VERMINOSES : ESQUISTOSSOMOSE
ESQUISTOSSOMOSE
(xistose,
barriga-d’água, mal do caramujo)
INTRODUÇÃO
A
família Schistosomatidae é dividida em duas subfamílias: Bilharzielinae, sem
interesse médico direto, pois parasitam aves e alguns animais domésticos ou
silvestres (patos, gansos, búfalos, etc) e Schistosomatinae, estão incluídos os
vermes que apresentam um nítido dimorfismo sexual, com espécies parasitando o
homem e animais.
Foi
Bilharz, em 1852, quem descreveu um parasito intracelular para o qual deu o
nome de Distoma haematobia.. Posteriormente, Weinland denominou o mesmo
helminto de Schistosoma, uma vez que o macho apresenta o corpo fendido
(schisto=fenda; soma=corpo). A denominação da espécie – Schistosoma mansoni –
foi dada em 1907 por Sambon.
As
espécies do gênero Schistosoma que tem interesse médico direto são:
Schistosoma haematobium (Bilharz, 1852)
Agente de esquistossomose vesical ou
hematúria do Egito. É encontrado em grande parte da África (principalmente
Egito), Oriente Próximo e Médio. Os vermes adultos vivem nos ramos pélvicos do
sistema porta e os ovos são eliminados pela urina. Os hospedeiros
intermediários são moluscos principalmente do gênero Bulinus.
Schistosoma
japonicum (Katsurada,
1904)
Causador da esquistossomose japônica
ou moléstia de Katayama. É encontrado na China, Japão, Ilhas Filipinas e
sudeste asiático. Os vermes adultos vivem no sistema porta e os ovos são
eliminados pelas fezes. Os hospedeiros intermediários são moluscos do gênero
Oncomelania.
Schistosoma
mekongi (Voge,
Brickner & Bruce, 1978)
É uma espécie muito semelhante ao S.
japonicum, encontrado no vale do rio Mekong, no Camboja, parasitando o sistema
porta do homem e de alguns animais (cães, roedores). Seu hospedeiro
intermediário é o caramujo da espécie Neotricula aperta. Muitos autores não
aceitam o S. mekongi como espécie, mas apenas uma variedade local do S.
japonicum.
Schistosoma
intercalatum
(Fischer, 1934)
Agente de uma esquistossomose
intestinal, encontrada no interior da África Central. Os vermes adultos
localizam-se no sistema porta e os ovos são eliminados pelas fezes. Os
hospedeiros intermediários pertencem ao gênero Bulinus.
Schistosoma
mansoni (Sambon,
1907)
Agente da esquistossomose intestinal,
ocorrendo na África, Antilhas e América do Sul. Como é a única espécie em nosso
meio, faremos um estudo detalhado. As espécies do gênero Schistosoma chegaram
às Américas durante o tráfico de escravos e com os imigrantes orientais e
asiáticos.
O
PARASITO
O
Schistosoma mansoni é um parasito do homem e de alguns mamíferos e marsupiais,
em cujas veias do sistema porta se localizam os vermes adultos, ocasionando a
esquistossomose. Pertence à família Schistosomatídae, que compreende os
trematódeos, estes por sua vez, possuem duas ventosas, um tubo digestivo
(formado inicialmente por um único esôfago, o qual se bifurca para se unir com
o ceco). As formas larvais, evoluindo em moluscos originam as larvas
infectantes, as cercarias.
MORFOLOGIA
Macho, mede cerca de 1cm. Tem cor
esbranquiçada, com tegumento recoberto de tubérculos. Apresenta o corpo
dividido em duas porções: anterior, na qual encontramos duas ventosas (ventosa
oral e ventosa ventral), e a posterior (que se inicia logo após a ventosa
ventral), onde encontramos o canal ginecóforo; este nada mais é do que uma
fenda longitudinal, para albergar a fêmea e fecundá-la.
Fêmea, é um pouco maior que o macho. Mede
cerca de 1,5cm. Tem cor esbranquiçada, com tegumento liso. Após à ventosa
ventral (acetábulo) encontra-se a vulva, depois o útero (com 1 ou 2 ovos) e o
ovário.
Ovo, tem um formato oval e apresenta um
espículo lateral o que facilita a sua identificação. O que caracteriza o ovo
maduro é a presença de um miracídio, visível pela transparência da casca. O ovo
maduro é a forma usualmente encontrada nas fezes.
