INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FARMÁCIA
Prof..Gilvan
Luciano Lima
A FARMÁCIA NA
ANTIGUIDADE
Os
chineses, por exemplo, há mais de 2.600 anos já preparavam remédios extraídos
de plantas. Mil anos depois, os egípcios faziam o mesmo, utilizando também sais
de chumbo, cobre e unguentos feitos com a gordura de vários animais, como
hipopótamo, crocodilo e cobra.
Na
Índia, Roma e na Grécia, onde Hipócrates, ao sistematizar os grupos de
medicamentos - narcóticos, febrífugos e purgantes inaugurou uma nova era para a
cura.
O
primeiro documento farmacêutico data de cerca de 2500 a.C. Na Antiguidade a
Medicina e a Farmácia eram uma só profissão, mas na antiga.
Roma
começou a separação daqueles que diagnosticavam a doença, daqueles que
misturavam matérias para produzir porções de cura, era a época de Hipócrates e
de Galeno.
Hipócrates (Pai da
Medicina)
Patologia
geral .apepsia (desequilíbrio) .pepsis (febre, inflamação e pus) .crisis ou
lysis (eliminação)
Galeno (Pai da
Farmácia). (200 –131
a.C.)
Combatia
as doenças por meio de substâncias ou compostos que se opunham diretamente aos
sinais e sintomas das enfermidades. •
É
precursor da alopatia.
Escreveu
bastante sobre farmácia e medicamentos, e em suas obras se encontraram cerca de
quatro centenas e meia de referências a fármacos. Elaborou uma lista de
remédios vegetais, conhecidos como "galênicos", a maioria dos quais
era composta com vinho.
Observador
e metódico, classificou e usou magistralmente as ervas. Fazia preparações
denominadas "teriagas" feitas com vinho e ervas.
No
século II, os árabes fundaram a primeira escola de farmácia de que se tem
notícia, criando inclusive uma legislação para o exercício da profissão.
A
partir do século X, foram criadas as primeiras boticas -ou apotecas -na Espanha
e na França. Eram as precursoras das farmácias atuais.
Cabia
aos boticários conhecer e curar as doenças, e para o exercício da profissão
deviam cumprir uma série de requisitos e ter local e equipamentos adequados
para a feitura e guarda dos remédios.
No
século XVI, o estudo dos remédios ganhou impulso notável, com a pesquisa
sistemática dos princípios ativos das plantas e dos minerais capazes de curar
doenças. •Também foi constatada a existência de micro-organismos úteis e
nocivos.
Com
o tempo, foi implantada no mundo a indústria farmacêutica e, com ela, novos
medicamentos são criados e estudos realizados, em velocidade espantosa.
HISTÓRIA
DA FARMÁCIA BRASILEIRA
Os primeiros povoadores, náufragos, degredados, aventureiros e
colonos aqui deixados por Martim Afonso, tiveram de valer-se de recursos da
natureza para combater as doenças, curar ferimentos e neutralizar picadas de
insetos. Para combater a agressividade do ambiente, e a hostilidade de algumas
tribos indígenas os primeiros europeus tiveram de contornar a adversidade com
amabilidade e com isso foi aprendendo com os pajés a preparar os remédios da
terra para tratar seus próprios males.
Remédio da "civilização" só aparecia quando expedições
portuguesas, francesas ou espanholas apareciam com suas esquadras, onde sempre
havia um cirurgião barbeiro ou algum tripulante com uma botica portátil cheia
de drogas e medicamentos.
As coisas ficam assim até que a coroa portuguesa resolveu
instituir no Brasil o governo geral, e o primeiro a ser nomeado foi Thomé de Souza,
que veio para a colônia com uma armada de três naus, duas caravelas e um
bergantim, trazendo autoridade, funcionários civise militares, tropa de linha,
diversos oficiais, ao todo aproximadamente mil pessoas que se instalaram na
Bahia.
Vieram também nesta armada seis jesuítas, quatro padres e dois
irmãos, chefiados por Manuel da Nóbrega.
O corpo sanitário da grande armada compunha-se de apenas um boticário,
DIOGO DE CASTRO, com função oficial
e com salário.
Não havia nesta armada nenhum físico, denominação de médico na
época. O físico-mor, só viria a ser instituído nos egundo governo de Duarte da
Costa.
Dentre os irmãos destinados ao sul do país, estava a criatura
humilde e doentia de nome José de Anchieta.
