O PROFISSIONAL FARMACÊUTICO E SUA
ATUAÇÃO NA ATENÇÃO AO PORTADOR DE ASMA
Maria Gorete Nicolette Pereira - E -mail : goreteepaixao@hotmail.com
A asma é uma doença inflamatória
crônica pulmonar que gera um elevado impacto socioeconômico, representando um
problema na saúde pública do Brasil, caracterizada por hiper-reatividade das
vias aéreas e com limitação do fluxo de ar que pode ser reversível
espontaneamente ou com tratamento. Quando não controlada, a doença pode levar
ao desencadeamento de diversos sintomas como a tosse, sibilos e o cansaço.
Esses sintomas podem se agravar frente a vários fatores. O diagnóstico desta
patologia é feita através da anamnese, exames físicos e avaliação funcional
pulmonar que buscam informar a intensidade da limitação ao fluxo aéreo. Assim
que se obtém o diagnóstico de asma, ela é classificada conforme sua gravidade,
podendo ser intermitente e persistente. O objetivo deste trabalho foi realizar
uma abordagem dos principais fatores que desencadeiam uma crise de asma,
descrevendo-se sua classificação e os tratamentos que atualmente vem sendo mais
usados, com foco nos anti-inflamatórios e broncodilatadores, detalhar os
principais sintomas, descrever sua classificação, bem como caracterizar a
importância da atuação do farmacêutico na atenção à saúde desses pacientes,
priorizando a prevenção e a utilização correta dos medicamentos, visando a uma
possível melhora na qualidade de vida para os portadores desta doença. Desta
forma, pode-se concluir que o profissional farmacêutico, atuando como educador
em saúde, pode proporcionar à população que sofre de asma, assim como aos seus
familiares, esclarecimentos quanto à patologia, à importância da utilização
correta dos medicamentos e, principalmente, à adesão ao tratamento.
Palavras-chave: Asma. Tratamento.
Atenção Farmacêutica.
ABSTRACT
Asthma is a chronic inflammatory lung
disease that creates a high socioeconomic impact, representing a public health
problem in Brazil, characterized by hyper reactivity of the airways and
restricting the flow of air that can be reversible spontaneously or with
treatment. When it is not controlled, the disease can lead to the triggering of
various symptoms such as coughing, wheezing and fatigue. These symptoms may
worsen in the face of several factors. The diagnosis of this disease is made by
history, physical examination and pulmonary function tests that seek to inform
the severity of airflow limitation. Once it gets the diagnosis of asthma, it is
classified according to their severity can be intermittent or persistent. The
objective of this work was to perform an approach of the main factors that
trigger an asthma attack, describing its classification and treatments that,
currently, are used, with a focus on anti-inflammatories and bronchodilators,
detailing the main symptoms, and describe their classification and characterize
the importance of the role of the pharmacist in health care these patients,
emphasizing prevention and correct use of medicines, aiming a possible
improvement in quality of life for patients of this disease. Thus, it is
possible conclude that the pharmacist acting as health educators can provide to
people who suffer from asthma as well as their relatives clarifications about
the pathology, the importance of correct use of drugs and especially the
adherence to treatment.
Keywords: Asthma. Treatment.
Pharmaceutical Care.
INTRODUÇÃO
A asma é definida como um distúrbio
inflamatório crônico das vias aéreas caracterizada pela falta de ar, opressão
torácica, episódios de recorrentes sibilos e tosse, e aparecem, principalmente,
à noite ou no início da manhã. Esses sintomas, geralmente, estão associados a
uma broncoconstrição e uma limitação do fluxo aéreo, sendo reversível
espontaneamente ou com tratamento (ROBINS; COTRAN, 2010).
De acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OSM), estima-se que 300 milhões de pessoas, em todo o mundo, sofrem de
asma, chegando até 250 mil casos de óbitos por ano. (CORRÊA; MELO; COSTA,
2008).
As crises em pacientes com asma
acontecem por alguns estímulos e a exposição pura e simples é suficiente para
sensibilizar. A poeira doméstica, animais criados no interior das casas, fumaça
de cigarro, predisposição genética e fatores ambientais são os principais
fatores que desencadeiam as crises em pacientes asmáticos (CORRÊA; MELO; COSTA,
2008).
