VERMINOSES : TENÍASE / CISTICERCOSE
TENÍASE / CISTICERCOSE
INTRODUÇÃO
Várias espécies de Taenia
causam problemas à saúde humana e são responsáveis por perdas econômicas na
atividade agropecuária. Na família Taenidae, dois cestópodes importantes que tem o
homem como hospedeiro definitivo e obrigatório são:
Taenia saginata e a Taenia
solium, popularmente conhecida como “solitária”, cujos hospedeiros
intermediários são o bovino e o suíno, onde causa a cisticercose ou
“canjiquinha”
A Teníase e a Cisticercose são duas entidades
mórbidas distintas causadas pelas mesmas espécies, porém com fases de vida
diferentes. A Teníase é uma alteração provocada pela presença da forma adulta
da Tênia solium ou da Tênia saginata (vulgarmente conhecida como solitária) no
intestino delgado humano; a cisticercose é uma alteração provocada pela
presença da larva (vulgarmente conhecida como canjiquinha), nos tecidos de seus
hospedeiros intermediários (respectivamente, o suíno e o bovino). Larvas de T.
solium também são encontradas no homem e
no cão.
O complexo Teníase/cisticercose é um grave
problema de saúde pública, particularmente nos países em desenvolvimento. É uma
zoonose que tem sido ponto de preocupação para profissionais da área de saúde
humana e animal, sem, no entanto contar com um programa de controle efetivo por
parte dos órgãos governamentais.
O PARASITO
MORFOLOGIA
Taenia solium, e Taenia saginata pertencem a
classe cestóides, ordem Cyclophilidae, família Taenidae e gênero Taênia. Na
forma larvária (Cisticercus cellulosae e C. boris ) parasitam o suíno e o
bovino respectivamente, produzindo a cisticercose no animal. Ocasionalmente, o
Cysticercus cellulosae produz cisticercose no homem.
VERME ADULTO
A Taenia solium e a Taenia saginata são entero-parasitas grandes
achatados em forma de fila, segmentados e da cor branca.
São divididas morfologicamente em escólex ou
cabeça, colo ou pescoço, e estróbilo ou corpo.
Escólex: É um órgão adaptado
para a fixação do cestodio na mucosa do intestino delgado, A Tênia solium
possui um rostelo ou rosto armado; a Taenia saginata não possui tal rostelo
Colo: Está situado
imediatamente abaixo do escólex, não tem segmentação, mas suas células estão em
constante atividade reprodutoras, dando origem às proglotes jovens. É conhecida
como zona de crescimento, ou zona de formação de proglotes.
Estróbilo: É o corpo do
helminto, formado pela união de proglotes, ou proglótides (anéis), podendo ter
de 800 à 1000 e atingir 3 metros e chegar até os 9 metros de comprimento na Taenia solium e ter mais de 1000 proglotes a
atingir até 8 metros na Taenia saginata,
já tendo sido encontrada exemplar de até 25 metros.
As proglotes são subdivididas em proglotes
jovens, maduras e grávidas. Como cada proglote tem sua individualidade
alimentar e reprodutiva (órgãos masculinos e femininos), nós podemos dizer que
o corpo de uma Taenia é formado pela justaposição de vários indivíduos
(proglotes).
Proglotes
jovens:
apresentam o início do desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos e
femininos, sendo esse desenvolvido um pouco mais tarde, permitindo a fecundação
da mesma proglote ou com proglotes diferentes.
Proglotes
maduras:
Possui os genitais masculinos e femininos desenvolvidos e aptos para a
fecundação.
Proglotes
grávidas:
São aquelas que apresentam um útero cheio de ovos.
Ovos; é impossível
diferenciar os ovos da Taenia. Eles são esféricos; são constituídos por uma
casca protetora denominada embrióforo. Dentro do embrióforo, encontramos a
oncosfera ou embrião.
Cisticerco: O
cysticercus cellulosae, larva da T. solium é constituído por escólex, rostelo,
colo e uma vesícula membranosa contendo líquido em seu interior. O cysticercus
bovis, larva da T. saguinata apresenta a mesma morfologia do cysticercus
cellulosae diferindo apenas pela ausência do rostelo. Estas larvas podem
atingir até 12 milímetros de comprimento, após 4 meses de infecção.
BIOLOGIA :
Tanto a Taenia solium, quanto a Taenia
saginata, na fase adulta ou reprodutiva vivem no intestino delgado do homem, já
o Cistisercus cellulosae é encontrado no tecido subcutâneo, muscular, cardíaco,
cerebral, e no olho de suínos e acidentalmente no homem e no cão. O C. bovis é
encontrado nos tecidos dos bovinos.
