VERMINOSES :TENÍASE /
CISTICERCOSE
1
- Introdução
Várias espécies de Taênia causam
problemas à saúde humana e são responsáveis por perdas econômicas na atividade
agropecuária. Na família Taeniidse, dois cestópodes importantes que tem o homem
como hospedeiro definitivo e obrigatório são: Taenia saguinata e a Taenia solium, popularmente conhecida
como “ solitária”, cujos hospedeiros intermediários são o bovino e o suíno,
onde causa a cisticercose ou “canjiquinha”
A Teniase e a Cisticercose são duas entidades mórbidas
distintas causadas pelas mesmas espécies, porém com fases de vida diferentes. A
Teníase é uma alteração provocada pela presença da forma adulta da Taênia
solium ou da Taênia saginata (vulgarmente conhecida como solitária) no
intestino delgado humano; a cisticercose é uma alteração provocada pela
presença da larva (vulgarmente conhecida como canjiquinha), nos tecidos de seus
hospedeiros intermediários (respectivamente, o suíno e o bovino). Larvas de T.
solium e também são encontradas no homem e no cão.
O complexo Teníase /
cisticercose é um grave problema de saúde pública, particularmente nos países
em desenvolvimento. É uma zoonose que tem sido ponto de preocupação para
profissionais da área de saúde humana e animal, sem no entanto contar com um
programa de controle efetivo por parte dos órgãos governamentais
2
- O parasito
2.1
Morfologia :
Taênia solium, e taênia saginata pertencem a
classe cestóides, ordem Cyclophilidae, família Taenidae e gênero Taênia. Na
forma larvária (Cisticercus cellulosae e C. boris ) parasitam o suíno e o
bovino respectivamente, produzindo a cisticercose no animal. Ocasionanalmente ,
o Cysticercus cellulosae produz cisticercose no homem.
Verme adulto
A Taênia solium e a
Taênia saginata entero-parasitas grandes achatados em forma de fila,
segmentados e da cor branca.
São divididas morfologicamente em escólex ou
cabeça, colo ou pescoço, e estróbio ou corpo.
Escólex: É um
órgão adaptado para a fixação do cestoda na mucosa do intestino delgado,
A Taênia solium possui um rostelo ou rosto armado; a Taênia saginata não possui
tal rostelo
Colo: Está situado imediatamente abaixo do
escólex, não tem segmentação, mas suas células estão em constante atividade
reprodutoras, dando origem às proglotes jovens. É conhecida como zona de crescimento,
ou zona de formação de proglotes.
Estróbilo: É o corpo do helminto, formado
pela união de proglotes, ou proglótides (anéis), podendo ter de 800 à 1000 e
atingir 3 metros e chegar até os 9 metros de comprimento na Taênia solium e ter
mais de 1000 proglotes a atingir até 8 metros na Taênia saginata, já tendo sido
encontrada exemplar de até 25 metros.
As proglotes são subdivididas em proglotes
jovens, maduras e grávidas. Como cada proglote tem sua individualidade
alimentar e reprodutiva (órgãos masculinos e femininos), nós podemos dizer que
o corpo de uma Taênia é formado pela justaposição de vários indivíduos
(proglotes).
Proglotes jovens: apresentam o início do desenvolvimento dos
órgãos genitais masculinos e femininos, sendo esse desenvolvido um pouco mais
tarde, permitindo a fecundação da mesma proglote ou com proglotes diferentes.
Proglotes maduras:
Possui os genitais masculinos e femininos desenvolvidos e aptos para a
fecundação.
Proglotes grávidas:
São aquelas que apresentam um útero cheio
de ovos.
Ovos; é impossível
diferenciar os ovos da Taênia. Eles são esféricos; são constituídos por uma
casca protetora denominada embrióforo. Dentro doembrióforo, encontramos a
oncosfera ou embrião.
Cisticerco: O cysticercus
cellulosae, larva da T. solium é constituído por escólex, rostelo, colo
e uma vesícula membranosa contendo líquido em seu interior. O cysticercus
bovis, larva da T. saguinata apresenta a mesma morfologia do cysticercus
cellulosae diferindo apenas pela ausência do rostelo. Estas larvas podem
atingir até 12 milímetros de comprimento, após 4 meses de infecção.
2.2 Biologia :
Tanto a Taênia solium, quanto a Taênia saguinata, na fase adulta ou reprodutiva
vivem no intestino delgado do homem, já o Cistircus cellulosae é encontrado no
tecido subcutâneo, muscular, cardíaco, cerebral, e no olho de suínos e
acidentalmente no homem e no cão. O C. bovis é encontrado nos tecidos dos
bovinos.