Assim que é diagnosticado que um
indivíduo sofre de asma, é fundamental a elaboração de um plano terapêutico,
com o objetivo de melhorar a qualidade de vida deste paciente. A asma é
classificada por níveis de gravidade em duas classes: intermitente e
persistente, sendo esta dividida em persistente leve, persistente moderada e
persistente grave. Tal classificação permite ajustar o tratamento inicial de
acordo com as necessidades do paciente, possibilitando a otimização do
tratamento, como a escolha da melhor droga e sua dosagem, além de ajustes
necessários ao longo do tratamento (SIMÕES, et al. 2010).
A terapia convencionalmente utilizada
para o tratamento da asma consiste na utilização de duas classes
farmacológicas, os anti-inflamatórios e os broncodilatadores (CORRÊA; MELO;
COSTA, 2008).
Sem o controle adequado, a asma pode
chegar a níveis intoleráveis, interferindo assim na funcionalidade e na vida
diária de uma pessoa, causando desde uma simples debilidade para o portador a
transtornos irreversíveis ou até mesmo provocar a morte. Para isso, faz-se
necessário que cada vez mais estudos relacionados às ações de prevenção das
crises da asma e os medicamentos utilizados no tratamento, assim como opções de
terapias, sejam realizados, a fim de que os portadores de asma obtenham
informações necessárias, em tempo hábil, para que possam iniciar o tratamento
adequado, minimizando assim os efeitos provocados pela doença e consigam ter
uma qualidade de vida melhor.
Desta maneira, pretende-se neste
trabalho realizar uma abordagem dos principais fatores que desencadeiam uma
crise de asma, bem como apresentar um detalhamento dos seus principais
sintomas, descrevendo suas classificações e os tratamentos que, atualmente, vêm
sendo mais utilizados, os anti-inflamatórios e os broncodilatadores. Além
disso, o estudo teve como objetivo geral descrever a importância da atuação do
farmacêutico na atenção à saúde desses pacientes, priorizando a prevenção e a
utilização correta dos medicamentos. Nesse sentido, pretende-se contribuir de
forma a esclarecer os profissionais farmacêuticos e demais profissionais da
área da saúde, bem como a população que sofre com os sintomas da asma, sobre
como diminuir as crises que acometem um número cada vez mais crescente de
pessoas, e que em geral acontecem por alguns fatores como o frio, a poeira, a
prática de exercícios físicos e até mesmo por reações emocionais. Para que os
resultados fossem alcançados, realizou-se uma busca em artigos publicados sobre
o assunto, dos quais foram utilizados apenas as publicações em língua
portuguesa, pesquisas em livros, revistas, artigos científicos e site do
Ministério da Saúde.
1.OBJETIVOS
Demonstrar as principais formas de
tratamento referentes à asma, bem como descrever a importância do farmacêutico
na atenção à saúde destes pacientes.
Descrever quais fatores desencadeiam
uma crise de asma.
Identificar os principais sintomas de
um paciente asmático.
Analisar as classificações de
gravidade da asma.
Discutir as principais formas de
tratamento utilizadas para esta doença.
2. REVISÃO DE LITERATURA
A asma representa no Brasil um
problema de saúde pública, sendo responsável por um considerável custo social e
financeiro, fazendo com que os portadores desta doença, assim como seus
familiares, tenham uma qualidade de vida diminuída (STIRBULOV; BERND; SOLÉ,
2006).
No Brasil, é estimado que existam
cerca de 20 milhões de asmáticos. Entre os anos de 2000 a 2010, a taxa de
hospitalização devido à asma em pacientes com mais de 20 anos diminuiu 49%. Já
no ano de 2011 o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
(DATASUS) registrou 160 mil internações em todas as faixas etárias, fazendo com
que a asma se tornasse a quarta doença que mais leva pessoas a ficarem
internadas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 2012).
A asma é uma doença que tem sua
prevalência influenciada pela idade, sexo, condição social, fatores
hereditários, ocupacionais e ambientais e tem aumentado nas últimas décadas,
devido ao aumento da poluição e às mudanças nos ambientes domiciliares. O fumo
passivo pelas crianças é outro fator que contribui para o aumento do
aparecimento desta doença (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DO PIAUÍ,
2009).
2.1 Definição
A asma é uma doença pulmonar
inflamatória crônica, que é caracterizada por um estreitamento ou obstrução das
vias aéreas. Este estreitamento pode ser totalmente reversível ou parcialmente
reversível, de maneira espontânea ou com tratamentos (ROBINS; COTRAN, 2010).
