FARMÁCIA COMO CLÍNICA PARTE 1
Denise de Oliveira
Kühner
Farmacêutica
especialista em Farmácia Hospitalar.
Pós-graduada pela
Universidade Veiga de Almeida - RJ
1 - INTRODUÇÃO
Nos
primórdios dos tempos, houve homens e mulheres que enfrentaram riscos, passaram
por sacrifícios e trabalharam incansavelmente para realizar sua visão de
futuro. Foram chamados de exploradores, pioneiros, bandeirantes. Os
profissionais de farmácia, hoje, partilham muito esta visão com esses
visionários, pois enfrentam uma fronteira não menos repleta de desafios e
incertezas. E estes líderes, não podem ficar sentados, vendo a história
acontecer, pois é hora de mapear o futuro prático da farmácia em hospitais e
sistemas de saúde.
Para
este mapeamento é necessário o estabelecimento de padrões práticos, além da
elevação das expectativas de práticas nos hospitais e sistemas de saúde, a
níveis de excelência, com os seguintes objetivos:
Ø - garantir a segurança do paciente e
os melhores efeitos das terapias,
Ø - eliminar falhas dos sistemas,
Ø - estabelecer métodos para manter-se
atualizado em relação às medicações novas e complexas...enfim a todos os
desafios que requerem plena atenção do profissional farmacêutico.
Mesmo
com a chegada do novo século, o futuro dos sistemas de saúde farmacêuticos
continuam sendo uma questão aberta, porque as pressões das administrações, como
nas restrições de orçamentos e as pressões externas à prática, como o foco no
erro médico, fazem com que seja importante a união das equipes.
A
prática farmacêutica sempre deu ênfase ao medicamento como produto, sem prestar
atenção especial aos efeitos dos fármacos nos pacientes, aos erros de
medicação, aos problemas derivados do uso ou mau uso dos medicamentos e muito
menos aos resultados obtidos com os tratamentos farmacológicos.
Como
o bom atendimento ao paciente está baseado tanto em um diagnóstico correto como
numa terapêutica adequada, o conhecimento das propriedades básicas das
substâncias utilizadas para este fim, bem como de sua ação farmacológica é,
portanto, fundamental para a prática da medicina.
Entretanto,
isto não é suficiente, pois é preciso pensar que o corpo humano é um sistema
complexo formado por uma infinidade de substâncias que fatalmente entrarão em
reação com os fármacos ingeridos. Também é natural supor-se que, no caso da
administração (com fins terapêuticos ou não) de uma ou mais substâncias, possam
elas interagir entre si.
Para
se garantir a obediência aos tratamentos é necessário o monitoramento da
eficácia dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos. O acompanhamento dos
protocolos clínicos e das doenças requer, também, o conhecimento e a
compreensão dos profissionais de saúde, assim como a compreensão do paciente.
Deste modo, as informações divulgadas são indispensáveis e críticas.
A
farmácia clínica é um conjunto de crenças, normas e valores que, em
conformidade com o exercício da profissão farmacêutica em relação à atenção
sanitária, constitui a base da conduta de colaboração dentro da equipe
assistencial. As ações do farmacêutico são pré-determinadas e dirigidas,
visando maior compromisso para com o paciente, na orientação sobre a terapia
medicamentosa, em todas as suas fases, cuidando, em cada momento, de sua
adequada utilização nos planos assistencial, econômico, de ensino e pesquisa.
O
instrumento de trabalho é o medicamento. Como unidade clínica, o foco de
atenção do Serviço de Farmácia deve estar no paciente e suas necessidades,
enquanto
consumidor dos medicamentos e enquanto indivíduo que sofre problemas de saúde
relacionados com os fármacos, na manifestação dos efeitos adversos ou na falta
do efeito desejado.
É
igualmente importante a realização de um trabalho em áreas-alvo, onde as perdas
podem ser diminuídas, como na equipe de terapia nutricional, para promover a
redução de custos. As atividades clínicas têm igualmente por objetivo a
recomendação de terapias mais baratas, o auxílio para redução do excesso de
medicamentos utilizados, a interpretação dos dados laboratoriais para
acompanhamento da eficácia da terapia e antecipação dos efeitos tóxicos ou
adversos, a orientação/estabelecimento de planos de descarte de materiais pelos
pacientes, a participação nas atividades de controle de infecção na organização
e a avaliação rotineira das terapias medicamentosas, com a finalidade de
prevenir e identificar potenciais reações adversas.
