FARMÁCIA HOSPITALAR - USO
RACIONAL DE MEDICAMENTOS
ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DE SAÚDE
Os medicamentos modernos ocupam um papel importante
nos sistemas sanitários, pois salvam vidas e melhoram a saúde. No entanto,
existem milhões de pessoas com doenças comuns, como pneumonia, malária,
tuberculose, hipertensão e outras tantas enfermidades, sujeitas a vicissitudes
freqüentemente relacionadas aos tratamentos medicamentosos. Como exemplos,
temos: falta de acesso a um tratamento adequado ou a recursos para sua
aquisição; uso de medicamentos de baixa qualidade, resultando em processos
falhos de seleção, abastecimento e controle da qualidade; erros de medicação –
tais como dose errada, medicamento errado, posologia errada, duração errada
etc.; falta de orientação quanto ao tratamento –, resultando em baixa adesão,
mau uso, inefetividade.
A promoção do uso racional de medicamentos é um
componente muito importante de uma política nacional de medicamentos. Por
exemplo, dado o fato de que o SUS registrou, em 1996, 318 milhões de consultas
médicas e 12 milhões de internações hospitalares e, do momento que o
medicamento é importante ferramenta terapêutica e muitas vezes resultante do
processo de prescrição, pode-se inferir a importância dos medicamentos nesse
processo (BRASIL, 1998).
O uso racional ocorre quando o paciente recebe o
medicamento apropriado à sua necessidade clínica, na dose e posologia corretas,
por um período de tempo adequado e ao menor custo para si e para a comunidade (MANAGEMENT,
1997). Dessa
forma, o uso racional de medicamentos inclui:
·
Escolha terapêutica adequada (é necessário o uso de
terapêutica medicamentosa);
·
Indicação apropriada, ou seja, a razão para prescrever
está baseada em evidências clínicas;
·
Medicamento apropriado, considerando eficácia,
segurança, conveniência para o
·
Paciente e custo;
·
Dose, administração e duração do tratamento apropriado;
·
Paciente apropriado, isto é, inexistência de
contra-indicação e mínima probabilidade
·
de
reações adversas;
·
dispensação correta, incluindo informação apropriada
sobre os medicamentos prescritos;
·
Adesão ao tratamento pelo paciente;
·
Seguimento dos efeitos desejados e de possíveis
eventos adversos conseqüentes do tratamento.
Segundo Le Grand; Hogerzeil & Haaijer-Ruskamp
(1999), o uso irracional de medicamentos é um importante problema de saúde
pública em todo o mundo, com grandes conseqüências econômicas. Ainda segundo os
mesmos autores, tem sido estimado que a prescrição incorreta possa acarretar
gastos de 50 a
70% mais altos dos recursos governamentais destinados a medicamentos.
Entretanto, quando utilizados apropriadamente, os medicamentos são os recursos
terapêuticos mais freqüentemente custo-efetivos (McISAAC et al., 1994).
O URM envolve dois atores de forma fundamental: o
prescritor e o paciente (individual ou coletivo). Estes atores interagem de forma
dinâmica. O prescritor tem papel determinante na conduta do paciente, mas o
paciente também, com suas expectativas, hábitos culturais entre outros. Poderá
influenciar os hábitos prescritivos. A relação destes atores está permeada por
uma série de questões que envolvem a capacidade de definição e implementação de
uma política de medicamentos, as relações do mercado farmacêutico,
particularmente no que se refere à propaganda médica, à organização da rede de
serviços, em nível de educação da sociedade, a fatores culturais de um modo
geral e ao arcabouço legal. Um outro ator também de grande importância é o
dispensador, pois muitas interferências positivas ou negativas estão ligadas à
forma como a dispensação acontece.
Aspectos conceituais relacionados ao uso racional de
medicamentos:
- Arcabouço legal: regulatórias, normativas e
gerenciais
- Educação (conhecimento) dos profissionais e dos
pacientes
- Estratégias de intervenção
- Farmacêutico e profissionais prescritores
- Fatores culturais
- Ferramentas de estudo e identificação de
problemas
- Mercado
- Organização da rede de saúde
- Políticas de medicamentos e assistência
farmacêutica
- Propaganda
- Outros
Algumas áreas, dentro do conhecimento farmacêutico,
têm-se desenvolvido no sentido de procurar estudar essas relações e seus
determinantes, em que podemos destacar as seguintes: os Estudos de Utilização
de Medicamentos (EUM), a Farmacovigilância e a Farmacoeconomia. Os resultados
desses estudos irão orientar diversas estratégias de intervenção na busca do
uso racional, que, neste texto, agrupamos em: estratégias para a promoção do URM
dirigidas ao prescritor, promoção do URM dirigida à comunidade (menos freqüente
que a anterior) (Le Grand; Hogerzeil & Haaijer-Ruskamp, 1999) e informação
de medicamentos. Procuramos representar o modelo teórico conceitual da
interrelação dos elementos do URM.
Os esforços mais organizados para a promoção do uso
racional tiveram início nos anos 70, com a introdução do conceito de
medicamentos essenciais pela OMS, que tinha como intenção principal tanto a
promoção do uso racional como a garantia do acesso. Apesar de atualmente cerca
de 160 países contarem com listas de medicamentos essenciais, ainda é bastante
grande a parcela da população mundial à margem de acesso universal aos medicamentos.