Por ser uma doença inflamatória
crônica das vias aéreas, a inflamação leva à obstrução através do edema de
mucosa, que diminui o diâmetro da via aérea. A musculatura lisa brônquica que
circunda as vias aéreas sofre contrações, chamadas de broncoespasmos, gerados
pelo estado de hiper-reatividade ou hiper-responsividade, fazendo com que a
musculatura lisa dos brônquios reaja de maneira excessiva a múltiplos
estímulos, gerando também o estreitamento das vias aéreas e produção de muco
(BRUNNER; SUDDARTH, 2005).
A patogenia da asma envolve uma grande
quantidade de células como: mastócitos, eosinófilos, linfócitos T, macrófagos e
mediadores inflamatórios como a histamina, os leucotrienos, a prostaglandina
,entre outros, sendo que estes mediadores atuam sobre as vias aéreas,
promovendo broncoconstrição, secreção de muco e hiper-responsividade das vias
aéreas (STIRBULOV; BERND; SOLÉ, 2006).
2.2 Diagnósticos da Asma
Durante a respiração normal, nenhum
som pode ser audível, pois o fluxo de ar transita de maneira normal, mas
durante uma crise asmática, quando ocorre uma obstrução das vias aéreas, a
passagem do ar causará turbulência e, consequentemente, ruídos. O motivo destes
ruídos deve ser levado em consideração para a realização do diagnóstico da asma
(FLORES; LENZ, 2011).
O diagnóstico de asma é feito mediante
a avaliação funcional dos pulmões e por resultados obtidos a partir de exames
físicos e da anamnese do paciente, de maneira que se possam identificar os
critérios clínicos e funcionais (BRASIL, 2010).
Durante a anamnese, busca-se
identificar a história da doença, como, por exemplo, a idade em que o paciente
observou os primeiros sintomas, identificar quais foram os sintomas, qual a sua
frequência e intensidade, se houve necessidade de atendimento hospitalar de
emergência, assim como buscar junto ao paciente se existem fatores que possam
vir a desencadear e agravar os sintomas (FLORES; LENZ, 2011).
Os exames físicos visam a detectar a
presença de sinais de obstrução das vias aéreas, tais como sibilos, taquipneia,
uso da musculatura acessória, batimentos das asas do nariz e tiragem
intercostal. O exame físico de um portador de asma pode ser normal, o que não
exclui o diagnóstico de asma (BRASIL, 2010).
O diagnóstico desta doença é
basicamente clínico, podendo ser realizado sem o auxílio de exames
complementares; porém, estudos mostram que exames funcionais como a
espirometria, medida do pico de fluxo expiratório, testes cutâneos para
alérgenos comuns e dosagem de IgE devem ser recomendados sempre que possível, a
fim de se ter a comprovação e um melhor acompanhamento com medidas mais
objetivas (FLORES; LENZ, 2011).
A espirometria é um teste que objetiva
medir o ar que entra e sai dos pulmões, considerado o teste complementar
preferencial para o diagnóstico e controle da asma. Este teste mede o volume de
ar inspirado e expirado, os fluxos respiratórios, além de capacidades
pulmonares. O pico de fluxo expiratório (PFE) e o volume expiratório forçado no
primeiro segundo (VEF1), são medidas muito úteis de função pulmonar. A medida
da função pulmonar mais útil clinicamente é o volume expiratório forçado no
primeiro segundo (VEF1), e esta consiste na quantidade de ar eliminado no
primeiro segundo da manobra expiratório forçada. A realização e interpretação
deste exame são feitas por um médico pneumologista (PEREIRA, 2002).
Testes cutâneos confirmam a
sensibilização alérgica e são realizados utilizando extratos biologicamente
padronizados. Alérgenos inaláveis como os ácaros, pólen, epitélio de cães e
gatos e poluentes ambientais são os antígenos que predominam na sensibilização
dos doentes. A confirmação dos testes cutâneos se dá pela presença de IgE
sérica específica (FLORES; LENZ, 2011).
2.3 Fatores que Desencadeiam uma Crise
de Asma
Os pacientes asmáticos apresentam uma
característica que é bastante visível, a sensibilidade nas vias aéreas
desencadeada por uma série de fatores como o frio, alérgenos, irritantes
respiratórios, contribuições ambientais (pó doméstico, pelo de animais, fumaça
de cigarro, ácaros, mofo), infecções do trato respiratório, estresse emocional
e a hiperventilação durante os exercícios físicos que podem implicar no
desenvolvimento dos sintomas da asma. Esta mudança na sensibilidade do paciente
asmático é denominada hiper-responsividade (DINWIDDIE, 1992).