Para
o controle do programa droga-alvo, é necessário o monitoramento
farmacoterapêutico e o trabalho conjunto com o pessoal responsável pela
administração de drogas EV, com o objetivo de diminuir o uso de soluções EV (e
os seus períodos de tempo de tratamento) e orientar para substituição para a
via IM ou oral, assim que possível.
2 - ASSISTÊNCIA
FARMACÊUTICA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA
A
Assistência Farmacêutica trata de um conjunto de ações voltadas à promoção,
proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o
medicamento como insumo essencial e visando seu acesso e seu uso racional. Este
conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e
insumos, bem como sua seleção, programação, aquisição, distribuição,
dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e
avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos
e da melhoria da qualidade de vida da população.
As
ações de Assistência Farmacêutica envolvem aquelas referentes à Atenção
Farmacêutica, considerada como um modelo de prática farmacêutica, compreende as
atitudes, os valores éticos, os comportamentos, as habilidades, os compromissos
e co-responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da
saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do
farmacêutico com o usuário, objetivando uma farmacoterapia racional e a
obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da
qualidade de vida. Essa interação também deve envolver as concepções dos seus
sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio-psico-sociais, sob a ótica da
integralidade das ações de saúde.
É
importante que o novo conceito de Atenção Farmacêutica seja assumido por um
número crescente de farmacêuticos, não somente para “re-profissionalizar” a
profissão de farmacêutico, mas principalmente porque a crescente complexidade
farmacoterapêutica e a aparição de novos fármacos supõem um avanço importante
na efetividade dos tratamentos e, ao mesmo tempo, requerem conhecimento pleno
de seus usos, para garantir os objetivos dos tratamentos e evitar as reações
adversas.
3. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA
FARMÁCIA CLÍNICA
As
consequências humanas e econômicas do uso incorreto de medicamentos foram
objeto de discurso profissional e público, por mais de duas décadas. A falta de
conhecimento suficiente a respeito dos problemas de saúde e dos medicamentos
tem como uma das consequências a falta de aderência dos pacientes ao regime
terapêutico e aos planos de monitoramento, porque sem orientação adequada os
pacientes não podem ser parceiros efetivos no gerenciamento de seus próprios
planos terapêuticos.
A
profissão farmacêutica aceitou a responsabilidade de fornecer consultas
farmacêuticas, com o principal propósito de aumentar a aderência aos
tratamentos e reduzir os problemas relacionados aos medicamentos. Os
farmacêuticos que praticam Atenção Farmacêutica fazem, com frequência
indicações farmacêuticas.
Isto
não significa, no entanto, que o farmacêutico tenha que realizar exame físico
do paciente, mas reconhecer os sinais e sintomas que podem revelar a existência
de um problema relacionado à terapia medicamentosa. A história
farmacoterapêutica também não deve ser confundida com a história clínica, pois
a primeira recolhe unicamente as informações necessárias para o controle da
farmacoterapia e seus possíveis problemas potenciais ou reais.
Tampouco
a consulta farmacêutica, cujo objetivo é assessorar o paciente para garantir a
máxima efetividade da terapia evitando seus riscos, deve ser confundida com a
consulta médica cujo objetivo é diagnosticar a enfermidade e estabelecer seu
tratamento mais idôneo.
Os
Serviços de farmácia Clínica hospitalares têm como principal objetivo acelerar
a alta do paciente. Os protocolos de trabalho devem incluir a educação do
paciente e dos profissionais sobre o uso, a avaliação da eficácia e a consulta
farmacocinética.
Embora
discreta, a premissa de atuação da farmácia clínica é que a melhora do índice
de alta do paciente resultará em redução de custos (aumento de rotatividade).
Como parâmetro de avaliação da atenção farmacêutica, pode ser implantado um
programa droga-alvo que utilize os controles farmacêuticos, principalmente para
medicamentos de alto custo ou tóxicos, que não possam ser retirados da
padronização.
Devem
ser divulgados os critérios para o uso destes medicamentos, aliados a um
informativo educacional. O farmacêutico deve revisar os prontuários dos pacientes
diariamente para monitoramento estes fármacos e recomendar alternativas
terapêuticas quando o uso desses medicamentos é impróprio, além de orientar os
profissionais para evitar a prescrição inadequada de medicamentos específicos.
