CENTRO UNIVERSITÁRIO FEDERAL EFOA/CEUFE
FARMACOLOGIA
Profª Drª Olinda Maria Gomes da Costa Vilas Boas
Profa do Depto de Farmácia da EFOA/CEUFE COLABORADORES: José Geraldo Borges
Oswaldo Miguel Júnior Fabiana de Souza Santos Francisca Helena Calheiros Zanin
Zuleica Raquel de Novaes Maria Betânia de Freitas Mariana Queiroz Silva André
Antonieti Silva Andréia Elisa Rodrigues Telles Lueli Paula dos Santos ALFENAS -
MG 2004
6) EXCREÇÃO DAS DROGAS
As
drogas podem ser excretadas por vias incluindo os rins(urina), o trato
gastrintestinal(bile e fezes), os pulmões(ar exalado), glândula mamária e suor,
sendo as mais comuns a via renal e fecal. A pele e o cabelo não são órgãos de
excreção, mas servem de depósito para algumas substâncias.
6.1)
Excreção renal
Os
produtos do metabolismo de fase 1 e de fase 2 , são quase sempre eliminados
mais rapidamente que o composto original. Há três processos responsáveis por
essas grandes diferenças na excreção renal:
·
Filtração
glomerular
·
Reabsorção
ou secreção tubular ativa
·
Difusão
passiva através do epitélio tubular
·
pH
compatível com o da urina: a influência do pH na excreção de drogas é notória.O
pH final da urina, entretanto, pode variar de 4,5 a 8 de acordo com a acidez ou
alcalinidade da urina. Se esta estiver ácida, teremos reabsorção de ácidos
fracos (salicílico,barbitúrico,sulfonamidas.); se estiver básica, teremos a
reabsorção de bases fracas (anfetamina.).
A
presença de nefropatias pode prejudicar a excreção de algumas drogas.
As
interações entre drogas podem alterar a velocidade de eliminação das drogas por
qualquer uma das vias excretoras (por exemplo fezes, bile, suor, lágrimas e
pulmões). Todavia, as únicas interações desse tipo que foram alvo de estudos
cuidadosos são as que envolvem a excreção renal.
As
unidades anatômicas funcionais do rim são os néfrons.
O
sangue arterial passa em primeiro lugar pelos glomérulos, que filtram parte da
água plasmática e seu conteúdo. Muitas substâncias também são excretadas nos
túbulos proximais.
A
maior parte da água é reabsorvida ao longo do néfron, sequencialmente pelos
túbulos proximais distais e coletores.
Numerosas
substâncias também podem ser reabsorvidas pelo epitélio tubular e liberadas no
líquido intersticial renal e, a seguir, no plasma.
Consequentemente,
a excreção renal de drogas resulta de três processos: filtração glomerular,
secreção tubular e reabsorção tubular.
Assim:
A) FILTRAÇÃO GLOMERULAR
A
filtração glomerular é limitada pelo tamanho dos poros no endotélio capilar e
pela membrana de ultrafiltração (400 – 600A°). Desse modo, somente as pequenas
moléculas são filtradas pelos glomérulos no líquido tubular. As macromoléculas,
inclusive a maioria das proteínas, não podem atravessar o filtro. Assim somente
as drogas livres que não estão ligadas às proteínas plasmáticas podem ser
filtradas.
O
processo de filtração é passivo e relativamente lento, é limitado pela velocidade
de difusão através do filtro e fluxo sanguíneo.
B)
SECREÇÃO TUBULAR
As
células dos túbulos contornados proximais transportam ativamente certas
substâncias do plasma para a urina tubular. Neste local, a transferência das
drogas ocorre contra o gradiente de concentração pois as drogas tornam-se
relativamente concentradas no interior da luz tubular.
O
processo de transporte ativo caracteriza-se por:
·
• Necessidade de energia
·
• Cinética de saturação, ou seja , uma
droga precisa de um transportador (proteína da membrana celular) para
atravessar as membranas, portanto se duas drogas utilizarem o mesmo
transportador elas competirão entre si.
A
secreção tubular ativa é um processo relativamente rápido, que depura
rapidamente toda a droga do sangue.
Existe
pelo menos dois mecanismos de transporte, um para substâncias ácidas e outra
para substâncias básicas.
Os
ácidos orgânicos (como a penicilina) e metabólitos (como os glicuronídeos são
transportados pelo sistema que secreta substâncias endógenas (como por exemplo
o ácido úrico).