2.4 Manifestações Clínicas
Todas as manifestações que se
apresentam durante uma crise de asma são, principalmente, devido ao processo
inflamatório desencadeado. Este processo inflamatório levará a um aumento da
quantidade de sangue no local, a uma maior migração dos leucócitos para a área
afetada, assim como um aumento da permeabilidade capilar. (CONSELHO REGIONAL DE
FARMÁCIA DO ESTADO DO PIAUÍ, 2009).
Uma ampla variedade de manifestações
clínicas pode ser observada em pacientes com asma. Os sintomas vão desde as
sibilâncias ocasionais, que ocorrem em resposta a uma infecção do trato
respiratório, até outras com sintomas diários, com obstrução crônica das vias
aéreas, causados por muitos fatores intrínsecos e extrínsecos (DINWIDDIE,
1992).
Os sintomas dependem da gravidade da
obstrução; no entanto, os mais evidentes e importantes são a tosse, dispneia e
sibilos. A tosse é um sintoma constante do paciente asmático e acontece devido
ao aumento da resistência do fluxo de ar nas vias aéreas, podendo se agravar,
principalmente, no período noturno e após o paciente ter realizado grandes
esforços. A dispneia relatada pelos pacientes trata da sensação do esforço
respiratório aumentado, que ocorre devido ao aumento da atividade da
musculatura inspiratória, a fim de vencer o estreitamento das vias aéreas. Os
sibilos são sons que acontecem devido às oscilações das paredes das vias aéreas
estreitadas, durante a passagem do ar na expiração. Sibilos ausentes na crise
asmática sugerem níveis muito baixos do fluxo de ar, sinalizando uma
advertência de gravidade. (ROBINS; COTRAN, 2010).
2.5 Classificações de Gravidade da
Asma
Para que se tenha um tratamento
adequado, é necessário conhecer a gravidade da doença, identificada com a
presença de sintomas, limitações de atividade física, alterações de função
pulmonar e idas aos serviços de emergência (SOLÉ et al.1998).
A principal função para se classificar
a gravidade da asma é a determinação das doses dos medicamentos e a principal
meta do uso das medicações é o controle da doença (STIRBULOV; BERND; SOLÉ,
2006).
A asma pode ser classificada em
intermitente e persistente, sendo que a persistente pode ser leve, moderada ou
grave. Na asma intermitente, os sintomas, os despertares noturnos, as
exacerbações e a necessidade de agentes beta2- agonistas para alívio são raros
e os valores previstos dos picos de fluxos expiratórios (PFE) são maiores ou
iguais a 80%. (TARANTINO, 1997).
Os indivíduos que apresentam sintomas
característicos da asma, mais de uma vez por semana, porém não diariamente, com
exacerbações durante a atividade física e de curta duração são considerados
portadores de asma persistente leve. Estes pacientes geralmente não precisam ir
ao pronto socorro ou emergências durante as crises, pois são facilmente
controladas com broncodilatadores e os valores do pico de fluxo expiratório
(PFE) são superiores a 90%. (SOLÉ, et al.1998).
Os portadores de asma persistente
moderada caracterizam-se por sintomas que aparecem mais de uma vez por semana,
com crises que duram mais de um dia ao mês, porém não se faz necessário o uso
de corticosteroides para controle e internações. Estes pacientes fazem uso de
broncodilatadores para aliviar os sintomas, mais de duas vezes por semana. Os
valores do pico de fluxo expiratório (PFE) estão geralmente abaixo de 90%.
(STIRBULOV; BERND; SOLÉ, 2006).
Os pacientes que apresentam sintomas
contínuos e noturnos, necessitando de internações, fazem uso frequente de
corticosteroides oral ou parenteral, usam broncodilatadores mais de duas vezes
por dia para aliviar os sintomas, são considerados portadores de asma grave.
(SOLÉ, et al 1998).