Uma questão inicial na discussão do estabelecimento dos diferentes tipos de intervenções
para promoção ou avaliação do uso racional consiste na identificação dos possíveis
problemas, para o que se apresentam a seguir algumas possibilidades de
classificação:
Principais
problemas quanto ao uso de medicamentos (MANAGEMENT, 1997):
- Sobreuso de medicamentos: São particularmente os
injetáveis, como conseqüência tanto da prescrição excessiva quanto do
consumo exacerbado;
- Polimedicação ou polifarmácia: OMS considera que,
no nível da atenção básica de saúde (ABS), 1 ou 2 medicamentos por receita
costumam ser suficientes;
- Uso incorreto de medicamentos: Esta ‘categoria’
inclui o uso de um medicamento errado para uma condição específica
(antibióticos ou antidiarréicos para a diarréia infantil), o uso de
medicamentos de eficácia duvidosa (agentes anti-motilidade para diarréia),
emprego de fármacos de segurança questionável (dipirona) e uso de doses inapropriadas
(caso freqüente de antibióticos e TRO).
Exemplo
de tipos de problemas na prescrição (MANAGEMENT, 1997):
- Um medicamento barato proporcionaria eficácia e
segurança comparáveis a outro mais caro
- O tratamento sintomático de condições leves
desvia recursos de tratamento de enfermidades mais severas
- Utiliza-se um medicamento de determinada marca
quando existirem genéricos mais baratos
- O medicamento não é necessário
- A dose é exagerada
- O período de tratamento é demasiadamente longo
- A quantidade dispensada é exagerada em relação ao
que será realmente utilizado
- O medicamento está receitado para um diagnóstico
incorreto
- Seleciona-se um medicamento equivocado para
determinada doença
- A prescrição está redigida de forma inapropriada
- Não se fazem ajustes para fatores coexistentes
(clínicos, genéticos, ambientais e outros)
- Utilizam-se dois ou mais medicamentos quando um
dos dois alcançaria virtualmente o mesmo efeito
- Procura-se atacar várias condições relacionadas
quando o tratamento da condição primária melhoraria ou resolveria as
demais
- Não são prescritos os medicamentos necessários
- A dose é insuficiente
- A duração do tratamento é demasiadamente curta
Problemas de
prescrição (MANAGEMENT, 1997):
- Prescrição
extravagante
- Sobreprescrição
- Prescrição
incorreta
- Prescrição
múltipla
- Subprescrição
O
uso inapropriado de medicamentos pode ter conseqüências como (MANAGEMENT,
1997):
- Eventos adversos, incluindo os letais. Exemplo:
uso indevido de antibióticos, autoprescrição ou uso inapropriado de
automedicação;
- Eficácia
limitada. Exemplo: quando não se obtém o efeito esperado devido ao uso de dose
subterapêutica;
- Resistência
a antibióticos. Exemplo: o sobreuso ou o uso em doses subterapêuticas;
- Farmacodependência.
Exemplo: abuso de certos medicamentos, tais como os tranqüilizantes;
- Risco
de infecção. Exemplo: uso inapropriado de injetáveis.
Todos os componentes do ciclo da Assistência
Farmacêutica podem e devem contribuir para a promoção do uso racional de
medicamentos, o que tentaremos rapidamente exemplificar:
- Seleção e formulário terapêutico: orienta as
escolhas terapêuticas para medicamentos eficazes, seguros e
custo-efetivos, bem como orienta quanto às abordagens terapêuticas mais
adequadas, inclusive, destacando as situações onde a abordagem
não-medicamentosa pode ser mais apropriada. No Brasil, foi elaborado o Formulário
Terapêutico Nacional, baseado nos medicamentos contidos na Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais – Rename e disponível na Biblioteca
Virtual em Saúde.
- Gerenciamento da Assistência farmacêutica: o bom
gerenciamento da Assistência Farmacêutica deve ter como resultado a
disponibilidade de medicamentos de qualidade, adquiridos com agilidade
satisfatória, baixo preço, armazenados e distribuídos de forma a preservar
suas características.
- Dispensação e uso: garante o acesso a
medicamentos adequadamente envasados e rotulados, o bom entendimento do
uso do medicamento pelo paciente, bem como intervém junto ao prescritor ou
demais membros da equipe de saúde para assegurar a correta prescrição.
Dessa forma, toda a abordagem contemplada
anteriormente nesta obra trata de estratégias para o uso racional de
medicamentos, pois este é o fundamento básico da Assistência Farmacêutica.
Algumas áreas de estudo têm-se consolidado por
acarretarem a mobilização de técnicas e conhecimento específicos. Bem
utilizadas, podem tornar-se ferramentas importantes para o diagnóstico da
realidade, fornecendo subsídios técnicos e gerenciais para a tomada de decisão.
Promoção da
prescrição racional
As estratégias para promover o uso racional de
medicamentos distribuem-se segundo o público-alvo que queremos sensibilizar. O
primeiro passo deve consistir em identificar as razões pelas quais as práticas
inapropriadas estão ocorrendo para melhor eleger e direcionar a intervenção. As intervenções podem ser
categorizadas da seguinte forma (MANAGEMENT, 1997).