Bases
orgânicas, como o tetraetilamônio, são transportadas por um sistema separado
que secreta colina, histamina e outras bases endógenas.
·
C)
REABSORÇÃO TUBULAR
Pode
ocorrer via transporte ativo principalmente para substâncias endógenas como a
glicose e ácido úrico.
A
maioria dos fármacos são reabsorvidos pelo processo passivo. Essas substâncias
deixam o filtrado para penetrar nas células tubulares e devem ser capazes de
sair novamente da célula para circular no sangue. Desse modo, devem atravessar
pelo menos duas membranas lipídicas.
Como
devemos lembrar as substâncias lipossolúveis são capazes de atravessar as
membranas celulares e, por tal motivo, sofrem reabsorção passiva.
Em
geral, as moléculas com cargas não têm capacidade de atravessar as membranas
das células epiteliais tubulares e, por isto, são excretadas na urina.
Foram
observados os seguintes tipos principais de interações ao nível de excreção:
A filtração glomerular de drogas aumenta em conseqüência de
seu deslocamento da albumina.
A secreção tubular de drogas é diminuída por competição
pelos sistemas de transporte ativo (por exemplo, a probenecida bloqueia a
secreção de penicilinas), com conseqüente prolongamento de sua meia-vida no
organismo.
A reabsorção tubular das drogas é diminuída em alguns casos
por diuréticos.
As
drogas ácidas (salicilatos, barbitúricos) têm sua reabsorção diminuída por alcalinizantes da urina
como NaHCO3, acetazolamina, etc.
As
drogas de caráter básico (anfetaminas, metadona, quinidina e procainamida) têm
sua reabsorção diminuída por acidificantes da urina
como por exemplo, ácido ascórbico, NH4Cl.
Esses
processos decorrem de alterações na ionização da droga, modificando
consequentemente a sua lipossolubilidade e a sua capacidade de ser reabsorvida
no sangue a partir dos túbulos renais aumentado assim a depuração renal da
droga.
A
alteração significativa da eliminação do fármaco por causa de mudança do pH
urinário depende da magnitude e da persistência dessa mudança.
Em
alguns casos a alcalinização da urina pode produzir uma elevação de quatro a
seis vezes na excreção de uma droga ácida como o salicilato, enquanto a
cimetidina e amiodarona podem inibir a excreção de drogas básicas como a
procainamida.
Um
exemplo da exploração deste tipo de interação é a utilização de bicarbonato
como alcalinizante da urina para aumentar a eliminação de barbitúricos em casos
de intoxicação.
A
determinação da velocidade de excreção de certas drogas pelos rins serve como
valioso subsídio no diagnóstico da função renal. Pode ser obtido pelo método de
depuração ou Clearance, que consiste em medir a quantidade
absoluta de uma substância excretada pelos rins em um minuto, relacionando-a
com sua concentração plasmática.
·
♦ DEPURAÇÃO OU CLEARANÇE Quantidade de fármaco removida do organismo/
unidade de tempo.CL=VD.Kel *constante de eliminação:é a
fração da droga eliminada do corpo ,em qualquer período de tempo.
Kel
= 0.69 t1/2
*volume
de distribuição:é o volume aparente de distribuição. . VD = dose. co
7)
INIBIÇÃO ENZIMÁTICA
A
inibição das enzimas microssomais:
-
Diminui a velocidade de produção de metabólitos
-
Diminui a depuração total
-
Aumenta a meia vida da droga no soro
-
Aumenta as concentrações séricas da droga livre e total
-
Aumenta os efeitos farmacológicos se os metabólitos forem inativos
Os
inibidores clinicamente importantes da biotransformação de drogas incluem:
·
• Exposição aguda ao etanol
·
• Cloranfenicol e alguns outros
antibióticos
·
• Cimetidina
·
• Dissulfiram
·
• Propoxifeno
·
• Metronidazol
O
dissulfiram inibe a enzima mitocondrial Acetaldeído Desidrogenase e provoca a acúmulo de acetaldeído
após o consumo de álcool.
Dentre
as numerosas enzimas que sofrem interferência de inibidores, assumem especial
importância as colinesterases, a Monoaminooxidase (MAO), Aldeído Desidrogenase, Álcool
Desidrogenase e o Citocromo P450.
8)
INDUÇÃO ENZIMÁTICA
A
estimulação da atividade das enzimas microssomais por medicamentos e outras
substâncias representa importante problema clínico. Centenas de drogas,
inclusive analgésicos, anticonvulsivantes, hipoglicemiantes orais, sedativos e
tranquilizantes, estimulam a sua própria biotransformação e a de outras drogas.
