PROMOÇÃO
DA PRESCRIÇÃO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
PARTE 2
INFORMAÇÃO
DE MEDICAMENTOS
ANTECEDENTES
Um
medicamento deve vir acompanhado de informação apropriada. A qualidade da
informação que acompanha um medicamento é tão importante quanto a qualidade do princípio
ativo. A informação e a promoção dos medicamentos pode influenciar em grande
medida a forma como os medicamentos são utilizados. O monitoramento e controle
dessas atividades
são
partes essenciais de uma política nacional de medicamentos (Marin, 1999).
CENTROS DE INFORMAÇÃO
SOBRE MEDICAMENTOS
A
meta principal dos centros de informação sobre medicamentos é a promoção do uso
racional dos medicamentos. Para alcançar esta meta, a informação prestada deve
ser objetiva, imparcial e imune a pressões políticas e econômicas. Ademais,
como em muitos casos está em jogo a orientação para a situação clínica de um
paciente, a informação deve ser fornecida com agilidade, em tempo hábil para
sua utilização em cada caso. Apoiam o uso correto dos medicamentos fundamentado
em informações seguras, imparciais,
independentes
e atualizadas. Para isso, utilizam fontes de informação confiáveis e
imparciais, reconhecidas internacionalmente.
Existem
várias definições na literatura sobre informação e centro de informação
sobre
medicamentos. Foram escolhidas as de Malone et al. (1996) e de Garcia &
Alberola (1984). Dessa forma, Informação sobre Medicamentos (IM) pode ser
definida como a provisão de informação adequadamente referenciada, criticamente
avaliada e, sobretudo, imparcial sobre quaisquer dos aspectos relacionados à
prática farmacêutica.
Centro
de Informação sobre Medicamentos (CIM), por sua vez, é um local no qual,
mediante a seleção, a análise e a avaliação de fontes de informação sobre
medicamentos são elaboradas e comunicadas as informações demandadas.
No
II Encontro de Centros de Informação sobre Medicamentos do Brasil, foi proposta
uma outra definição para o CIM, como local destinado a reunir, analisar,
avaliar e fornecer informações sobre medicamentos, tendo como objetivo seu uso
racional (Sismed, 1998).
CENTRO VERSUS SERVIÇO
Os
termos Centro de Informação sobre Medicamentos e Serviço de Informação sobre
Medicamentos são às vezes usados como se fossem sinônimos, embora existam
diferenças.
A
literatura sugere que o primeiro deve denotar o local físico, e o último, a
atividade desenvolvida neste local (Stanovich, 1996).
Entretanto,
para a finalidade estratégica de implantação da atividade de informação sobre
medicamentos, é estabelecida uma hierarquia em que os centros têm uma
abrangência maior (por exemplo, um país, um estado, uma região) e os serviços
são institucionais, por exemplo, atendendo à demanda de um hospital (Opas,
1995; D’Alessio; Busto & Girón, 1997). Esta é a ótica adotada neste livro,
enfatizando-se, porém, que o importante é a atividade desenvolvida, e não a sua
designação, seja centro ou serviço.
ATIVIDADES DE UM CENTRO
DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
A
maioria dos textos que tratam de CIM referem-se a uma série de atividades desenvolvidas
nos mesmos, relacionadas com o uso racional dos medicamentos.
Burkholder
(1963), referindo-se ao CIM da Universidade de Kentucky (primeiro do mundo),
dizia que o propósito primordial do CIM era sistematizar e disponibilizar, a
todo o corpo de profissionais, informações sobre medicamentos de modo a
promover o uso racional, facilitar os programas de ensino nas faculdades de
medicina, odontologia e enfermagem e promover estudos quanto a padrões de
utilização de medicamentos em pacientes tratados no Centro Médico. Outro
propósito do CIM seria o de favorecer oportunidade de associação mais estreita
entre farmacêuticos e problemas de farmacoterapia da instituição.
Funções de um Centro de
Informação sobre Medicamentos (Opas, 1995; Amerson, 1996).