4 - USO RACIONAL E IRRACIONAL
DOS MEDICAMENTOS
Em
todo o mundo, mais de 50% dos medicamentos são prescritos, dispensados ou
vendidos de forma inadequada. Ao mesmo tempo, 1/3 da população mundial não tem
acesso aos medicamentos essenciais e 50% dos pacientes fazem uso incorreto de
medicamentos.
Este
uso irracional gerado por profissionais da saúde ocorre pelos seguintes
fatores:
Ø - uso demasiado de medicamentos por
paciente (polifarmácia)
Ø - uso inadequado de antimicrobianos
(pelo menos em doses incorretas) para infecções não bacterianas
Ø - uso excessivo de injeções ao invés
de administração de medicamentos via oral.
Ø - prescrição em desacordo com
indicações clínicas
Ø - automedicação inadequada,
principalmente com medicamentos tarjados.
A
falta de acesso aos medicamentos e as doses inadequadas têm como consequência
um alto índice de morbidade e mortalidade, principalmente nas infecções
infantis e nas doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, epilepsia ou
psicoses. Existe um desperdício de recursos além de prejuízo ao paciente pela
falta de resultados positivos e pela incidência de reações adversas.
Avaliação do problema do
uso irracional
Existem
razões e causas racionais para o uso irracional de medicamentos, como a falta
de conhecimento ou informação sobre os medicamentos, a disponibilidade sem
restrições dos medicamentos, o excesso de trabalho do profissional sanitário,
eventuais promoções inadequadas de medicamentos por empresas que não atuam de
forma ética.
Políticas
fundamentais para promoção do uso mais racional de medicamentos na instituição:
Para evitar os problemas do uso irracional, são necessárias algumas
intervenções e estratégias nas instituições, como:
1)
organização multidisciplinar para
coordenação do uso de medicamentos
O impacto sobre o uso de medicamentos
é maior quando se aplicam várias intervenções ao mesmo tempo, de modo
coordenado, porque as intervenções isoladas tem muito pouca influência.
2)
diretrizes clínicas (políticas de
prescrição / protocolos padronizados):
As
políticas de prescrição são afirmações desenvolvidas sistematicamente para
auxiliar os prescritores a tomar decisões sobre os tratamentos mais adequadas
às condições clínicas específicas. Apresentam como vantagens o fornecimento de
um ponto de referência de diagnóstico e tratamento satisfatórios com o que se
pode comparar os tratamentos reais e constituem um modo provado de promover o
uso racional de medicamentos, quando:
a)
são desenvolvidas de modo participativo que inclua os usuários finais
b)
são fáceis de ler
c)
são apresentadas a nível institucional, acompanhadas de ampla divulgação e
informação
d)
são reforçadas por uma auditoria de prescrições e pelas opiniões dos usuários
Devem
ser desenvolvidas diretrizes para todos os níveis de assistência farmacêutica,
baseadas nas condições clínicas e nos conhecimentos médicos disponíveis. As
recomendações de tratamento baseadas nas evidências acompanhadas de uma
atualização regular contribuem para garantir a credibilidade e aceitação das
diretrizes pelos médicos
3) lista de medicamentos
padronizados, baseada nos protocolos clínicos:
Esses
medicamentos devem satisfazer as necessidades de assistência sanitária da
organização. A utilização de uma lista de medicamentos padronizados facilita a
gestão da medicina porque há menos unidades e porque não é necessário conhecer
inúmeros produtos. Facilita, também, o aprovisionamento, armazenamento e
distribuição.
4) CHFT nos hospitais:
CHFT
– comissão criada para garantir o uso seguro e eficaz de medicamentos no
estabelecimento
5) educação médica
continuada como requisito para desempenho de sua profissão:
A
educação continuada é um requisito para o desempenho da profissão em diversos
países. No entanto, dependem da colaboração da indústria farmacêutica, pois os
recursos públicos não são suficientes. Nestas circunstâncias, a educação
continuada pode não ser imparcial. Para garantir uma educação imparcial é
necessário desenvolver parcerias com empresas éticas e idôneas, além de contar
com o estímulo governamental para incentivo às universidades e associações
profissionais independentes. A instituição hospitalar pode planejar encontros
profissionais periódicos para incentivar o desenvolvimento profissional e
garantir atualização dos conhecimentos.
6) supervisão, auditoria
e comentários:
A
supervisão é fundamental para garantir a boa qualidade da assistência
sanitária. Quando feita de modo construtivo, educativo e pessoal, é mais eficaz
e aceita mais facilmente pelos prescritores do que a simples inspeção, seguida
de sanções.
