PRÁTICA DE FARMACOTÉCNICA :
ASPECTOS GERAIS
1 - INTRODUÇÃO.
Para o bom andamento dos trabalhos é necessário que algumas regras
sejam adotadas:
v Trabalhar de forma organizada;
v Sujar o mínimo possível o ambiente;
v Conversar o mínimo possível
e sem gritar;
v Não se alimentar no laboratório;
v Manipular com cuidado os utensílios
e a bibliografia;
v Deixar o laboratório limpo
para o seu colega e a bibliografia no local onde você a encontrou.
É PROIBIDO participar da manipulação quem não esteja:
·
Paramentado com guarda-pó, touca e máscara.
2 - APRESENTAÇÃO DO LABORATÓRIO DE MANIPULAÇÃO
·
Local de consulta bibliográfica;
·
Local de manipulação;
·
Definição do local individual de trabalho;
·
Materiais de uso individual (conhecer cálice, gral, pistilo, etc.);
·
Materiais de uso comum (balanças, reagentes, espátulas, conta-gotas,
etc.);
·
Almoxarifado e porque de não poder levar as fórmulas manipuladas.
3 - MÉTODO DE TRABALHO.
Antes de manipular a fórmula, é necessário consultar a bibliografia
com o objetivo de entende-la. Depois disso, uma maneira de executá-la será proposta
e discutida. Somente depois desse ciclo é que a manipulação poderá ser feita.
4 - APRESENTAÇÃO
DA BIBLIOGRAFIA (TEORIA E PRÁTICA).
·
Livros sugeridos para o embasamento teórico;
·
Onde encontrar as fórmulas oficiais;
·
Diferenças entre fórmulas oficiais e monografias descritas na Farm.
Bras. Verificar na monografia de pelo menos três medicamentos qual é a variação
permitida em relação ao valor rotulado;
·
Livros e apostilas para consulta, com o objetivo de entender as fórmulas
farmacêuticas e dar suporte para uma proposta de execução (principalmente para fórmulas
magistrais).
5 - DADOS
NECESSÁRIOS AO DESENVOLVIMENTO DE UMA FORMULAÇÃO E ONDE ENCONTRÁ-LOS.
Conhecer as
propriedades do princípio ativo (p.a.) e dos outros componentes presentes na formulação
é determinante para a confecção da fórmula farmacêutica pretendida. Todas as propriedades
abaixo discriminadas devem ser verificadas antes de DESENVOLVER uma fórmula. Já
para a MANIPULAÇÃO de uma fórmula já proposta, apenas algumas destas propriedades
podem nos interessar. Por exemplo, caso a forma farmacêutica seja uma preparação
sólida, é inútil conhecer a solubilidade dos componentes da formulação. Não devemos
perder tempo com informações inúteis para o momento.
5.1 - Identificar o p.a.
v Nome científico e usual;
v Sinônimos;
v Fórmulas;
v Massa molar.
5.2 - Conhecer as características físicas, químicas
e biológicas do p.a.
5.2.1 Características Físico-químicas.
·
Características organolépticas (aspecto, cor, odor, sabor, polimorfismo,
etc.);
·
Solubilidade na água (determinação do ótimo de solubilidade em função
do pH);
·
Coeficiente de partição;
·
Espectro no ultra-violeta;
·
Estabilidade em função da temperatura, da luz, do oxigenio, do solvente,
do pH;
·
Granulometria;
·
Incompatibilidade com os excipientes;
·
Velocidade de dissolução de um comprimido, etc..
5.2.2 Características Biológicas.
·
Meia vida (t1/2);
·
Doses (dose usual, tóxica, efeitos secundários);
·
Farmacocinética (absorção, distribuição, metabolismo, eliminação, níveis
plasmáticos, taxa de ligação às proteínas plasmáticas);
·
Liberação ótima;
·
Indicações terapêuticas;
·
Biodisponibilidade: absorção (mecanismo, nível), influencia dos sucos
digestivos (volume, pH, enzimas), etc..
6 - AVALIAÇÃO FARMACÊUTICA DA PRESCRIÇÃO.
Em termos de
receita, a avaliação farmacêutica deve observar os seguintes itens:
1.
Legibilidade e ausência de rasuras e emendas.
2.