Os jesuítas eram mais práticos e previdentes que os donatários e, até
do que os próprios governadores gerais, e trataram logo de instituir
enfermarias e boticas em seus colégios, e colocando um irmão para cuidar dos
doentes e outro para preparar remédios.
Em São Paulo o
irmão que preparava os remédios era José de Anchieta, por isso podemos considerá-lo o primeiro
boticário de Piratininga.
A princípio os medicamentos vinham do reino já preparados. Mas a
pirataria do século XVI e as dificuldades da navegação impediam com freqüência
a vinda de navios de Portugal, e era preciso reservar grandes provisões como
acontecia com São Vicente e São Paulo.
Por estas razões os jesuítas terminaram sendo os primeiros
boticários da nova terra, e nos seus colégios as primeiras boticas onde o povo
encontrava drogas e medicamentos vindos da metrópole bem como, remédios
preparados com plantas medicinais nativas através da terapêutica dos pajés. Importantes boticas sob a
direção dos jesuítas tiveram a Bahia, Olinda, Recife, Maranhão, Rio de Janeiro
e São Paulo.
"Por muito tempo, diz o padre Serafim Leite, as farmácias da
companhia foram às únicas existentes em algumas cidades. E quando se
estabeleceram outras, as dos padres, pela sua notável experiência e longa
tradição, mantiveram a primazia. O colégio do Maranhão possuía uma farmácia
flutuante, a Botica do Mar, bem provida, que abastecia de medicamentos os
lugares da costa, desde o Maranhão até Belém do Pará".
A botica mais importante dos jesuítas foi a da Bahia, sua
importância a tornou um centro distribuidor de medicamentos para as demais
boticas dos vários colégios de norte a sul do país.
Para isso, e como a Bahia mantivesse maiores contatos com a
metrópole, os padres conservavam a botica bem sortida e aparelhada para o
preparo de medicamentos, iniciando-se nela, inclusive, o aproveitamento das
matérias primas indígena.
Os jesuítas possuíam um receituário particular, onde se
encontravam não só as fórmulas dos medicamentos como seus processos de
preparação.
Havia também método de obtenção de certos produtos químicos, como
a pedra infernal (nitrato de prata).
O medicamento extraordinário, no entanto, a penicilina da época,
era a Tríaga Brasílica, que se manipulava mediante fórmula secreta.
Essa tríaga se usava contra a mordedura de animais peçonhentos, em
várias doenças febris, e principalmente como antídoto e contra veneno
("exceto os corrosivos") gozava de grande fama e era considerada tão
boa quanto à de Veneza, pois agia pronta e rapidamente com a vantagem de, em
sua composição, entrar várias drogas nacionais de comprovada eficiência.
Quando o colégio dos jesuítas da Bahia foi saqueado e seqüestrado
em julho de 1760, ordem dada pelo Marques de Pombal, o desembargador incumbido
da ação judicial comunicava a seus superiores, "que tendo ele notícia da existência
na Botica do Colégio de algumas receitas particulares, entre as quais a do
antídoto ou "Tríaga Brazílica", havia feito as necessárias
diligências para dele se apossar".
Mas a receita não apareceu na Botica, nem em lugar algum na Bahia.
Somente mais tarde foi ela encontrada na Coleção de Várias Receitas, "e
segredos particulares das principais boticas da nossa companhia de Portugal, da
Índia, de Macau e do Brasil, compostas e experimentadas pelos melhores médicos,
e boticários mais célebres.
Outra botica que se assemelhava a dos padres
era a da Misericórdia. De caráter semi público, tanto servia a seu próprio
hospital como a cidade. Frei Vicente de Salvador refere-setambém a existência
de uma grande caixa de botica que os holandeses possuíam num forte baiano, e
eram vinte e duas boticas (caixas) da armada lusa espanhola.
Já na primeira década do século passado, as
boticas da capital baiana, segundo testemunho de Spix e Martius, estavam
"providas de remédios específicos ingleses e remédios milagrosos".
AS
BOTICAS DO BRASIL
As boticas só
foram autorizadas, como comércio, em 1640, a sangria, também foi legalmente
autorizada naquele mesmo ano e, resultou em competição entre os barbeiros e os
escravos sangradores.
