PRÁTICA DE FARMACOTÉCNICA :
PÓS-SIMPLES E COMPOSTOS
1 - PULVERIZAÇÃO POR ATRITO OU TRITURAÇÃO.
Ø Usado para drogas em geral.
Ø Utiliza movimentos do pistilo
em espiral.
Ø Usa gral de porcelana e/ou
vidro.
2 - PULVERIZAÇÃO POR CONTUSÃO OU CHOQUE.
Ø Usado para drogas vegetais
brutas ou para produtos químicos na forma de cristais grandes.
Ø Utiliza movimentos do pistilo
em vertical ("ato de bater na droga").
Ø Usa gral de ferro ou de materiais
ainda mais duros.
3 - PULVERIZAÇÃO POR MOINHOS (ESCALA INDUSTRIAL).
Ø Moinho de faca ou martelo.
Ø Moinho de bolas.
4 -- PROCESSOS ESPECIAIS
4.1 - Pulverização por intermédio:
Ø Intermédio é uma substância
estranha que facilita a redução da segunda substância em pó.
Ø O intermédio pode ser líquido,
sólido ou gasoso:
Exemplos: Substância Intermédio
Ø Mentol ou canfora Éter ou álcool
(líquido)
Ø Baunilha Açúcar (sólido)
4.2 - Pulverização química.
Ø D.2.1 - Hidratação.
CaO + H2O = Ca(OH)2
(Água de cal)
Ø D.2.2 - Desidratação.
CuSO4.5H2O
+ Aquecimento ® CuSO4¯ + 5H2O
Contra-exemplo:
Na2SO4.10H2O
ou Na3PO4.12H2O + Aquecimento ® Funde ou encrosta (não Desidrata)
4.3 - Reação química.
CaCl2 + Na2CO3 ® CaCO3¯ + 2NaCl
4.4 Tamisação.
Tem por finalidade obter pós com a mesma tenuidade (tamanho médio similar). É feita em tamises que são classificados como está descrito na tabela.
Tamis no (Mesh)
|
Abertura (mm)
|
Pó
|
2
|
9,52
|
Muito grosso
|
8
|
2,38
|
Muito grosso
|
10
|
2,00
|
Muito grosso
|
20
|
0,84
|
Grosso
|
30
|
0,59
|
Grosso
|
40
|
0,42
|
Moderadamente
grosso
|
50
|
0,297
|
Moderadamente
grosso
|
60
|
0,250
|
Fino
|
80
|
0,177
|
Muito fino
|
120
|
0,125
|
Muito fino
|
200
|
0,074
|
Micronizados
|
325
|
0,044
|
Micronizados
|
HOMOGENEIZAÇÃO DE PÓS.
Deve ser feita com pós de tenuidade similares. Ela pode ser feita por trituração, espatulação (?), tamisação ou mistura (saco plástico ou misturador em V).
PROBLEMAS RELACIONADOS À MANIPULAÇÃO DE PÓS.
Problema
|
Medida corretiva
|
Formação
de mistura eutética(pós se liquefazem à temperatura ambiente após
serem misturados em determinada proporção).
|
Interpor entre os pós incompatíveis um pó absorvente de elevada temperatura
de fusão (exs: MgCO3, MgO, caulim, amido, talco, etc.).
|
Formação de misturas explosivas(trituração
de agentes oxidantes e redutores fortes).
|
Evitar ou interpor
pós inertes entre o agente oxidante e o redutor.
|
Pós Higroscópicos (absorvem
umidade do ar) e Deliqüescentes(se
liquefazem total ou parcialmente).
|
Controlar a umidade relativa do ar, granular os pós, manipular evitando
a exposição à atmosfera úmida, adicionar um pó absorvente à preparação.
|
Pós eflorescentes (aqueles
que possuem água de hidratação que é liberada tornando o pó pastoso ou liquefeito).
|
Substituir o pó hidratado pelo anidro ou secar o pó antes de manipula-lo.
|
Pós leves e “fofos”.
|
Compactar com álcool ou óleo mineral.
|
Pós de difícil escoamento.
|
Acrescentar estearato de magnésio em concentração inferior a 1%.
|
Pós com carga estática.
|
Neutralizar as cargas com laurilsulfato de sódio em concentração
inferior a 1%.
|
Incorporar líquidos à pós.
|
Além do líquido acrescentar um pó absorvente; concentrar o líquido
até uma consistência mais viscosa.
|
REGRAS GERAIS PARA A PREPARAÇÃO DE PÓS-COMPOSTOS.
1 - Antes iniciar a preparação do pó composto, verifique se existe incompatibilidade entre os pós simples. Caso haja alguma incompatibilidade, verifique qual seria a maneira de eliminar essa incompatibilidade.
