TECNOLOGIA
FARMACÊUTICA HOSPITALAR
EMULSÕES
Os sistemas emulsionados são uma forma
farmacêutica semi-sólida heterogênea constituída por 2 líquidos imiscíveis um
no outro, em geral água e componentes graxos, sob a forma de pequenos glóbulos
chamados de gotículas, sendo que a formação destas gotículas é obtida à custa
de um agente emulsivo.
De acordo com a consistência as F.F emulsões
podem ser classificadas em cremes, loções e leites.
A água e o óleo são componentes naturalmente
e mutuamente insolúveis, portanto a necessidade de um componente (tensoativo)
que adsorva nas interfaces e tenha afinidade por ambas, a fim de evitar a
separação das fases, com a função de estabilizar a emulsão.
Uma emulsão possui basicamente duas fases,
uma interna e outra externa. O fator determinante para identificar as duas
fases e a solubilidade do tensoativo empregado.
VANTAGENS
E DESVANTAGENS DAS EMULSÕES
Nas emulsões o fármaco pode estar dissolvido
ou suspenso nas fases aquosa ou na oleosa, e esta versatilidade é uma das
principais vantagens das emulsões. Como vantagens as emulsões apresentam,
ainda:
a) Aumento da estabilidade química em
solução;
b) Possibilidade de se solubilizar o fármaco
na fase interna ou externa;
c) Possibilidade de mascarar o sabor e o odor
desagradável de certos fármacos através de sua solubilização na fase interna;
d) Possibilidade de se aperfeiçoar a
biodisponibilidade;
e) Boa biocompatibilidade com a pele humana.
ENTRE
AS DESVANTAGENS, DESTACAM-SE:
a) Baixa estabilidade física ou
físico-química;
b) Menor uniformidade
TENSOATIVOS,
OU AGENTES EMULSIFICANTES
Os tensoativos, ou agentes emulsificantes
auxiliam na produção de uma dispersão estável, pela redução da tensão
interfacial e consequente manutenção da separação das gotículas dispersas,
através da formação de uma barreira interfacial.
Os tensoativos têm um grupamento polar
(hidrofílico) que é orientado em direção a água e um grupamento apolar (lipofílico)
que está direcionado ao óleo.
O tipo de emulsão é determinado pela
solubilidade do agente emulsificante:
a) Se o tensoativo é mais solúvel em água,
então a água será a fase contínua, consequentemente se formará uma emulsão do
tipo o/a;
b) Se o tensoativo é mais solúvel em óleo,
então o óleo será a fase continua, consequentemente se formará uma emulsão do
tipo a/o;
O estearato de sódio é um tensoativo com
características aniônicas. O fator determinante da solubilidade de um
tensoativo são as suas características polares ou apolares.
Note que quanto menor a tensão interfacial
entre os dois líquidos, menor será o trabalho exercido no processo de
emulsificação.
Por exemplo, o trabalho (W) para se preparar
uma emulsão sem o tensoativo é de 34 Joules, enquanto na presença do
tensoativo, o trabalho cai para 0,6Joules.
O processo de emulsificação permite a
dispersão de um liquido em outro, sendo um hidrófilo e o outro lipófilo, de
forma que o sistema fique estável, mesmo depois no estado de repouso.
Este processo se dá pela adição de um
tensoativo, também chamado de emulsificante ou surfactante.
O
PROCESSO PODE SER EXPLICADO POR 2 TEORIAS:
DIMINUIÇÃO
DA TENSÃO INTERFACIAL
Neste processo ocorre a diminuição da energia
necessária para dispersar um líquido no outro.
Quando por agitação se dissolve um composto
oleoso em um composto aquoso, estes formam glóbulos de variados tamanhos, os
quais possuem uma energia livre (energia livre de Gibbs) muito maior que em seu
estado inicial, pois a sua área de contado aumentou consideravelmente.
Naturalmente, estes glóbulos tende-se a se
unirem novamente, voltando assim ao seu estado inicial e diminuído a energia
livre.
O tensoativo age justamente na preservação
destes pequenos glóbulos, impedindo a coalescência entre as partículas,
adsorvendo-se na superfície globular.
Sendo assim, a tensão entre as faces das
gotículas ficam menor e por consequência ocorre a formação das duas fases.
TEORIA
DA PELÍCULA OU FILME
Já neste processo, forma-se um filme de tensoativos
entre as gotículas de uma das fases, que se orienta para formar uma barreira
física entre um glóbulo e outro.
Quanto menor a tensão interfacial entre dois
líquidos imiscíveis (água/óleo) maior é a facilidade de emulsioná-los.
Desta forma é necessária a presença de um
terceiro componente que possua afinidade pelas duas fases, e a propriedade de
migrar, adsorver e de acumular na interface para reduzir a tensão interfacial
entre as duas fases e facilitar a formação da emulsão.
