domingo, 27 de janeiro de 2013

VERMINOSES :ECHINOCOCCUS GRANULOSUS


VERMINOSES :ECHINOCOCCUS GRANULOSUS


 ECHINOCOCCUS GRANULOSUS

 INTRODUÇÃO

O Echinococcus granulosus (Batsch, 1786) é um cestódeo comum em regiões de criação de carneiros sendo que a forma adulta ocorre em cães e a forma larva – cisto hidático- ocorre normalmente na ovelha e, às vezes em bovinos e suínos.

Esse parasito é conhecido de longa data na Europa e Ásia, sendo relativamente recente o seu encontro nas Américas. No homem a ingestão de ovos oriundos de cães infectados acarreta o desenvolvimento da hidátide que provoca uma doença grave – a hidatidose. Além do E. granulosos existem mais três espécies de Echinococcus que raramente podem causar hidatidose humana.

O E. granulosos é a espécie mais importante em vista dos seguintes fatores: possuir ampla distribuição geográfica estando presente na América do Sul – 5 países, América do Norte – 3, Europa – 11 , África – 6, Ásia – 4, Austrália e Nova Zelândia; ser um problema econômico sério, que r quanto ao prejuízo pela condenação (descarte) de vísceras contaminadas dos animais, quer pelo custo do internamento hospitalar dos pacientes, quer pela impossibilidade do mesmo trabalhar antes ou logo depois da cirurgia. Vê-se, pois, que o helminto responsável pela hidatidose humana representa um grande problema de saúde pública.

Apesar de todos os conhecimentos epidemiológicos e profiláticos existentes, a hidatidose ainda é endêmica em cinco países americanos: Argentina, Brasil, (R. G. do Sul), Chile, Peru e Uruguai. Tem se desenvolvido uma intensa campanha profilática, mas o número de casos humanos tem decrescido muito lentamente, especialmente no Brasil em vista dos métodos de criação de carneiros e dos hábitos alimentares do gaúcho.

MORFOLOGIA


VERME ADULTO: É um dos menores cestódeos, medindo cerca de 5 milímetros. Possui um escólex globoso , com 4 ventosas e um rosto armado. O colo é curto. O corpo é formado por 3 ou 4 proglotes: 1 ou 2 jovens , 1 maduro e 1 grávido; esse contém cerca de 500 a 800 ovos.

OVO. É pequeno, subesférico com embrióforo espesso e com embrião hexacanto, mede cerca de 30 micrômetros de diâmetro.


CISTO HIDÁTICO: Depois de completamente desenvolvido, mede cerca de 3 a 5 centímetros de diâmetro (podendo medir até 15 centímetros), tem contorno esférico, de cor branca. Possui as seguintes estruturas vistas de fora para dentro:

v  Membrana adventícia: essa é uma reação do órgão parasitado à presença de cisto; não é secretada pelo helminto, e sim pelo hospedeiro. Como fica aderida ao cisto, nos exames de corte histológico é a primeira estrutura externa vista. É também conhecida como pericisto . Tem espessura variável, mas chega a medir 1 milímetro.

v  Membrana anistia: é secretada pelo cisto; tem um aspecto homogêneo, e funciona como uma barreira defensiva do cisto às agressões (defesas) do hospedeiro. Apresenta espessura também variável, medindo em média 0,5 milímetro;


v  Membrana prolífera : á membrana responsável pela proliferação do parasito. É extremamente delicada – 10 micrômetros -, reveste internamente todo o cisto e de espaço em espaço (irregularmente) forma as vesículas prolíferas.


v  Vesículas prolígeras: têm a mesma estrutura da membrana prolígera; dá origem, internamente, de 2 a 60 escólex; a vesícula prolígera mede apenas 1 mm de diâmetro;


v  Escólex: tem aspecto ovóide, mede cerca de 150 micrômetros de diâmetro; apresenta-se invaginado dentro de uma pequena vesícula, possui um rosto e 4 ventosas;

v  Líquido hidático: o cisto hidático é cheio de um líquido cristalino, com composição semelhante ao plasma sanguíneo. Utilizando-se métodos imunoeletroforéticos foi possível demonstrar que pelo menos 19 substâncias antigênicas entram na constituição do líquido hidático : 10 de origem parasitária e 9 do hospedeiro.