Miracídio, tem um formato oval e apresenta o
tegumento recoberto de cílios. Internamente apresenta glândulas de penetração
(centrais) e adesivas (laterais) na extremidade anterior. Encontramos também
uma estrutura rígida – o terebratorium – com funções sensoriais e de
penetração.
Esporocisto, ao penetrar no caramujo, o miracídio
perde os cílios, glândulas de penetração, terebratorium, etc., e se transformam
no esporocisto. Nesta fase apresenta uma forma semelhante ao miracídio, porém
sem cílios. Em seu interior são originados (através das massas germinativas)
numerosos esporocistos secundários, e migram para as glândulas digestivas do
caramujo. Nesta fase as células germinativas dão origem às cercarias (larvas
infectantes).
Cercarias, estas se apresentam divididas em
duas partes: corpo e cauda. O corpo contém uma cutícula recoberta de pequenos
espinhos e com duas ventosas: oral (anterior) e ventral (posterior). A cauda
termina em uma bifurcação (furcocercária).
BIOLOGIA
Habitat. Os vermes adultos vivem no sistema
porta: assim que os esquistossômulos atingem o fígado, migram para o sistema
porta, onde sofrem a maturação sexual. Iniciam em seguida a ovoposição, que é
feita dentro dos ramos terminais a veia mesentérica inferior, principalmente ao
nível da parede intestinal do plexo hemorroidário.
CICLO BIOLÓGICO
O
ciclo biológico do S. mansoni é do tipo heteroxênico. O Schistosoma mansoni, ao
atingir a fase adulta no sistema vascular do homem e de outros mamíferos,
alcançam as veias mesentéricas (principalmente a veia mesentérica inferior),
migrando contra a corrente circulatória; as fêmeas fazem a postura ao nível da
submucosa. Cinco anos é a vida média do S. mansoni; alguns casais podem viver
mais de 30 anos, eliminando poucos ovos. Os ovos colocados levam cerca de uma
semana para tornarem-se maduros (miracídio formado). Da submucosa chegam à luz
intestinal. Os prováveis fatores que promovem esta passagem são:
·
Reação
inflamatória;
·
Pressão
dos ovos que são postos atrás (“bombeamento”);
·
Enzima
citolítica produzida pelo miracídio, lesando o tecido.
Essa
migração demora até 20 dias (desde que o ovo é colocado, até que atinja a luz
intestinal). Se neste período os ovos não conseguirem atingir a luz do
intestino, ocorrerá a morte dos miracídios. Os ovos que conseguirem chegar ao
intestino vão para o exterior junto com o bolo fecal, e tem uma expectativa de
vida de 24 horas (fezes líquidas) e 5 dias (fezes sólidas). Alcançando a água,
os ovos liberam o miracídio, estimulados pelos seguintes fatores: temperatura
(28ºC), luz intensa e oxigenação da água.
Os
miracídios podem penetrar em moluscos vetores, não vetores e até girinos; porém
só se desenvolverão os miracídios que penetrarem em moluscos das espécies
Biomphalaria, que são os seus hospedeiros intermediários. O miracídio ao
penetrar pelas partes moles do molusco, transforma-se em esporocisto I
(primário), este por sua vez dá origem à 150 a 200 esporocistos II, que migram
para as glândulas digestivas. Neste local, cada esporocisto da origem a numerosas
larvas denominadas – CERCÁRIAS. Através deste processo de expansão clonal, pode
produzir mais de 100.000 cercárias, oriundas de um único miracídio.
As
primeiras cercarias emergem cerca de um mês após a infecção do caramujo. Estas
por sua vez saem para o exterior (água), atravessando o epitélio do manto e da
pseudobrânquia (órgão respiratório localizado na abertura da concha do
caramujo). As cercarias nadam ativamente na água, podendo penetrar em vários
animais (aves, mamíferos, etc.) mas só se desenvolverão no hospedeiro correto.
Ao alcançarem a pele do homem, se fixam
preferentemente entre os folículos pilosos com auxílio das duas ventosas. Em
seguida por ação lítica (glândulas de penetração) e ação mecânica (movimentos
vibratórios) promovem a penetração do corpo cercariano e a concomitante perda
da cauda. Este processo duro cerca de 15 minutos.