A partir deste ano as boticas se multiplicaram, de norte a sul, dirigidas
por boticários que tinham autorização para exercerem suas atividades pelo
físico mor de Coimbra, ou por seu delegado comissário na capital do Brasil,
Salvador.
Estes boticários, que obtinham com a máxima facilidade a sua
"carta de aprovação de exercício profissional " eram profissionais
empíricos, às vezes analfabetos, possuindo apenas conhecimento de medicamentos
corriqueiros.
Por causa de toda essa "facilidade", muitas vezes
lavadores de vidros ou simples ajudantes de botica, requeriamexame perante o
físico-mor ou seu delgado autorização para exercerem a atividade e, uma vez
aprovados, o que geralmente acontecia, pela falta de critérios para a
distribuição das autorizações arvoravam-se em boticários, estabelecendo-se por
conta própria ou associando-, se a um capitalista ou comerciante, normalmente
do ramo de secos e molhados, que alimentava a expectativa dos bons lucros no
novo negócio.
Em todas as cidades do Brasil, desde osprimeiros tempos da
colonização, foi hábito dos comerciantes de secos e molhados, negociarem com
drogas e medicamentos, não só para uso humano como para tratamento dos animais
domésticos, aos cuidados do alveitares (veterinários). Raras eram as boticas legalmente
estabelecidas.
O comércio das drogas e medicamentos era privativo dos boticários,
segundo o que estava nas "Ordenações", conjunto de leis portuguesas
que regeram o Brasil durante todo operíodo colonial, reformada por D. Manuel e
em vigor desde o princípio do século XVI, bem como por leis e decretos
complementares.
Foi com base nesta legislação que o físico-mor do reino, por
intermédio de seu comissário de São Paulo, ordenou o cumprimento integral do regimento
baixado em maio de 1744.
Com isto intensificou-se a fiscalização do exercício dessa
profissão, pois o regimento proibia terminantemente o comércio ilegal das
drogas e medicamentos, estabelecendo pesadas multas e seqüestro dos respectivos
estoques.
Houve, busca e apreensões das mercadorias proibidas, que foram
depositadas nas boticas locais. “Foi um
"Deus nos acuda".
O Regimento foi feito a partir de uma ordem do Conselho
Ultramarino de dois anos antes (1744)
A ordem fora dada ao Dr. Cypriano de Pinna Pestana, físico-mor do
reino, para que não se desse comissão à pessoa alguma no Brasil.
Esta comissão só poderia ser dada por um médico formado pela
Universidade de Coimbra, e que esse físico-mor
ficaria com a responsabilidade de fazer um novo regimento da forma em que os
seus comissários deveriam proceder nas suas comissões e qual o salário que
deveriam receber.
"E que fizesse também um regimento para os Boticários do dito
estado com atenção às distâncias, que ficam as terras litorâneas.
Ficando advertido que tanto os ganhos dos seus comissários como os
preços dos medicamentos nunca deveriam exceder o dobro, dos preços praticados
no reino e que feito tal regimento deveria ser remetido ao Conselho".
Quanto ao exame prestado pelos candidatos a boticários, bem como a
inutilização das drogas eventualmente deterioradas, desde a sua chegada aos
portos, e a fiscalização das boticas, tudo se faria de acordo com o regimento: de
legalização do profissional responsável; existência de balança; pesos e
medidas; estado de conservação das drogas vegetais, principalmente as
importadas; medicamentos galênicos; produtos químicos; vasilhames
eocasionalmente, a existência de alguns livros.
As inspeções
das boticas seriam rigorosas e realizadas a cada três anos. Este regimento foi
considerado modelar para a sua época.
Em completo atraso e carência de preparo, os boticários de
Portugal e das colônias portuguesas, tinham como guia a obsoleta Farmacopéia
Ulissiponense Galênica e Químicade Joan Vigier, data de 1716, e em 1735
aparecia a Farmacopéia Tubalense Química Galênica, teórica e prática, de Manoel
Rodrigues Coelho, boticário da corte, que visava ter seu trabalho autorizado
pelo governo, o que não conseguiu.
Em 1772 apareceu a obra
de Frei João de Jesus Maria, monge beneditino e boticário do convento e,
finalmente, publicada por ordem de D. Maria I. Em 7 de abril de
1794 foi mandada adotar a Farmacopéia Geral para o Reino de Portugal e
Domínios, de autoria de Francisco Tavares, professor da Universidade de Coimbra,
que o próprio autor a reconheceu como insuficiente,
levando- o a escrever nova obra posteriormente.