QUADRO
1- Classificação da gravidade da asma
Manifestações
clínicas
|
Gravidade
|
|||
Intermitente
|
Persistente
leve
|
Persistente
moderada
|
Persistente
grave
|
|
Sintomas
|
2x/semana
ou menos
|
Mais
de 2x/semana, mas não diariamente
|
Diários
|
Diários
ou contínuos
|
Despertares
noturnos
|
2x/semana
ou menos
|
3-4x/mês
|
Mais
de 1x/semana
|
Quase
diários
|
Necessidade
de beta-2-agonista adrenérgico para alívio
|
2x/semana
ou menos
|
Menos
de 2x/semana
|
Diários
|
Diária
|
Limitação
de atividades
|
Nenhuma
|
Presente
nas exacerbações
|
Presente
nas exacerbações
|
Contínua
|
Exacerbações
|
Igual
1/ano ou nenhuma/ano
|
Igual
ou mais de 2/ano
|
Igual
ou mais de 2/ano
|
Igual
ou mais de 2/ano
|
VEF(1)
ou
PFE
|
Igual
ou maior de 80% do previsto
|
Igual
ou maior de 80% do previsto
|
60%-80%
do previsto
|
Igual
ou menor de 60% do revisto
|
Variação
VEF(1) ou PFE
|
Abaixo
de 20%
|
20%-30%
|
Acima
de 30%
|
Acima
de 30%
|
FONTE: STIRBULOV, BERND, SOLÉ, 2006,
p.228
2.6 Tratamento
O tratamento de um paciente asmático
pode variar, dependendo da severidade da doença. Primeiramente, deve-se
discutir com o paciente e com sua família os fatores que causam o problema,
esclarecendo-os sobre a seriedade da doença e possibilidade de melhoras dos
sintomas. Medidas devem ser adotadas para que a exposição deste paciente aos ácaros,
poeira doméstica, penas e pelos de animais seja evitada. Estes cuidados reduzem
os fenômenos inflamatórios. É necessário que a família e o paciente compreendam
que fatores emocionais podem vir a desencadear uma crise asmática (DINWIDDIE,
1992).
Os objetivos do tratamento da asma são
bem definidos e visam controlar os sintomas da doença, reduzir ao máximo a
frequência de exacerbações, normalizar as funções pulmonares durante a prática
de exercícios físicos, prevenir o aparecimento de obstruções irreversíveis das
vias aéreas, desta maneira diminui-se a mortalidade por asma (SOLÉ, et
al.1998).
O tratamento farmacológico é escolhido
de acordo com a gravidade da doença, de maneira que atenda as variações
interpessoais. Os medicamentos utilizados para o tratamento da asma englobam os
controladores ou profiláticos e os sintomáticos ou aliviadores. Os medicamentos
utilizados para manter o controle da doença são os controladores ou
profiláticos e os medicamentos que atuam aliviando a broncoconstrição rapidamente
são os chamados de sintomáticos ou aliviadores (MOURA; CAMARGOS; BLIC, 2002).
Existem duas categorias de fármacos
que são utilizadas no tratamento da asma: os broncodilatadores e os
anti-inflamatórios Os principais fármacos utilizados como broncodilatadores são
os agonistas dos receptores adrenérgicos ß2, xantinas, antagonistas dos
receptores de leucotrienos e antagonistas dos receptores muscarínicos. Os
principais fármacos usados como anti-inflamatórios na asma são os
glicocorticoides e as cromonas (RANGE; DALE, 2007).
Os medicamentos utilizados como
controladores da asma podem ser administrados por via oral ou inalatória. Estão
inclusos entre estas drogas os glicocorticoides inalatórios, as metilxantinas,
os ß2-agonistas, as cromonas e os modificadores de leucotrienos (MOURA;
CAMARGOS; BLIC, 2002).
As metilxantinas produzem a
broncodilatação, pois produzem a inibição da enzima fosfodiesterase, acumulando
o AMPc (adenosina monofosfato cíclico). Isso aumenta os níveis de AMPc nas
células da musculatura lisa dos brônquios e nas células inflamatórias,
facilitando a transdução dos sinais. Outro mecanismo de ação proposto é a
inibição dos receptores de adenosina, que causam contração do músculo liso das
vias aéreas e causa a liberação de histaminas (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA,
2004).
As três metilxantinas importantes são
a teofilina, teobromina e cafeína. Estas drogas podem ser encontradas
naturalmente no café, chá e chocolate. A teofilina é o broncodilatador que
possui maior eficácia entre as metilxantinas (KATZUNG, 1998).
Os agonistas dos receptores ß2
constituem a primeira opção para alívio de sintomas da asma, sendo o
medicamento de primeira escolha, em todos os estágios da doença, por terem
rápido início de ação. O seu uso induz a broncodilatação, aliviando as crises
de dispneia e tosse e controla os sintomas noturnos. Esta classe de fármaco é
utilizada, combinada aos glicocorticoides inalados, sendo também utilizado como
tratamento profilático das crises de asma causadas por exercícios físicos.
(MOURA; CAMARGOS; BLIC, 2002).
Os agonistas dos receptores ß2 atuam
estimulando os receptores ß2 adrenérgicos na membrana celular, resultando no
aumento do AMPc, que causa relaxamento da musculatura lisa e causa a inibição
dos mediadores inflamatórios (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA,2004).