Após
a penetração, as larvas resultantes, denominadas – ESQUISTOSSÔMULOS – ao
penetrarem num vaso, são levadas da pele para os pulmões. Daí, os esquistossômulos
se dirigem para o sistema porta. Uma vez no sistema porta intra-hepático, os
esquistossômulos se alimentam e se desenvolvem transformando-se em machos e
fêmeas 30 dias após a penetração. Daí migram acasalados, para o território da
veia mesentérica inferior, onde farão a ovoposição. Os primeiros ovos são
vistos nas fezes cerca de 40 dias após a infecção do hospedeiro.
TRANSMISSÃO
A
transmissão é feita pela penetração das cercarias na pele e mucosa. As
cercarias penetram mais freqüentemente nos pés e pernas (por serem áreas do
corpo que mais ficam em contato com águas contaminadas. O horário em que são
vistas em maior quantidade na água e com maior atividade é entre 10 e 16 horas,
quando a luz solar e o calor são mais intensos. Os locais onde se dá a transmissão
são os focos peridomiciliares: valas de irrigação de horta, açudes
(reservatórios de água e local de brinquedos de crianças), etc.
EPIDEMIOLOGIA
Atualmente
no Brasil, embora a quimioterapia em larga escala tenha reduzido a prevalência
da doença, a endemia se encontra em franca expansão geográfica.
DISTRIBUIÇÃO
GEOGRÁFICA
Os
mapas abaixo mostram uma estreita relação entre a presença de áreas de médias e
altas endemicidade e a presença de Biomphalaria
glabrata. Podemos afirmar que onde ocorre esta espécie, temos transmissão
da esquistossomose mansoni. A presença da B. glabrata é responsável pela área
contínua de transmissão que ocorre desde o Rio Grande do Norte até Minas
Gerais. A espécie Biomphalaria straminea
é a única que transmite a doença no Ceará e em focos isolados no Pará (Belém) e
Goiás (Goiânia). Entretanto, é a espécie com a distribuição geográfica mais
ampla. A Biomphalaria tenagophila
constitui o caramujo transmissor em algumas regiões do Estado do Rio de
Janeiro, em São Paulo (no Vale do Paraíba) e em Minas Gerais, em focos isolados
nas cidades de Jaboticatubas, Itajubá, Paracatu e Belo Horizonte. Também
apresenta ampla distribuição geográfica partindo do Espírito Santo até o Rio
Grande do Sul.
CARAMUJOS
TRANSMISSORES
Os moluscos pertencem à subclasse
Pulmonata, a ordem Basommatophora, família Planorbidae e gênero Biomphalaria.
No Brasil temos dez espécies
pertencentes ao gênero Biomphalaria, são elas: B. glabrata, B straminea, B.
tenagophila, B. amazônica, B. peregrina, B. intermédia, B. schrammi, B.
occidentalis, B. oligoza e B. kuhniana. Porém destas espécies, somente as três
primeiras e mais importantes no Brasil foram encontradas eliminando cercarias
em condições naturais e a B. amazônica e
B. peregrina foram infectadas em condições de laboratório, podendo,
portanto, ser consideradas hospedeiros em potencial.
A classificação por meio da morfologia
da concha é muito precária; a identificação das espécies só deve ser feita pela
anatomia dos órgãos internos dos moluscos e por especialistas competentes.
Os caramujos do gênero Biomphalaria
são hermafroditas capazes de auto-fecundação. Entretanto, a reprodução cruzada
é preferida, atuando um molusco como macho e outro como fêmea. A partir de 30
dias de idade o caramujo atinge a maturidade sexual e ovipõe. As posturas são realizadas quase que
diariamente contidos em uma massa gelatinosa; estas desovas são depositadas em
superfícies flutuantes ou submersas no meio aquático, com preferência para as
primeiras, tais como folhas de plantas e até mesmo vasilhames de plástico e
pedaços de isopor em coleções aquáticas poluídas. Os planorbídeos transmissores
da esquistossomose no Brasil podem ser encontrados em grande variedade de
coleções de água doce, paradas ou pouco correntes, tais como lagoas, lagos,
poças, cisternas, pântanos, banhados, riachos, plantações de arroz e de agrião
e quaisquer áreas natural ou artificialmente alagada. Vivem de preferência em
águas rasas, tendo como substrato o leito lodoso ou rochoso e a vegetação
enraizada ou flutuante mais próxima das margens.