CICLO
BIOLÓGICO
O homem parasitado elimina junto com as
fezes, proglotes grávidas cheias de ovos. No meio exterior a proglote se rompe
liberando os ovos. O hospedeiro intermediário (suíno para a T. solium, e bovino
parra a T. saginata) infecta ao ingerir (direta ou indiretamente) fezes humanas
contendo os ovos. No intestino dos hospedeiros intermediários as oncosferas
sofrem as ações dos sais biliares (que são de grande importância na sua
ativação e liberação).
Uma vez ativadas as oncosferas liberam-se do
embrióforo (casca do ovo), daí atravessam as microvilosidades do intestino e
penetram nas vênulas e atingem as veias linfáticas mesentéricas. Atingem a
corrente circulatória, sendo transportadas por vias sanguíneas a todos os
órgãos e tecidos do organismo.
As oncosferas desenvolvem-se para cisticercos
em qualquer tecido mole (pele, músculos esqueléticos e cardíacos, olhos
cérebro, e etc.), mas preferem os músculos de maior movimentação e de maior
oxigenação (masseter, língua, coração e cérebro).
No interior dos tecidos cada oncosfera
transforma-se em um pequeno cisticerco delgado que começa a crescer atingindo
até 12 mm de comprimento no final de 4 ou 5 meses de infecção. A infecção do
homem pelos cisticercos se dará pela ingestão de carne crua ou mal passada do
porco ou boi infectado.
O cisticerco ingerido sofre ação de sucos
gástricos, evagina-se e fixa-se pelo escólex na mucosa do intestino delgado,
onde transforma-se em uma Taênia adulta, expulsando diariamente de 4 a 8
proglótides contendo em média 50 a 80 mil ovos em cada um. O colo, produzindo
novos proglotes mantém o parasito em movimento constante
TRANSMISSÃO:
A Taenia solium pode viver 3 anos no
hospedeiro, e a Taenia saginata pode viver 10 anos aproximadamente.
O homem adquire a Teníase por Taenia saginata
ingerindo carne de bovino crua ou mal cozida, infectada pela C. bovis. A
Teníase por Taenia solium é contraída pela ingestão de carne de suíno crua, ou
mal passada infectada pela C. cellulosae. A cisticercose humana é adquirida
pela ingestão acidental dos ovos viáveis da Taenia solium
Entre os métodos possíveis de infecção do
homem pelos ovos da Taenia solium, podemos citar:
Autoinfecção
externa
: O homem elimina proglotes e os ovos de sua própria Taenia são levadas à boca
pelas mãos contaminadas.
Autoinfecção
interna:
Durante vômitos ou movimentos retroperistálticos do intestino, as proglotes da Taenia
solium poderiam ir para o estômago e depois voltariam para o intestino delgado,
liberando as oncosferas.
Hetero-infecção: O homem
ingere juntamente com os alimentos contaminados os ovos da Taenia solium de
outra pessoa.
EPIDEMIOLOGIA
DISTRIBUIÇÃO
GEOGRÁFICA:
As Taenias são encontradas em todas as partes
do mundo em que a população tem o hábito de comer carne de porco ou de boi,
crua ou mal cozida. Interessante é que pelos hábitos alimentares de certos
povos a Teníase mais comuns podem ser raras. Assim a Taenia saginata é muito
rara entre os hindus, que não comem carne de bovinos, e a Tênia solium, entre
os judeus por não comerem carne de suínos.
A América latina tem sido apontada por vários
autores como área de prevalência elevada. No Brasil a cisticercose tem sido
cada vez mais diagnosticada, principalmente nas regiões Sul e Sudeste.
A baixa ocorrência de Cisticercose em algumas
regiões do Brasil, como por exemplo, Norte e Nordeste pela falta de notificação
ou tratamento em grandes centros, como São Paulo, Curitiba, Brasília, Rio de
Janeiro, dificultando a identificação da procedência do local da infecção.
Segundo dados da Fundação Nacional da Saúde/
Centro Nacional de Epidemiologia (FNS/CENEPI – 1993) o Brasil apresentou um
total de 973 óbitos por causa da Cisticercose no período de 1980 a 1989.
Tanto a Taenia saginata, como a Taenia solium tem uma larga distribuição em
nosso país, devido às precárias condições de higiene de nosso povo, método de
criação extensiva de animais e do mal hábito de se comer carne pouco cozida ou
assada. Em várias regiões do país, é comum criar-se o porco solto ou confinado
perto das habitações, onde a privada ou esgoto abre-se diretamente nas
pocilgas.
Da mesma forma, quer defecando nos pastos,
quer defecando em vasos sanitários cujo esgoto deságua em riachos que servirão
de fonte de água, bovinos se infectam facilmente ao pastar ou beber em
ambientes contaminados.