Existem duas categorias dos agonistas
dos receptores ß2: os agentes de curta duração e os de ação mais longa. O
efeito máximo causado pelos agentes de curta duração ocorre em trinta minutos,
e sua ação dura de três a cinco horas, administrados por inalação. São fármacos
utilizados para o alívio das crises, sendo exemplos desta classe o salbutamol e
a terbutalina. Os agentes de ação mais longa possuem uma duração de oito a doze
horas, administrados por inalação, regularmente, duas vezes ao dia. Esta classe
farmacológica é utilizada de maneira profilática, buscando manter o controle da
doença. Geralmente complementa o tratamento com glicocorticoides, quando a asma
já esteja inadequadamente controlada. O salmeterol e o formoterol são exemplos
de fármacos desta classe (RANGE; DALE, 2007).
Os antileucotrienos ou antagonistas de
leucotrienos são fármacos que inibem os broncoespasmos, a permeabilidade
vascular e a produção de muco, pois estas drogas não permitem que a sinalização
celular promovida pelos agentes espasmódicos seja desencadeada (CORRÊA; MELO;
COSTA, 2008).
Por serem os leucotrienos
broncoconstritores, derivados do ácido araquidônico e estarem envolvidos em
muitas doenças inflamatórias, drogas que bloqueiam a interação dos leucotrienos
com os receptores, promovem a broncodilatação (KATZUNG, 1998).
Os antagonistas dos receptores
muscarínicos são utilizados também como broncodilatadores, pois impedem que a
acetilcolina provoque a contração do músculo liso e a produção de mucosidade
excessiva dos brônquios (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2004).
Esta classe de fármaco tem como
principal representante o ipratrópio, que é administrado por inalação de
aerossol. Seu efeito máximo acorre em, aproximadamente, trinta minutos, durando
de três a cinco horas. Os efeitos colaterais desta classe de medicamento são
poucos, tornando-se desta forma seguro e bem tolerado pelos pacientes (RANGE;
DALE, 2007).
A classe medicamentosa das cromonas
tem como representante o nedocromil sódico e o cromoglicato dissódico. Estas
drogas mostraram-se capazes de impedir o aparecimento das crises asmáticas
induzidas por exercícios físicos, protege da broncoconstrição devido ao uso de
aspirina. Ambos os fármacos apresentam efeito benéfico contra as crises
causadas pelo ar frio (SOLÉ, et al.1998).
Estes fármacos inibem a liberação por
parte dos mastócitos, de substância inflamatória e fazem com que as vias aéreas
sejam menos propensas a contrair-se. São drogas úteis para prevenir as crises,
usadas de forma profilática (KATZUNG, 1998).
Os glicocorticoides são as drogas
anti-inflamatórias de primeira escolha por serem recomendadas em qualquer
estágio de gravidade da doença. Este medicamento possui um alto poder
anti-inflamatório Os glicocorticoides inalados apresentam bons resultados no
tratamento, independentemente da gravidade em que a doença se encontra. Atuam
melhorando a função pulmonar, diminuindo as crises de exacerbações e,
consequentemente, diminuem a quantidade de hospitalizações por asma. (SOLÉ, et
al.1998).
A classe de medicamentos dos
glicocorticoides produz um aumento no calibre das vias aéreas, quando
administradas por algum tempo em pacientes com asma. Este aumento do calibre
das vias aéreas potencializa os efeitos dos antagonistas dos receptores de ß2,
também atuam inibindo a resposta inflamatória das vias aéreas, por inibirem a
liberação do ácido araquidônico pelas membranas celulares (KATZUNG, 1998).
No entanto, o uso prolongado dos
glicocorticoides produzem alguns efeitos adversos como a diminuição da
capacidade de cura das feridas, desenvolvimento insuficiente do crescimento em
crianças, perda de cálcio dos ossos, Síndrome de Cushing, rouquidão, candidíase
de boca e garganta, entre outros. Porém, corticoides em baixas doses por
inalação não induzem manifestações da Síndrome de Cushing (FUCHS; WANNMACHER;
FERREIRA, 2004).
Existem, na indústria farmacêutica,
outras modalidades de tratamento como a imunoterapia específica com alérgenos.
Esta forma de tratamento faz com que aconteça uma dessensibilização específica,
reduzindo os sintomas e a necessidade de medicamentos. (MOURA; CAMARGOS; BLIC,
2002).