Atividades de um Centro
de Informação sobre Medicamentos
v Responder às perguntas relacionadas ao
uso dos medicamentos
v Atividades da Comissão de Farmácia e
Terapêutica
v Publicações: boletins, alertas,
colunas em jornais
v Educação: estágio, cursos sobre temas
específicos da farmacoterapia
v Revisão do uso de medicamentos
v Atividades de pesquisa sobre
medicamentos
v Coordenação de programas de
notificação (por exemplo, de reações adversas a medicamentos)
Fonte:
adaptado de Amerson (1996).
Sobre
estas atividades, é fundamental dizer:
v Não existe CIM sem a primeira
atividade – ‘responder a perguntas’. Ou seja, um CIM pode desenvolver todas as
atividades descritas, mas não será um CIM o lugar que desenvolver todas as
atividades, menos a primeira.
v ‘Responder a perguntas’ deve
representar a maior parte dos trabalhos prestados pelo CIM. Esta deve ser a
atividade principal.
INFORMAÇÃO PASSIVA E
ATIVA
As
atividades descritas acima podem ser classificadas em duas grandes áreas:
v Informação
passiva – é aquela que
é oferecida em resposta à pergunta de um solicitante. O farmacêutico informador
espera passivamente que o interessado lhe faça a pergunta. Desencadear a
comunicação é iniciativa do solicitante.
v Informação
ativa – é aquela em
que a iniciativa da comunicação é do farmacêutico informador, o qual analisa
que tipo de informação pode ser necessária e seus possíveis usuários (médicos,
farmacêuticos, odontólogos, enfermeiros, pacientes, outros) e encontra uma via
de comunicação para suprir estas necessidades.
O PAPEL DO FARMACÊUTICO
ESPECIALISTA EM INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
Fornecer
informação sobre medicamentos sempre foi uma parte da prática farmacêutica;
O
farmacêutico sempre forneceu informação avaliada (profissional) para o público
e para outros profissionais da saúde (Stanovich, 1996).
Em
paralelo à implantação dos centros de informação sobre medicamentos, os
farmacêuticos
se especializaram na atividade e, hoje, existe a ‘especialização’ farmacêutico informador
sobre medicamentos (Ascione; Manifold & Parenti, 1994).
As
atividades clínica, administrativa e de distribuição de medicamentos exercidas
pelos farmacêuticos são inseparáveis, fazendo dele o contato lógico quando há
necessidade de informação prática sobre o uso de medicamentos em um paciente.
Por exemplo, o farmacêutico, mais do que qualquer outro profissional da saúde,
está capacitado para integrar informação sobre eficácia, segurança, situação de
padronização, custo, preparação e entrega de uma terapia medicamentosa em
particular.
O
perfil profissional do farmacêutico especialista em informação sobre
medicamentos, com treinamento e experiência clínica, sugere as seguintes
habilidades (ASHP, 1968; Opas, 1995):
v Competência na seleção, utilização e
avaliação crítica da literatura;
v Competência para apresentação da
máxima informação relevante com um mínimo de documentação de suporte;
v Conhecimento da disponibilidade de
literatura, assim como de bibliotecas, centros de documentação, entre outros;
v Capacidade de comunicar-se sobre
informação farmacoterapêutica nas formas verbal e escrita;
v Destreza no processamento eletrônico
de dados;
v Capacidade para participar nas
comissões de farmácia e terapêutica.
FONTES DE INFORMAÇÃO
As
fontes de informação são divididas em primárias, secundárias e terciárias.
As
‘fontes primárias’ (ou literatura primária) são constituídas por pesquisas
publicadas em revistas biomédicas, ou seja, em que aparece pela primeira vez na
literatura qualquer informação. É a mais abundante e, por isso, mais difícil de
ser manejada, avaliada e utilizada. Por exemplo, artigos científicos publicados
no Journal of American Medical Association (Jama).
