VERMINOSES: OXIURÍASE
AGENTE ETIOLÓGICO
O Enterobius vermicularis é verme de cor branca, filiforme, pertencente à superfamília Oxiuroidea. O macho mede cerca de 3 a 5mm de comprimento e a fêmea, 8 a 12mm por 0,3 a 0,4 de diâmetro. O macho apresenta cauda recurvada sobre o ventre, enquanto a da fêmea é afilada, longa, constituindo 1/3 do corpo.
A fêmea, quando fecundada, não faz postura, constituindo-se num verdadeiro saco de ovos, com número que varia de 5.000 a 16.000 ovos. O ovo encerra um embrião completamente formado, sendo raramente encontrado no meio das fezes. A sobrevivência do ovo no meio exterior é de curta duração, principalmente se a temperatura ambiente é quente e seca; ele resiste melhor ao clima frio e úmido.
As fêmeas com o útero cheio de ovos desligam-se da mucosa do ceco e são arrastadas com as fezes para a região anal, podendo aí fixar-se e liberar grande número de ovos já embrionados. No ciclo biológico do Enterobius vermicularis não há necessidade de hospedeiro intermediário nem a permanência dos ovos no meio exterior para se tornarem embrionados.
Dada a irritação que determina nas margens do ânus, com prurido intenso, o indivíduo parasitado tende a coçar tal região, propiciando o acúmulo de ovos nos dedos e nas unhas, e a possibilidade de levá-los à cavidade oral, ingerindo-os. Estes, chegando no duodeno, dão larvas rabditóides e sofrem mais duas mudas, tornando-se adultos, copulam e atingem seu desenvolvimento completo ao nível do ceco, onde se localizam.
Os machos são eliminados com as fezes e as fêmeas fecundadas abarrotam-se de ovos e reiniciam o mesmo ciclo, com a duração de mais ou menos 25 a 28 dias.
FORMA DE TRANSMISSÃO
Diversos são os modos de transmissão desta helmintíase:
a) Transmissão direta do ânus para a cavidade oral, através dos dedos, principalmente nas crianças, doentes mentais e adultos que não tomam cuidados higiênicos.
b) Transmissão indireta através da poeira e de alimentos contaminados por mãos poluídas e mesmo pelas moscas;
c) Retroinfestação, que consiste na migração das larvas da região anal para as regiões superiores do intestino grosso, onde se tornam adultas.
d) Autoinfestação interna, discutida e negada por alguns autores. Apresenta como possibilidade o fato de as infestações perdurarem por longo tempo, sabendo-se que o ciclo desse parasito não alcança senão 2 meses.
DISSEMINAÇÃO
Parasitose de âmbito cosmopolita, atinge com maior prevalência as crianças, principalmente quando em agrupamentos como colégios, asilos e internatos. O acometimento de vários membros de uma mesma família é comum, embora seja, nos adultos, de menor duração.
O impertinente prurido anal leva as crianças a coçar com frequência essa região, o que favorece a localização dos ovos sob as unhas, a possibilidade de sua ingestão e a manutenção da oxiuríase por longo tempo. Dado o grande número de ovos eliminados pelas fêmeas, estes permanecem no meio das vestes, das roupas de cama e na poeira do ambiente, propiciando a autoinfestação direta ou indireta.
SINTOMATOLOGIA
Clínico – o sintoma clínico predominante para o seu diagnóstico é o prurido. Este é persistente, incomodativo, irritante, sobretudo à noite. Os demais sintomas são, de regra, pouco intensos e sem significado diagnóstico. As perturbações nervosas são comuns às diversas parasitoses; entretanto, quando associadas ao prurido podem conduzir ao seu diagnóstico clínico.
Laboratorial – reside no encontro do parasito e de seus ovos nas fezes, aliás, muito difícil dada a sua biologia. Os ovos estão presentes nas fezes em apenas 5% da média dos indivíduos infestados. O exame direto do ânus pela abertura do esfíncter anal pode revelar a presença dos vermes adultos com as características já referidas.
Outras vezes o encontro ocasional entre as vestes do seu portador conduz ao diagnóstico de certeza. Alguns dispositivos são empregados para facilitar o encontro dos ovos em meio às fezes. O mais comum, consiste num bastão de vidro com uma das extremidades envolta num pedaço de celofane, esta extremidade é introduzida nas pregas da mucosa anal com um movimento de “raspagem”. Coloca-se o bastão num invólucro de vidro protetor, e no laboratório o celofane é retirado e colocado numa lâmina com algumas gotas de solução fisiológica, sendo a seguir examinado no microscópio.
TRATAMENTO E TERAPÊUTICA
Os medicamentos atualmente mais indicados na terapêutica da oxiuríase, em ordem de preferência, ressalvadas as particularidades relativas a cada um deles, são os seguintes: pamoato de pirantel, pamoato de pirvínio, mebendazol e sais de piperazina.
Os medicamentos de primeira escolha são representados pelo pamoato de pirantel e de pirvínio, por serem eficazes em dose única.
O mebendazol, pela necessidade de administração durante 3dias consecutivos, ocupa o terceiro lugar na preferência. É bem verdade que sua polivalência terapêutica – pois é também eficaz na ascaridíase e tricocefalíase, bem como na ancilostomíase e teníase – poderá torná-lo o mais indicado quando houver associação parasitária. Os sais de piperazina, devendo ser usados durante prazo longo, são atualmente os medicamentos de última escolha. O índice de curas atinge 100%.
Pamoato de pirantel - sal insolúvel, não absorvido em quantidade apreciável pelo trato gastrointestinal, exerce sua ação diretamente no intestino. Sua eficácia varia entre 84,61% e 100%.
Pamoato de pirúvio - sal insolúvel, não absorvido em grau apreciável, exercendo sua função no trato intestinal. Reações colaterais atribuídas ao medicamento são, na maioria dos casos, leves e representadas por cólicas intestinais, diarreia, cefaleia, náuseas e possível vômitos.
FONTE
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. GUIA DE BOLSO, 6ª edição revista Série B. Textos Básicos de Saúde, brasília / DF, 2006
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