DROGAS : COCAÍNA
ERYTROXYLON COCAL - COCAÍNA
Pó branco, normalmente inalado (cheirado) ou diluído em água para ser
injetado nas veias (administração intravenosa). Quase sempre vendida em
pequenas quantidades (aproximadamente 1 grama), embrulhada em pedaços de
plástico ou papel alumínio, conhecidos como papelote.
Em doses reduzidas ocorre euforia, excitação, inquietação, confusão,
apreensão, ansiedade, sensação de competência e habilidade, diminuição da fome
e da sede. O tempo de duração destes efeitos é de uma a duas horas.
A cocaína é um alcalóide, substância com propriedades de base, extraído
de uma planta originária da América do Sul e Central conhecida como Erytroxylon
coca. Conhecida há cerca de sete mil anos entre os povos dos Andes, seu uso estava
ligado à religiosidade, servindo ainda para combater a fadiga e a sensação de
fome.
Com a chegada dos conquistadores espanhóis foi levada para a Europa,
onde se propagou seu consumo. Estes mesmos conquistadores disseminaram o uso da
coca entre os índios escravizados, com o intuito de fazer-lhes trabalhar mais e
comer menos. Masur e Carlini, em Drogas - Subsídios para uma discussão, assim
referem-se a este período:
"O vinho de coca, uma preparação feita à base da planta, foi
considerado durante muito tempo uma bebida reconstituinte e reconfortante, que
dotava os apreciadores de novas energias. Foi um verdadeiro modismo, elegante
mesmo, o uso desse vinho. As mais altas autoridades da Europa, príncipes e
reis, primeiros-ministros, nobres, etc., eram os principais apreciadores.
Houve até um papa que agraciou com uma medalha o principal fabricante
desse vinho."
"E das folhas da planta, o químico alemão A. Niemann conseguiu
extrair a cocaína, sob forma pura. Agora o mundo dispunha não mais de um vinho
ou chá (onde as quantidades de cocaína não eram grandes), mas de um pó branco,
muito ativo. Novamente, a Europa se vê maravilhada com a descoberta. Um dos
mais famosos adeptos da cocaína foi Sigmund Freud, o pai da psicanálise.
Este ilustre médico participou das experiências mostrando que a cocaína
era um anestésico local (isto é, tira a dor das mucosas, o que permitiu pela
primeira vez um grande progresso na cirurgia dos olhos, por exemplo).
Freud foi mais além! Ingerindo ele próprio cocaína, sentiu-se tomado de
tal energia e vitalidade que passou a difundir seu uso entusiasticamente;
escreveu artigos científicos sobre a cocaína, dizendo num deles que somente
após passar a tomar cocaína é que 'se sentiu verdadeiramente um médico'.
Chegou a dizer ainda que a cocaína iria permitir esvaziar os asilos e
combater a dependência da morfina, que gera um grave quadro de abstinência.
Freud desistiu de usar e recomendar cocaína quando um íntimo amigo seu,
dependente de morfina, ao tentar curar-se dessa dependência, acabou por
apresentar uma psicose cocaínica que se somou à síndrome de abstinência da
morfina."
"A cocaína chegou a ser usada como medicamento até o início deste
século, para vários males. Houve surtos ('epidemias') de uso não médico (abuso)
de cocaína, no passado, que foram muito comentados na ocasião, não sendo o
Brasil exceção à regra."
Em 1914, a cocaína ficou sujeita às mesmas leis que a morfina e a
heroína, sendo classificada em termos legais juntamente com os narcóticos.
Mesmo a Coca-cola, que era tida como uma bebida estimulante porque possuía
cocaína em sua fórmula, substituiu-a por outros ingredientes.