Ciclo biológico
O homem parasitado
elimina junto com as fezes, proglotes grávidas cheias de ovos. No meio exterior
a proglote se rompe liberando os ovos. O hospedeiro intermediário (suíno para a
T. solium, e bovino parra a T. saguinata) infecta ao ingerir (direta ou
indiretamente) fezes humanas contendo os ovos. No intestino dos hospedeiros
intermediários as oncosferas sofrem as ações dos sais biliares (que são de
grande importância na sua ativação e liberação).
Uma vez ativadas as
oncosferas liberam-se do embrióforo (casca do ovo), daí atravessam as
microvilosidades do intestino e penetram nas vênulas e atingem as veias
linfáticas mesentéricas. Atingem a corrente circulatória, sendo transportadas
por vias sangüíneas a todos os órgãos e tecidos do organismo.
As oncosferas
desenvolvem-se para cisticercos em qualquer tecido mole (pele, músculos esqueléticos
e cardíacos, olhos cérebro, e etc.) mas preferem os músculos de maior
movimentação e de maior oxigenação (masseter, língua, coração e cérebro).
No interior dos
tecidos cada oncosfera transforma-se em um pequeno cisticerco delgado que
começa a crescer atingindo até 12 mm de comprimento no final de 4 ou 5meses de
infecção. A infecção do homem pelos cisticercos se dará pela ingestão de carne
crua ou mal passada do porco ou boi infectado. O cisticerco ingerido sofre ação
de sucos gástricos, evagina-se e fixa-se pelo escólex na mucosa do intestino
delgado, onde transforma-se em uma Taênia adulta, expulsando diariamente de 4 a
8 proglótides contendo em média 50 a 80 mil ovos em cada um. O colo, produzindo
novos proglotes mantém o parasito em movimento constante
2.3 Transmissão:
A Taênia solium pode
viver 3 anos no hospedeiro, e a Taênia saguinata pode viver 10 anos
aproximadamente.
O homem adquire a
Teníase por Taênia saguinata ingerindo carne de bovino crua ou mal cozida,
infectada pela C. bovis. A Teníase por Taênia solium é contraída pela ingestão
de carne de suíno crua, ou mal passada infectada pela C. cellulosae. A
cisticercose humana é adquirida pela ingestão acidental dos ovos viáveis da
Taênia solium
Entre os métodos
possíveis de infecção do homem pelos ovos da Taênia solium, podemos citar:
Auto-infecção externa
: O homem elimina proglotes e os ovos de sua própria Taênia são levadas à boca
pelas mãos contaminadas.
Auto-infecção
interna: Durante vômitos ou movimentos retroperistálticos do intestino, as
proglotes da Taênia solium poderiam ir para o estômago e depois voltariam para
o intestino delgado, liberando as oncosferas.
Hetero-infecção: O homem ingere, juntamente com os
alimentos contaminados os ovos da solium
de outra pessoa.
3. Epidemiologia
3.1 Distribuição geográfica: As Taênias são
encontradas em todas as partes do mundo em que a população tem o hábito de
comer carne de porco ou de boi, crua ou mal cozida. Interessante é que pelos
hábitos alimentares de certos povos a Teníase mais comuns ou raras. Assim a
Taênia saguinata é muito rara entre os hindús, que não comem carne de bovinos,
e a Taênia solium, entre os judeus por não comerem carne de suínos.
A América latina tem
sido apontada por vários autores como área de prevalência elevada. No Brasil a
cisticercose tem sido cada vez mais diagnosticada, principalmente nas regiões
Sul e Sudeste. A baixa ocorrência de Cisticercose em algumas regiões do Brasil,
como por exemplo Norte e Nordeste pela falta de notificação ou tratamento em grandes
centros, como São Paulo, Curitiba, Brasília, Rio de Janeiro, dificultando a
identificação da procedência do local da infecção.
Segundo dados da Fundação Nacional da Saúde/ Centro
Nacional de Epidemiologia (FNS/CENEPI – 1993) o Brasil apresentou um total de
973 óbitos por causa da Cisticercose no período de 1980 a 1989.
Tanto a Taênia
saguinata, como a Taênia solium tem uma larga distribuição em nosso país,
devido às precárias condições de higiene de nosso povo, método de criação
extensiva de animais e do mal hábito de se comer carne pouco cozida ou assada.