Identificação do profissional prescritor com o número de registro no
respectivo Conselho Profissional, endereço do seu consultório ou endereço da instituição
a que pertence.
3.
Identificação do paciente e seu endereço residencial.
4.
Identificação da substância ativa em DCB (Denominação Comum Brasileira)
ou DCI (Denominação Comum Internacional), concentração/dosagem, forma farmacêutica,
quantidades e respectivas unidades e posologia.
5.
Modo de usar.
6.
Local e data de emissão.
7.
Assinatura, carimbo e identificação do prescritor.
Exemplo de uma receita médica
Dr Ciclano
de Tal Rua das Viúvas, 32
CRMMG XYXYZ
Belo Horizonte - MG
Sra Fulana da Silva
Rua dos Vivos,
324 – Belo Horizonte – MG
Rx
Uso interno
Ácido ascórbico.............200
mg
Excipiente qsp...............1
cápsula
Mande 25 cápsulas.
Tomar 1 cápsula,
duas vezes ao dia.
Local e data
da prescrição
Carimbo e assinatura
do médico
NOTAS:
v A ausência de qualquer um dos
itens acima pode acarretar o não atendimento da prescrição.
v É vedado o aviamento e/ou dispensação
de preparações magistrais em códigos, siglas ou números.
v Quando a prescrição contiver
substâncias sujeitas a controle especial, deve atender também a legislação específica.
O farmacêutico é responsável
pela manipulação e manutenção da qualidade das preparações até a sua dispensação
ao cliente, devendo orientar e treinar os funcionários que realizam o seu transporte,
quando for o caso. A preparação das formulações envolve a avaliação farmacêutica
da prescrição, a manipulação, o controle de qualidade, a conservação e a dispensação.
A avaliação farmacêutica das
prescrições quanto à concentração, compatiblidade físico-química e farmacológica
dos componentes, dose e via de administração, é de responsabilidade do farmacêutico
e deve ser feita antes do início da manipulação. Qualquer alteração na prescrição,
que se fizer necessária, em função desta avaliação, deve ser discutida com o profissional
prescritor.
É necessário
estar atendo ainda as seguintes situações:
v Cada prescrição deve ser avaliada
quanto a viabilidade e compatibilidade dos componentes entre si, suas concentrações
e doses máximas recomendadas antes da sua manipulação;
v Quando a dose ou posologia
dos produtos prescritos ultrapassar os limites farmacológicos ou a prescrição apresentar
incompatibilidade ou interações potencialmente perigosas, o farmacêutico deve solicitar
confirmação do profissional que subscreveu a prescrição. Na ausência ou negativa
de confirmação, é facultado ao farmacêutico o não aviamento e/ou dispensação do
produto;
v Com base nos dados da prescrição,
devem ser realizados e registrados os cálculos necessários para a manipulação da
formulação.
7 - APRESENTAÇÃO
DA FICHA TÉCNICA (OU COMO ORGANIZAR UMA MANIPULAÇÃO):
Devem existir
procedimentos operacionais escritos para manipular as diferentes fórmulas farmacêuticas
preparadas na farmácia. Além das informações abaixo discriminadas é necessário ainda
conhecer a origem das matérias-primas utilizadas (fornecedor, número de lote, laudo
de análise).
7.1 Produto: Suspensão de hidróxido de alumínio
7.2 Forma farmacêutica: Suspensão
7.3 Peso/Volume: 100 mL
7.4 Composição:
7.1 Produto: Suspensão de hidróxido de alumínio
7.2 Forma farmacêutica: Suspensão
7.3 Peso/Volume: 100 mL
7.4 Composição:
Componentes
|
Peso teórico
|
Peso prático
|
Função farmacotécnica
|
Hidróxido de alumínio
|
6,2 g
|
3,1 g
|
antiácido
|
CMC sódica
|
0,6 g
|
0,3 g
|
agente suspensor
|
Glicerina
|
20,0 mL
|
10,0 mL
|
agente levigante
|
Sacarina solúvel
|
0,06 g
|
0,03 g
|
edulcorante
|
Essência de hortelã
|
0,2 mL
|
0,1 mL
|
aromatizante
|
Solução conservante
|
2,0 mL
|
1,0 mL
|
conservante
|
Água destilada
|
qsp 100 mL
|
qsp 50 mL
|
veículo
|
7.5
Materiais utilizados:
v cálices;
v Balança eletrônica;
v Conta-gotas;
v Gral de porcelana e pistilo;
v Semipermeável;
v Bastão de vidro.