A
indução enzimática:
-
Aumenta a velocidade de biotransformação hepática da droga
-
Aumenta a velocidade de produção dos metabólitos
-
Aumenta a depuração hepática da droga
-
Diminui a meia-vida sérica da droga
-
Diminui as concentrações séricas da droga livre e total
-
Diminui os efeitos farmacológicos se os metabólitos forem inativos.
As
drogas que produzem aumentos significativos das enzimas envolvidas na
biotransformação de drogas no ser humano incluem os barbitúricos (por exemplo,
fenobarbital), hidrocarbonetos da fumaça de cigarro, carbamazepina, ingestão
crônica e excessiva de etanol e rifampicina.
No
caso dos barbitúricos são necessários cerca de 4 a 7 dias para que surja algum
efeito clinicamente significativo e podem ser necessários duas a quatro semanas
para que desapareça a indução enzimática.
Muitas
enzimas são capazes de aumentar em quantidade e em atividade, respostas a
certas substâncias conhecidas como indutoras.
Um
indutor pode estimular ativamente a síntese de uma enzima.
Em
muitos casos, um indutor é também um substrato para a enzima que ele induz,
porém alguns substratos não são bons indutores e alguns indutores não são
substratos.
O
citocromo P450 é rapidamente induzido por muitas drogas.
9)
INTERAÇÕES DE MEDICAMENTOS COM ALIMENTOS
O
alimento pode causar alterações nos efeitos farmacológicos ou na
biotransformação do fármaco e este , por sua vez, pode modificar a utilização
do nutriente, com implicações clínicas tanto na eficácia terapêutica
medicamentosa como na manutenção do estado nutricional.
A
ocorrência dessas interferências progride ao longo do trato gastrointestinal,
sendo desprezível ao nível da boca, garganta e esôfago, maior no estômago e
intensa durante a passagem pelo intestino.
As
interações são dependentes de:
·
• Natureza dos nutrientes
·
• Elementos que compõem o alimento
·
• Características do fármaco
·
• Tempo de trânsito nos diferentes
segmentos do tubo digestivo
·
• Freqüência de contato com as
vilosidades intestinais
·
• Mecanismos de absorção intestinal
O
volume, a temperatura, a viscosidade, a pressão osmótica, o caráter ácido
básico dos alimentos, altera o tempo de esvaziamento gastrintestinal e as
condições de solubilização através da formação de quelatos ou complexos e,
consequentemente, absorção de fármacos.
De
forma semelhante, os fármacos modificando a motilidade gastrointestinal, o pH
intra-lumenal, a morfologia celular da mucosa e a atividade de enzimas
intestinais, a flora bacteriana e formando complexos mais ou menos insolúveis,
alteram a solubilização e a absorção de nutrientes.
Os
alimentos alcançando o intestino após um período de tempo variável de acordo
com a natureza do bolo alimentar, estimulam mais ou menos a secreção da bile.
Os ácidos e sais biliares, pelas suas propriedades tensoativas e a capacidade
de formar meio coloidal, aumenta a dissolução e favorecem a absorção de
nutrientes e de fármacos. Esse mecanismo explica o aumento da absorção de
certos fármacos lipossolúveis quando administrados durante uma refeição
gordurosa.
O
estado nutricional, por exemplo, aumenta ou retarda as funções digestivas,
hepáticas e pancreáticas, influenciando o metabolismo ou a biotransformação
tanto na mucosa intestinal, como no fígado. Desta forma, a meia-vida plasmática
de muitos fármacos pode ser reduzida quando dietas forem predominantes
proteicas ou aumentado com dietas ricas em açúcares e gorduras, uma vez que os
aminoácidos aumentam a atuação enzimática do sistema citocromo P450 hepático,
enquanto os glicídios e ácidos graxos exercem efeitos opostos no mesmo sistema
enzimático.
As
interações por competição pelas proteínas plasmáticas podem ser intensificadas
em estado sub nutricionais devido a hipoalbuminemia.
Do
ponto de vista clínico, as interações entre os alimentos e fármacos são
importantes quando houver diminuição da eficácia terapêutica, aumento de
efeitos tóxicos ou quando resultarem em má absorção e utilização incompleta de
nutrientes, comprometendo o estado nutricional ou acentuando a desnutrição já
existente. Tais situações despertam interesse particularmente em pacientes com
idade avançada, devido à presença muitas vezes de doenças crônicas e utilização
de múltiplos medicamentos.