2 - Pulverize em gral (de vidro para substâncias coloridas ou com cheiro) e tamise isoladamente cada um dos pós presentes na fórmula. Caso necessário utilise um intermédio.
3 - No caso de haver um pó em quantidade muito pequena, acrescente um corante visando facilitar a visualização da mistura.
4 - Homogeneíze seguindo a Regra do Mistão (ordem crescente de quantidade) adicionando o excipiente em qsp, por último. Misture em um gral utilizando o método da diluição geométrica. Tamise a mistura final.
5 - Envase em frasco de vidro âmbar ou em um saco plástico de tamanho compatível com o volume formulado visando obter uma melhor estética e até mesmo dificultar degradações. Antes do envase verifique a compatibilidade da preparação com o material de envase.
6 - Rotule e registre.
PÓS DILUÍDOS.
A maioria das substâncias encontradas no mercado, diluídas (Vitamina E à 50% e Betacaroteno à 10%, por exemplo) ou não, são de fácil pesagem em relação a dose desejada. Entretanto, são também encontrados princípios ativos muito potentes em baixa concentração (drogas heroicas).
Estas drogas podem ser diluídas de tal forma que a dosagem seja de fácil pesagem, evitando riscos de sobredosagens. Usualmente, esta diluição é feita utilizando um pó inerte tal como a lactose, o talco, o amido, etc.
Após escolher o diluente de acordo com a sua compatibilidade em relação ao princípio ativo e com a formulação a ser empregada, o princípio ativo é diluído à 1:10 (exemplos: Alprazolam, Clonazepam, Diazepam, Prednisolona, etc.), 1:100 (exemplos: Bumetamida, Clonidina, Digitoxina, Digoxina, Fludrocortisona, etc.) ou à 1:1000 (exemplos: T3, T4) antes de ser estocado.
Estes pós diluídos;
denominados respectivamente de pós decimais, centesimais ou milesimais; são os empregados
no momento de elaborar a formulação.
PÓS EFERVESCENTES.
A efervescência destina-se a proporcionar um paladar agradável, corrigindo eventualmente o gosto de certos fármacos utilizando as propriedades ácidas do CO2, o qual vai ainda atuar secundariamente como estabilizante da mucosa gástrica, podendo aumentar a absorção do medicamento.
A efervescência é conseguida à custa da reação de um carbonato ou bicarbonato com um ácido orgânico, como o cítrico ou o tartárico, na presença da água usada para a ingestão do medicamento, produzindo-se a liberação de CO2.
Geralmente usa-se uma quantidade fixa e arbitrária de ácido tartárico, ácido cítrico ou NaH2PO4, podendo ainda associarem-se estes três compostos. A quantidade de NaHCO3 que é necessária adicionar pode-se calcular em função da acidez conferida pelos ácidos e o NaH2PO4, de tal modo que a reação entre eles em presença de água, gera uma solução próximo da neutralidade.
Os pós efervescentes constituem uma fórmula dotada de má conservação, pois absorvem facilmente umidade atmosférica dada a grande superfície que apresentam. É por isso que eles são geralmente substituídos por granulados, menos sujeitos a esta alteração.
REGRAS GERAIS PARA A PREPARAÇÃO DE PÓS EFERVESCENTES.
Além das regras utilizadas para a preparação de pós compostos, devemos:
a - Logo após a pulverização e tamisação de cada um dos pós presentes na fórmula, secar cada um desses pós em estufa à 50-60°C durante 20 minutos.
b - Pulverizar e tamisar isoladamente cada um dos pós secos, misturá-los em um gral. Secar o pó composto obtido em estufa à 50°C durante 20 minutos aproximadamente.
c - Após o término da etapa anterior, caso necessário, tamisar a mistura final obtida. embalar, rotular e registrar conforme as mesmas exigências dos pós compostos acima descritas.
PAPÉIS MEDICAMENTOSOS E GRANULADOS
PAPÉIS MEDICAMENTOSOS OU PÓS DIVIDIDOS.
São formas farmacêuticas em pó acondicionados de forma individual onde cada papel corresponde a uma dose. Eles podem ser obtidos por DIVISÃO GEOMÉTRICA, DIVISÃO VISUAL, PESADOS UM A UM, ou ainda, utilizando MEDIDORES DE VOLUME.
GRANULADOS.
Pode ser uma forma farmacêutica definitiva ou ser uma etapa intermediária para a obtenção de comprimidos. Os granulados podem ser obtidos por via seca ou via úmida e possuem as seguintes vantagens em relação aos pós compostos:
1.