Estratégias educacionais
As estratégias educacionais são aquelas centradas no
provimento de informações, o que pode ser feito a partir da interação
cotidiana, treinamentos, seminários e distribuição de material escrito. A
preparação dos eventos e materiais pode e deve ser realizada pela equipe
multiprofissional.
As informações trocadas nas interações de rotina
costumam focar aspectos relativos
a questões mais particulares,
relacionadas a um paciente ou prescrição específica.
Na medida em que se identifiquem determinados
problemas que tendem a se tornar repetitivos, estes poderão ser mais bem
abordados através de estratégias mais sistêmicas. Até que o farmacêutico seja
bem aceito e reconhecido pela equipe de saúde, o que é conseguido por meio de
uma boa postura profissional e boa preparação técnica, as abordagens diretas
tendem a gerar alguns conflitos, que devem ser conduzidos com uma postura
firme, mas cuidadosa e, sobretudo, ética.
Os profissionais de saúde podem ser motivados através
da criação de materiais técnicocientíficos, como é o caso da preparação de
formulário ou guia terapêutico, boletins, cartazes ou, simplesmente,
aproveitando materiais produzidos pelo Ministério da Saúde ou
sociedades/associações científicas/profissionais nacionais e internacionais.
Também se beneficiam, através da organização de eventos científicos, cursos de
educação continuada, grupos de discussão ou através da orientação concreta das
comissões de farmácia e terapêutica, controle de infecção hospitalar ou do
conselho municipal de saúde, sem esquecer dos centros de informação sobre
medicamentos e a mídia em
geral. O farmacêutico deve atentar para a existência de
momentos educacionais já implementados, como centros de estudo ou grupos de
leitura e incorporar-se a eles.
Os boletins podem apresentar-se como uma intervenção
bastante factível no nível local, desde que tomados alguns cuidados. No que diz
respeito à produção de boletins farmacoterapêuticos, a OMS recomenda que a
informação seja (WORLD, 1985):
- Precisa;
- Técnica e cientificamente consistente;
- Específica para o problema da população-alvo;
- Independente da indústria farmacêutica;
- Apresentada de forma atrativa;
- Distribuída eficiente e periodicamente aos
leitores.
Apesar de terem grande valor no processo de reeducação
ou persuasão dos profissionais de saúde, os boletins são de pouco impacto se
não estiverem associados com outras práticas educativas (BERBATIS &
PLUMRIDGE, 1989).
Estratégias
gerenciais
As estratégias gerenciais são aquelas que visam a
orientar a decisão. Requerem esforços concentrados para sua manutenção, mas são
capazes de produzir impacto considerável nos serviços, além de oferecerem
poucas possibilidades de conseqüências não controladas. Inclui as listas de
medicamentos essenciais (que limitam o elenco de produtos disponíveis àqueles
considerados essenciais), a revisão de uso de medicamentos com a intervenção e
o desenho de protocolos (com monitoramento da adesão aos protocolos). Para ser
efetiva como medida racionalizadora, a relação de medicamentos essenciais deve
ser o balizador das aquisições de medicamentos. Eventuais aquisições fora da
lista de medicamentos padronizados, para atendimento de particularidades
clínicas, como pacientes resistentes ou intolerantes aos produtos padronizados
ou portadores de doenças raras, somente devem ser feitas mediante uma rotina
preestabelecida, na qual haja definição clara dos profissionais capazes de
autorizar esse tipo de aquisição com base em justificativas clínicas precisas.
A Revisão de Uso de Medicamentos (RUM) é uma abordagem
dentro dos Estudos de Utilização de Medicamentos (EUM) e constitui-se como uma
ferramenta que permite a identificação de problemas no processo do uso do
medicamento (prescrição, dispensação, administração e monitoramento). Para
racionalização dos recursos disponíveis, pode-se dar prioridade aos
medicamentos que serão objeto importante desse tipo de cuidado.
Como principais resultados a serem obtidos nesse tipo
de estudo, destacam-se: a melhoria da qualidade do cuidado, a contenção de seu
custo e a identificação e controle de fraudes e abusos. Os estudos de RUM
aplicam-se à utilização de medicamentos em pacientes ambulatoriais ou em regime
de internação hospitalar. Para que seja efetiva e bem compreendida, minimizando
conflitos desnecessários, a implantação de um programa de RUM deve ser
realizada em uma estratégia bem conduzida, com a participação dos prescritores
no processo de discussão da implantação, para que fique bem claro que se trata
de uma proposta de cooperação multiprofissional em prol da melhoria da
qualidade do cuidado, muito distante de uma ação policialesca sem objetivos
institucionais (LUIZA, 1994).
Razões
para a seleção dos medicamentos serem monitorizados (COE, 1992; LEMME,
2000):
- O medicamento é conhecido ou suspeito de causar
reações adversas ou interagir com outros medicamentos, alimentos, ou
procedimentos diagnósticos, de forma a representar um risco elevado à
saúde
- O medicamento é utilizado no tratamento de
pacientes que podem se encontrar em elevado risco de reações adversas
- O medicamento é uma substância muito prescrita ou
cara
- O medicamento é potencialmente tóxico ou causa
desconforto nas doses terapêuticas normais
- O medicamento é mais efetivo quando usado de
maneira específica
- O medicamento está sendo submetido a uma
avaliação para adição, retirada ou retenção nas listas de padronização
- O medicamento foi selecionado, por meio de
organizações de controle, para avaliação
Várias das comissões multidisciplinares da saúde
(farmácia e terapêutica, controle de infecção hospitalar, nutrição parenteral,
óbitos etc.) trabalham com temas que podem gerar várias possibilidades de
interface com a questão dos medicamentos, gerando e/ou orientando diversas
intervenções.