A
cidade de São Paulo em 1765, tinha três boticários, Francisco Coelho Aires cujo
estabelecimento e moradia era na rua Direita, Sebastião Teixeira de Miranda estabelecido na atual rua Alvares Penteado e José Antônio de
Lacerda estabelecido na atual Praça da Sé.
A Real Botica de São Paulo, estava instalada onde hoje está o Vale
do Anhangabaú, mais precisamente, onde hoje está o prédio central dos Correios
e Telégrafos. O prédio para instalar esta primeira farmácia oficial da cidade
foi construído em 1796 e demolido em 1916.
No tempo da Real Botica os
remédios eram, na sua grande maioria, plantas medicinais, porém desde 1730 o
brasileiro usava o mercúrio e o arsênico importados da Europa O ópio, a
escamonéia, a rosa, o sene, o manacá e a ipeca já faziam parte dos remédios necessários
para funcionamento de uma botica.
Pomadas e linimentos
tinham grande consumo, aliás o produto mais consumido era a pomada alvíssima,
além do bálsamo católico, de Copaíba, e a Água Vienense, que só entrou em
desuso no começo deste século.
As Boticas do Rio de Janeiro, no entanto, eram adornadas "com
estilo muito mais faustoso que o comum das casas de comércio, isto é, de muito
bom gosto.
Em vez de balcão,
como se costumava ter, tinham bem no meio uma espécie de altar, com a frente ornamentada
com pinturas e dourados; o motivo mais comum na pintura era alguma paisagem, um
naufrágio ou um simples ramalhete de flores. Acima, no altar, a balança, os pesos,
dois ou três livros velhos, oráculos, sem dúvida, da arte de curar".
O utensílio de laboratório sempre despertou no cliente um olhar
respeitador bem como muita curiosidade. Talvez por suas formas singulares, tão
diferentes da maioria dos objetos corriqueiros, talvez por indicarem ao leigo
de alguma forma, as transformações que nestes locais se faziam.
Na porta dos laboratórios o aviso "Proibida a Entrada",
só entravam o boticário, vestido com sua bata branca, e os auxiliares,
geralmente moços de manga de camisa. O freguês ficava a espera da receita, que
levava no mínimo uma hora para ser aviada além da grade de madeira ou de ferro.
OS
ESTUDOS DE FARMÁCIA
Quando a família real portuguesa ruma para a colônia Brasil, o
futuro país não tinha conseguido fazer chegar as suas terras qualquer dos
avanços científicos que a Alemanha, França e Itália desfrutavam.
O
Brasil era a colônia portuguesa esquecida pela rainha D. Maria I, A Louca. Não haviam
faculdades, as ciências de uma maneira geral eram privilegio dos que podiam ir
estudar em Lisboa, Paris ou Londres.
Foi depois da vinda da família real, (1803) que o país, ainda
colônia, adquiriu o direito deacompanhar os movimentos culturais e científicos
que aconteciam no velho continente há maisde um século.
O
primeiro passo largo rumo a modernidade foi encabeçado pelo príncipe regente D.
João VI, que admirava os estudos de história natural, bem como o trabalho dos
naturalistas.
Em 18 de fevereiro de 1808, instituiu os estudos médicos no
Hospital Militar da Bahia, por sugestão do cirurgião-mor do reino, Dr. José Correia Pincanço, futuro Barão de Goiana, com ensino de
anatomia e cirurgia, porém o ensino de farmácia só se iniciou em 1824. A intenção
de D. João VI era formar médicos e cirurgiões para o exército e marinha, onde estava
a elite econômica da época.
No Rio de Janeiro instituiu-se o curso de medicina em 1809. Este
curso era composto das cadeiras de Medicina, Química, Matéria Médica e
Farmácia. O primeiro livro desta faculdadefoi escrito por José Maria Bontempo,
primeiro professor de farmácia do Brasil, chamava-se "Compêndios de
Matéria Médica" e foi publicado em
1814.
Em 1818 o farmacêutico português instalado no Rio de Janeiro, José
Caetano de Barros abriu o ensino gratuito a médicos, boticários e estudantes no
laboratório de sua farmácia, sendo que as aulas de botânica eram dadas pelo
carmelita pernambucano Frei Leandro do Sacramento, diretor do Jardim Botânico,
e professor dessa disciplina na então Escola Médico Cirúrgica.