A imunoterapia específica com
alérgenos é um tratamento realizado através da administração de doses
progressivas de alérgenos específicos em pacientes que sejam sensíveis a determinadas
substâncias e que estejam fora do momento de crise, buscando desta maneira um
estado de tolerância a estes alérgenos. Estas drogas são administradas por via
subcutânea por profissionais especializados em casos de reações anafiláticas. É
o tratamento mais indicado para crianças e adolescentes por se mostrar mais
efetivo nesta faixa etária do que em adultos. Está contraindicada para
pacientes que respondem bem ao tratamento farmacológico e aos cuidados
ambientais (STIRBULOV; BERND; SOLÉ, 2006).
Outra terapêutica que vem sendo
utilizada como alternativa é a Anti-IgE, que se trata de um anticorpo
monoclonal recombinante humanizado (IgG1) que se une à IgE livre que está
circulante, impedindo desta maneira a fixação aos receptores de alta afinidade.
Esta terapêutica também é conhecida como Omalizumabe (SOLÉ, 2006).
O Omalizumabe causa uma inibição na
broncoconstrição gerada durante a fase de inflamação por alérgenos, levando a
uma diminuição da hiper-responsividade das vias aéreas. Este tratamento é indicado
para pacientes com asma alérgica que sejam maiores de doze anos, sendo as doses
administradas de duas a quatro vezes na semana, pela via subcutânea.
(STIRBULOV; BERND; SOLÉ, 2006).
QUADRO
2- Tratamento baseado na gravidade
Forma
clínica de asma
|
MANUTENÇÃO
|
|
1ª
Escolha
|
Alternativas
|
|
LEVE
INTERMITENTE
|
Não
há necessidade de medicação diária
|
|
LEVE
PERSISTENTE
|
corticoide
inalado (baixa dose)
|
antileucotrienos
e cromona
|
PERSISTENTE
MODERADA
|
corticoide
inalado (dose moderada) ou corticoide inalado (dose moderada)+agonista ß2 de
longa duração
|
dose
baixa a moderada de corticoide inalado associado à antileucotrieno ou
teofilina
|
PERSISTENTE
GRAVE
|
corticoide
inalado (dose alta) + agonista ß2 de longa duração + corticoide oral
|
corticoide
inalado (dose alta) + ß2 de longa duração associado à antileucotrieno ou
teofilina e corticoide oral
|
FONTE: FUCHS, WANNMACHER, FERREIRA,
2004, p. 775
2.7 Atenções Farmacêuticas ao Paciente
com Asma
A falta de orientação é um dos
principais obstáculos à prevenção de doenças e de complicações decorrentes da
asma, acarretando um alto custo para a saúde pública. O farmacêutico
profissional e educador em saúde pode proporcionar esclarecimentos à população,
auxiliando o serviço público de saúde a diminuir internações. Campanhas visando
à orientação sobre a detecção precoce das doenças, prevenção, incentivo ao
farmacêutico como educador à saúde, assim como incentivar a comunidade a ter
uma visão de que farmácias e drogarias são estabelecimentos onde poderão buscar
orientações de um profissional de saúde proporcionariam a população um maior
conhecimento sobre as doenças. (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 2010).
A asma é uma doença que compromete a
vida do portador e pode limitar as suas atividades. Em algumas pessoas se
caracteriza como uma doença grave, podendo levar o indivíduo à morte,
tornando-se, desta maneira, de suma importância que se considere o aspecto
humano da doença. (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE PIAUÍ, 2009).
A mortalidade em idosos devido à
doença tem aumentado em decorrência da ausência de medidas preventivas ou pela
demora em se estabelecer um tratamento. Em crianças, a asma está ligada a
percepções sociais negativas, insônia, estresse e a depressão, exercendo um
grande impacto social e emocional, pois a criança portadora da doença tem suas
brincadeiras limitadas pela impossibilidade de correr. Faltas à escola são
frequentes devido às crises e isto pode vir a deixá-la insegura. Cabe a um
profissional farmacêutico orientar os pais sobre a necessidade de manter estas
crianças, o mais distante possível, de eventos que possam vir a piorar o
quadro. (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE PIAUÍ, 2009).
O profissional farmacêutico
encontra-se em uma posição ideal para poder monitorar o paciente quanto ao
tratamento e sua educação em saúde. Planos para melhorar a adesão aos
tratamentos e o auxílio ao paciente para identificar os fatores que
desencadeiam e agravam a doença são formas que o farmacêutico tem para
desenvolver seu trabalho de atenção à saúde do paciente. (OLIVEIRA SANTOS,
2008).