É bastante comum que os prescritores não considerem o
custo do tratamento como parâmetro de escolha dentre as opções terapêuticas.
Assim, incluir essas informações nos boletins ou outros instrumentos
informativos pode ser de grande utilidade. Atualmente, o Sindicato de Médicos
de Minas Gerais disponibiliza em sua página eletrônica (http://www.sinmedmg.org.br) informações comparativas de
alternativas farmacoterapêuticas.
Os modelos padronizados de receituário, facilitando a
explicitação de critérios de prescrição para determinados fármacos, também
podem ser outra alternativa a utilizar. Como exemplo já em uso no Brasil, temos
as requisições de receita para substâncias controladas pela Portaria 344/98,
bem como o uso de formulários específicos para solicitação de antibióticos
utilizados por vários hospitais.
Na falta de uma denominação melhor em português,
estamos chamando de ‘embalagens inteligentes’ aquelas em que a disposição e a
quantidade de medicamentos fornecidos servem como orientação tanto para o
prescritor como para o paciente quanto à melhor forma de uso dos medicamentos.
Exemplos disso são as cartelas de contraceptivos orais e os blísteres
(calendários utilizados na hanseníase).
Algumas unidades de saúde têm utilizado outras medidas
administrativas com a intenção de promover a prescrição racional, como por
exemplo, limitar a circulação dos representantes de empresas médicas, proibição
de uso de amostras grátis de medicamentos não padronizados e outras. É
interessante lembrar que a descontinuidade do abastecimento de medicamentos é
outro aspecto administrativo que freqüentemente pode acarretar o uso irracional,
na medida em que, pela ausência das opções terapêuticas de primeira escolha, os
prescritores tenderão a utilizar opções desnecessariamente mais caras e
inadequadas.
Estratégias
regulatórias
Incluem as medidas de cunho regulatório, como a
definição de políticas com orientação ao uso racional, os atos com medidas
regulatórias à prescrição, a retirada de produtos inidôneos do mercado, as restrições
de comercialização e de distribuição. As principais medidas de promoção da prescrição
racional estão sumarizadas.
A execução de determinados projetos de investigação,
utilizando a metodologia própria dos estudos de utilização de medicamentos, é outra
arma importante. Quanto à criação de Centros de Farmacovigilância, é notória
sua contribuição, principalmente, no que diz respeito ao saneamento do mercado
farmacêutico e identificação de problemas pontuais. Este, entretanto, é um
aspecto que ainda está em desenvolvimento no país (COELHO, 1999).
Intervenções
para a promoção do uso racional por parte dos profissionais de saúde
Estratégias
educacionais (MANAGEMENT, 1997):
Treinamento de prescritores
- Educação formal (anterior à prática profissional)
- Educação continuada
- Visitas supervisionadas
- Grupos de leitura, seminários, centros de estudo
Material impresso
- Literatura clínica e boletins
- Guias de tratamento e formulários de medicamentos
- Panfletos
- Abordagens
baseadas no contato de rotina
Estratégias gerenciais
Seleção, aquisição e distribuição
- Listas de aquisição limitadas ao elenco de
medicamentos essenciais
- Estudo de revisão de medicamentos com intervenção
- Comissões regionais e hospitalares
- Informações sobre custos
Abordagens de prescrição e dispensação
- Modelos padronizados de receituário
- Protocolos padronizados para diagnóstico e
tratamento
- Embalagens
‘inteligentes’
Financiamento
- Pesquisa
de preços cuidadosa
Estratégias regulatórias
- Registro de medicamentos
- Listas de medicamentos essenciais
- Restrições à prescrição
- Restrições à dispensação
Promoção
do uso racional de medicamentos para a comunidade
No caso do desenvolvimento de programas educativos
voltados para a comunidade leiga, é desejável a participação ativa de
profissionais de saúde e membros da própria comunidade em todos os momentos do
planejamento, desenvolvimento e avaliação do programa. Esta tem sido a fórmula
recomendada e utilizada por vários educadores sanitários (ANDRADE & COELHO,
1997; SÉGUIN & RANCOURT, 1996; MAURIZI, 1994).
A seguir, são descritos os passos mais importantes
para a formação de uma equipe de colaboradores e possíveis multiplicadores das
informações educativas:
- Identificar os indivíduos que sejam respeitados
pelos membros da comunidade ou que exerçam certa influência sobre a mesma;
- Convidá-los a participar de reunião sobre a
questão do consumo de medicamento em seu município;
- Reunir o grupo e solicitar aos presentes que
exponham suas dúvidas, preocupações e dificuldades sobre o uso de
medicamentos pela comunidade, procurando direcionar a discussão para temas
como a distribuição de medicamentos no município, a automedicação, riscos
do uso irracional de medicamentos, uso por gestantes, idosos e crianças
etc.; a partir da discussão, identificar os problemas;
- Conscientizar o grupo da necessidade de
desenvolver projetos educativos na área e solicitar a cooperação de todos;
- Definir temas, público-alvo, metodologia de
trabalho e agendar as próximas reuniões.