SINTOMATOLOGIA
TENÍASE
:
Apesar de ser a Taenia popularmente conhecida
como solitária, indicando que o hospedeiro alberga apenas um parasito, na
pratica o que se observa são pessoas infectadas com mais de uma Taenia da mesma
espécie.
Devido ao longo período em que a Taenia
solium ou a Taenia saginata parasita o homem, elas podem causar fenômenos
tóxicos e alérgicos, através de substâncias excretadas, provocar hemorragia
através de fixação na mucosa, destruir o epitélio e produzir inflamação com
infiltrado celular com hipo ou hipersecreção de muco.
O acelerado crescimento do parasito requer um
considerável suplemento nutricional, que leva à uma competição com o
hospedeiro, provocando consequências maléficas para o mesmo. Tontura, astenia
(fraqueza muscular), apetite excessivo, náuseas, vômitos, alargamento do
abdômen e perda de peso são alguns dos sintomas observados em decorrência da
infecção.
CISTICERCOSE:
Os fatores determinantes das manifestações
clínicas estão na dependência da localização, tipo morfológico, número e fase
de desenvolvimento, dos cisticercos e da resposta imunológica do hospedeiro. Da
conjunção desses fatores resulta um quadro pleumórfico, com uma multiplicidade
de sinais e sintomas neurológicos.
A Neurocisticircose ou a cisticercose ocular,
em particular, são responsáveis por várias alterações. Estima-se que de cada
100.000 pessoas no mundo, 100 apresentam neurocisticercose , e 30 cisticercose
ocular.
Embora haja com frequência tropismo para o
SNC, globo ocular e seus anexos, onde apresenta maior gravidade, pode também
localizar-se nos tecidos subcutâneos, músculos, pulmões, coração, baço, fígado
e etc.
Neurocisticercose: As localizações
mais frequentes dos neurocisticercos são leptomeninge e córtex (substância
cinzenta); no cérebro e medula espinhal já são mais raros. Em geral, as
manifestações clinicas aparecem alguns meses após a infecção
As lesões presentes nos hemisférios
ventrículos e na base do cérebro, podem causar dores de cabeça, com vômitos,
ataques epiléticos, desordem mental, com formas de delírio, prostração e
alucinações, hipertensão intracraniana, sendo esta última muito comum, podendo
levar aos raros casos de demência por Cisticercose.
No período de elevada hipertensão cranial, a
visão pode ser afetada. Porre também com frequência, dor de cabeça súbita,
tonturas, vômitos, variações de pulsação e respiração. Ataques epiléticos foram
observados em 413 pacientes de 450 com neurocisticercose.
Cisticercose
cardíaca:
Pode resultar em palpitações e ruídos anormais ou dispneia quando os
cisticercos se instalam nas válvulas
Cisticercose
ocular:
Sabe-se que o cisticerco alcança o globo ocular através da coróide,
instalando-se na retina. Aí cresce provocando o deslocamento da retina ou a
perfuração da mesma, atingindo o humor vítreo.
As consequências da cisticercose ocular são:
reações inflamatórias exudativas (pus), que promoverão opacificação do humor
vítreo, sinéquias, posteriores da íris, uveítes ou até pantaltamias.
Estas alterações, dependendo da extensão,
promovem a perda do olho. O parasita não atinge o cristalino, mas pode levar à
sua opacificação (catarata).
Cisticercose
muscular ou subcutânea: Pouca alteração provoca. Os cisticercos ali instalados
em geral desenvolvem uma reação local, formando uma membrana adventícia
fibrosa. Com a morte do parasito, este sempre tende a calcificar-se. Quando
numerosos cisticercos instalam-se em músculos esqueléticos, podem provocar dor
(quer estejam calcificados ou não), especialmente quando localizados nas
pernas, região lombar, nuca, etc. além afadiga e cãibras.
DIAGNÓSTICO
TENÍASE:
A Teníase tem geralmente, ocorrência
subclinica sendo muitas vezes não diagnosticadas através de exames coprológicos,
devido a forma de eliminação deste helminto. Para o diagnóstico específico há
necessidade de se fazer a “tamização” (lavagem em peneira fina) de todo bolso
fecal, recolher as proglotes porventura existentes e identificá-las pela
morfologia da ramificação uterina (pouco números e dendríticas para Tênia
solium, e Taenia saginata).
CISTICERCOSE
:
O diagnóstico é realizado através da biopsia
tecidual, cirurgia cerebral, testes imunológicos no soro e líquido
céfalorraquiano, por exames de imagem (raios-X, tomografia computadorizada e
ressonância magnética).
