terça-feira, 28 de janeiro de 2014

BACTERIOSES : SHIGELOSE (DESINTERIA)

BACTERIOSES : SHIGELOSE (DESINTERIA)


Aspectos Epidemiológicos

Agente etiológico – Bactérias gram negativas do gênero Shigella, constituídas por quatro espécies:  S. dysenteriae (grupo A), S. flexneri (grupo B), S. boydii (grupo C) e S. sonnei (grupo D).

Reservatório – Trato gastrintestinal do homem, água e alimentos contaminados.

Modo de transmissão – A infecção é adquirida pela ingestão de água contaminada ou de alimentos preparados com água contaminada.  Também está demonstrado que as Shigelas podem ser transmitidas por contato pessoal.

Período de incubação – Variam de 12 a 48 horas.

Aspectos Clínicos

Descrição – Infecção bacteriana de expressão clínica pleomórfica, podendo se manifestar através de formas assintomática ou sub-clínicas, ou formas graves e tóxicas.  Nas formas graves, a shigelose é doença aguda toxêmica, caracterizada por febre, diarreia aquosa, que pode ser volumosa e com dor abdominal.  

A dor abdominal tem característica de cólica difusa, geralmente precedendo a diarreia, que se constitui no sintoma mais frequente, presente em cerca de 90% dos casos.  

De 1 a 3 dias após, as fezes se tornam mucossangüinolentas, a febre diminui e aumenta o número de evacuações, geralmente de pequeno volume e frequentes, com urgência fecal e tenesmo (colite exsudativa).  

Além da febre alta, outras manifestações podem estar presentes, tais como: anorexia, náuseas, vômitos, cefaleia, calafrios, estados totêmicos, convulsões e sinais meningíticos.  

Ao exame físico, pode-se observar hipertemia, desidratação, hipotensão, dor à palpação abdominal e ruídos hidroaéreos exacerbados.  Nas formas leves ou moderadas, a shigelose pode se manifestar apenas por diarreia aquosa, sem aparecimento de fezes disentéricas.

Sinonímia – Disenteria bacilar clássica.

Diagnóstico Laboratorial

Diagnóstico – É clínico, epidemiológico e laboratorial.  Esse último é feito pela semeadura das fezes do paciente em meios de cultura, como Mac Conckey e SS, com posterior identificação das colônias suspeitas por meio de provas bioquímicas e sorológicas, destacando-se a excelência dos métodos imunoenzimáticos e o PCR para realização do RX.

Diagnóstico diferencial – Gastroenterites virais e salmonelose.

Complicações – As complicações neurológicas (convulsões, meningismo, encefalopatias, letargia, alucinações, cefaleia, confusão mental, etc.) constituem as manifestações extra-intestinais mais frequentes da shigelose, ocorrendo mais em crianças que em adultos.  Outras complicações:  sepse, peritonite secundária à perfuração intestinal, SRA, SHU e hemorragia digestiva, pneumonia, conjuntivite, uveíte, prolapso retal, osteomielite, artrite séptica e S. de Reiter.

Tratamento – Semelhante ao indicado para todos os tipos de diarréias.  Reidratação oral (SRO), que simplificou o tratamento, pois sabe-se que o esquema de tratamento adequado independe do diagnóstico etiológico, já que o objetivo da terapêutica é reidratar ou evitar a desidratação.  

Esse esquema não é rígido, administrando-se líquidos e o SRO de acordo com as perdas.  Se houver sinais de desidratação, administrar o SRO de acordo com a sede do paciente.  Inicialmente, a criança deve receber de 50 a 100ml/Kg, no período de 4 a 6 horas; as crianças amamentadas devem continuar recebendo leite materno, junto com SRO.  

Se o paciente vomitar, deve-se reduzir o volume e aumentar a frequência da administração; manter o paciente na unidade de saúde até a reidratação; o uso de sonda nasogástrica-SNG é indicado apenas em casos de perda de peso após as 2 primeiras horas de tratamento oral e em face a vômitos persistentes, distensão abdominal com ruídos hidroaéreos presentes ou dificuldade de ingestão.  

Nesses casos, administrar 20 a 30ml/Kg/hora de SRO.  Só indica-se hidratação parenteral em alteração da consciência, vômitos persistentes (mesmo com o uso de sonda nasogástrica) e íleo paralítico.  Nos casos graves em que houver indicação de uso de antimicrobianos (que pode ser feito independente de comprovação por coprocultura e antibiograma), utiliza-se sulfametoxazol (50mg/Kg/dia) + trimetoprim (10mg/Kg/dia), em 2 tomadas diárias, de 12/12 horas, durante 5 a 7 dias.  

No caso de resistência bacteriana, utiliza-se as quinolonas (essas são contraindicadas em gestantes e crianças).

Características epidemiológicas – A frequência das infecções por Shigella aumenta com a idade da criança.  No Brasil, a prevalência dessa bactéria é de 8 a 10% em crianças com menos de um ano de idade e de 15 a 18% em crianças com mais de 2 anos.  Os índices de prevalência nos adultos são semelhantes aos encontrados em crianças com mais de dois anos.

Vigilância Epidemiológica

Objetivo – É uma das doenças diarreicas agudas, cujo objetivo da vigilância epidemiológica é o de monitorar a incidência, visando intervenções em surtos e a manutenção de atividades de educação em saúde com o propósito de diminuir sua freqüência e letalidade.

Notificação – Não é doença de notificação compulsória.  Entretanto, como explicitado no capítulo das doenças diarréicas agudas, tem-se instituído o monitoramento das diarréias através de sistemas de notificações sentinelas.

Definição de caso – Indivíduo que apresentar fezes cuja consistência revele aumento do conteúdo líquido (pastosas, aquosas, que podem ser mucossangüinolentas), com aumento do número de dejeções diárias e duração inferior a 2 semanas.  A confirmação é feita através de culturas agente.

Medidas de Controle

Melhoria na qualidade da água, destino adequado de lixo e dejetos, controle de vetores, higiene pessoal e alimentar.

Educação em saúde, particularmente em áreas de elevada incidência.
Locais de uso coletivo, tais como colégios, creches, hospitais, penitenciárias, que podem apresentar riscos maximizados quando as condições sanitárias não são adequadas, devem ser alvo de orientações e campanhas específicas.

Ocorrências em crianças de creches devem ser seguidas de isolamento entérico, além de reforçadas as orientações às manipuladoras de alimentos e às mães.  Considerando a importância das causas alimentares na diarréia das crianças menores, é fundamental o incentivo ao prolongamento do tempo de aleitamento materno, prática essa que confere elevada proteção a esse grupo populacional.

FONTE

MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. GUIA DE BOLSO, 6ª edição revista Série B. Textos Básicos de Saúde, brasília / DF, 2006

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Bibliografia Complementar

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