QUADRO
CLÍNICO
Está ligada a vários fatores, tais
como cepa do parasito, carga parasitária adquirida, idade, estado nutricional e
a resposta imunitária da pessoa. De todos estes fatores parece que os dois mais
importantes são a carga parasitária (estimulada pela contagem de ovos por grama
de fezes) e a resposta do sistema imune do paciente. Assim, em população com a
média do número de ovos nas fezes muito elevada, é mais freqüente a forma
hepatoesplênica e as formas pulmonares; e que as alterações cutâneas
(dermatites) e hepáticas são grandemente influenciadas pela resposta imune do
paciente, frente aos antígenos dos esquistossômulos e dos ovos.
FASE
DE INVASÃO CERCARIANA
Um dos quadros clínicos que tem que
ser observado é a dermatite cercariana, que ocorre após a penetração das
cercarias na pele do homem. Esta dermatite é caracterizada por “sensação de
comichão, erupção urticariforme e é seguida, dentro de 24 horas, por eritema,
edema, pequenas pápulas e dor”.
ESQUISTOSSOMOSE
AGUDA
Fase
pré-postural,
compreende o período em que ocorre a penetração cutânea das cercarias, a
migração dos esquistossômulos até sua completa diferenciação sexual e
conseqüente instalação da postura.
Em geral é uma fase com sintomatologia
variada, que ocorre cerca de 10 a 30 dias após a infecção. Neste período há
pacientes que não se queixam de nada (forma inoperante ou assintomática) e
outros reclamam de mal-estar com ou sem febre, problemas pulmonares (tosse),
dores musculares, desconforto abdominal e um quadro de hepatite aguda (causada
pelos produtos da destruição dos esquistossômulos).
Fase
aguda (TOXÊMICA).
Aparece em torno de 50 dias e dura até cerca de 120 dias após a infecção. Nessa
fase pode ocorrer uma disseminação miliar dos ovos, principalmente na parede do
intestino e fígado, provocando a formação de granulomas simultaneamente. Nesta
fase o paciente apresenta mal-estar, febre alta, emagrecimento, tosse,
diarréia, hepatoesplenomegalia e linfadenomegalia. Pode haver a morte do paciente
nesta fase ou então evoluir para a esquistossomose crônica, cuja a evolução é
lenta, e na grande maioria dos casos, benigna.
ESQUISTOSSOMOSE CRÓNICA: Esta forma pode apresentar grandes
variações clínicas, dependendo de serem as alterações predominantemente
intestinais, hepato-intestinais ou hepatoesplênicas. Vamos mostrar as
principais alterações nos órgãos atingidos:
INTESTINO. Em muitos casos, o paciente
apresenta diarréia mucossanguinolenta, dor abdominal e tenesmo. Nos casos
crônicos graves, pode haver fibrose da alça retosigmóide, levando à diminuição
do peristaltismo e conseqüentemente a uma constipação constante. Entretanto, a
maioria dos casos crônicos, é benigna, ocorrendo a queixa esporadicamente de
dores abdominais, com fases de diarréia mucossanguinolenta e outras de
constipação, intercaladas de longos períodos normais. A diarréia
mucossanguinolenta é devida à passagem simultânea de vários ovos para a luz
intestinal, ocasionando pequenas (mas numerosas) hemorragias e edema.
Apesar de não ser muito freqüente,
alguns especialistas tem encontrado tumorações localizadas, anômolas,
denominadas “formas pseudoneplásicas” .Isto se dá devido à presença de grande
número de ovos num determinado ponto, provocando inflamação, com neoformação
celular e fibrosamento. Esses casos podem ser confundidos com carcinoma, e após
a cirurgia, elucida-se a real causa da tumoração ou pólipo.
HEPÁTICA. As alterações hepáticas típicas
surgem a partir do início da ovoposição e formação de granulomas. Em conseqüência,
teremos um quadro evolutivo, dependendo do número de ovos que chega a esse
órgão. A princípio o fígado apresenta-se aumentado de volume, bastante doloroso
à palpação, predominando a sensação de peso e um desconforto a determinada
postura. Os ovos prendem-se no espaço porta, com a formação de numerosos
granulomas, tornando as alterações hepáticas mais sérias.
Assim sendo, os granulomas hepáticos
irão causar uma fibrose periportal, a qual provocará obstrução das ramos
intra-hepáticos da veia porta. Esta obstrução trará como conseqüência , a
manifestação mais típica e mais grave: a hipertensão
porta, evoluindo para as seguintes alterações:
·
Esplenomegalia:
devido a congestão passiva do ramo esplênico;
·
Ascite
( barriga d’água);
·
Desenvolvimento
da circulação colateral anormal intra-hepática e de anastomoses provocava ao
nível do plexo hemorroidário, umbigo, região inguinal e esôfago numa tentativa
de compensar a circulação portal obstruída.