Esse componente é conhecido como Emulsionante
ou Tensoativo ou Surfactante
Como os dois componentes básicos de uma
emulsão é a água e o óleo, podemos classificar em dois tipos distintos, de
acordo com a natureza da respectiva fase dispersa, ou interna.
A fase em que o tensoativo for mais solúvel
determina a fase Externa.
Sendo assim, as emulsões se dividem em
simples e múltiplas.
DIVISÃO
SIMPLES
O/A – óleo em água: fase interna
(descontínua) formada por gotículas de óleo envoltas pela fase aquosa
(contínua); podem ser lavadas facilmente;
A/O – água em óleo: fase interna
(descontínua) formada por gotículas de água, envolta por uma fase oleosa
contínua (dispersante);
MÚLTIPLAS
A/O/A – água em óleo, em água: fase mais
interna aquosa, circundada por uma fase intermediária oleosa, e por fim, envolvida
pela fase aquosa.
O/A/O – óleo em água, em óleo: fase mais
interna oleosa, circundada por uma fase intermediária aquosa, e por fim,
envolvida pela fase oleosa.
1. Quanto à natureza química do agente
emulsionante, as emulsões podem ser classificadas em Emulsões iônicas (carga
positiva ou carga negativa) ou Emulsões Não-iônicas (sem cargas).
2. Quanto ao tamanho das partículas da fase
interna, podem ser classificadas em macroemulsões (gotículas >400nm),
miniemulsões (gotículas entre 100 e 400nm) e microemulsões (gotículas
<100nm o:p="">100nm>
3. Quanto à consistência podem ser
classificadas em cremes (viscosidade entre 8.0 a 20.0 cps), loções (2.0 a 7.0
cps) e leites (1.0 e 2.0 cps)
CLASSIFICAÇÃO
DOS TENSOATIVOS
1.
ANIÔNICOS
Em soluções aquosas sofrem dissociação, onde
o ânion é o radical ácido que na água se separa do cátion, ficando assim ânion
formado pela cadeia e carbono (lipofílica) e o radical (p.ex. Carboxílico
COO-). A parte dissociada, neste caso o Na+ fica com carga positiva.
São bastante usados em detergentes, shampoos,
cremes e sabonetes líquidos.
São exemplos o lauril sulfato de sódio,
estearato de sódio, palmitato de sódio, além das bases autoemulsionantes, como
Lanette N (mistura de álcool cetoestearílico e cetiestearil sulfato de sódio) e
Lanette WB.
OBSERVAÇÃO:
É indispensável conhecer o caráter iônico dos
produtos químicos, pois a mistura inadequada pode resultar em ppt
(precipitação)
v produtos
catiônico + produto aniônicos = incompatível (ppt)
v produtos
catiônico + produto não iônicos = compatível
v produto
aniônico + produtos não iônicos = compatível
BASES
AUTO-EMULSIONÁVEIS ANIÔNICAS
Agente de consistência + Emulsionante
v Lanette N
– álcool cetoestearílico/ cetilestearil sulfato de sódio • LanetteWB – álcool
cetoestearílico/ laurilmiristil sulfato de sódio
v Chembase
LN – álcoois graxos/ alquil sulfato
v Cutina KD
16 – monoestearato de glicerila/ estearato de sódio
v Lipal GMS
AE – monoestearato de glicerila/ estearato de sódio
v Crodafos
CES- álcool cetoestearílico/ fosfato de cetostearil
2.
CATIÔNICO
Em soluções aquosas sofrem dissociação, a
parte hidrofílica ou polar da molécula é aniônica (possui carga negativa),
Contudo, são bem mais irritantes que os tensoativos aniônicos e não-iônicos.
Os exemplos clássicos são os sais de
quartenário de amônio como o Cloreto de cetiltrimetilamonio e o metossulfato
beheniltrimetiamônio e bases auto-emulsionantes como o Incoquat (mistura de
álcool cetoestearílico e beheniltrimetiamônio).
Os grupos mais comuns são os grupos amínicos
(freqüentemente encontrados nos amaciantes);
3.
NÃO-IÔNICO
Quando em solução aquosa não sofre
dissociação, portanto não liberando cargas. Indiscutivelmente revestem a maior
importância da cosmética moderna.
São exemplos o álcool cetoestearílico, álcool
cetílico e estearílico (etoxilados ou não), MEG, TWEEN, SPANS, Polawax,
Cosmowax, Crodabase, etc.
BASES
AUTO-EMULSIONÁVEIS NÃO-IÔNICAS
Agente de consistência + Emulsionante
v Polawax –
álcool cetoestearílico/ monoestearato de sorbitano (20EO) • Paramul J – álcool
cetoestearílico/ álcool cetoestearílico (20 EO)
v Chembase
SP – álcoois graxos/ emulsionantes etoxilados
v Cosmowax
J– álcool cetoestearílico/ alcool cetoestearílico (20EO)
v Arlacel
165F – Estearato de glicerila/ácido esteárico 100EO
v Croda base
CR2 – Cera auto-emulsionante completa- álcool cetoestearílico/ álcool
cetoestearílico 20 EO+
ÂNFÓTEROS
Dependendo do meio, podem assumir caráter
catiônico ou aniônico.