7) informação sobre
medicamentos para profissionais e pacientes
A
única informação que os prescritores costumam receber é provida pela Indústria
farmacêutica, que pode carecer de imparcialidade. Os centros de informação
sobre medicamentos e os boletins sobre medicamentos são formas úteis de
disseminar estas informações. Os responsáveis sobre os centros de informações e
boletins devem ser independentes, impermeáveis a influências externas, devem
divulgar critérios médicos baseados em evidências e empregar um sistema
transparente na formulação das recomendações.
Sem
conhecimentos suficientes sobre os riscos e vantagens dos medicamentos, assim
como e quando utilizá-los, não se obtém os resultados clínicos esperados e pode
haver RA’s. Esta afirmação se aplica aos medicamentos prescritos bem como aos
pacientes que os utilizam sem consultar nenhum profissional habilitado.
Medidas para favorecer o
uso racional a nível governamental:
Os
governos são responsáveis por garantir a qualidade da informação sobre medicamentos
para os consumidores. Para isto é necessário:
a)
garantir que os medicamentos OTC sejam vendidos com rótulos apropriados,
precisos e fáceis de entender para os leigos. A informação deveria incluir o
nome do medicamento, as indicações, contra-indicações, dose, interações e
advertências relativas a usos ou modo de armazenamento que podem ser
inadequados.
b)
supervisionar e regulamentar a publicidade na mídia, para não influir
negativamente os consumidores ou prescritores.
c)
coordenar campanhas de educação dirigidas ao público, que tenham em conta suas
crenças culturais e a influência de fatores sociais.
d)
registro de medicamentos para garantir a disponibilidade no mercado de
medicamentos seguros e eficazes de boa qualidade, para proibir os medicamentos
nocivos ou ineficazes
e)
estabelecimento de normas educativas para os profissionais sanitários
f)
desenvolvimento e aplicação de códigos de conduta
g)
supervisão e regulação da promoção de medicamentos para garantir ética e
imparcialidade.
h)
todas as promoções de medicamentos devem ser fiéis, precisas, verdadeiras,
informativas, equilibradas, atualizadas e comprováveis.
A
falta de medicamentos essenciais leva ao uso de medicamentos não essenciais e a
falta de pessoal com preparo adequado leva à prescrição de medicamentos por
profissionais sem preparo.
5 - QUALIDADE E
EXCELÊNCIA DO SERVIÇO DE FARMÁCIA CLÍNICA
Para
que o serviço farmacêutico do hospital tenha a qualidade necessária, deve-se
buscar o uso dos melhores fármacos disponíveis, a divulgação de informações
objetivas sobre os medicamentos e a segurança de que o medicamento prescrito
pelo médico irá chegar corretamente ao paciente e nas melhores condições,
evitando-se os erros.
Para
a obtenção desse padrão de qualidade, deve-se implantar a padronização de
medicamentos (aliada à distribuição por dose individualizada/unitária), pois é
absurdo desenvolver um programa ambicioso de monitoramento farmacêutico, se não
tivermos a certeza de que o paciente esteja recebendo o medicamento prescrito,
no horário devido.
Para
que o plano racional dos medicamentos tenha êxito, é necessário que a atenção
ao paciente seja prestada nos moldes de uma equipe interdisciplinar de
atendimento. Na prática multidisciplinar, cada membro do grupo presta seu
atendimento consciente do atendimento das outras especialidades. Na prática
interdisciplinar, os membros de uma equipe coordenam ativamente o atendimento
através da integração entre as especialidades.
Em
uma equipe de saúde interdisciplinar ideal, as decisões são tomadas em consenso
e cada especialidade tem igual oportunidade de expressar suas orientações e
decisões.
Para
fazer a transição prática de uma equipe multidisciplinar em interdisciplinar,
todas as especialidades devem compartilhar pontos que representem interesse
profissional comum e possuam a mesma base de conhecimento.
Este
modelo prático potencializa a seriedade das profissões e aprofunda os
conhecimentos sobre a contribuição de cada uma. As barreiras da prática
interdisciplinar existem devido a filosofias diferentes de prática e
treinamento profissional, logística de implementação de equipes e limitação de
recursos.
Para
facilitar a prática interdisciplinar, os farmacêuticos devem ser competentes,
compreender o espírito de equipe, estar preparados para ajudar a desenvolver os
efeitos e objetivos da terapia medicamentosa e procurar a sua participação na
equipe.
