.
v Máquinas de calcular – imprescindíveis
nas tarefas administrativas, de controle, de recepção, de expedição e outras.
v Móveis de escritório – em quantidade e
modelos adequados ao serviço.
v Termômetros – para a medição da
temperatura ambiente nas áreas de estocagem. São indicados os termômetros que
registram temperaturas máximas e mínimas.
Segurança
Em
uma Central de Abastecimento Farmacêutico, não devem existir fatores que possam
propiciar riscos de perda, deteriorações, desvios e incêndios.
A
falta de equipamentos de prevenção contra incêndios e a não existência de manutenção
das instalações elétricas são fatores que contribuem para aumentar os riscos no
setor. Por isso, medidas de segurança devem ser adotadas para garantir a devida
proteção das pessoas e dos produtos em estoque.
Medidas de prevenção
contra incêndio
v É necessário dispor de equipamentos de
prevenção contra incêndio em todas as áreas, com fácil acesso, indicação no
local dos equipamentos, instruções escritas sobre utilização destes e
treinamento de pessoal.
v Os extintores de incêndio devem ser
adequados ao tipo de material armazenado e fixados nas paredes, sinalizados
pela demarcação de áreas abaixo deles, com um círculo ou seta larga, na cor
vermelha e com bordas amarelas, na dimensão de 1m x 1m.
v Os extintores deverão possuir uma
ficha de controle de inspeção, etiqueta de identificação (protegida para não
ser danificada), com a data de recarga.
v Elaborar cartazes que estimulem o
cumprimento das normas. Por exemplo: proibido fumar, beber e guardar alimentos
nas dependências da Central de Abastecimento Farmacêutico. Os cartazes devem
estar afixados em locais visíveis.
Organização interna
A
organização interna da Central de Abastecimento Farmacêutico deverá
constar
de áreas que contemplem as necessidades do serviço, considerando o volume e tipos
de produtos a serem estocados, a saber:
v Área administrativa – destinada às
atividades operacionais, deve estar localizada, preferencialmente, na entrada, para
melhor acompanhamento das ações e o fluxo de pessoas e produtos;
v Área de recepção – destinada ao
recebimento e à conferência de produtos. Obrigatoriamente, deve ficar situada
junto à porta principal e conter normas e procedimentos escritos e afixados na
parede;
v Área de expedição – local destinado à
organização, preparação, conferência e liberação dos produtos;
v Áreas de estocagem – dependendo dos
tipos de produtos a serem armazenados e das condições de conservações exigidas,
deve-se dispor de áreas específicas para a estocagem de produtos de controle
especial, tais como: área para termolábeis, psicofármacos, imunobiológicos,
inflamáveis (os de grande volume devem ser armazenados em ambiente separado),
materiais médico-hospitalar, produtos químicos e outros existentes. As áreas de
estocagem devem ser bem sinalizadas, de forma que permitam fácil visualização
das mesmas. A circulação, nesta área, deve ser restrita aos funcionários do
setor.
Organização da área física
É
a disposição racional do espaço físico dos diversos elementos e recursos utilizados
no serviço (materiais, equipamentos, acessórios e mobiliários), de maneira adequada,
possibilitando melhor fluxo e utilização eficiente do espaço para a melhoria
das condições de trabalho e garantia da qualidade dos produtos estocados.
Forma de estocagem de
medicamentos
A
estocagem dos produtos depende da dimensão do volume e de produtos a
serem
estocados, do espaço disponível e das condições de conservação exigidas.
Existem
vários equipamentos destinados à armazenagem de medicamentos,
sendo
os mais utilizados:
v Estrados/pallets/porta-pallets – são
plataformas horizontais de tamanhos variados, de fácil manuseio. Utilizadas na
movimentação e estocagem de produtos de grandes volumes. Os porta-pallets são
estruturas reforçadas, destinadas a suportar cargas a serem estocadas nos
vários níveis, com bom aproveitamento do espaço vertical.
v Prateleiras – constituem-se o meio de
estocagem mais simples e econômico para produtos leves e estoques reduzidos,
devendo ser preferencialmente de aço.
v Empilhamento – o empilhamento deve
obedecer às recomendações do fabricante, quanto ao limite de peso. Em regra, as
pilhas não devem ultrapassar uma altura de 1,5 metro, para evitar desabamentos
e alterações nas embalagens, por compressões.