Em várias regiões do país, é comum criar-se o porco solto ou confinado perto
das habitações, onde a privada ou esgoto abre-se diretamente nas pocilgas. Da
mesma forma, quer defecando nos pastos, quer defecando em vasos sanitários cujo
esgoto desaguam em riachos que servirão de fonte de água, bovinos se infectam
facilmente ao pastar ou beber em ambientes contaminados.
4. Sintomatologia
4.1 Teníase : Apesar
de ser a Taênia popularmente conhecida como solitária, indicando que o
hospedeiro alberga apenas um parasito, na pratica o que se observa são pessoas
infectadas com mais de uma Taênia da mesma espécie.
Devido ao longo período em que a Taênia solium ou a
Taênia saguinata parasita o homem, elas podem causa fenômenos tóxicos e
alérgicos, através de substâncias excretadas, provocar hemorragia através de
fixação na mucosa, destruir o epitélio e produzir inflamação com infiltrado
celular com hipo ou hipersecreção de muco.
O acelerado
crescimento do parasito requer um considerável suplemento nutricional, que leva
à uma competição com o hospedeiro, provocando consequências maléficas para o
mesmo. Tontura, astenia (fraqueza muscular), apetite excessivo, náuseas,
vômitos, alargamento do abdômen e perda de peso são alguns dos sintomas
observados em decorrência da infecção
4.2 Cisticercose:
Os
fatores determinantes das manifestações clínicas estão na dependência da
localização, tipo morfológico, número e fase de desenvolvimento, dos
cisticercos e da resposta imunológica do hospedeiro. Da conjunção desses
fatores resulta um quadro pleumórfic, com uma multiplicidade de sinais e
sintomas neurológicos.
A Neurocisticircose
ou a cisticercose ocular, em particular, são responsáveis por várias
alterações. Estima-se que de cada 100.000 pessoas no mundo, 100 apresentam
neurocisticercose , e 30 cisticercose ocular.
Embora haja com
frequência tropismo para o SNC, globo ocular e seus anexos, onde apresenta
maior gravidade, pode também localizar-se nos tecidos subcutâneos, músculos,
pulmões, coração, baço, fígado e etc.
Neurocisticercose: As
localizações mais frequentes dos neurocisticercos são leptomeninge e córtex
(substância cinzenta); no cérebro e medula espinhal já são mais raros. Em
geral, as manifestações clinicas aparecem alguns meses após a infecção
As lesões presentes nos hemisféros ventrículos e na base
do cérebro, podem causar dores de cabeça, com vômitos, ataques epiléticos,
desordem mental, com formas de delírio, prostração e alucinações, hipertensão
intracraniana, sendo esta última muito comum, podendo levar aos raros casos de
demência por Cisticercose.
No período de elevada
hipertensão cranial, a visão pode ser afetada. Porre também com frequência, dor
de cabeça súbita, tonturas, vômitos, variações de pulsação e respiração.
Ataques epiléticos foram observados em 413 pacientes de 450 com
neurocisticercose (91,8).
Cisticercose
cardíaca: Pode resultar em palpitações e ruídos anormais ou dispnéia quando os
cisticercos se instalam nas válvulas
Cisticercose ocular:
Sabe-se que o cisticerco alcança o globo ocular através da coróide,
instalando-se na retina. Aí cresce provocando o deslocamento da retina ou a
perfuração da mesma, atingindo o humor vítreo. As consequências da cisticercose
ocular são: reações inflamatórias exudativas (pus), que promoverão opacificação
do humor vítreo, sinéquias, posteriores da íris, uveítes ou até pantaltamias.
Estas alterações, dependendo da extensão, promovem a perda do olho. O parasita
não atinge o cristalino, mas pode levar à sua opacificação (catarata).
Cisticercose muscular
ou subcutânea: Pouca alteração provoca. Os cisticercos ali instalados em geral
desenvolvem uma reação local, formando uma membrana adventícia fibrosa. Com a
morte do parasito, este sempre tende a calcificar-se. Quando numerosos
cisticercos instalam-se em músculos esqueléticos, podem provocar dor (quer
estejam calcificados ou não), especialmente quando localizados nas pernas,
região lombar, nuca, etc. além afadiga e câibras.