No processo, também é recomendável:
- Identificar as condições de vida, trabalho e
riscos de adoecimento da população-alvo;
- Identificar os meios de comunicação a que a
população-alvo tem acesso;
- Identificar grupos e projetos de ação comunitária
já existentes na área para troca de experiências;
- Considerar os aspectos culturais da comunidade;
- Preparar materiais informativos com linguagem e
conteúdo simples e de fácil compreensão;
- Lembrar que a informação, quando é mental ou
afetivamente classificada como desconfortável pelo indivíduo, tende a ser
ignorada; ao contrário, quando é considerada agradável, ela tende a ser
incorporada.
O trabalho não deve se restringir apenas a
conscientizar as pessoas a usar corretamente os medicamentos, mas também poderá
ser utilizado para evitar o surgimento de doenças que necessitem do uso dos
mesmos. Por exemplo, as noções básicas de higiene pessoal e ambiental são
aspectos fundamentais a serem abordados nesse programa.
A elaboração de material técnico-científico para dar
suporte às palestras e outras atividades é uma conseqüência natural do processo
educativo e, provavelmente, precisará reunir indivíduos com diferentes
habilidades profissionais. É, portanto, sumamente importante assegurar que
todos os colaboradores compreendam a proposta educativa e seus objetivos, e que
o desenvolvimento e a produção desses materiais atendam à população analfabeta
da região, empregando figuras ilustrativas. No final, é conveniente testar o material
produzido junto a membros da comunidade para avaliação e incorporação de correções,
o que proporcionará uma melhor adequação do produto ao grupo a que se destina.
Avaliação
periódica do processo
A avaliação é a chave mestra do processo, pois mede a
eficácia e a eficiência de cada etapa do programa educativo, identifica os
possíveis problemas, realiza ajustes e correções e avalia se o mesmo obteve ou
não o impacto desejado, ou seja, se provocou mudanças comportamentais na
comunidade e até nos serviços de saúde local.
Algumas
estratégias para promoção do uso racional para a comunidade
A seguir, são realizadas algumas considerações
específicas com relação aos tipos de
estratégias voltadas à comunidade
leiga.
Teatro
A organização de peças dramáticas breves e que
descrevam situações que gostaríamos de mudar facilita o debate e impulsiona o
público a participar ativamente das discussões. Alguns estudiosos recomendam
deixar no texto margem para que os espectadores possam participar diretamente
da representação. Segundo Andrade & Coelho (1997), essa estratégia
proporciona aos espectadores uma possível primeira experiência como atores, em
um cenário real.
Trabalho de
grupo
Com relação ao trabalho de grupo, recomenda-se que o
processo obedeça às seguintes etapas:
- Colocação de uma situação problema para o grupo;
- Abrir espaço para discussão (análise da
situação): os participantes expõem suas idéia, sentimentos e opiniões;
- Conscientização do problema: o coordenador entra
com aspectos teórico/científicos e pode introduzir material educativo
elaborado para este fim;
- Formação de consciência crítica: os participantes
fazem uma conexão entre o teórico, o problema e as soluções;
Os participantes tiram suas próprias conclusões.
Treinamento
de multiplicadores
Na maioria dos
municípios, é normal verificarmos a existência de boa parte da população vivendo
na zona rural, em localidades de difícil acesso, mas que são atendidas
periodicamente pelos agentes de saúde comunitários. Outros grupos que podem, de
uma maneira geral, apoiar o processo educativo são os próprios profissionais de
saúde e os professores de escolas primárias e secundárias. Portanto, vale a
pena investir no treinamento destes indivíduos, que serão multiplicadores da
informação na área, sendo necessário, apenas, assegurarem que todos compreendam
a proposta educativa, seus objetivos, a utilização adequada dos materiais educativos
produzidos e o desenvolvimento/aplicação de práticas educativas relevantes.
No caso em questão, é interessante observar a
existência de instrumento educativo idealizado pelo Grupo de Prevenção ao Uso
Indevido de Medicamentos (GPUIM), do Departamento de Farmácia da Universidade
Federal do Ceará, com apoio da United Nations Children’s Fund (Unicef), para
ajudar no treinamento de agentes de saúde e ensinar a refletir sobre o lado
útil e o lado perigoso dos medicamentos, intitulado Medicamentos:
Manual para agentes de saúde (SOUSA, 1997), podendo
ser utilizado nas atividades aqui propostas. Outro instrumento elaborado pelo
mesmo grupo, porém voltado para o treinamento de professores primários, é o
manual Medicamentos incluído na série Crianças para a Saúde da Unicef (BRASIL,
1993).
Programa
de rádio
Programas de rádio são excelentes instrumentos
educativos. Um exemplo claro da utilização desse veículo de comunicação para
educar os indivíduos sobre o uso racional de medicamentos foi o programa de rádio
Falando de Medicamentos, idealizado, em maio de 1995, pelo Grupo de Prevenção
do Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Ceará (UFC) (COELHO,
1999).