Os tratamentos utilizados devem ser
explicados aos pacientes, enfatizando as diferenças dos mesmos de manutenção e
o de broncodilatação sistêmica utilizados em situações de crise (FONTELES, et
al. 2010).
Os pacientes que utilizam fármacos
inalados precisam ser orientados quanto à forma correta de utilização destes
dispositivos, uma vez que a utilização incorreta pode prejudicar o tratamento.
Estas orientações cabem ao farmacêutico desenvolver, revendo de tempos em
tempos a técnica aplicada pelos pacientes, orientando-os, da melhor maneira
possível. Recomendações quanto a seguir as doses prescritas pelos médicos devem
ser dadas aos pacientes e, quando necessário, aos pais, a fim de que se evite a
superdosagem ou doses abaixo do recomendado (FONTELES, et al. 2010).
Mesmo que os profissionais
farmacêuticos estejam iniciando seus programas de atenção à saúde a estes
pacientes, atualmente, a participação ainda é mínima. Este contexto precisa ser
mudado e para isso é necessário que estes profissionais sejam incentivados à
prática e ao desenvolvimento de projetos de atenção à saúde ainda durante a
formação profissional. (OLIVEIRA SANTOS, 2008).
Toda orientação fornecida ao paciente
tem como objetivo facilitar a adesão ao tratamento e fazer com que o paciente
conheça o seu diagnóstico entendendo os riscos associados a sua doença para que
o mesmo possa usufruir de uma melhor qualidade de vida. (CONSELHO REGIONAL DE
FARMÁCIA PIAUÍ, 2009).
3. DISCUSSÃO
Na abordagem realizada sobre o
portador de asma, constatou-se que a asma é uma doença que leva muitas pessoas
a ficarem internadas em hospitais do Sistema Único de Saúde.
Pois, mesmo com todos os avanços
ocorridos em relação à saúde do portador de asma, alguns fatores característicos
dos nossos dias, como a poluição nos grandes centros que é causada, na maior
parte, pelas indústrias, o tabagismo ativo dos adultos e passivo das crianças e
dos idosos, as condições ambientais e os fatores emocionais incluídos no
processo de asma, aumentam, atualmente, a quantidade de pessoas portadoras
desta doença.
Devido a mudanças na legislação
vigente que obriga a presença de um profissional com esta qualificação em todas
as farmácias, o farmacêutico encontra-se mais acessível à população e pode
proporcionar esclarecimentos sobre diversas doenças e medicamentos, pois possui
conhecimento científico suficiente para isto, contribuindo para a diminuição
das crises e para o tratamento adequado da asma.
O profissional farmacêutico
encontra-se em uma posição privilegiada para colaborar na confirmação do
diagnóstico da doença, identificando os fatores desencadeantes das crises e os
fatores psicossociais envolvidos. Pois, sabe-se que a população busca
primeiramente orientações em uma farmácia, para depois ir até um médico.
O êxito do tratamento prescrito
dependerá desta parceria efetiva do próprio paciente e sua família com o
profissional farmacêutico e seus cuidados ao paciente, sendo indispensável
explicar que a asma é uma doença crônica, podendo tornar-se ameaçadora quando
não cuidada e que, quando a resposta terapêutica for favorável, o paciente
poderá usufruir de uma qualidade de vida satisfatória e até mesmo normal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na busca realizada, pode-se
concluir que a asma é um problema de saúde pública, sendo causa de uma grande
quantidade de internações no Sistema Único de Saúde.
Um dos principais fatores que
contribuem para a falta de controle da asma são o desconhecimento da população
portadora da doença e de seus familiares sobre os aspectos fundamentais da asma
e a utilização inadequada dos medicamentos.
Ressalta-se a importância do
profissional farmacêutico nos cuidados com a asma, uma vez que este pode
dispensar muitas orientações sobre diferentes aspectos para a família e para o
próprio paciente, pois são profissionais que possuem um vasto conhecimento
sobre as doenças e principalmente sobre os medicamentos. Considera-se,
portanto, que o profissional farmacêutico tem relevante atuação na atenção à
saúde do paciente portador de asma, uma vez que, com as mudanças que foram
realizadas na legislação vigente, tornou obrigatório que cada farmácia ou
drogaria tenha um profissional com esta qualificação, tornando, neste sentido,
estes profissionais mais acessíveis.
Porém, algumas barreiras ainda existem
e devem ser quebradas através de campanhas que conscientizem a população,
mostrando que o farmacêutico é um profissional que pode trazer inúmeras
contribuições aos pacientes portadores de asma.
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Acesso em 02 de fevereiro 2012.
CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO
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