Essa circulação colateral do esôfago
leva à formação das “varizes esofagianas”, que podem romper-se provocando uma
hemorragia, muitas vezes fatal. Estas rupturas podem causar hematêmese se
repetindo em curtos intervalos levando o paciente a um quadro de sensação de
fraqueza geral, palidez. Pode haver também estado nauseoso seguido de vômitos
sanguinolentos escuros.
Dependendo da intensidade da
hemorragia os pacientes se mostram pálidos, com sudorese fria e viscosa,
taquisfígmicos e hipertensos.
A ascite constitui outro fenômeno
denunciador de descompensação da hipertensão portal. O abaulamento do abdome
costuma ser lento e progressivo. Os pacientes quixam-se de desconforto
abdominal, certo grau de cansaço e em casos de ascites volumosas, de dispnéia
de decúbito. Ao exame, o abdome se mostra globoso, fortemente distendido com
circulação colateral manifesta. Na fase final da doença o fígado e o baço,
apesar de dimensões expressivas, podem ser palpados com algumas dificuldades.
PULMONAR. Através das circulações colaterais
anômalas (shunts intra-hepáticos), ou mesmo das anastomoses utilizadas, alguns
ovos passariam à circulação venosa, ficando retidos nos pulmões. Nos capilares
desses órgãos, os ovos dão origem a granulomas pulmonares que podem levar a
duas conseqüências:
a) dificulta a pequena circulação e
causando o aumento do esforço cardíaco, que poderá chegar até insuficiência
cardíaca, tipo cor pulmonares
b) viabilizando ligações
arteriovenosas (shunts), que permitem a passagem de ovos do parasito para a
circulação geral e encistamento dos mesmos em vários órgãos, com formação de
granulomas (inclusive no SNC).
Granulomas também já foram assinalados
no pâncreas, testículos, ovários, baço (muito raro) e apêndice cecal.
Particularmente graves são as formas medulares agudas, que podem levar à
paraplegia. Apesar de raras, podem ser causadas por ovos isolados ou conjunto
de ovos depositados ao nível torácico inferior ou lombossacro.
DIAGNÓSTICO
DIAGNÓSTICO
CLÍNICO
Pode-se revestir de algumas
dificuldades, embora superáveis, especialmente quando se tem em mente o quadro
clínico e os dados epidemiológicos da helmintíase.
O diagnóstico clínico deve-se levar em
conta a fase da doença (pré-postural, aguda ou crônica). Além disso, e de
fundamental importância a ananese detalhada do paciente. Este diagnóstico se
firma, entretanto, em bases presuntivas: sua efetivação dependerá da exploração
laboratorial e, em particular, da evidência parasitológica.
DIAGNÓSTICO
PARASITOLÓGICO OU DIRETO
Estes métodos se fundamentam no
encontro dos ovos do parasito nas fezes ou tecidos do paciente.
Exame
de fezes. Pode ser
feito por método de sedimentação ou centrifugação em éter sulfúrico (métodos
estes baseados na alta densidade dos ovos) ou por método de concentração por
tamização (Kato).
Biópsia
ou Raspagem da mucosa retal.
Constitui um método que depende de pessoas treinadas, pois resulta em inegável
desconforto para o paciente. A principal vantagem da técnica é maior
sensibilidade e a verificação mais rápida do efeito da quimioterapia.
A biópsia hepática para o diagnóstico
exclusivo da esquistossomose, não pode jamais ser recomendada. Só se justifica
procurar ovos em tecido hepático quando existem suspeitas de outras etiologias
que demandam biópsia hepática; neste caso, um pequeno fragmento poderia ser
enviado para o exame parasitológico.
TRATAMENTO
Deve-se considerar que a
esquistossomose mansoni é uma doença resultante da reação inflamatória dos ovos
nos tecidos, e que diariamente, cada casal de Schistosoma mansoni pode levar à
formação de cerca de 200 granulomas. Desta maneira a esquistossomose apresenta
este efeito acumulativo de lesões em função do tempo, o que pode resultar no
aparecimento de formas graves da doença.