Paulo Roberto Laste, Cláudia Ramos Rhoden e Helena Maria Tannhauser
Barros, em Critérios diagnósticos de intoxicação por drogas de abuso, assim
discorrem sobre os vários tipos de preparação de cocaína:
a) Folhas de coca: podem ser mascadas ou ingeridas, nas quais é
adicionado carbonato de cálcio, o que permite uma liberação sustentada e lenta
da droga pela mucosa bucal. Os níveis sanguíneos atingidos e o risco de
dependência são baixos. No chá de cocaína, prática comum no Peru, há pouca
quantidade do alcalóide.
b) Pasta de coca: é fumada em mistura com maconha e tabaco, também
conhecida como "basuco" na Colômbia. É um extrato bruto da folha de
coca, preparado pela adição de solventes orgânicos, como querosene, gasolina ou
metanol, combinados com ácido sulfúrico. Contém 60 a 80% de sulfato de cocaína,
acrescido de alcalóide de coca, ecgonina, ácido benzóico, metanol, querosene,
compostos alcalinos, ácido sulfúrico e algumas impurezas.
c) Cloridrato de cocaína em pó: é cheirado ou injetado. Obtido pelo
tratamento da pasta de coca com ácido clorídrico (rendimento de 98%). No
mercado ilícito aparece com 12 a 75% de impurezas, após adição de contaminantes,
como açúcar, anestésicos locais, anfetaminas, cafeína.
d) Cocaína alcalóide: também conhecido como "rock" ou
"crack" é fumado. O cloridrato de cocaína é convertido em alcalóide
pelo tratamento com álcali (amônia ou bicarbonato de sódio) e éter; o produto
extraído chama-se base livre. Difere do cloridrato de cocaína por não ser
prontamente solúvel na membrana da mucosa nasal ou no sangue. Mas, como possui
baixo ponto de vaporização, pode ser fumada, sendo que 84% se mantém após a
combustão.
Além de causar dependência, a cocaína afeta o sistema nervoso central,
reduzindo a capacidade intelectual e o desempenho profissional, causando ainda
paranóia e depressão. Seu uso contínuo perfura o septo nasal, causando
hemorragia, dores de cabeça, problemas pulmonares e cardíacos. Em quantidades
maiores, podem ocorrer tonturas, náuseas, vômitos e tremores.
Em alguns casos podem acontecer convulsões, por causa do aumento da
temperatura. A overdose acontece por superdosagem, ou seja, o usuário
utiliza-se de uma dose maior do que a habitual ou adquire cocaína mais
"pura" do que normalmente consome. Neste último caso, apesar de
fisicamente parecer a mesma quantidade, ele está utilizando várias vezes a
quantidade pretendida.
Na overdose, o usuário passa a ter taquicardia, que evolui para uma
fibrilação ventricular e à morte. Nos casos de superdosagem de cocaína, vale
destacar para os profissionais da área os ensinamentos de Kaplan & Sadock,
em Compêndio de Psiquiatria:
"Para uma superdosagem aguda de cocaína, o tratamento recomendado é
a administração de oxigênio (sob pressão, se necessário) com a cabeça do
paciente para baixo, na posição de Trendelenburg, relaxantes musculares, se
necessários e, se houver convulsões, barbitúricos intravenosos de curta ação (25
a 50 mg de pentotal sódico) ou diazepam (5 a 10 mg).
Para a ansiedade com hipertensão e taquicardia, 10 a 30 mg de diazepam
intravenoso ou intramuscular podem constituir um procedimento útil. Uma
alternativa para esta finalidade, que parece ser um antagonista específico dos
efeitos simpato-miméticos da cocaína, é o bloqueador b-adrenérgico propranolol,
1 mg injetado intravenosamente a cada minuto, por até 8 minutos.
Entretanto, o propranolol não deve ser considerado uma proteção contra
doses letais de cocaína ou como tratamento para superdosagens graves."
O risco de se adquirir AIDS ou hepatite é bastante alto entre os
usuários de cocaína injetável, tornando-os um grupo de alto risco para estas
doenças. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Vigilância Epidemiológica -
Divisão DST/AIDS de São Paulo em 1995 demonstrou que entre os casos notificados
da doença naquela cidade, 32,12% dos que contraíram o vírus eram usuários de
drogas, seguidos pelos homossexuais (23,06%), heterossexuais (17,43%), bissexuais
(9,9%), de mãe para filho (2,79%), transfusão de sangue (1,78%), hemofílicos
(0,72%) e não identificados (12,2%).
O ritual deste uso da droga muitas vezes inclui o compartilhamento de
seringas, já que cuidados com a saúde não são uma constante entre os usuários,
aliado ainda ao medo de passar por uma revista em uma batida policial e ser
encontrado com material descartável no bolso.
Pela lei de entorpecentes em vigor no país, distribuir seringa ao
usuário de drogas injetáveis equivale a incentivar o consumo de tóxicos. Ainda
assim, alguns médicos estão convencidos de que fornecer seringas é o modo mais
eficaz de deter o avanço da AIDS.
