VERMINOSES : ESTRONGILOIDÍASE
ESTRONGILOIDÍASE
AGENTE
ETIOLÓGICO
A estrongiloidíase tem como agente etiológico
o Strongyloides stercoralis, descoberto por Normand, em 1876, nas fezes de
pacientes portadores do quadro diarreico, provenientes da Cochinchina. É
parasito do ciclo evolutivo assaz complexo, com dupla modalidade biológica,
isto é, uma forma parasitária e outra vida livre. Na sistemática, pertence à
superfamília Rhabdiasoidea com um único gênero que interessa à patologia
humana, o Strongyloides stercoralis. É parasito habitual do intestino delgado,
do duodeno e do jejuno, ocasionalmente da mucosa gástrica e dos segmentos
cólicos.
A fêmea mede cerca de 2,5 mm de comprimento,
corpo afilado, boca com três lábios e vulva no terço posterior do corpo, são
ovíparas e o ovo, quando expulso, contém uma larva que é sempre encontrada nas
fezes recentemente eliminadas; formas de vida livre consistindo em larvas
rabtidóides, filarióides, fêmeas e machos.
Os machos medem 0,7mm de comprimento, boca,
es6ofago e vestíbulo idênticos à fêmea, extremidade posterior delgada e curva
ventral.
A fêmea parasita tem como habitat o duodeno e
o jejuno, infiltrando-se através da sua mucosa; entretanto, em certas
eventualidades pode ser encontrada na mucosa gástrica e cólon.
FORMA DE
TRANSMISSÃO
A penetração das larvas infestantes ocorre
através da pele ou mucosa, tal como as larvas dos ancilostomídeos. Atinge a
corrente sanguínea, o coração direito, e, pelas artérias pulmonares, o pulmão.
Neste órgão atravessam a parede dos capilares, atingem os alvéolos,
dirigindo-se para os brônquios, em direção à traqueia, faringe e esôfago e, uma
vez deglutidos, passam pelo estômago, indo localizar-se no duodeno e na porção
alta do jejuno. Após 17 a
25 dias da infestação, os ovos embrionados são eliminados, bem como as larvas
rabditóides. Além da infestação pela larva proveniente do meio exterior, pode
dar-se a autoinfestação, à semelhança do que é conhecido para outros parasitos.
Assim, descrevem-se duas modalidades;
a) A autoexoinfestação, que consiste na
infestação da pele da região anal e perianal pela larva filaróide, pouco antes
eliminada sob a forma rabditóide e que, pelas condições pouco higiênicas,
permaneceram nessas regiões proporcionando tal possibilidade;
b) A auto-endoinfestação, que consiste no
encontro de larvas rabditóides na parede intestinal, à semelhança do que
acontece nas experimentações em cães.
HOSPEDEIRO
O homem é o mais importante hospedeiro desta
helmintíase, mas já encontro o cão infestadas por larvas, morfológicas e
fisiologicamente indistinguíveis.
DISSEMINAÇÃO
A maior prevalência de estrongiloidíase tem
sido verificada entre os 5 e 20 anos, embora já tenha sido assinalada em
crianças com menos de 1 ano de idade e em adultos com mais de 70.
As condições precárias de higiene, tratamento
inadequado das fezes, poluição do solo e hábitos pouco recomendáveis favorecem
a autoinfestação, conferindo a esta parasitose a possibilidade de se arrastar
por longo e indeterminado tempo.
SINTOMATOLOGIA
A sintomatologia dominante refere-se às
alterações intestinais, com repercussão para todo o organismo, na dependência
também das associações parasitárias, grau de infestação, estado de nutrição e
outras causas diversas. É mister lembrar a possibilidade de autoinfestação endo
e exógena, que mantém esta parasitose por tempo indeterminado.
De acordo com a patogenia, esquematicamente,
podemos considerar os seguintes grupos de sintomas: cutâneos, bronco pulmonares,
gastrintestinais e gerais.
Sintomas
cutâneos – Relacionam-se
à penetração das larvas infectantes através da pele e tegumento, sendo na
maioria das vezes discretos e inconstantes. Trata-se das alterações
urticariformes, prurido, edema e eritema.
Sintomas
broncopulmonares – Os sintomas mais frequentes são a tosse e a
expectoração, de pequena intensidade e curta duração. Na eventualidade de uma
infestação maciça e de longa duração, com possibilidade de novas progênies, a
sintomatologia se agrava, com aparecimento de febre, expectoração hemoptóica e
dor torácica, caracterizando um quadro de pneumonia e mesmo broncopneumonia.
Outras vezes sobrevêm quadros asmatiformes, em virtude da sensibilização
determinada por esse parasito, bem como a verificação de infiltrados pulmonares
transitórios.
Sintomas
gastrintestinais – São os mais diversos e variados, traduzindo-se por
alterações dos vários segmentos afetados, principalmente para o lado do duodeno
e jejuno, onde existe peculiar predileção para a localização das fêmeas
parasitas, larvas e ovos. A intensidade da sintomatologia é variável de um
indivíduo para outro e num mesmo indivíduo, desde um quadro gastrintestinal até
um quadro grave, com síndrome enterocólica que leva o paciente à espoliação
rápida.