Frequentemente encontrados no Cisto Hidático a areia hidática, que é formada por fragmentos da membrana, vesículas prolígeras e escóleces soltos. Um centímetro cúbico dessa areia contém cerca de 400.000 protoescóceles e um cisto grande pode conter 5 a 6 cm de areia hidática.

BIOLOGIA

HABITAT: O verme adulto vive no intestino delgado de cães e Cisto hidático é encontrado principalmente no fígado e pulmão de ovino, bovino, suíno e acidentalmente, no homem. Em geral cães mais novos albergam milhares de vermes; já em infecções mais antigas o número de vermes é menor indicando certa resistência do hospedeiro às reinfecções.


CICLO BIOLÓGICO:

É do tipo heteroxênico. Os ovos são eliminados pelos cães, junto com fezes, ou saem dentro do proglote. Chegando ao meio exterior, contaminam o ambiente (pastos,principalmente), onde se mantêm viáveis por mais de um mês (no inverno, resistem vários meses). Os hospedeiros intermediários são: ovino, bovino ou suínos que ingerem os ovos junto com os alimentos.

Tanto nesses animais como no homem, a dissolução do embrióforo, a ativação e liberação da oncosfera ocorrem após passagem do ovo pelo suco gástrico desses mamíferos.

Se canídeos ou felídeos ingerirem o ovo, o suco gástrico desses carnívoros não é favorável para a sua eclosão. Dessa forma, quando os ovos chegam no duodeno dos hospedeiros intermediários a oncosfera é liberada e, com auxílio dos acúleos,
atravessa a parede intestinal e cai na corrente sanguínea.

No interior dos vasos a oncosfera mede cerca de 25 micra de diâmetro, mas como é capaz de alongar-se, pode passar em capilares mais finos. Daí vai fixar-se nos seguintes órgãos: fígado, pulmões, músculos, baço, cérebro, coluna vertebral.

Após fixar-se em alguns desses órgãos, começa a desenvolver-se, transformando-se no Cisto hidático.  Seis meses após a infecção, o cisto tem um diâmetro de 1 centímetro, quando já é infectante; aos 2 anos, atinge 3 a 5 centímetros.

Continua a crescer, chegando a vários centímetros de diâmetro muitos anos depois (como o carneiro e o suíno vivem pouco, pois são abatidos, os cistos têm usualmente o tamanho de 3 a 5 centímetros de diâmetro, mas no homem podem atingir tamanhos maiores).

O cão, alimentando-se das vísceras, ingere o cisto contendo milhares de escólex. Ao chegarem ao duodeno, esses escólex desenganam-se e desenvolvem-se, dando o Echinococcus adulto. Dois meses depois já está eliminando ovos. O verme adulto vive cerca de 3 – 4 meses, quando então morre e é eliminado.

TRANSMISSÃO

Os animais - inclusive o homem - adquirem a hidatidose ingerindo ovos do verme adulto, que estão contaminando os alimentos, ou levando à boca as mãos que acariciaram um cão, cujo pelo estava repleto de ovos.

ANOMALIAS DO CISTO HIDÁTICO:

Pode apresentar anomalias na sua forma fundamental, devido principalmente a traumatismo, envelhecimento, perda do líquido hidático, penetração da urina, bile ou infecção bacteriana. Em geral, um desses fatores pode levar à formação de hidátides - filhas endógenas, de tal modo que a hidátide primitiva apresenta várias vesículas internas, sendo denominada então de hidátide multivesicular .

Na medula óssea, onde a hidátide não apresenta a membrana adventícia, há possibilidade de formações de hidátides - fibras, exógenas, pela exteriorização da membrana prolígera.   

PATOGENIA

O verme adulto praticamente não causa nenhum dano ao hospedeiro definitivo. Em casos de infecção muito elevada, é relatado que o cão pode manifestar sintomas gerais tais como: diarreia, emagrecimento, apatia. Nos hospedeiros intermediários normais (ovinos, bovinos, suínos), a hidatidose também não é considerada como agente de alterações graves.

Este fato se deve porque as lesões da hidatidose ocorrem principalmente pela compressão da larva no órgão lesado e, como os animais em geral são a abatidos cedo, não há tempo para a hidátide atingir um tamanho prejudicial. Na espécie humana, conforme veremos a seguir, a hidatidose pode apresentar alterações graves, uma vez que a infecção na grande maioria dos casos se dá na infância e a sintomatologia irá manifestar-se na idade adulta. Assim sendo, as principais alterações na hidatidose humana são:

AÇÃO MECÂNICA:

A primeira manifestação da hidatidose é a de um tumor no órgão atingido. O cisto leva a compressão do órgão, que poderá ter sua função diminuída; o paciente se queixa de uma sensação de peso ou de dor. Quando no fígado, poderá haver compressão do sistema porta levando a uma estase sanguínea e formação de ascite, ou pode haver perturbação do fluxo biliar.