A
‘fonte secundária’ consiste em serviços de indexação e resumo da literatura
primária. O Medline e o International Pharmaceutical Abstracts (IPA) são
exemplos. O Medline, sistema de indexação mais comum em ciências da saúde, pode
ser acessado através do site da Bireme (www.bireme.br), de onde podem ser
solicitados os artigos que forem selecionados a um preço bastante acessível. Às
vezes, por esta via, o resumo do artigo pode ser visualizado, mas nem sempre se
consegue copiar o mesmo. As cópias podem ser enviadas pelo correio ou por fax
(ficando mais caro).
A
‘fonte terciária’ consiste em livros-texto (por exemplo, Goodman e Gilman –
As
Bases Farmacológicas da Terapêutica), livros de monografias (como a United
States Pharmacopeia Dispensing Information – USPDI) e bases de dados
computadorizadas (Drugdex – Micromedex). Além destas, os artigos de revisão
também são considerados literatura terciária. Na prática, a maioria das
informações necessárias aos profissionais pode ser encontrada nessas fontes,
ainda que deva ser considerado o aspecto da desatualização da informação quando
comparadas com a literatura primária.
O
Martindale e o Drugdex (Micromedex) são às vezes considerados fontes híbridas
entre a literatura terciária e secundária por trazerem tanto textos avaliados
como trechos de artigos científicos.
Existem
também fontes de informação que não se enquadram nessas categorias e são
chamadas de alternativas. São exemplos de fontes alternativas a Internet –
páginas web, listas de discussão, file transfer protocol (FTP) –, organizações
profissionais, indústrias farmacêuticas e centros de informação toxicológica e
de medicamentos.
A
bibliografia sobre medicamentos é vasta, complexa e cresce em um ritmo
acelerado, sendo difícil ao profissional manter-se atualizado sobre os avanços
da farmacoterapêutica.
DISSEMINAÇÃO DE
INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS
PARA PROFISSIONAIS DA
SAÚDE
Decisões
terapêuticas devem estar fundamentadas em informação objetiva, comparativa,
independente e com credibilidade. Estas podem ser fornecidas por:
v Formulários terapêuticos;
v Envolvimento em ensino e reuniões
clínicas, pesquisa da prática e serviços especializados prestados pelos
técnicos dos centros de informação;
v Desenvolvimento de um boletim de
informação de medicamentos direcionado ao uso de medicamentos e práticas de
prescrição;
v Disseminação de literatura científica
e independente sobre o uso racional de medicamentos e em avanços terapêuticos;
v Organização de programas de
treinamento, simpósios e palestras para os vários grupos do pessoal de saúde;
v Desenvolvimento de guias de tratamento
e material educacional em uso apropriado de medicamentos para os trabalhadores
de saúde comunitários e o pessoal paramédico no nível da atenção primária.
PARA USUÁRIOS
Os
usuários, em especial os pacientes, devem assumir a sua parcela de
responsabilidade quanto ao seu tratamento para que este tenha sucesso. Para que
isso ocorra devem ser orientados, durante a prescrição ou dispensação. Os
pacientes em tratamento com medicamentos de uso contínuo devem merecer especial
atenção e orientação.
A
informação fornecida a eles deve ser similar à dos prescritores, mas em
linguagem acessível, certificando-se sempre da compreensão das instruções. O
paciente tem direito ético ao completo esclarecimento sobre o seu tratamento.
Informações
devem ser fornecidas em forma de folhetos, através de campanhas e, mais
importante ainda, por aconselhamento ao paciente. Em população com baixo nível
de alfabetização, devem ser usadas formas adicionais (visuais, auditivas,
tácteis etc.) de apresentação da informação (Marin, 1999).
ASPECTOS PRÁTICOS
Os
centros de informação sobre medicamentos, locais privilegiados para a execução
de muitas das atividades indicadas pela Política Nacional de Medicamentos, diz
que “os gestores atuarão no sentido de viabilizar o propósito desta Política de
Medicamentos, qual seja, o de garantir a necessária segurança, eficácia e
qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da população
àqueles considerados essenciais” (Brasil, 1998).