Em
algumas circunstâncias, recomenda-se a administração de determinados
medicamentos com o estômago cheio, a fim de minimizar a ação irritativa destas
drogas sobre a mucosa gastrointestinal.
Em
muitos casos, a própria ação pretendida do medicamento exige que ele seja
administrado de forma sequencial com as refeições. Tal seria o caso dos
digestivos (eupépticos ou antidispépticos) e muitas vezes dos antieméticos,
medicamentos utilizados no tratamento da hiper acidez gástrica e úlcera
péptica, antiflatulentos (antifiséticos), hepatoprotetores, vitaminas, etc.
Além
disso, o tipo de alimentação ingerida pode dificultar ou impedir a ação de
medicamentos como, por exemplo, a ingestão excessiva de açucares em pacientes
fazendo uso de antidiabéticos ou dieta inadequada no caso de doentes usando
medicamentos hipocolesterolemiantes, antigotosos, anti hipertensivos e
diuréticos etc.
Assim,
a ingestão de um medicamento longe, próximo, imediatamente antes ou depois e
durante as refeições pode ter muita importância na obtenção de efeito desejado.
Tais fatos devem ser do conhecimento do profissional que deve advertir seus
pacientes a respeito.
⇒ Exemplos de interações entre alimentos
e medicamentos:
- Medicamentos ácidos fracos:
Como
ácido acetilsalicílico, aminoglicosídeos, barbitúricos, diuréticos,
penicilinas, sulfonamidas, podem ter sua excreção aumentada por dietas
predominantemente alcalinas, devido à alcalinização da urina pelos resíduos
alcalinos dos alimentos.
-
Bases fracas:
Amitriptilina,
anfetamina, cloroquina, morfínicos, teofilina podem ter sua excreção aumentada
por dietas predominante ácida ou que gerem metabólitos ácidos (como a ameixa,
carnes, frutos do mar, pães, biscoitos, bolachas) devido à acidificação da
urina.
A
tiramina presente em alimentos com queijos fermentados, iogurte, chocolate,
vinho tinto, cerveja, carnes e peixes embutidos ou defumados, atuam liberando
noradrenalina nas terminações adrenérgicas, o que pode potencializar os efeitos
dos IMAO causando crises hipertensivas.
A
Piridoxina (Vit. B6) acelera a conversão da L-Dopa em dopamina
plasmática pela ativação da Dopa Descarboxilase.
O
ácido tânico presente no café, chá, mate, frutas e vinhos pode precipitar
vários tipos de medicamentos como clorpromazina, flufenazina, prometazina,
alcalóides, entre outros.
As
tetraciclinas, apesar de irritarem o estômago, devem ser administrada longe das
refeições, pois além de formar complexos insolúveis com o cálcio de leite e
derivados, as tetraciclinas são instáveis em meio ácido e a diminuição da
motilidade gastrointestinal pelos alimentos diminui a sua absorção.
A
L-Dopa e a Metildopa competem com os aminoácidos provenientes de uma dieta
proteica, pelo transporte para o Sistema Nervoso Central.
Penicilina
V deve ser administrada pelo menos com 2 horas de diferença com as refeições,
pois estas aumentam a ocorrência da inativação (abertura do anel
beta-lactâmico).
Os
alimentos causam retardo do esvaziamento gástrico, da liberação e da dissolução
de muitos medicamentos diminuindo e/ou prolongando o seu tempo de absorção.
Medicamentos
muito lipossolúveis, como Carbamazepina, Fenitoína, Griseofulvina,
Nitrofurantoína, tem sua absorção aumentada com dietas hiperlipídicas, pois
aumenta a excreção de sais biliares, a formação de micélios e a solubilização.
Medicamentos
de difícil absorção gastrointestinal ou instáveis em meio ácido devem ser
administrados longe das refeições.
Os
medicamentos que causam efeitos irritativos sobre a mucosa gastrointestinal como
os Antiinflamatórios não esteróides (AINE) devem ser administrados junto com as
refeições.
A
ingestão de alimentos com o propranolol reduz o efeito de primeira passagem e
aumenta a sua biodisponibilidade.
⇒ Interações de medicamentos com álcool.
O
Etanol sob a forma de bebida alcoólica, é a substância psicoativa mais
consumida no mundo.