6 - ORIENTAÇÃO EM
BENEFÍCIO DO PACIENTE
Se
o farmacêutico clínico sabe que o paciente é o motivo do seu trabalho, saberá
também, como igualmente devem sabê-lo outros profissionais, que o trabalho em
equipe, abstendo-se de qualquer espírito individualista, é a melhor atitude
para proporcionar maiores benefícios ao paciente.
Fornecer
atenção farmacêutica compreende assumir responsabilidades sobre os resultados
farmacoterapêuticos. Os farmacêuticos podem contribuir para a obtenção de
resultados positivos, através da consulta farmacêutica aos pacientes,
familiares ou acompanhantes, para motivá-los a acompanhar e monitorar o regime
terapêutico prescrito. O envolvimento do paciente é a aderência ao seu esquema
terapêutico, o monitoramento dos efeitos dos medicamentos e o relato de suas
experiências para o farmacêutico e outros membros da equipe de saúde.
Este
procedimento farmacêutico deve ser estendido ao maior número possível de
pacientes, dentro dos requerimentos legais e regulamentares.
Os
farmacêuticos devem, também, participar dos programas de educação ao paciente,
para determinar quais informações específicas e aconselhamentos são necessários
em cada situação de assistência a cada paciente em particular. Um esforço
coordenado entre os membros da equipe irá aumentar a aderência dos pacientes ao
regime terapêutico, facilitando o monitoramento dos efeitos dos medicamentos,
com retorno positivo para a equipe de saúde.
As
diretrizes para educação e aconselhamento dos pacientes são aplicáveis a todas
as equipes, incluindo os profissionais que lidam com os pacientes de terapia
intensiva, os pacientes em assistência ambulatorial, no atendimento domiciliar
e no atendimento crônico. As técnicas e o conteúdo devem ser ajustados para
atender às necessidades específicas de compreensão do paciente, sem desprezar
as normas e procedimentos da equipe.
Pode
ser necessária alguma adaptação, como por exemplo, para uso no aconselhamento
telefônico ou para o aconselhamento dos membros da família ou acompanhantes, ao
invés da orientação exclusiva ao paciente. Além do conhecimento sobre
farmacoterapia, os farmacêuticos devem mostrar conhecimento e habilidades para
orientar os pacientes.
Devem
conhecer a respeito de sua cultura, especialmente sobre sua atitude,
comportamento e conhecimento sobre saúde e doença, para gerenciar a assistência
que está sendo prestada. O emprego de questionários abertos / fechados e a
postura de ouvir atentamente são habilidades essenciais para obtenção das
informações dos pacientes. É necessário, também, observar e interpretar
mensagens não verbalizadas, fornecidas pelos pacientes durante consulta
farmacêutica.
Os
farmacêuticos devem, também, procurar entender as atitudes dos pacientes e seu
comportamento quanto ao uso correto do medicamento, avaliando se o paciente é
capaz de usar um medicamento e se ele compreende a razão do uso.
Um
paciente pode aprender melhor por instruções faladas, ao observar um diagrama,
figura ou modelo ou também pelo manuseio da medicação e equipamentos de
administração. Pode ter pouca acuidade visual para a leitura do rótulo, para as
prescrições anexadas aos frascos, marcas de seringas, ou materiais escritos à
mão.
Pode
ainda ser incapaz de ouvir instruções orais, ou pode ter pouca habilidade
motora para abrir frascos com tampas resistentes a crianças. A consulta
farmacêutica ideal deve ser realizada em um ambiente que facilite o entrosamento
e a compreensão, para ajudar o farmacêutico no estabelecimento de um
relacionamento com o paciente.
Os
pacientes individuais, grupos de pacientes, famílias ou acompanhantes devem se
sentir confortáveis, confiantes e seguros no ambiente de reuniões. Essas
orientações serão mais eficientes, quando conduzidas em ambientes, salas ou
espaços que assegurem a privacidade, forneçam a oportunidade de comunicação
confidencial e permitam a troca de atenções.
O
ambiente deve ser equipado com ajuda visual apropriada, como gráficos,
materiais escritos, modelos anatômicos e equipamentos de administração de
medicamentos, com a finalidade de melhorar o entendimento.
Quando
o paciente não tem condições de deambular e não estiver acompanhado, o
farmacêutico deve ser capaz de fornecer a consulta junto ao leito, utilizando o
maior número possível de recursos para garantir a compreensão do paciente sobre
o seu esquema terapêutico.