7.6- Procedimento:
·
Pesar em gral de porcelana com auxílio da balança eletrônica 3,1 g
de hidróxido de alumínio e 0,3 g de CMC sódica;
·
Colocar em um cálice 10 mL de glicerina e adicionar 3 mL de água destilada
e 0,03 g de sacarina solúvel agitando a mistura com o pistilo;
·
Verter II em I e misturar com o pistilo;
·
medir 1 ml de solução conservante e adicionar 2 gotas (0,1 mL) de essência
de hortelã agitando a mistura;
·
Verter IV em III e misturar com o pistilo e em seguida transferir para
um cálice e completar o volume para 50 mL;
·
Envasar em recipiente adequado, rotular e registrar a fórmula.
7.7 - Especificações:
·
A suspensão apresenta aspecto leitoso após ser agitada;
·
O rótulo deve conter os seguintes dizeres: AGITE ANTES DE USAR, pois
sendo uma suspensão apresenta duas fases distintas.
Assinatura do
Responsável e data da manipulação
8 - CONHECER
AS ABREVIATURAS, RÓTULOS/ETIQUETAS E MEDIDAS USUAIS EM FARMACOTÉCNICA.
8.1- Abreviaturas.
v Uso ext.; uso int. uso externo;
uso interno
v ãã igual quantidade (pronuncia-se
aná)
v p.i. partes iguais
v F.S.A. faça segundo a arte
= usar método adequado
v Me mande, faça
v Pa. para
v pp. papel
v Cáp. cápsula
v N° número
v Xe xarope
v q.s. quantidade suficiente
v q.s.p. quantidade suficiente
para
v Div. divida
v c. colher
v s.p.m. sob prescrição médica
v Farm. Bras. Farmacopéia Brasileira
v USP Farmacopéia dos Estados
Unidos
v b.m. banho maria
v cc centímetro cúbico
v (R) Repetida (receita repetida
para a mesma ou outra pessoa)
8.2 - Etiquetas.
v Agite antes de usar
v Uso Externo
v Uso Interno
v Veneno
v Conservar em geladeira
v Não deixe ao alcance das crianças
8.3 - Medidas
usuais.
v Colher de sopa 15 mL (ou cc)
v Colher de sobremesa 10 mL
v Colher de chá 5 mL
v Colher de café 2 mL
v Cálice 30 mL
v Copo 150 mL
v Conta gotas oficial 20 gotas
= 1 mL de água destilada
8.4 - Rótulo.
·
Nome do paciente e do médico prescritor;
·
Número de registro da fórmula no livro de receituário da farmácia (No XXX), datas de manipulação (Fab.: XX/YY/UU)
e de validade* do produto (Val.: ZZ/KK/MM);
·
Descrição da fórmula com os nomes das substâncias ativas segundo a
DCB, com as respectivas dosagens;
·
Uso interno ou externo. Se
for necessário o rótulo deve ter informações, como; “agite antes de usar” ou “conserve
em geladeira”;
·
Quantidade total solicitada do medicamento;
·
Nome, CNPJ, endereço e telefone da farmácia;
·
Nome e número do registro no CRF do farmacêutico responsável;
·
Posologia: modo de usar o produto.
8.5 - Registro.
Devem constar
todas as informações encontradas na receita, e ainda, data de manipulação, profissional
responsável, prazo de validade*, quantidade de medicamento preparado e dados capazes
de permitir o rastreamento das matérias primas utilizadas.
v Prazo de validade: o usual tem sido que o Farmacêutico
determine a validade da formulação segundo a validade das matérias-primas, a compatibilidade
entre os ativos e com os excipentes, pesquisas científicas publicadas.
9 - CONHECER
OS PROCEDIMENTOS DE PESAGEM.
9.1 Balanças
existentes no laboratório de Farmacotécnica.
MODELO
|
CARGA MÁXIMA
|
SENSIBILIDADE
|
Marte AL 500
|
500 g
|
0,001 g
|
GEHAKA BG
1000
|
1000 g
|
0,01 g
|
9.2 - Procedimento
de pesagem.