A
Política Nacional de Medicamentos determina o desenvolvimento de atividades que
centros de informação sobre medicamentos poderão apoiar, por exemplo:
v Revisão permanente das relações de
medicamentos fundamentada na segurança e eficácia terapêutica comprovadas;
v Elaboração de um formulário
terapêutico;
v Atualização contínua e padronização de
protocolos de intervenção terapêutica e dos respectivos esquemas de tratamento;
v Execução de campanhas educativas dos
usuários sobre a importância da adesão ao tratamento, dos riscos da
automedicação; da troca da medicação prescrita etc.;
v Programas de farmacoepidemiologia e
farmacovigilância;
v Promoção da educação continuada dos
profissionais de saúde sobre farmacologia e terapêutica aplicada e outros
aspectos envolvidos no uso racional de medicamentos, bem como disseminação de
informações objetivas e atualizadas.
v Fundamentação da retirada de
medicamentos do mercado;
v Fundamentação do controle da
propaganda dos medicamentos.
Em
geral, um centro de informação sobre medicamentos supre a maioria das funções
já citadas. Entretanto, embora sejam custo-efetivo, como a sua implantação e
manutenção é dispendiosa, prefere-se estimular o uso dos já existentes.
COMO CONSULTAR UM CENTRO
DE INFORMAÇÃO
SOBRE MEDICAMENTOS
Uma
das características dos CIM é o fornecimento de informação gratuitamente, ou
seja, as consultas a eles dirigidas não serão cobradas. Excepcionalmente,
trabalhos de vulto ou de maior extensão, a critério de cada CIM, poderá ser
cobrado.
Os
serviços de informação passiva de um CIM podem ser solicitados por telefone,
pessoalmente, fax, correspondência, correio eletrônico, dependendo do caso. É
necessário que o usuário se identifique e forneça seu endereço, número de
telefone etc., a fim de estabelecer uma via de comunicação que será utilizada
na resposta, se esta não for imediata, ou caso um novo contato seja necessário.
Quando um paciente estiver envolvido, é de grande importância fornecer os dados
adequados ao mesmo, de tal forma que a resposta corresponda às suas
necessidades e características particulares.
A título de exemplo,
abaixo algumas categorias de perguntas respondidas pelos CIM.
Exemplos de categorias
de perguntas respondidas pelos CIM
v Administração farmacodinâmica
interações medicamentosas
v Compatibilidade farmacologia
conservação
v Disponibilidade farmacotécnica
posologia
v Equivalência farmacoterapia de escolha
teratogenicidade
v Estabilidade identificação toxicologia
v Farmacocinética indicação reações
adversas a medicamentos
Fonte:
Vidotti et al. (2000).
CONCLUSÃO
O
uso da informação sobre medicamentos está inserido no cotidiano do trabalhador
de saúde. A atenção quanto a levantar dados referentes ao desempenho dos vários
fatores que envolvem os medicamentos poderá ser útil para tornar mais eficiente
esta política.
Por
exemplo, métodos simples como descrever casos que tenham chamado a atenção
quanto a algum problema relacionado aos medicamentos, por exemplo, interações
medicamentosas ou com alimentos, reações adversas a medicamentos, falha na
terapêutica, uso de medicamentos em condições inadequadas (como na gravidez
quando estiver com uso restrito), não utilização de um medicamento quanto ele
deveria ser utilizado ou utilização quando não seria necessário.
Esses
problemas podem ser utilizados para troca de experiência, melhora do knowhow,
crescimento profissional e facilidade na avaliação científica, que poderá levar
a atualizações da Rename.
A
Política Nacional de Medicamentos foi elaborada como um mecanismo sistêmico no
qual as experiências individuais ou coletivas são de fundamental importância
para o seu contínuo aperfeiçoamento. Dentro do aspecto específico da promoção
do uso racional dos medicamentos, é obrigatória a disseminação e o uso de
informação confiável e segura que venha a apoiar o seu uso correto.
FONTE
Assistência
Farmacêutica para gerentes municipais Copyright © 2003 OPAS/OMS, 2003 Todos os
direitos reservados Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da
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