As aulas de
Frei Sacramento eram ministradas no Passeio Público daquela cidade. Dentre os
discípulos de José Caetano de Barros, destacava-se Ezequiel Corrêa dos Santos,
que veio a ser um dos pioneiros da farmácia no Brasil. Seu filho, também farmacêutico,
tornou-se catedrático de farmácia na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro entre
1859 e 1883.
Em 3 de outubro de 1832, foi criada a Faculdade de Medicina, com
isso regulou-se ensino de farmácia. Um decreto imperial
sancionado em 8 de maio de 1835, transformou a Sociedade de Medicina em
Academia Imperial, e nela ficou instituído a seção de farmácia, o que elevou a
classe farmacêutica a hierarquia científica, colocando-a em igualdade aos demais
ramos das ciências médicas.
A consolidação do ensino de farmácia, no entanto, só aconteceu em
1925, quando o curso passa a ser Faculdade de Farmácia, filiada, como as
outras, a Universidade do Brasil atual Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A assembléia legislativa de Minas Gerais decretou a lei número 140,
sancionada pelo então conselheiro Bernardo Jacinto da Veiga, em 4 de abril de
1839, criando duas Escolas de Farmácia, uma em Ouro Preto e outra em São João
Del Rei, destinada ao ensino de farmácia e da matéria médica brasileira.
A cidade do Rio de Janeiro abriu curso de agricultura em 1814, e o
laboratório de química chegou a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em
1818.
Os cursos superiores nasceram sob a imposição de necessidades
práticas imediatas, por isso não acompanharam, no decorrer de nossa história,
as exigências da sociedade brasileira.
Em virtude do
imediatismo, a pesquisa científica foi totalmente negligenciada durante todo o
período do império, vindo a desenvolver-se timidamente no começo do século XX.
Assim, não é de se estranhar que em 10 anos (1855 -1864) as
escolas de medicina das duas províncias, Bahia e Rio de Janeiro, tivessem
apenas 2 7 estudantes de medicina, por ano, e no curso de farmácia 5, enquanto
o curso de direito tinha 80 alunos.
A Escola de Farmácia de Porto Alegre surgiu em 1896 e a de São
Paulo em 1898. Se bem que a idéia da instituição desta última constituísse,
desde algum tempo, cogitação de ilustres profissionais que integravam a
Sociedade Farmacêutica, coube, sem dúvida, ao Dr.Braulio Gomes, médico de
renome e vasto currículo de relações sociais, a vitória na iniciativa que
culminou na fundação da Escola de Farmácia de São Paulo em 12 de outubro de
1898.
Em 1822, São Paulo, não possuía nenhuma faculdade, mas tinha 7
médicos e cirurgiõese continuava tendo 3 boticários, sendo um deles Ereopagita
da Mota, que tinha farmácia naentão rua do Rosário atual 15 de novembro, no
coração da cidade. Já o Rio de Janeiro em1843 tinha 78 farmácias, e em 1893,
210 farmácias e 34 drogarias.
DE
BOTICÁRIO A FARMACÊUTICO
Apesar das diversas
instituições de ensino de farmácia pelo país no século passado, a passagem do
comércio de botica para farmácia, não foi nada fácil. Afinal o hábito, na
cultura popular, dificulta em muito as mudanças, por mais necessárias que elas
sejam.
Assim, até a própria lei que regulamentava o efetivo exercício da
profissão persistia em chamar os farmacêuticos de boticários.
O Regimento da Junta de Higiene Pública, aprovado pelo decreto
imperial número 829, de 29 de setembro de 1851, documento que regulamentava a
profissão, fazia menção ao técnico da preparação dos medicamentos através da
palavra "boticário"., e não se pense que a expressão dissesse
respeito a profissionais sem diploma, pois o artigo 28 do referido regimento é
claro: " os médicos, cirurgiões, boticários, dentistas e parteiras
apresentarão seus diplomas.."
O hábito continuou até surgir o Decreto 2055, de dezembro de 1857,
onde ficou estabelecido as condições para que os farmacêuticos, não
habilitados, tivessem licença para continuar a ter suas boticas.
Uma ironia bem própria da cultura brasileira onde farmacêuticose
boticários, habilitados ou não, tinham pouca diferença para a média da
população bem como para os legisladores, normalmente leigos em questões de
farmácia.