FLOCULAÇÃO
A floculação é a união de vários glóbulos da
fase dispersa (Interna) em agregados, ocorrendo devido às forças de atração.
É um fenômeno reversível. A partir de então,
podem ocorrer dois fenômenos:
1. Cremagem: ocorre quando os flocos migram
para a superfície (a velocidade de sedimentação é negativa – Lei de Stokes)
2. Sedimentação: é quando os flocos se
depositam no fundo do recipiente (a velocidade de sedimentação é positiva – Lei
de Stokes)
COALESCÊNCIA
E SEPARAÇÃO DAS FASES
Ocorre quando os glóbulos menores se
aproximam e se juntam formando um glóbulo maior, sendo que, quando todos os
glóbulos da fase dispersa se unir, haverá então a separação de fases. É um
processo totalmente irreversível.
INVERSÃO
DE FASES
Ocorre quando a fase interna passa a fazer
parte da fase interna. Está intimamente relacionado à agitação, temperatura e
ao volume das fases.
1. Ensaio de diluição:
2. Ensaio com corantes:
3. Ensaio de condutividade elétrica:
MÉTODO
POR DILUIÇÃO
Sempre que se adiciona um líquido a uma
emulsão e está continua estável, o líquido adicionado corresponde a sua fase
externa. Uma emulsão o/a pode ser diluída com a água, mas não com o óleo. Para
uma emulsão a/o é o inverso.
MÉTODO
DOS CORANTES
Coloração contínua ou coloração das
gotículas. Adiciona-se à emulsão um corante lipossolúvel em pó (Soudan I) - se
a emulsão for do tipo a/o, a coloração propaga-se na emulsão; se a emulsão for
do tipo o/a, a cor não se difunde. Temos fenômenos inversos com o uso de
corantes hidrossolúvel (eritrosina ou azul de metileno).
MÉTODO
DE PREPARAÇÃO
Para facilitar o preparo da emulsão torna-se
conveniente a acomodação dos componentes em fases:
FASE
AQUOSA
1. Veículo: água
2. Umectantes: polietilenoglicóis (ATPEG 400,
ATPEG 600), glicerina, sorbitol, polissacarídeos, etc
3. Espessantes hidrofílicos: polímeros
derivados do ácido acrílico, hidroxietilcelulose
4. Princípios ativos e promocionais
hidrossolúveis: aloe vera, extratos vegetais, vitamina E acetato, D-panenol,
etc
5. Quelantes: etilenodiamino diacetato de
sódio, citrato de sódio
6. Conservantes
7. Corantes
FASE
OLEOSA
1. Emolientes: responsáveis por
espalhabilidade do creme sobre a pele, lubrificação e hidratação da pele em
conjunto com o uso de umectantes. Exemplos de emolientes são: álcool
estearílico propoxilado (ALKOMOL E), óleo mineral, óleos vegetais, silicones,
ésteres graxos, etc.
2. Agentes de consistência ou espessantes da
fase oleosa: álcoois graxos, ésteres graxos, etc.
3. Antioxidantes: butilhidroxitolueno,
vitamina E.
4. Filtros solares/ fotoantioxidantes:
octilmetoxicinamato, benzofenonas 3 e 4.
5. Princípios ativos e promocionais
lipossolúveis: óleos vegetais
6. Fragrâncias
As emulsões semi-sólidas possuem,
necessariamente, uma fase aquosa e uma oleosa.
Cada fase da emulsão é preparada
isoladamente, aquecendo-se ambas as fases à temperatura de 70° C a 75° C.
Fase oleosa: usa-se um gral de porcelana em
banho-maria (b.m) para fundir as substâncias graxas sólidas e também o agente
emulsionante lipofílico (se houver)
v fase A;
Fase aquosa: usa-se um Becker em chapa elétrica para as substâncias
hidrossolúveis
v fase B; Verter
a fase B (aquosa) na fase A (oleosa) agitando vigorosamente até o arrefecimento
da mistura;
Substâncias voláteis devem ser incorporadas à
fundir incorporando-se depois uma fase na outra.
A dispersão da fase interna na externa deve
ser feita com ambas as fases
Para determinar precisamente a solubilidade
de um tensoativo, GRIFFIN em 1948 introduziu uma escala numérica de 1 a 50,
onde os compostos abaixo de 8 possuem características lipofílicas e acima deste
valor possui características hidrofílicas.
Os valores de EHL podem ser encontrados na
literatura em tabelas diversas. Quanto aos valores de EHL os compostos são
classificados em:
a) Agentes antiespuma 1-3 (EHL baixo)
b) Emulsificantes A/O 3-6
c) Agentes molhantes 7-9
d) Emulsificantes O/A 8-18
e) Detergentes 13-16
f) Agentes solubilizantes 16-40 (EHL alto)
BIBLIOGRAFIA
BÁSICA
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