Nos casos de localização no DNC ou infecções
maciças na musculatura esquelética, o diagnóstico cardiológico pode auxiliar o
diagnóstico clínico, mas ato constitui problema, isto porque s parasitas nem
sempre são evidenciáveis, havendo necessidade dos cisticercos estarem
calcificados para melhor detecção dos raios x. A tomografia computadorizada é
um método novo e que está sendo utilizada com grande sucesso para visualização
e localização dos cisticercos no cérebro.
TRATAMENTO
TENÍASE:
O tratamento da Teníase é realizado através
de anti-helmintos com resultados bastante eficientes. Os mais usados são:
Praziquantel
(cestox):
Usado na base de 4 comprimidos de 150 mg (isto é 5 mg/Kg) uma dose única tem
produzido até 100 de cura. Os efeitos colaterais são: Cefaleia, dor de
estômago, náusea se tonturas, porém com pouca duração.
Albendazol; Posologia; 400 mg
por 3 dias. Eficácia: 90 a 95 % de cura. Assim como o Praziquantel esse
medicamento desencadeia alguns efeitos colaterais: cefaleia, tonturas, etc.
Também de pouca duração.
Mebendazol; `e mais acessível,
tem grande espectro, atuando sobre vários outros helmintos, é nematocida.
Posologia: tanto para adulto quanto para crianças independente do peso corporal,
administra-se, por via oral 200 mg, duas vezes ao dia durante 4 dias. Eficácia
de 80 a 90%. Efeitos adversos: Dor abdominal e diarreia.
CISTICERCOSE:
Para o tratamento de cisticercose vem sendo
utilizado o Albendazol e praziquantel, este como nome de “cisticide”, que é
apresentado em comprimidos de 500 mg. Apesar do medicamento atuar contra o
cisticerco cerebral, muscular, e subcutâneo, só se recomenda sua administração
em hospitais, pois após a morte do cisticerco podem ocorrer reações inflamatórias
locais graves, onde há necessidade de doses altas de corticoides com a
assistência médica especializada.
Dependendo da localização número de
cisticercos presentes no homem, o tratamento cirúrgico (especialmente a
neurocisticircose) é recomendável. Entretanto, incluindo o diagnóstico,
internação anestesia e cirurgia, do ponto de vista social, o preço é caríssimo,
pois com o dinheiro daria para montar um belo serviço de profilaxia.
PROFILAXIA
Sendo o porco coprófago por natureza, a
construção de prossigas para abrigar os animais; uso de latrinas ligadas às
redes de esgotos, ou fossa sépticas; tornando inacessíveis aos suínos, e
bovinos os excrementos humanos, tratamento do homem infectado e a distribuição
pelo logo de exemplares de tênias adultas eliminada, constituem excelentes
medidas de controle dirigidas no sentido de impedir a infecção dos hospedeiros
intermediários.
As medidas de inspeção de carcaças nos
matadouros e seriedade de os critérios adotados na seleção da carne para o
consumo humano são medidas de grande valor. Segundo a OMS, o critério para se
aproveitar ou não uma carcaça no matadouro é o seguinte: de 1 a 5 cisticercos a
carcaça pode ser consumida, desde que congelada a –5ºc por 350 horas ou -15ºc
por 48 horas, de 6 até 20 cisticercos a carcaça só poderá ser consumida se for
tratada em enlatados, e cozida a 120º c durante uma hora; acima de 20
cisticercos, descartada.
Mas as medidas definitivas que permitem a
profilaxia efetiva destes parasitas são:
v
Impedir
o acesso do suíno e do bovino ás fezes humanas. Tratamento em massa dos casos
humanos positivos para teníase. Orientar a população para não se comer carne
mal passada, ou cozida.
CONCLUSÃO GERAL
Um fator responsável pela grande incidência
de teníase em nosso meio é a deficiência ou ausência de um serviço de inspeção
de carnes. Em todo o país (exceto, talvez o Rio Grande do Sul) só se faz
inspeção de matadouros de bovinos e suínos nos grandes centros. Nas demais
cidades e vilas, os animais são abatidos e vencidos pelos próprios açougueiros
e fazendeiros, sem nenhum critério de descartar as carcaças positivas, isto é,
com “canjiquinhas”.
Em cima, como vimos apesar das teníases e cisticercose
humana serem graves, de longas datas conhecidas, largamente encontradas em
nosso meio e com fatores epidemiológicos bem esclarecidos, muito pouco ou quase
nada tem sido feito para conseguir-se a sua profilaxia. É mais um exemplo
típico de país subdesenvolvido, onde o interesse em saúde pública e educação
sanitária são renegados ao último item de
pelos diversos governos.
FONTE
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância
em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E
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ResponderExcluirDesde já agradeço a atenção de todos.
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