Quando no pulmão, poderá haver dificuldade respiratória; caso o cisto se rompa espontaneamente no pulmão, poderá haver eliminação de escólex no catarro e no líquido hidático ou retenção de escólex no pulmão formando novos cistos.
Nos demais órgãos (cérebro, medula óssea, etc.) as complicações serão próprias de cada uma das áreas lesadas.

AÇÃO IMUNITÁRIA

A parede do cisto hidático permite a troca (diálise) de seus produtos metabólicos com o meio circunvizinho. Há desenvolvimento de reações imunitárias por parte do paciente, principalmente alergia (urticária, edemas, asma e até choque anafilático). As reações alérgicas são muito graves e podem levar o paciente à morte.

COMPLICAÇÕES DAS HIDÁTIDES:

A hidátide mãe pode formar hidátides filhas (endógenas ou exógenas) que complicarão o quadro. No caso de uma cirurgia, o possível rompimento de uma hidátide durante o ato cirúrgico poderá complicar o caso, pois a liberação de fragmentos de vesículas, membranas e proto escólex poderão provocar embolias, devido à disseminação ocorrida, também pode levar o paciente à morte.

DIAGNÓSTICO.

CLÍNICO:

Como o verme adulto não causa alteração alguma, não se faz este tipo de diagnóstico para a equinococose. Já para a hidatidose animal as manifestações clínicas são raras, a não ser em reprodutores que apresentem alterações as quais necessitam do trabalho de um veterinário.

Já no homem o “diagnóstico clínico da hidatidose em geral é difícil, pois ora apresenta um quadro pobre de sinais e sintomas, ora se revela polimorfa, sem sintomas específicos”. Em zonas endêmicas o clínico suspeita da hidatidose quando aparecem manifestações crônicas hepáticas ou pulmonares.

LABORATORIAL:

O exame de fezes em cão pode sugerir o parasitismo pelo E. granulosos, entretanto, o diagnóstico de certeza pelo exame de fezes é difícil, pois outras tênias que parasitam o cão possuem ovos semelhantes.

Pode-se dar um tenífugo especialmente o bromidrato de arecolina e examinar todo o bolo fecal, no qual serão encontrados os vermes adultos.

Em levantamento epidemiológicos recomenda-se a necrópsia de cães e exame intestinal.
Na hidatidose humana os métodos mais empregados são:

v  Raios X: apesar de não ser decisivo, pois pode confundir-se com outra tumoração, é muito usado para localização, determinação da forma e do tamanho do cisto;

v  Microscópio: pode ser empregado nos casos de ruptura de cisto, pesquisando-se os escólex na urina, expectoração brônquica e líquidos pleurais ou abdominais;

v  Reações imunológicas: atualmente são as reações mais utilizadas para o diagnóstico da hidatidose humana, tanto para casos individuais como para fins epidemiológicos. As mais usadas são: imunueletroforese, aglutinação do látex, hemaglutinação indireta, imunofluorescência indireta imunodifusão dupla. O antígeno usado é uma preparação do líquido hidático ou dos proto escólex contidos nos cistos de bovinos ou ovinos e retirados por aspiração, assepticamente.

EPIDEMIOLOGIA

O E. granulosus é um helminto que apresenta uma epidemiologia muito variável conforme a região do mundo em que é encontrado. Por isso são sugeridas algumas subespécies para melhor caracterizá-lo. Assim teríamos: E. granulosus canadenses encontrado no Norte do Canadá, tendo o cão e o lobo como hospedeiros definitivos e a hidátide se desenvolve nos pulmões de cervídeos (veados, rena,);

E. granulosus equinus - encontrado em vários países da Europa sendo o verme adulto encontrado no cão e na raposa e a hidátide no fígado de eqüídeos.

E. granulosus granulosus - cão, lobo, e às vezes, raposa são os hospedeiros definitivos e a hidátide é vista em vários órgãos, principalmente, fígado e pulmões de ovinos, bovinos, caprinos suínos e homem.

Vê-se, pelo exposto, que o E. granulosus possui dois tipos de ciclos de epidemiológicos distintos: um silvestre e outro rural. No ciclo silvestre o parasito é encontrado nos hospedeiros desse ambiente.