Além
do comprometimento de órgãos como o fígado, coração e pâncreas, o consumo
excessivo e crônico de etanol ocasiona dano cerebral, levando a incapacidade
física e intelectual. Ademais, as deficiências nutricionais, particularmente as
vitamínicas, comuns em alcoólatras, são responsáveis por síndromes
neuropsiquiátricas como a psicose de Korsakoff, a polineuropatia e a
encefalopatia de Wernicke.
Devido
a seu baixo peso molecular (46) CH3CH2OH , o etanol
atravessa facilmente os canais de água das membranas celulares.
Consequentemente, distribui-se e se equilibra rapidamente em todo o líquido
contido no organismo; se difunde para todos os tecidos e compartimentos,
incluindo o SNV, suor, urina e respiração .
Sob
o ponto de vista farmacológico, o etanol é um depressor do sistema nervoso
central. A ação depressora do etanol se exerce de modo não seletivo.
Em
doses moderadas, o etanol tem efeito euforizante. Esta desinibição é resultante
da depressão dos sistemas inibitórios. Com o aumento da dose, evolui para fala
incompreensível, diminuição da acuidade visual e mental, incoordenação motora,
perda de consciência, coma e morte.
Doses
moderadas de etanol provocam vasodilatação periférica com ruborização e perda
de calor, acarretando a instalação de hipotermia, que pode levar à morte,
dependendo das condições climáticas. Estimulam as secreções gástricas e
salivares.
O
etanol tem efeito diurético, pois inibe a liberação do hormônio antidiurético
pela hipófise posterior.
Muitos
efeitos do álcool se devem a seu metabolismo:
∗ Biotransformação do Etanol
Uma
quantidade insignificante de etanol é conjugada aos ácidos glicurônico e
sulfúrico e excretada pela urina. De longe, a reação de biotransformação mais
importante é, entretanto, a oxidação em acetaldeído e daí para acetato, que
ocorre primariamente no fígado.
Os
três principais mecanismos enzimáticos responsáveis por sua oxidação em
acetaldeído são; álcool desidrogenase, catalase e sistema
microssomal de oxidação do etanol (SMOE) que essencialmente parte do
citocromo P450. A álcool desidrogenase é a enzima mais importante para a
oxidação do etanol. Entretanto a ingestão crônica de álcool leva a uma indução
e aumento da taxa de oxidação pelo Citocromo P450.
O
Acetato é convertido em acetil-CoA no fígado, que é oxidada ou convertida em
aminoácidos, ácidos graxos ou glicogênio da mesma forma que a acetil-CoA
proveniente de outros tecidos.
⇒ Efeitos metabólicos do álcool.
(Parte 5 de 6)
·
• Elevação de lactato e de acidose
metabólica. Como o lactato inibe a secreção renal de ácido úrico, pode
precipitar ataques de gota.
·
• O aumento do nível de NADH, estimula a
síntese de ácidos graxos no fígado, enquanto a oxidação via ciclo de Krebs está
bloqueada.
·
• Acúmulo de Triglicerídios neutros no
fígado e lipidemia.
·
• O aumento de NADH e a diminuição de
piruvato provocam redução de gliconeogênese. Conseqüentemente, se o suprimento
de glicogênio hepático estiver depletado pela falta de uma ingestão alimentar
adequada, o etanol causará hipoglicemia.
·
• A ingestão crônica e acentuada de
álcool aumenta não somente a oxidação mas também o consumo de O2.
Conseqüentemente, o risco de hipóxia no fígado está aumentado, causando necrose
das células hepáticas nos alcoólatras.
⇒ Interações entre medicamentos e etanol
As
interações do álcool com os medicamentos podem se dar nos seguintes sentidos:
-
Ingestão aguda de álcool concomitante com medicamentos
·
• O etanol estimula a secreção ácida,
desnatura certos fármacos, retarda o esvaziamento gástrico e facilita a
dissolução de substâncias lipossolúveis, causando, ocasionalmente, a absorção
de substâncias que, em outras circunstâncias, não seriam absorvidas.
·
• Na presença de etanol no organismo o
metabolismo de muitas drogas como benzodiazepínicos, barbitúricos,
tetraciclinas, antidepressivos, hipoglicemiantes orais, etc. estão com o seu
metabolismo diminuído, podendo exacerbar seus efeitos.
·
• Uma interação muito relevante é
potencialização do efeito depressor do SNC do álcool por ansiolíticos,
hipnóticos e sedativos. A depressão resultante desta interação é bem maior que
a simples soma dos efeitos. Consistindo, com freqüência, grave ameaça à vida.