As
etapas no processo de educação e aconselhamento dos pacientes irão variar de
acordo com as normas e procedimentos do sistema de saúde, além das práticas da
equipe. Geralmente, as seguintes etapas são apropriadas para os pacientes que
recebem novas medicações, e/ou retornam para complementação ou continuidade do
tratamento:
1.
Estabelecer relacionamento de assistência com o paciente conforme a prática da
equipe, no plano de gerenciamento assistencial. O farmacêutico deve
apresentar-se, explicando o objetivo e tempo da sessão, para obter, do
paciente, a concordância em participar. Neste momento, deve determinar a
linguagem que deverá ser utilizada no contato com o paciente.
2.
Avaliar o conhecimento do paciente sobre seu problema de saúde e medicação, a
capacidade física e mental para o uso apropriado da medicação e as atitudes
relativas ao seu problema de saúde e medicação. Avaliar a sua expectativa em
relação à terapia. Pedir ao paciente para descrever ou mostrar como usará sua
medicação.
Os
pacientes ambulatoriais que estejam retornando para complementar sua medicação
devem ser solicitados a descrever ou mostrar como usaram a medicação. Devem,
também, ser questionados sobre qualquer problema que tenham experimentado com
sua medicação.
3.
Fornecer informação oral e usar ajuda visual, ao demonstrar para os pacientes a
cor, forma, tamanho e marcas dos sólidos orais. Para todos os líquidos
injetáveis, mostrar aos pacientes a marca de dosagem nos instrumentos de
medida. Demonstrar a montagem e o uso de equipamentos de administração, como
inaladores nasais e orais. Como complemento da comunicação oral e pessoal,
fornecer manuscritos para ajudar ao paciente a recordar as informações.
4.
Se um paciente experimentou problemas com sua medicação, identificar o problema
e notificar ao médico prescritor.
5.
Avaliar a adequação do paciente ao regime terapêutico. A decisão de discutir
informações farmacoterapêuticas com um paciente individual deve ser baseada em
julgamento profissional farmacêutico. Na consulta farmacêutica devem ser
noticiados aos pacientes a marca do medicamento, o nome genérico, um sinônimo
comum ou outro nome descrito; o uso do medicamento, ações e benefícios
esperados, se a medicação é destinada a cura de doença, eliminação ou redução
dos sintomas, para estacionar ou diminuir processo patológico ou prevenir
doença ou sintoma; a ação esperada do medicamento e
quais
atitudes a tomar, na falta desta ação; a via de administração, forma de
dosagem, dose e esquema de administração (incluindo duração da terapia); os
meios para preparo e uso ou administração do medicamento, inclusive as
necessidades de adaptação para adequação ao estilo de vida e ambiente de
trabalho; as ações a tomar no esquecimento da dose; as precauções observadas
durante o uso ou administração do medicamento e os riscos potenciais do
medicamento, em relação aos benefícios; os efeitos adversos, as ações para
prevenção ou diminuição de sua ocorrência; a notificação dessas reações ao
médico prescritor e a prestadores de assistência à saúde; as técnicas para
monitoramento pessoal da farmacoterapia; as interações medicamento-medicamento
(incluindo os não prescritos), medicamento-alimento e medicamento doenças, as contraindicações
do medicamento; a interação da medicação com procedimentos laboratoriais e
radiológicos; o agendamento para o retorno do paciente de ambulatório; o
armazenamento adequado do medicamento; o adequado descarte do medicamento
descontinuado ou contaminado, bem como os equipamentos de administração
empregados e qualquer outra informação única para um paciente particular ou
medicamento.
Esses
pontos são aplicáveis tanto para medicamentos prescritos como para os não
prescritos. Dependendo da doença do paciente, devem ser abordados o estado da
doença (se é aguda ou crônica e sua prevenção, progressão e recorrência), os
efeitos esperados da doença sobre sua vida normal e o reconhecimento e
monitoramento das complicações da doença. Os farmacêuticos devem documentar as
orientações fornecidas nos prontuários médicos dos pacientes.
Quando
não houver acesso aos registros médicos, as orientações podem ser documentadas
no arquivo farmacêutico do paciente, no formulário de prescrição ou em registro
preparado para este fim.
O
farmacêutico deve documentar, também, se as orientações prestadas foram aceitas
ou recusadas, notificando, inclusive, o nível de entendimento do paciente.
REFERÊNCIAS
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