Não libertam pó durante a armazenagem e administração.
2.
Mais agradáveis de ingerir.
3.
Melhor conservação devido a menor superfície.
4.
Existe a possibilidade de revesti-los tornando-os gastroresistente
ou de ação prolongada.
NOTA: Deve-se
durante a granulação deixar uma quantidade de excipiente à parte (10 a 20%) visando
fazer, em caso de necessidade, futuras correções.
CÁPSULAS GELATINOSAS (DURAS), PASTILHAS E PÍLULAS.
CÁPSULAS GELATINOSAS.
1 - CONCEITO.
"São formas
farmacêuticas sólidas que encerram o fármaco em invólucro mais ou menos elástico,
constituído de gelatina".
2 - VANTAGENS.
· Proteção dos princípios ativos contra luz, ar e umidade.
· Facilmente administradas.
· Mascaram o sabor e o odor desagradáveis dos fármacos.
· Ocupam pequeno volume.
· Boa apresentação e conservação.
· Podem viabilizar a administração de medicamentos de ação prolongada
(utilização de grânulos de diferentes liberações).
3 - PREENCHIMENTO DAS CÁPSULAS.
3.1 - As cápsulas gelatinosas duras são encontradas no mercado em vários tamanhos, cada qual com uma capacidade específica para acondicionar um determinado volume de pó. Cada tamanho é designado por um número arbitrário. Quanto maior o número, menor a capacidade do invólucro.
Número
|
Capacidade
(mL)
|
Diâmetro
(cm)
|
Comprimento
(cm)
|
00
|
0,95
|
0,85
|
2,03
|
0A
|
0,75
|
0,80
|
2,02
|
0
|
0,68
|
0,73
|
1,85
|
1
|
0,50
|
0,66
|
1,67
|
2
|
0,38
|
0,60
|
1,54
|
3
|
0,30
|
0,56
|
1,36
|
De acordo com a densidade do fármaco, podem ocorrer variações na relação massa/volume. Um mesmo fármaco fornecido por distribuidores diferentes, com a mesma massa, mas com densidades distintas ocuparão volumes diferentes numa mesma cápsula.
Dap =
M/Vap
onde: Dap = densidade aparente
M = massa
Vap = volume
aparente
Exemplo 1: 500
mg de carbonato de cálcio (fornecedor A) cuja densidade é 0,523 g/mL ocupará um
volume V por cápsula, que será calculado.
Dap = M/Vap Þ 0,523 g/mL = 0,500 g/V Þ V =0,95 mL
Pelo volume de carbonato de cálcio ele deverá ser acondicionado na Cápsula 00.
Pelo volume de carbonato de cálcio ele deverá ser acondicionado na Cápsula 00.
Exemplo 2: 500
mg de carbonato de cálcio (fornecedor B), Dap=0,73 g/mL e Vap=0,68 mL, deverá ser
acondicionado na Cápsula 0.
3.2 - Quando a dose ultrapassa a capacidade da maior das cápsulas (00), faz-se necessário usar mais de uma cápsula para acondicionar uma únicas dose do fármaco. Quando isso acontecer É MUITO IMPORTANTE escrever no rótulo e orientar o paciente para a utilização correta da dose prescrita.
3.3 - Um aspecto a se considerar é a porção farmacológicamente ativa da molécula.
Exemplo 1: CaCO3 500 mg.
A farmácia entenderá
que o médico está pedindo que cada dose contenha 500 mg de CaCO3, os
quais fornecerão 200 mg de cálcio elementar. O mesmo ocorrerá se a prescrição tiver
a descrição cálcio carbonato 500 mg.
Exemplo 2: Cálcio
(carbonato) 500 mg.
A farmácia entenderá que o médico está pedindo que cada dose contenha 500 mg de cálcio elementar. Portanto, serão utilizados 1250 mg de carbonato de cálcio que fornecerão os 500 mg de cálcio solicitados. É FUNDAMENTAL QUE A PARTE "INATIVA" DA MOLÉCULA SEJA DESCRITA ENTRE PARÊNTESES.
3.4 - Alguns fármacos somente são encontrados no mercado na sua forma diluída. Por exemplo temos a Vitamina E pó que somente é encontrada à 50 %. Caso o médico prescreva Vitamina E 400 mg, a farmácia deverá usar 800 mg da matéria prima (Vitamina E à 50 %).
3.5 - Sendo volumétrico o processo de enchimento das cápsulas, impõem-se que estas fiquem perfeitamente cheias, pois de modo contrário haverão erros posológicos. Além disso, não é aconselhável a existência de uma camada de ar sobre os pós susceptíveis de oxidação. Nestes casos, é necessário completar com um pó inerte o volume da cápsula, caso o volume de princípio ativo seja inferior a 90 % da capacidade do receptáculo.