O programa tinha periodicidade semanal, todas as
segundas-feiras, na Rádio Universitária FM de Fortaleza, e apresentava o
seguinte formato, que foi mudando no decorrer de sua existência (1995-1998):
inicialmente, o programa era composto por entrevistas com profissionais de
saúde, notícias interessantes da área, seções de ‘Você Sabia ?’, nas quais eram
discutidos fatos curiosos sobre medicamentos. Depois, o grupo aperfeiçoou o
programa trabalhando sobre rádio-teatro (peças cômicas), seguido de entrevista
e discussão sobre o tema. O sucesso levou a Unicef a solicitar ao grupo a
preparação de 14 programas com duração de três a quatro minutos, que seriam
distribuídos para radialistas de emissoras comunitárias, cujos temas foram:
- Os nomes dos medicamentos;
- O custo dos medicamentos;
- A propaganda de medicamentos; prazo de validade
dos medicamentos;
- Medicamentos na gravidez, na lactação, na
infância, nos idosos, para tosse e resfriado;
- Antibióticos;
- Antidiarréicos;
- Estimulantes de apetite;
- Medicamentos para ansiedade e insônia, e
anticoncepcionais.
Vale ressaltar que a criação dos programas se baseava,
principalmente, no perfil das solicitações de informação sobre medicamentos
encaminhadas ao Centro de Informação de Medicamentos da UFC.
Em outro projeto, o grupo preparou quatro programas
para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) destinados ao
público feminino, com duração de 8-12 minutos e formato variado: enquetes,
entrevistas e rádio-teatro. Os temas dessa série foram: anticoncepcionais, medicamentos
na gravidez e lactação, emagrecedores, problemas gerais com medicamentos.
Alguns comentários adicionais
É evidente que todo o trabalho da promoção do uso
racional de medicamentos seria muito mais efetivo se as autoridades sanitárias
trabalhassem com medidas preventives para assegurar a saúde dos cidadãos (o
que, por si só, iria reduzir a necessidade do uso de medicamentos) e retirassem
do mercado farmacêutico nacional os medicamentos de eficácia duvidosa ou nula e
as combinações em dose fixas injustificadas (COELHO, DA-SILVA & ARRAIS, 1997;
VELÁSQUEZ, 1999). Contudo, os gastos oriundos da promoção do uso racional
representam um investimento social de grande relevância para a saúde pública,
que trará, a largo prazo, uma economia importante para o estado.
Informação de
medicamentos antecedentes
Um medicamento deve vir acompanhado de informação
apropriada. A qualidade da informação que acompanha um medicamento é tão
importante quanto a qualidade do princípio ativo. A informação e a promoção dos
medicamentos pode influenciar em grande medida a forma como os medicamentos são
utilizados. O monitoramento e controle dessas atividades são partes essenciais
de uma política nacional de medicamentos (MARIN, 1999).
Centros
de Informação sobre Medicamentos
A meta principal dos centros de informação sobre
medicamentos é a promoção do uso racional dos medicamentos. Para alcançar esta
meta, a informação prestada deve ser objetiva, imparcial e imune a pressões
políticas e econômicas. Ademais, como em muitos casos está em jogo a orientação
para a situação clínica de um paciente, a informação deve ser fornecida com
agilidade, em tempo hábil para sua utilização em cada caso. Apóiam o uso
correto dos medicamentos fundamentado em informações seguras, imparciais, independentes
e atualizadas. Para isso, utilizam fontes de informação confiáveis e
imparciais, reconhecidas internacionalmente.
Existem várias definições na literatura sobre
informação e centro de informação sobre medicamentos. Foram escolhidas as de Malone et al. (1996) e de
Garcia & Alberola (1984). Dessa forma, Informação sobre Medicamentos (IM)
pode ser definida como a provisão de informação adequadamente referenciada,
criticamente avaliada e, sobretudo, imparcial sobre quaisquer dos aspectos
relacionados à prática farmacêutica.
Centro de Informação sobre Medicamentos (CIM), por sua
vez, é um local no qual, mediante a seleção, a análise e a avaliação de fontes
de informação sobre medicamentos são elaboradas e comunicadas as informações
demandadas.
No II Encontro de Centros de Informação sobre
Medicamentos do Brasil, foi proposta uma outra definição para o CIM, como local
destinado a reunir, analisar, avaliar e fornecer informações sobre
medicamentos, tendo como objetivo seu uso racional (SISTEMA, 1998).
Centro versus serviço
Os termos Centro de Informação sobre Medicamentos e
Serviço de Informação sobre Medicamentos são às vezes usados como se fossem
sinônimos, embora existam diferenças.
A literatura sugere que o primeiro deve denotar o
local físico, e o último, a atividade desenvolvida neste local (STANOVICH,
1996). Entretanto, para a finalidade estratégica de implantação da atividade de
informação sobre medicamentos, é estabelecida uma hierarquia em que os centros
têm uma abrangência maior (por exemplo, um país, um estado, uma região) e os
serviços são institucionais, por exemplo, atendendo à demanda de um hospital (ORGANIZAÇÃO,
1995; D’ALESSIO; BUSTO & GIRÓN, 1997). Esta é a ótica adotada neste livro,
enfatizando-se, porém, que o importante é a atividade desenvolvida, e não a sua
designação, seja centro ou serviço.