·
Verificar se a balança está nivelada;
·
Ligar (L/D ou ON/OFF) e aguardar a estabilização da leitura;
·
Zerar a balança (T F PROG ou TARA);
·
Efetuar a pesagem;
·
Para tarar um recipiente deve-se colocá-lo sobre o prato da balança
e pressionar;
·
T F PROG ou TARA e adicionar o material a ser pesado;
·
Ao fim da pesagem deve-se desligar a balança (L/D ou ON/OFF), NÃO ESQUECER
DE DEIXAR A BALANÇA LIMPA E COBERTA.
·
Não soprem os pós da balança;
·
Não usem recipientes muito pesados na balança;
·
Evitem de usar espátula durante o procedimento de pesagem.
CORRETIVOS EM FÓRMULAS FARMACÊUTICAS."Agentes corretivos são
todos os produtos adicionados a uma preparação com o fim de aumentar a sua estabilidade
ou melhorar sua utilização como forma medicamentosa."
Os corretivos tem como função:
·
Tornar a solução mais compatível com o meio fisiológico em que será
aplicada (corretivos do aroma e do paladar);
·
Promover a dissolução do princípio ativo (agentes solubilizantes);
·
Evitar o desenvolvimento de microrganismos (conservantes);
·
Assegurar a estabilidade do princípio ativo, retardando ou impedindo
a hidrólise e oxidação (anti-oxidantes, anti-hidrolíticos, conservantes, corretivos
do pH);
·
Mascarar caracteres organolépticos desagradáveis como cor, aroma e
paladar (corretivos do aroma e paladar, corretivos da cor). Este procedimento visa
tornar os medicamentos mais atrativos.
Uma correção
exagerada dos caracteres organolépticos pode induzir ao consumo desnecessário de
medicamentos (Exemplo: quando associamos o paladar de um medicamento a um alimento).
Devemos ter todo cuidado em não fazer uma correção exagerada.
Para aumentar
a solubilidade dos princípios ativos utilizamos "agentes solubilizantes".
Diversos meios tem sido utilizados:
·
Introduzindo radicais hidrofílicos à molécula;
·
Formando complexos hidrossolúvel;
·
Utilizando tensioativos;
·
Empregando co-solventes;
·
Mudando o pH.
Para controlar
o nível microbiológico das preparações farmacêuticas utilizamos os "agentes
conservantes". Normalmente são utilizadas substâncias dotadas de ação germicida
(ação letal sobre os microrganismos) ou germistática (impede a produção de microrganismos).
Para soluções orais os conservantes mais utilizados tem sido o o benzoato de sódio
(5 à 10%), a glicerina (20 à 40%) e os derivados do ácido p-hidroxibenzóico (nipagin
e nipazol).
Diversos têm
sido os corretivos utilizados para corrigir sabores. Exemplos, para sabor
·
Doce: baunilha, vanilina, tutti-frutti, uva, morango, framboesa, amora
e hortelã-pimenta;
·
Ácido/Azedo: cítrico, limão, laranja, cereja, framboesa, xaropes mucilaginosos
(goma arábica);
·
Salgado: xarope de amêndoas, xarope de canela, xarope de ácido cítrico,
xarope de laranja, xarope de alcaçuz, xarope de cereja;
·
Amargo: anis, café, chocolate, menta, limão, laranja, pêssego, cereja,
framboesa, lima, xarope de ácido cítrico, xarope de cacau, xarope de alcaçuz;
·
Salino + amargo: xarope de canela, xarope de laranja, xarope de ácido
cítrico;
·
Oleoso: menta, anis, canela, hortelã;
·
Insípido: associar edulcorante e flavorizante. Por exemplo, xarope
simples com tintura ou essência de limão.
Para terminar
esta introdução listamos o poder adoçante de alguns Edulcorantes tendo como padrão
a sacarose:
Ø Sacarose 1,00
Ø Glicerina 0,50
Ø Sorbitol 0,50
Ø Glicose 0,50
Ø Manitol 1,40
Ø Frutose 1,50
Ø Ciclamato de sódio 35
Ø Aspartame 200
Ø Sacarina sódica 300-700
Ø Esteviosídeo 300
FONTE : Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Farmácia,
Departamento de Produtos Farmacêuticos
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