O boticário dará definitivamente espaço ao farmacêutico depois de
1886. Isto no entanto não deve significar que o país e suas faculdades de
farmácia não produziram cientistas de nível nacional e internacional é o caso
de Luís Antônio da Costa Matos, que obteve um princípio antifebril da amêndoa
de cajú; Joaquim de Almeida Pinto, pernambucano, que estudou espécies da nossa
flora e organizou um dicionário de botânica; Antônio Gonçalvesde Araujo Penna,
paulista que se dedicou a farmácia homeopática, dando-lhe grande impulso e
popularidade.
Ezequiel Correia dos Santos, fluminense, dedicou-se ao estudo das
plantas medicinais brasileiras, procurando isolar os princípios ativos e
obtendo em 1838, a pereirinado Pau Pereira, com a colaboração dos farmacêuticos
Soullié e Dourado.
Joaquim Correia de Mello, paulista, exerceu a profissão em
Campinas, onde se popularizou pelo apelido de "Quinzinho da botica",
sua vocação era a botânica, estudioso e modesto, aplicou-se profundamente ao
estudo da nossa flora, redigindo comunicações e memórias que foram publicadas
nos anais da famosa "Linnean Society", de Londres, da qualera o único
sócio correspondente sul americano. Pedro Baptista de Andrade, mineiro,
o"poeta da química", químico industrial e professor de farmácia;
Christovão Buarque de Hollanda, químico do Laboratório Nacional de
Análises e diretor da Farmácia do Estado de São Paulo; José Frederico de Borba, especializou-se em química
toxicológica bromatológica, tendo sido chefe do Laboratório do Estado e
professor de farmácia.
João Florestino Meira de Vasconcellos, foi professor da Santa
Casa, professor de farmácia eescreveu "Elementos de Farmácia", em 2
volumes, São Paulo (1906). A primeira mulher que colou grau de farmacêutico, no
período do império foi Maria Luiza Torrezão de Seurville, nascida em Niteroi em
1865, diplomou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em1888.
Foi farmacêutica da Policlínica do Hospital de São João Batista em
Niteroi. Sua formatura foi um verdadeiro acontecimento social, pois aberrava os
hábitos da época.
CURSOS DE FARMÁCIA NO
BRASIL
•Vinda
da família Real para o Brasil
•1832
–Faculdade de medicina na Bahia
•1834
–Faculdade do Rio de Janeiro
•1837
–Formados os 6 primeiros farmacêuticos brasileiros
•1839
–Escola de Farmácia de Ouro Preto
•1896
–Escola de Farmácia de Porto Alegre
•1899
–Escola de Farmácia de São Paulo
•1912
–Escola de Farmácia da UFPR
Com
a fundação das primeiras Faculdades de Farmácia (1839 -1898), o boticário foi
lentamente sendo substituído pelo Farmacêutico. .A botica, onde o boticário
pesquisava e manipulava fórmulas extemporâneas, originou dois novos tipos de
estabelecimentos: .Farmácia.Laboratório Industrial Farmacêutico (VOTTA, 1965;
COELHO, 1980).
DECRETO 19.606/31
- Reconhece a competência para o
farmacêutico exercer: Análises clínicas, químico bromatologista,
biologista e legista;
- Controle de venda de substâncias
causadoras de dependência, retenção de receita e guarda em armários;
- Obrigatoriedade da direção por
farmacêutico nos laboratórios privativos de hospitais, casa de saúde,
sanatórios, cooperativas, estabelecimentos religiosos.
Até
a década de 30, a indústria nacional de medicamentos eram em sua maioria de
reduzidas dimensões e tinham uma origem familiar (BARROS, 1995). .
Baseava-se
no emprego de matérias-primas de origem vegetal e mineral, apresentando
condições adequadas ao suprimento do mercado existente, àquela época bastante
reduzido (COELHO, 1980; BARROS, 1995).
Embora
a produção de medicamentos satisfizesse o mercado, é imperioso ressaltar que
isto se deve ao fato de que grande parte da população não tinha acesso aos
serviços de saúde (BARROS, 1995).
INDUSTRIALIZAÇÃO
Introdução
bastante rápida dos antibióticos e produtos de síntese no campo da terapêutica
.Abertura de nossa economia ao capital estrangeiro, esta indústria nacional
emergente foi totalmente absorvida pelos
oligopólios internacionais do medicamento .da procura por farmácias de
manipulação.