O tratamento quimioterápico da
esquistossomose através das drogas mais modernas, oxamniquina e praziquantel
demonstrou que pode prevenir as formas graves da doença e a faixa etária mais
favorecida pelo tratamento seria a de jovens até 20 anos.
A droga mais usada no país é a oxamniquina que apresenta baixa
toxicidade, sendo administrada em dose única em adultos (15mg/kg) e em duas
vezes em crianças (10mg/kg duas vezes ao dia, depois das refeições). Os efeitos
colaterais mais evidentes são alucinações e tonteiras, excitação e mudanças de
comportamento, que são reversíveis seis a oito horas após a administração da
droga. Portanto, é uma droga que deve ser utilizada com muito critério em
pacientes com distúrbios neuropsíquicos. Já o praziquantel, seus efeitos colaterais são pouco intensos e
passageiros: dor abdominal, diarréia, cefaléia e astenia (fraqueza muscular),
sendo a administração feita em 50mg (25mg/kg em duas vezes), por via oral, após
as refeições.
PROFILAXIA
As condições inadequadas do saneamento
básico são o principal fator responsável pela presença de focos de transmissão.
É uma doença tipicamente condicionada pelo padrão sócio-econômico precário que
atinge a maioria da população brasileira. As medidas profiláticas gerais são:
Tratamento
da população – Vários
trabalhos epidemiológicos mostraram que o tratamento em larga escala (todos os
casos positivos) ou seletivos (faixas etárias mais jovem), resultaram na
redução significativa das formas hepatoesplênicas. No Brasil, o programa
governamental que se propõe controlar a doença principalmente através da
quimioterapia em larga escala (oxamniquina), mostrou que após o tratamento de
mais de três milhões de indivíduos das áreas endêmicas do Nordeste, ocorreu uma
acentuada redução da prevalência e morbidade da doença nesta região. Entretanto
após suspensão do tratamento ocorreu, em poucos anos, a volta dos índices de prevalência
anteriores.
Saneamento
básico – É sem dúvida
a medida que resulta em benefícios duradouros para a comunidade. É
imprescindível que se acentue que o saneamento básico com construção de rede de
esgotos e tratamento de água não vai prevenir somente a transmissão da
esquistossomose, mas de todas outras doenças de veiculação hídrica decorrente
de poluição fecal, tais como: salmonelose, hepatite, giardíase, amebíase, etc.
A constituição garante o direito a condições adequadas de saúde para o cidadão e
isto só pode ser alcançado com o saneamento básico.
Combate
aos caramujos transmissores – Deve-se
ressaltar que os caramujos do gênero Biomphalaria apresentam notável capacidade
adaptativa às modificações ambientais e um potencial biótipo que permite a um
único exemplar originar milhões de descendentes em poucos meses.
Ø
Moluscidas
– O uso de moluscidas poderia ser justificado em pequenos focos e como medida
estratégica para baixar temporariamente a transmissão em campanhas
profiláticas; associada a outras medidas tais como saneamento básico e
quimioterápico.
Ø
Modificações
nos criadouros – A erradicação de plantas aquáticas das margens dos criadouros
e aumento da velocidade da corrente aquática podem dificultar a fixação dos
moluscos. A drenagem de alagadiços e brejos também pode auxiliar diminuindo o
número de criadouros.
Educação
sanitária – A
conscientização da população quanto às maneiras pelas quais se previne as
doenças transmissíveis é fator indispensável para o sucesso de qualquer
campanha profilática. O uso de livretos ilustrados nas campanhas ajuda muito ao
cidadão menos instruído a entender o complexo ciclo de transmissão da doença
Produtos
cercaricidas de uso tópico – Existem
substâncias que, aplicadas na pele, impedem a penetração cercariana. O uso de
tais produtos jamais poderia ser preconizado para uso rotineiro. Só se
justificaria o uso destes produtos em ocasiões especiais, tais como em
operários que fazem limpeza em canais com caramujos positivos, campanhas
milhares, etc., pois estas substâncias podem ser absorvidas pela pele e causar
efeitos tóxicos.
Conclusões
Gerais – Em resumo,
apesar da complexidade do problema de controle da doença no país, é bom
enfatizar que cada foco de transmissão apresenta características próprias e que
algumas medidas profiláticas específicas podem ser adotadas visando minorar o
problema.
No contexto geral, o saneamento básico, educação sanitária e tratamento dos doentes são as medidas que, no momento, apresentam melhor eficácia no controle da transmissão e morbidade da doença.
FONTE
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância
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