3.5.1 - Deve-se considerar a densidade do p.a. e do diluente quando este último for necessário.
V = M1/D1 + M2/D2 (Índice l para
o p.a. e índice 2 para o diluente)
3.5.2 O aparelho
utilizado para o preenchimento das cápsulas é chamado de capsuleiro e eles podem
ter diferentes tamanhos. Para um capsuleiro n°00, 2.6% de erro é encontrado para
um operador experimentado.
PASTILHAS.
1 - CONCEITO
"São preparações
farmacêuticas de consistência sólida, destinadas a dissolverem-se lentamente na
boca. São preparadas por moldagem de uma massa plástica constituída, na maioria
das vezes, por mucilagem e/ou açúcar associado a princípios ativos".
2 - TIPOS.
· Com grande quantidade de açúcar e mucilagens. Feita a frio.
· Com elevado teor de goma. Feita a quente.
· Sem mucilagem, sómente açúcar (pouco usada).
· Contendo gelatina (glico-gelatina).
PÍLULAS.
1 - CONCEITO.
"São formas farmacêuticas de consistência firme, de formato globular contendo um ou mais princípios ativos incorporados a excipientes adequados destinadas a serem deglutidas sem se desfazerem na boca".
2 - VANTAGENS.
· Facilidade de administração.
· Encerra grande quantidade de p.a.
· Odor e sabor atenuados ou evitados.
· Fácil produção.
· Passível de revestimento gastro-solúvel e gastro-resistente.
3 - DESVANTAGENS.
· Desagregação lenta.
· Não apropriadas para pós volumosos ou para líquidos.
FONTE : Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Farmácia, Departamento de Produtos Farmacêuticos
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
1. ALLEN Jr., L.V.; POPOVICH, N.G.; ANSEL, H.C. Formas Farmacêuticas e Sistemas de Liberação de Fármacos; Tradução SENNA, E.L. et al. 8ª. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. 776p.
2. ANSEL, H.C. et al., Farmacotécnica. Formas Farmacêuticas e Sistemas de Liberação de Fármacos. São Paulo: Premier, 2000.
3. ANSEL, H. C.; PRINCE, S. J. Manual de Cálculos Farmacêuticos. 1 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
4. AULTON, M.E. Delineamento de Formas Farmacêuticas. 2ª Ed., São Paulo: Artmed, 2005.
5. EXTRA pharmacopeia (The) – 27. ed. London. 1978.
6. FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 4 ed. Parte I. São Paulo: Atheneu, 1988.
7. FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 4 ed. Parte II, Fasc. I, II, III, IV, V, VI São Paulo: Atheneu, 1996; 2000; 2001; 2003; 2004; 2006.
8. FLORENCE, A.T.; ATTWOOD, D. Princípios Físico-Químicos em Farmácia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, p. 29-66, 2003.
9. GENNARO, G.R. Remington: A Ciência e a Prática da Farmácia. 20ª Ed., Rio de Janeiro: Guanabara, 2004.2207p.
10.HANDBOOK of pharmaceutical excipients. [s. l.]: American Pharmacuetical Association, 1986.
11.JATO, J. L. V. Tecnología Farmacêutica. Editorial Sintesis: Madrid, 2000. 2 V.
12.LACHMAN, L.; LIEBERMAN, H.A.; KANIG, J.L. Teoria e Prática na Indústria Farmacêutica. Volumes I e II. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001
13.LeBLANC,P-P; AIACHE, J-M; BESNER, J-G; BURI, P.; LESNE, M. Tratado de Biofarmácia e Farmacocinética. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. 419p.
14.LE HIR, AL. Noções de Farmácia Galênica. 3. ed. São Paulo: Andrei, 1997.
15.LUCAS, Virgilio. Incompatibilidades Medicamentosas. Rio de Janeiro, 1968.
16.MARTIN, A. Micromeritics. In: Physical pharmacy. 4. ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1993. cap.16 p.423-452.
17.NETZ, P.A.; ORTEGA, G.G. Fundamentos de Físico-Química: uma abordagem conceitual para as ciências farmacêuticas. Porto Alegre: Artmed, 2002. 300p.
18.PRISTA, L.N. Tecnologia farmaceutica. Colaboração de A. Correia Alves; Rui Morgado. 4. ed. Lisboa: Fundacao Calouste Gulbenkian. 1995. V 1, 2 e 3.
19.REYNOLDS, J.E.F. Martindale: Pharmacopea, 31 nd. London: Royal Pharmaceutical Society, 1996.
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