5. Diagnóstico
5.1 Teníase: A Teníase, tem geralmente, ocorrência
subclinica sendo muitas vezes não diagnosticadas através de exames
coprológicos, devido a forma de eliminação deste helminto. Para o diagnóstico
específico há necessidade de se fazer a “tamização” (lavagem em peneira fina)
de todo bolso fecal, recolher as proglotes porventura existentes e
identificá-las pela morfologia da ramificação uterina (pouco números e
dendríticas para Taênia solium, e Taênia saguinata).
5.2 cisticercose : O diagnóstico é realizado através da biopsia
tecidual, cirurgia cerebral, testes imunológicos no soro e líquido
céfalorraquiano, por exames de imagem (raio x, yomografia computadorizada e
ressonância magnética).
Nos casos de
localização no DNC ou infecções maciças na musculatura esquelética, o diagnóstico
cardiológico pode auxiliar o diagnóstico clínico, mas ato constitui problema,
isto porque s parasitas nem sempre são evidenciáveis, havendo necessidade dos
cisticercos estarem calcificados para melhor detecção dos raios x. A tomografia
computadorizada é um método novo e que está sendo utilizada com grande sucesso
para visualização e localização dos cisticercos no cérebro.
6. Tratamento
6.1 Teníase: O tratamento da Teníase é realizado através
de anti-helmintos com
resultados bastante eficientes. Os mais
usados são:
Praziquantel
(cestox): Usado na base de 4 comprimidos de 150 mg (isto é 5 mg/Kg) uma dose
única tem produzido até 100 de cura. Os efeitos colaterais são: Cefaléia, dor
de estômago, náusea se tonturas, porém com pouca duração.
Albendazol;
Posologia; 400 mg por 3 dias. Eficácia: 90
a 95 % de cura. Assim como o Praziquantel esse medicamento desencadeia
alguns efeitos colaterais: calcifea, tonturas, etc. também de pouca duração.
Mebendazol; `´e mais
acessível, tem grande espectro, atuando sobre vários outros helmintos, é me
matocida. Posologia: tanto para adulto quanto para crianças independente do
peso corporal, administra-se, por via oral 200 mg, duas vezes ao dia durante 4
dias. Eficácia de 80 a 90%. Efeitos adversos: Dor abdominal e diarréia.
6.2 Cisticercose: Para o tratamento de cisticercose vem sendo
utilizada o Albendazol e praziquantel, este como nome de “cisticide”, que é
apresentado em comprimidos de 500 mg. Apesar do medicamento atuar contra o
cisticerco cerebral, muscular, e subcutâneo, só se recomenda sua administração
em hospitais, pois após a morte do cisticerco podem ocorrer reações
inflamatórias locais graves, onde há necessidade de doses altas de corticóides
com a assistência médica especializada.
Dependendo da localização
número de cisticercos presentes no homem, o tratamento cirúrgico (especialmente
a neurocisticircose) é recomendável. Entretanto, incluindo o diagnóstico,
internação anestesia e cirurgia, do ponto de vista social , o preço é
caríssimo, pois com o dinheiro daria para montar um belo serviço de profilaxia
7.Profilaxia
Sendo o porco coprófago por natureza, a
construção de prossigas para abrigar os animais; uso de latrinas ligadas às
redes de esgotos, ou fossa sépticas; tornando inacessíveis aos suínos, e
bovinos os excrementos humanos, tratamento do homem infectado e a distribuição
pelo logo de exemplares de tênias adultas eliminada, constituem excelentes
medidas de controle dirigidas no sentido de empedir a infecção dos hospedeiros
intermediários.
As medidas de
inspeção de carcaças nos matadouros e seriedade de os critérios adotados na
seleção da carne para o consumo humano são medidas de grande valor. Segundo a
Oms , o critério para se aproveitar ou
não uma carcaça no matadouro é o seguinte: de 1 a 5 cisticercos a carcaça pode
ser consumida, desde que congelada a –5ºc por 350 horas ou -15ºc por 48 horas,
de 6 até 20 cisticercos a carcaça sós
poderá ser consumida se for tratada em enlatados, e cozida a 120º c durante uma
hora; acima de 20 cisticercos, descartada ou encaminhada para a graxacia.
Mas as medidas definitivas que permitem a
profilaxia efetiva destes parasitas são:
Impedir o acesso do suíno e do bovino ás
fezes humanas. Tratamento em massa dos casos humanos positivos para teníase.
Orientar a população para não se comer carne mal passada, ou cozida.
FONTE
MINISTÉRIO
DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância
Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. GUIA DE BOLSO, 6ª edição
revista Série B. Textos Básicos de Saúde, brasília / DF, 2006
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