No ciclo rural o parasito circula entre os hospedeiros próprios. Do ciclo rural origina-se a infecção urbana, onde não há propriamente um “ciclo urbano”, pois o parasito não circula nos dois sentidos cão-ovelha-cão, mas apenas no sentido ovelha-cão.

Apesar do ciclo silvestre ter grande importância na manutenção e perpetuação do parasito na natureza, sem contudo, atingir o homem, o ciclo rural e a infecção urbana é que são os principais ambientes responsáveis pela hidatidose humana, tendo o cão como fonte de infecção.

Até o final da década de 60 a hidatidose humana provocada pelo E. granulosus ainda era frequente em várias regiões do mundo em que se criava carneiros, pastoreados por cães : Austrália, Nova Zelândia, Inglaterra, Rússia, Canadá, Estados Unidos, Argentina, Uruguai e Sul do Brasil.

Modificações dos sistemas criatórios (uso de cerca eletrificada) e métodos profiláticos fizeram com que essa grave endemia fosse controlada em vários países. Entretanto no Brasil e demais países afetados da América Latina a endemia continua presente.

Os fatores responsáveis são:

v  Criação de ovelhas em regime extensivo;
v  Uso de cães pastores na guarda do rebanho;
v  Alimentação de cães com vísceras cruas de ovinos;
v  Relacionamento do cão pastor com elementos humanos, principalmente crianças em ambiente familiar.

No Brasil os bovinos apresentam umas prevalência de hidatidose de 9,5%, enquanto a dos caprinos é de 12,4% e a dos ovinos, 27,5%.

Na Argentina ocorre um ciclo rural e silvestre entre lobos e ovelhas.

Outro aspecto importante da epidemiologia da hidatidose no R. G. do Sul é o hábito do gaúcho comer carne diariamente e tratar os cães com vísceras cruas de ovinos e bovinos. Isso faz com que haja abate diário de animais nas fazendas, sítios, vilas, etc, sem nenhum controle e as vísceras dos mesmo são dadas aos cães que ficam por perto, já acostumados.

Para o estudo de prevalência da hidatidose existem dois processos: exame da população humana por algum dos métodos citados, ou, melhor ainda, verificar a taxa de infecção canina.

A prevalência dessa helmintose é maior nos cães de fazendas do que nos urbanos. A hidatidose atinge pessoas em qualquer idade, mas as percentagens mais elevadas ocorrem na faixa etária entre 20 e 40 anos (independente de manifestações clínicas). A incidência maior da hidatidose é entre criadores de ovelhas (e seus familiares) bem como os trabalhadores em fazendas e matadouros de ovinos (pois podem ingerir os ovos eliminados nas fezes do cão, mas aderidos nos pelos dos animais abatidos).

PROFILAXIA

A profilaxia da hidatidose se baseia na interrupção do ciclo evolutivo do parasito, impedindo o contato de cães domésticos com as vísceras cruas dos ruminantes.

A profilaxia da hidatidose só surtirá efeito se for baseada numa boa educação sanitária da população. Isto requer envolvimento especial dos órgãos de educação e saúde pública, como treinamento de professores rurais e urbanos e orientação de toda a comunidade escolar. Os serviços de extensão rural têm também um importantíssimo papel na orientação dos criadores e seus empregados sobre o perigo da doença e melhores técnicas criatórias.

O estado do R, G do Sul vem desenvolvendo nos últimos anos uma excelente e intensa campanha de profilaxia da hidatidose, especialmente nos municípios de prevalência mais alta, na fronteira com o Uruguai.

TRATAMENTO


Os medicamentos recomendados para as tênias possuem igual ação contra o verme adulto do E. granulosus - Yomesan, Teniacid. Entretanto pela facilidade de aplicação, ausência de efeitos colaterais e alta eficiência de cura, o Droncit é o medicamento de escolha para o tratamento dos cães parasitados.   

Contra o cisto hidático foi descoberto que o mebendazole em dosagens prolongadas mata os proto escólex e reduz o tamanho do cisto. Assim sendo, em cistos jovens, de dimensões não muito grandes recomenda-se apenas a cura pelo uso de cirurgia, sendo que esta requer cuidados especiais.

FONTE

MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. GUIA DE BOLSO, 6ª edição revista Série B. Textos Básicos de Saúde, brasília / DF, 2006

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