Outra doença, até então rara, que têm aparecido muito nos últimos anos
com o grande aumento do uso de cocaína entre dependentes com problemas nos
músculos esqueléticos é a rabdomiólise, um processo irreversível de degeneração
destes músculos.
Existem dúvidas se a cocaína desenvolve ou não tolerância no organismo,
ou seja, se há ou não a necessidade de tomar doses cada vez maiores para que o
usuário sinta os mesmos efeitos.
Existem dúvidas ainda se a parada abrupta do uso continuado de cocaína
leva a uma síndrome de abstinência, mas é certo que a fissura pela droga
permanece durante algum tempo, variável de acordo com o paciente e o tempo de
uso da droga. Além disto, observa-se neste primeiro período de abstinência
muito sono, cansaço, aumento do apetite e depressão.
As misturas que se fazem nesta droga também são responsáveis por vários
danos ao organismo de quem as consome. Além das já citadas (açúcar, anestésicos
locais, anfetaminas e cafeína), podemos acrescentar pó de giz, talco,
reidratantes para crianças, vapor de mercúrio (o pó branco que existe dentro
das lâmpadas fluorescentes), vidro moído (para dar brilho ao pó), etc.
Alguns dos materiais que são utilizados no consumo da droga: pratos,
espelhos, ou qualquer material com superfície dura e lisa (para colocar o pó,
normalmente em carreiras); canudos de papel ou dinheiro, caneta esferográfica
sem carga, ou qualquer outro tipo de tubo (utilizado para aspirar o pó,
levando-o diretamente para dentro do nariz); giletes, cartões ou qualquer
material duro e fino com formatos aproximados (para separar as carreiras);
seringas; colheres com o cabo torto, sem cabo, pequenos copos ou qualquer outro
tipo de material côncavo (para diluir a cocaína na água); cadarços, gravatas,
cintos, etc. (com o objetivo de se fazer o torniquete para a aplicação
intravenosa); entre outros.
Uma notícia promissora (e apenas isto, por enquanto) no combate aos
problemas do consumo de cocaína veio do Instituto de Pesquisa Scripps,
Califórnia, no final do ano passado. Utilizando ratos como cobaias, os
cientistas deste Instituto desenvolveram uma substância que ao ser injetada no
sangue, estimula o organismo a produzir anticorpos para combater a droga.
A nova vacina impede o estado de euforia do usuário de cocaína ao
combater as moléculas da droga quando elas ainda estão trafegando na corrente
sanguínea. Os testes demonstraram que os níveis de cocaína encontrados no
cérebro dos ratos imunizados eram 77% mais baixos que nos animais que não
receberam a vacina. "Os anticorpos agem como uma esponja, absorvendo a
droga e impedindo que ela chegue ao cérebro", afirma Kim Janda, um dos
divulgadores da vacina em artigo da revista Nature.
Como a sensação de euforia é menor, os cientistas acreditam que o
usuário perderá o estímulo para continuar utilizando a droga. A este respeito,
o psiquiatra brasileiro Jorge Figueiredo explica que "a importância da
vacina está no fato de tornar cada vez mais distante a lembrança eufórica dos
efeitos psicoativos".
A solução do consumo desta droga ainda está longe. Não se sabe ainda os
efeitos concretos que ela teria no tratamento dos dependentes, já que foi
testada apenas em ratos de laboratório. Mas uma vantagem destaca-a dos remédios
hoje utilizados no tratamento de usuários da droga: ela não tem efeitos
colaterais. "Não devemos esquecer que a dependência de drogas é uma doença
mental, para a qual não existem curas rápidas", alerta o psiquiatra David
Self, professor da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Por enquanto é
apenas uma esperança. O que já é uma grande coisa.
FONTES
- - Enciclopédia Exitus
- - Enciclopédia Barsa
- - Enciclopédia do Estudante
- Compton's
Interactive Encyclopedia
- Drogas - Wilson
Paulino
- - Internet: ( Comem Jundiaí: www.jundiaí online.com.br
- ( Projeto Cara Limpa): www.caralimpa.com.br
- - Enciclopédia Abril. Volumes: I, VIII, X, XI, XII
- - Jornal: O Estado de S. Paulo (reportagem do Zap)
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