Atividades
de um centro de informação sobre medicamentos
A maioria dos textos que tratam de CIM referem-se a
uma série de atividades desenvolvidas nos mesmos, relacionadas com o uso
racional dos medicamentos. Burkholder (1963), referindo-se ao CIM da
Universidade de Kentucky (primeiro do mundo), dizia que o propósito primordial
do CIM era sistematizar e disponibilizar, a todo o corpo de profissionais,
informações sobre medicamentos de modo a promover o uso racional, facilitar os
programas de ensino nas faculdades de medicina, odontologia e enfermagem e promover
estudos quanto a padrões de utilização de medicamentos em pacientes tratados no
Centro Médico. Outro propósito do CIM seria o de favorecer oportunidade de
associação mais estreita entre farmacêuticos e problemas de farmacoterapia da instituição.
Atividades
de um Centro de Informação sobre Medicamentos (ORGANIZAÇÃO, 1995; AMERSON,
1996)
- Responder às perguntas relacionadas ao uso dos
medicamentos
- Atividades da Comissão de Farmácia e Terapêutica
- Publicações: boletins, alertas, colunas em
jornais
- Educação: estágio, cursos sobre temas específicos
da farmacoterapia
- Revisão do uso de medicamentos
- Atividades de pesquisa sobre medicamentos
- Coordenação de programas de notificação (por
exemplo, de reações adversas a medicamentos)
Sobre estas atividades, é fundamental dizer:
- Não existe CIM sem a primeira atividade –
‘responder a perguntas’. Ou seja, um CIM pode desenvolver todas as
atividades descritas, mas não será um CIM o lugar que desenvolver todas as
atividades, menos a primeira.
- Responder a perguntas’ deve representar a maior
parte dos trabalhos prestados pelo CIM. Esta deve ser a atividade
principal.
Informação
passiva e ativa
As atividades
descritas acima podem ser classificadas em duas grandes áreas:
- Informação passiva – é aquela que é oferecida em
resposta à pergunta de um solicitante. O farmacêutico informador espera
passivamente que o interessado lhe faça a pergunta. Desencadear a
comunicação é iniciativa do solicitante.
- Informação ativa – é aquela em que a iniciativa
da comunicação é do farmacêutico informador, o qual analisa que tipo de
informação pode ser necessária e seus possíveis usuários (médicos,
farmacêuticos, odontólogos, enfermeiros, pacientes, outros) e encontra uma
via de comunicação para suprir estas necessidades.
O
papel do farmacêutico especialista em informação sobre medicamentos
Fornecer informação sobre medicamentos sempre foi uma
parte da prática farmacêutica; o farmacêutico sempre forneceu informação
avaliada (profissional) para o público e para outros profissionais da saúde (STANOVICH,
1996).
Em paralelo à implantação dos centros de informação
sobre medicamentos, os farmacêuticos se especializaram na atividade e, hoje,
existe a ‘especialização’ farmacêuticoinformador sobre medicamentos (ASCIONE;
MANIFOLD & PARENTI, 1994).
As atividades clínica, administrativa e de
distribuição de medicamentos exercidas pelos farmacêuticos são inseparáveis,
fazendo dele o contato lógico quando há necessidade de informação prática sobre
o uso de medicamentos em um paciente. Por exemplo, o farmacêutico, mais do que
qualquer outro profissional da saúde, está capacitado para integrar informação
sobre eficácia, segurança, situação de padronização, custo, preparação e
entrega de uma terapia medicamentosa em particular.
O perfil profissional do farmacêutico especialista em
informação sobre medicamentos, com treinamento e experiência clínica, sugere as
seguintes habilidades (AMERICAN, 1968; ORGANIZAÇÃO, 1995):
- Competência na seleção, utilização e avaliação
crítica da literatura;
- Competência para apresentação da máxima
informação relevante com um mínimo de documentação de suporte;
- Conhecimento da disponibilidade de literatura,
assim como de bibliotecas, centros de documentação, entre outros;
- Capacidade de comunicar-se sobre informação farmacoterapêutica
nas formas verbal e escrita;
- destreza no processamento eletrônico de dados;
- Capacidade para participar nas comissões de
farmácia e terapêutica.
Fontes
de informação
As fontes de informação são divididas em primárias,
secundárias e terciárias.
As ‘fontes primárias’ (ou literatura primária) são
constituídas por pesquisas publicadas em revistas biomédicas, ou seja, em que
aparece pela primeira vez na literatura qualquer informação. É a mais abundante
e, por isso, mais difícil de ser manejada, avaliada e utilizada. Por exemplo,
artigos científicos publicados no Journal of American Medical Association
(Jama).
A ‘fonte secundária’ consiste em serviços de indexação
e resumo da literatura primária. O Medline e o International Pharmaceutical
Abstracts (IPA) são exemplos. O Medline, sistema de indexação mais comum em
ciências da saúde, pode ser acessado através do site da Bireme (www.bireme.br),
de onde podem ser solicitados os artigos que forem selecionados a um preço
bastante acessível. Às vezes, por esta via, o resumo do artigo pode ser
visualizado, mas nem sempre se consegue copiar o mesmo. As cópias podem ser
enviadas pelo correio ou por fax (ficando mais caro).
A ‘fonte terciária’ consiste em livros-texto (por
exemplo, Goodman e Gilman – As Bases Farmacológicas da Terapêutica), livros de
monografias (como a United States Pharmacopeia Dispensing Information – USPDI)
e bases de dados computadorizadas (Drugdex – Micromedex).