Dos sintomas subjetivos mais frequentes são
dignos de registro a dor, o peso epigástrico, o empachamento, a pirose, a
sialorréia, o borborigmo, sintomas estes comuns a várias afecções do aparelho
digestivo. O quadro clínico doloroso, de intensidade variável, melhorando
algumas vezes com a ingestão alimentar, pode conduzir a suspeita diagnóstica de
processo ulceroso. Outras vezes a dor é difusa, em cólica, paroxística ou não
pela ingestão alimentar.
Os sintomas objetivos comuns referem-se à
presença de diarreia, disenteria, náuseas e v6omitos e, mais raramente, obstipação.
A diarreia é periódica, de intensidade e duração variáveis, na dependência não
só da presença do número de helmintos como também de outras causas, tais como
associação parasitária, dispepsias fermentativa e putrefativa, infecção
bacteriana.
Em certas ocasiões, nas infestações graves, o
quadro é de disenteria, havendo numerosas dejeções com muco, sangue e tenesmo.
Não raro, dada à evolução crônica desta moléstia, alternam-se os períodos de diarreia
e obstipação por tempo indeterminado. O estado nauseoso e o vômito são mais frequentes
na criança do que no adulto.
Sintomas
gerais – a
febre pode ser verificada por ocasião da invasão pulmonar ou mesmo na fase de
localização intestinal e decorre de invasão bacteriana da mucosa.
Perturbações nervosas, inapetência,
emagrecimento, desidratação e anemia são outras alterações que ocorrem na
vigência da estrongiloidíase, dependendo do seu grau de infestação e condições
do hospedeiro.
DIAGNÓSTICO
Clínico – A
estrongiloidíase não possui um quadro clínico próprio. Todo o seu cortejo
sintomático pode estar presente em várias outras entidades mórbidas.
Entretanto, o polimorfismo da sintomatologia gastrintestinal, a evolução
crônica, os períodos de ligeira acalmia, devem lembrar a sua possibilidade
diagnóstica. As alterações decorrentes da presença das larvas no pulmão nem
sempre são intensas de modo a chamar a atenção para a sua etiologia.
Laboratorial
–
o diagnóstico de certeza é feito pelo encontro, nas fezes, das larvas
rabditóides e, excepcionalmente, do ovo.
O exame da bile consiste num meio que oferece
alta percentagem de positividade. Entretanto, é menos prático, mais oneroso e
não oferece maior índice de positividade que o revelado pelo exame de fezes.
O exame radiológico do duodeno, jejuno e,
eventualmente, dos colons, oferecem-nos as alterações morfológicas e funcionais
desses segmentos que, se não específicas, lembram a possibilidade da sua
etiologia.
Das alterações hematológicas, a mais
constante é a eosinofilia; a anemia pode ser encontrada com alguma frequência.
A estrongiloidíase não apresenta quadro
clínico próprio. Sua sintomatologia polimorfa pode depender de outras entidades
etiológicas. As seguintes afecções gastrenterológicas devem ser lembradas no
seu diagnóstico diferencial: úlcera gastroduodenal, duodenite, shigelose,
amebíase, colite ulcerativa e, mesmo, um quadro de obstrução intestinal. Os
respectivos exames complementares confirmarão a etiologia suspeitada.
TRATAMENTO E
TERAPÊUTICA
Específico –
o
medicamento de eleição para todos os casos é o tiabendazol ou o de segunda
escolha, hoje raramente indicado, é o iodeto de ditiazanina.
Tiabendazol – é dotado de incontestável
eficácia, mesmo em esquemas de curta duração. Pode-se repetir uma segunda série
de tratamento após 1 semana de intervalo. As reações colaterais ocasionadas
pelo tiabendazol são muito comuns, pois ocorrem em 43% dos casos.
São representadas por distúrbios digestivos (anorexia,
vômitos, eructações, meteorismo, constipação intestinal), sensação de mal-estar
geral, cefaleia, tonturas sonolência. Recomenda-se a administração do
medicamento nos fins de semana, quando o paciente pode permanecer em casa e
acamar-se, se for necessário. Pela sua ação constipante, o tiabendazol pode
facilitar a autoinfecção.
Daí recomendar-se o controle cuidadoso da
exoneração intestinal na vigência do tratamento, pela administração de
laxativos, como o hidróxido de magnésio, por exemplo.
O tiabendazol não tem efeito sobre as formas
pré-patentes do parasita.
Assim sendo, a fim de combater as auto-endo e
auto-exoinfecções, com ciclos enteropulmonares, e também diminuir, em parte, a frequência
e a intensidade dos efeitos secundários, foram recomendados esquemas
terapêuticos com doses diárias menores, durante tempo de administração mais
prolongado.
Uma dose diária de 500mg durante 25 a 30 dias teria por
finalidade erradicar definitivamente o parasitismo. Contudo, a necessidade
dessas administrações prolongadas é excepcional, pois na generalidade dos casos
obtêm-se elevadas percentagens de curas com os curtos esquemas inicialmente
indicados. A administração prolongada do tiabendazol fica reservada para os
raros casos de fracassos com os tratamentos iniciais.
Iodeto de ditiazanina – antes do advento do
tiabendazol, era o iodeto de ditiazanina a droga mais útil na estrongiloidíase.
FONTE
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde,
Departamento de Vigilância Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. GUIA DE BOLSO, 6ª
edição revista Série B. Textos Básicos de Saúde, brasília / DF, 2006
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