As
pilhas devem ser feitas em sistema de amarração, mantendo-se distanciamento
entre elas e entre as paredes, para uma boa circulação de ar.
Recomendações
v Controle de entrada/saída – a Central
de Abastecimento Farmacêutico deve dispor de uma área para a recepção e para a
expedição dos produtos.
v Empilhamento – o cuidado no
empilhamento dos produtos é fundamental para evitar acidentes de trabalho e
desabamentos de produtos (que podem ocasionar perdas). A informação sobre o
limite máximo de empilhamento permitido deve ser sempre observada e pode ser
obtida no lado externo das embalagens. Essa informação é fornecida pelo próprio
fabricante, quando se faz necessário.
v Utilização de inseticidas – pela
possibilidade de contaminação dos medicamentos, o uso deve ser evitado.
v Manter a higiene rigorosa do local – a
limpeza do local deve ser diária para não permitir o acúmulo de poeira, de
papéis, de caixas vazias de papelão, que venha criar condições para propagação
de insetos e roedores. O lixo deve ser depositado em recipientes com tampa e
deve ser eliminado todo dia.
v Acesso de pessoas – só deve ser
permitido o acesso de pessoas que trabalham no setor.
DISTRIBUIÇÃO
Atividade
que consiste no suprimento de medicamentos às Unidades de Saúde, em quantidade,
qualidade e tempo oportuno, para posterior dispensação à população usuária.
Uma
distribuição de medicamentos deve se revestir dos seguintes requisitos:
rapidez
e segurança na entrega e eficiência no sistema de informação e controle.
v Rapidez – o processo de distribuição
deve ser realizado em tempo hábil, mediante um cronograma estabelecido,
impedindo atrasos e/ou desabastecimento do sistema.
v Segurança – é a garantia de que os
produtos chegarão aos destinatários nas
v quantidades corretas e com a qualidade
desejada.
v Sistema de informação e controle – a
distribuição deverá ser monitorada sempre. Deve-se dispor de um sistema de
informações que propicie, a qualquer momento, dados atualizados sobre a posição
físico-financeira dos estoques, das quantidades recebidas e distribuídas, dos
dados de consumo e da demanda de cada produto, dos estoques máximo e mínimo, do
ponto de reposição e qualquer outra informação que se fizer necessária para um
gerenciamento adequado.
v Transporte – na escolha do transporte,
deve-se considerar as condições adequadas de segurança, a distância das rotas
das viagens, o tempo de entrega e os custos financeiros.
- - Devido às características da
carga a ser transportada, a seleção do veículo é pré-requisito para a
distribuição satisfatória. Veículo com isolamento térmico é exigido para
transportar medicamentos, principalmente em distâncias longas, em especial
no caso de vacinas, soros e insulinas, em função das grandes variações de
temperatura, umidade e pressão atmosférica que ocorrem de uma região pra outra.
- - Os motoristas e os responsáveis
pela distribuição devem ser qualificados e capacitados quanto à natureza
do material que transportam, seu manuseio correto, seu alto custo, e devem
ser informados sobre as condições e fatores externos que podem alterar a
qualidade de sua carga.
- - Observar as operações de carga
e descarga, o manuseio, o empilhamento correto das caixas/containeres,
conforme setas indicativas, de modo a evitar danificação dos produtos.
- _-Para medicamentos termolábeis,
o veículo transportador deve ter características especiais (conforto
térmico). Esses medicamentos devem ser imediatamente colocados nos locais
adequados de armazenagem assim que chegarem ao destino.
- -Avaliar o processo, por meio de
relatório de desempenho, dos responsáveis pela distribuição, de modo a
garantir a qualidade do sistema de distribuição.
FONTE
Brasil.
Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Para entender a gestão do Programa
de Medicamentos de dispensação em caráter excepcional / Conselho Nacional de
Secretários de Saúde. – Brasília : CONASS, 2004. 100 p. (CONASS Documenta ; 3) ISBN
85-89545-04-0 SUS (BR)
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