Além destas, os artigos de revisão também são
considerados literatura terciária. Na prática, a maioria das informações
necessárias aos profissionais pode ser encontrada nessas fontes, ainda que deva
ser considerado o aspecto da desatualização da informação quando comparadas com
a literatura primária.
O Martindale e o Drugdex (Micromedex) são às vezes
considerados fontes híbridas entre a literatura terciária e secundária por
trazerem tanto textos avaliados como trechos de artigos científicos.
Existem também fontes de informação que não se
enquadram nessas categorias e são chamadas de alternativas. São exemplos de
fontes alternativas a Internet – páginas web, listas de discussão, file
transfer protocol (FTP) –, organizações profissionais, indústrias farmacêuticas
e centros de informação toxicológica e de medicamentos.
A bibliografia sobre medicamentos é vasta, complexa e
cresce em um ritmo acelerado,
sendo difícil ao profissional
manter-se atualizado sobre os avanços da farmacoterapêutica.
Disseminação
de informação sobre medicamentos para profissionais da saúde
Decisões terapêuticas devem estar fundamentadas em
informação objetiva, comparativa, independente e com credibilidade. Estas podem ser fornecidas
por:
- Formulários terapêuticos;
- Envolvimento em ensino e reuniões clínicas,
pesquisa da prática e serviços especializados prestados pelos técnicos dos
centros de informação;
- Desenvolvimento de um boletim de informação de
medicamentos direcionado ao uso de medicamentos e práticas de prescrição;
- Disseminação de literatura científica e
independente sobre o uso racional de medicamentos e em avanços
terapêuticos;
- Organização de programas de treinamento,
simpósios e palestras para os vários grupos do pessoal de saúde;
- Desenvolvimento de guias de tratamento e material
educacional em uso apropriado de medicamentos para os trabalhadores de
saúde comunitários e o pessoal paramédico no nível da atenção primária.
Para usuários
Os usuários, em especial os pacientes, devem assumir a
sua parcela de responsabilidade quanto ao seu tratamento para que este tenha
sucesso. Para que isso ocorra devem ser orientados, durante a prescrição ou
dispensação. Os pacientes em tratamento com medicamentos de uso contínuo devem
merecer especial atenção e orientação. A informação fornecida a eles deve ser
similar à dos prescritores, mas em linguagem acessível, certificando-se sempre
da compreensão das instruções. O paciente tem direito ético ao completo
esclarecimento sobre o seu tratamento.
Informações devem ser fornecidas em forma de folhetos,
através de campanhas e, mais importantes ainda, por aconselhamento ao paciente.
Em população com baixo nível de alfabetização, devem ser usadas formas
adicionais (visuais, auditivas, tácteis etc.) de apresentação da informação (MARIN,
1999).
Aspectos práticos
Os centros de informação sobre medicamentos, locais
privilegiados para a execução de muitas das atividades indicadas pela Política
Nacional de Medicamentos, diz que “os gestores atuarão no sentido de viabilizar
o propósito desta Política de Medicamentos, qual seja, o de garantir a
necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional
e o acesso da população àqueles considerados essenciais” (BRASIL, 1998).
A Política Nacional de Medicamentos determina o
desenvolvimento de atividades que centros de informação sobre medicamentos poderão
apoiar, por exemplo:
- Revisão permanente das relações de medicamentos
fundamentada na segurança e eficácia terapêutica comprovadas;
- Elaboração de um formulário terapêutico;
- Atualização contínua e padronização de protocolos
de intervenção terapêutica e dos respectivos esquemas de tratamento;
- Execução de campanhas educativas dos usuários
sobre a importância da adesão ao tratamento, dos riscos da automedicação;
da troca da medicação prescrita etc;
- Programas de farmacoepidemiologia e
farmacovigilância;
- Promoção da educação continuada dos profissionais
de saúde sobre farmacologia e terapêutica aplicada e outros aspectos
envolvidos no uso racional de medicamentos, bem como disseminação de
informações objetivas e atualizadas.
- Fundamentação da retirada de medicamentos do
mercado;
- Fundamentação do controle da propaganda dos
medicamentos.
Em geral, um centro de informação sobre medicamentos
supre a maioria das funções já citadas. Entretanto, embora seja custo-efetivo,
como a sua implantação e manutenção é dispendiosa, prefere-se estimular o uso
dos já existentes.
Como
consultar um centro de informação sobre medicamentos
Uma das características dos CIM é o fornecimento de informação
gratuitamente, ou seja, as consultas a eles dirigidas não serão cobradas. Excepcionalmente,
trabalhos de vulto ou de maior extensão, a critério de cada CIM, poderá ser
cobrado. Os serviços de informação passiva de um CIM podem ser solicitados por
telefone, pessoalmente, fax, correspondência, correio eletrônico, dependendo do
caso. É necessário que o usuário se identifique e forneça seu endereço, número
de telefone etc., a fim de estabelecer uma via de comunicação que será
utilizada na resposta, se esta não for imediata, ou caso um novo contato seja
necessário. Quando um paciente estiver envolvido, é de grande importância fornecer
os dados adequados ao mesmo, de tal forma que a resposta corresponda às suas necessidades
e características particulares. Algumas categorias de perguntas respondidas
pelos CIM. Quadro 11 – Exemplos de categorias de perguntas respondidas pelos
CIM administração compatibilidade disponibilidade equivalência estabilidade farmacocinética
(VIDOTTI et al. 2000).
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