Nessas circunstâncias, a morte pode advir por falência cardiovascular,
depressão respiratória ou grave hipotermia.
Concentrações
sanguíneas de barbitúricos e etanol associados à ocorrência de morte em vários
grupos de pacientes com superdosagem.
Concentração
média de barbitúrico no sangue (mg/l)
|
|
Morte
por Barbitúrico apenas
|
3,67
|
Morte
por Barbitúrico + Etanol
|
2,55
|
Concentração
média de barbitúrico no sangue (mg/l)
|
|
Morte
por Etanol apenas
|
6500
|
Morte
por Barbitúrico + Etanol
|
1750
|
·
• O álcool pode interferir no tratamento
da gota, uma vez que diminui a excreção do ácido úrico devido ao aumento de
lactato (que compete pela secreção de ácido úrico)
·
• A vasodilatação produzida pela
nitroglicerina é aumentada pelo etanol, podendo levar a hipotensão.
·
• O álcool diminui acentuadamente a
capacidade motora e alerta em pacientes usando anti-histamínicos,
anticonvulsivantes, anfetaminas e antidepressivos.
·
• Devido ao efeito hipoglicemiante do
álcool, ele pode aumentar o risco de hipoglicemia grave em pacientes
diabéticos, que fazem uso de hipoglicemiantes.
-
Ingestão crônica de álcool que causam mudanças bioquímicas e fisiológicas e
alteram a ação dos medicamentos.
·
• Consumo excessivo de etanol interfere
com a absorção de nutrientes essenciais, levando a deficiências minerais e
vitamínicas.
·
• Ácido acetilsalicílico pode causar
hemorragia gastrointestinal devido a seu efeito aditivo de irritação gástrica.
·
• Aceleração de biotransformação de
fármacos, em decorrência da indução de enzimas hepáticas.
·
• Os consumidores crônicos de bebidas
alcoólicas desenvolvem tolerância ao etanol e a outros fármacos (tolerância
cruzada). Essa tolerância é devida, em parte, à adaptação do sistema nervos
central (tolerância farmacodinâmica) e à indução enzimática (tolerância
farmacocinética). Assim os alcoólatras, quando sóbrios, necessitam de doses
maiores que os abstêmios para evidenciar efeitos farmacológicos de
anticoagulantes, anticonvulsivantes, antidiabéticos, antimicrobianos e outros
fármacos biotransformados pelo sistema oxidase de função mista. Tendo em vista
que a tolerância persiste por vários dias ou mesmo semanas, após a interrupção
do consumo abusivo do álcool, esses fármacos devem ser prescritos em doses
maiores para pacientes em fase de recuperação do alcoolismo.
·
• Medicamentos e produtos que têm
efeitos hepatotóxicos como Clorofórmio, Paracetamol, Isoniazida tem sua
hepatotoxicidade aumentada pelo efeito aditivo do álcool.
⇒ Interações em nível de
biotransformação do etanol
·
• Alguns fármacos como ácido etacrínico,
fenilbutazona, clorpromazina, hidrato de cloral, inibem a álcool desidrogenase,
promovendo o acúmulo de etanol no organismo elevando a exacerbação de seus
efeitos.
·
• Algumas substâncias, Dissulfiram,
Metronidazol, Griseofulvina, Tolbutamida, Fentolamina, Cloranfenicol,
Quinacrina, Cefalosporinas, inibem a aldeídodesidrogenase, elevando a concentração sangüínea em
5-10 vezes de acetaldeído e desencadeando a síndrome do acetaldeído ou
Antabuse. Essa síndrome caracteriza-se por intensa vasodilatação, cefaléia,
dificuldade respiratória, náusea, vômito e taquicardia.
·
• Interações medicamentosas
potencialmente perigosas podem ocorrer durante o tratamento com o dissulfiram,
pois este interfere com o sistema oxidase de função mista e inibe a
biotransformação de antidiabéticos, anticonvulsivantes, benzodiazepínicos,
antimicrobianos e outros fármacos.
·
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
·
PAGE,
C; CURTIS, M; SURTER, M; WALKER, M; HOFFMAN, B.Farmacologia Integrada. São Paulo: Manole, 1999.
·
RANG,
H.P et al., Farmacologia. 5° ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004.
·
FARMACOLOGIA.
Disponível em : . Acesso em: 02 outubro
2002.
·
KATSUNG,B.G; Farmacologia Básica e Clínica. 8ª ed. São Paulo: Editora Guanabara
S.A, 2003.
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