Foco
passa a ser o médico .Afastamento do farmacêutico para as outras áreas (FRENKEL, 1978; COELHO, 1980; GIOVANNI, 1980;
RECH, 1985; BARROS, 1995; BERMUDEZ, 1995).
CRIAÇÃO DOS CONSELHOS
Ordem
dos Farmacêuticos após a II semana de Farmácia em São Paulo (1936);
Em
1957 encaminhado projeto ao governo .em 11 de novembro de 1960 são criados os
CFF e CRFs;
Em
1969 reforma universitária com implantação do currículo mínimo.
SÍMBOLO DA FARMÁCIA
A
taça com a serpente nela enrolada é internacionalmente conhecida como símbolo
da profissão farmacêutica. Sua origem remonta à antiguidade, sendo parte das
histórias da mitologia grega. Segundo as literaturas antigas, o símbolo da
Farmácia ilustra o poder (cobra) da cura (taça).
LEI 5991/73
- Lei sanitária com forte pressão
de associações de donos de farmácias além da indústria farmacêutica;
- Criam-se Posto e dispensários de
medicamentos em estabelecimentos hospitalares;
- Permitem a venda de anódinos em
hotéis e similares;
- Drogaria é estabelecimento de
venda e varejo de produtos farmacêuticos;
- .Admitem a abertura por leigos;
- A farmácia é caracterizada por
comércio
"PROJETO
BIOMÉDICO"
Na
década de 80 o projeto mobilizou a categoria farmacêutica, inclusive o
movimento estudantil, no sentido de preservar a profissão farmacêutica.
As
bandeiras de luta e a necessidade de articulação da categoria, neste momento,
propiciaram as condições fundamentais para avaliações e constatações sobre uma
possível crise de identidade do Farmacêutico, uma vez que este encontrava-se
afastado de seu eixo principal de atuação: o medicamento (VI SEMINÁRIO, 1994).
CARACTERÍSTICAS DA FARMÁCIA EM ALGUNS PAÍSES NO MUNDO
“Uma
sociedade sem médicos não tem saúde, uma saúde sem medicamentos não tem
remédios, um remédio sem farmacêutico não tem cura”.
PORTUGAL
- Desde 1521, D. Manuel instituiu o
Regimento do Físico-Mor do Reino, em que somente os farmacêuticos
(boticários) poderiam ser proprietários, após exame de conhecimento
realizado por um júri, composto pelo Físico-Mor, físicos da corte e pelos
boticários do rei e da rainha
- Ensino em 5 anos com
possibilidade de Farmácia Pública, Hospitalar, Industrial e Análises
Clínicas;
- Limitação do número de farmácias
por distância;
FRANÇA
- Rei Luís XV mandou chamar de
farmacêutico em vez de boticário;.
- Farmácias funcionam com
farmacêuticos durante todo o horário de funcionamento.
- Fecham nas férias do farmacêutico;.
- São identificados por uma cruz
verde,
- Os remédios ficam atrás do
balcão;
- O farmacêutico é remunerado por
uma margem fixa sobre o preço da venda.
- Os medicamentos são reembolsados
pela seguridade social.
- Não há propriedade de farmácias
sem direção técnica;
ESPANHA
- São bem tradicionalistas com
laboratórios de manipulação;
- Farmácia somente de
farmacêuticos,
- Nas férias ou quando não há
farmacêuticos, as farmácias fecham;
- Zoneamento das farmácias.
ITÁLIA
- A abertura de farmácias é
exclusiva de farmacêuticos, não há redes;
- A presença de farmacêutico é
necessária durante todo o horário de funcionamento,
- Fecha nas férias;
- Lei obriga uma farmácia para cada
4.000 habitantes. E não menos de 200 m de outra farmácia
- Lei obriga farmacêuticos em
hospitais
ALEMANHA
- Propriedade do farmacêutico;
- Presença do farmacêutico durante
todo o período de funcionamento,
- Na ausência da farmacêutico e nas férias
fecham;
- Possui placa com o nome na
entrada;
- Pode cobrar por consultas e
serviços como profissional de saúde, independentemente da venda;
REINO UNIDO
- Propriedade exclusiva do farmacêutico;
- Recebimento por margem média de
33%;
- Medicamentos são vendidos a granel;
- Farmácias fecham na ausência ou férias do farmacêutico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário