quarta-feira, 6 de julho de 2016

TECNOLOGIA FARMACÊUTICA HOSPITALAR - SUSPENSÕES


TECNOLOGIA FARMACÊUTICA HOSPITALAR
SUSPENSÕES


São formas farmacêuticas líquidas constituídas de duas fases: uma interna sólida (descontinua ou dispersa) e outra externa, líquida (contínua ou dispersante).
A fase dispersa é insolúvel na fase liquida, mas, através de agitação podem ser facilmente suspensas.

Um detalhe importante é que a fase interna não atravessa o papel de filtro, e por este motivo as suspensões não podem ser filtradas, como ocorre nas soluções.

Destinam-se as vias oral, tópica e parenteral, sendo que, as partículas da via parenteral são menores que as vias orais e tópicas (cerca de 100nm).

Algumas suspensões orais já vêm prontas para o uso, ou seja, já estão devidamente dispersas num veículo líquido com ou sem estabilizantes e outros aditivos farmacêuticos.
Outras preparações estão disponíveis para o uso na forma de pó seco, destinado a ser misturado com veículos líquidos.

Este tipo de produto geralmente é uma mistura de pós que contem fármacos, agentes suspensores e conservantes.

Este mistura ao ser diluído e agitada com uma quantidade especifica de veiculo (geralmente água purificada), forma uma suspensão apropriada para a administração, chamada de suspensão extemporânea.

Esta forma em pó é ideal para veicular fármacos instáveis em meio liquido (ex.: antibióticos betalactâmicos). Deve ter a seguinte palavra: AGITE ANTES DE USAR.

CARACTERÍSTICAS

1.    Ideal para veicular P.A insolúveis/instáveis na forma líquida; Ideal para pacientes que não conseguem deglutir comprimidos e/ou cápsulas;
2.    Realça menos o odor e sabor de certos fármacos;
3.    Aumento de estabilidade química quando comparadas às soluções.
4.    Por estar dispersa e não solubilizada, o fármaco está mais protegido da rápida degradação ocasionada pela presença da água;
5.    Baixa estabilidade física;
6.    Menor uniformidade da dose;
7.    Menor velocidade de absorção, se comparada às soluções;
8.    É termodinamicamente instável, isto é, as partículas dispersas em razão de sua grande área de superfície possuem grande energia livre, e por isso tendem a agrupar-se de modo a formar flocos, dificultando a absorção.

FATORES QUE DEVEM SER CONSIDERADOS

São muitos os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento e na preparaçõa de uma adequada suspensão, além das estabilidades química, física e microbiológica, as características desejadas para suspensões em geral são:

1.    Sedimentação lenta o - Uma boa suspensão deve sedimentar-se lentamente;
2.    Fácil redispersão o Deve voltar a dispersar facilmente com agitação suave do recipiente
3.    Escoamento adequada o A suspensão deve escoar com rapidez e uniformidade do recipiente. o Quanto mais viscosas, mais estáveis serão as suspensões. Porem o excesso de viscosidade compromete o aspecto e a retirada do medicamento do frasco. A suspensão deve escoar co rapidez e uniformidade do recipiente.
4.    Tamanho das partículas adequado o O tamanho das partículas pode variar dependendo do tempo de absorção desejado, sendo que quanto menor a partícula mais absorvível ela será. Contudo, produtos de uso oftálmico ou tópico devem ser micronizados para evitar irritação.
5.    A lei de Stoke fornece informações sobre quais parâmetros influenciam na sedimentação de partículas em uma suspensão, informações estas úteis na farmacotécnica para controlar e retardar a velocidade de sedimentação.

LEI DE STOKES

dx/dt = 2.g.r².(d¹ - d²)
onde: dx/dt= velocidade de sedimentação; g = aceleração da gravidade r = raio da partícula;. n= viscosidade do meio (d¹- d²) = diferença de densidade entre a partícula¹ e o meio²;

Portanto, com base na equação acima se pode inferir que as dispersões grosseiras e finas apresentam em geral maior tendência sedimentação que suspensões coloidais.
Os aspectos reológicos da fase dispergente são igualmente críticos na velocidade de separação de fases de uma suspensão ou emulsão. Segundo a Equação de Stokes, o aumento da viscosidade (η) pode reduzir a velocidade de sedimentação, sendo um dos recursos mais empregados para estabilizar suspensões.

Entretanto, existem limitações referentes à redispersibilidade e ao tempo de escoamento, tais como: aumento da dificuldade no escoamento para enchimento (envase) e administração (oral ou IM); inviabilização da passagem pelas agulhas (injetáveis IM); dificuldade no espalhamento adequado (tópicos).

No que diz respeito à densidade da fase interna, as suspensões ( > densidade que o veículo) tendem à sedimentação, enquanto as emulsões (< densidade que o veículo) tendem à flutuação. Igualmente, segundo a Lei de Stokes, quanto maior a diferença entre densidade da partícula dispersa e veículo dispergente, maior será a velocidade de sedimentação

Em sistemas dispersos, em que as fases dispersas e dispergentes apresentam afinidade muito baixa, ou mesmo repulsão, a molhabilidade da partícula será baixa, podendo inclusive ocorrer adsorção de gases, os quais tendem a deixar as partículas menos densas, provocando, inclusive, a flutuação.

Uma suspensão é um sistema incompatível, que para ser feito necessita ter uma boa relação do material a suspender com o meio. Tendo afinidade entre o líquido e o sólido, ocorre a formação de um filme na superfície do sólido. Dependendo desta afinidade, pode formar-se um ângulo de contato entre o líquido e o sólido. Quanto maior o ângulo, mais dificuldade em obter uma suspensão

Assim sendo, quanto maior a molhabilidade em um solvente polar como a água, maior será o deslocamento de gás adsorvido nesta partícula, já que o ar é composto basicamente por moléculas apolares (ex. O2, N2, CO2, Ar). Entretanto, se a afinidade pelos gases adsorvidos na superfície da partícula for grande (repelir água) esta irá flutuar.

Este fenômeno, também relacionado a tensões interfaciais, pode ser definido de acordo com ângulo de contato da partícula com o veículo, que pode ser:
v  De zero grau: totalmente molhável;
v  De 180 º : totalmente não molhável;
v  Entre 0 e 180o : molhabilidade intermediária.

Este fenômeno pode ser definido de acordo com o ângulo de contato da partícula com o veiculo, ou seja, ao se adicionar um sólido num líquido:
v  Líquido espalha-se sobre o sólido (de 0°) o Molhabilidade total.
v  Liquido não molha o sólido (de 180°) o Molhabilidade nula, ou totalmente não molhável.
v  Liquido espalha-se parcialmente sobre o sólido (entre 0° e 180°) o Molhabilidade intermediária.

Nestes casos, a molhabilidade também pode ser aumentada com a adição de tensoativos, macromoléculas muito hidrofílicas (CMC e gomas) ou ainda substâncias hidrófilas inorgânicas insolúveis (bentonita, Veegum®, hidróxido de alumínio e Aerosil®).
A adição desses componentes, de modo geral, tende a aumentar a área de contato sólido líquido.

AGENTES MOLHANTES

Diminuem o ângulo de contato sólido-ar e aumenta o ângulo de contato sólido-líquido. Ex: tensoativos, macromoléculas muito hidrofílicas (CMC e gomas), sais de alumínio, veegum, MYRJ, etc.

Veja o exemplo:

As partículas dispersas (fase interna) tendem a se depositar (sedimentar) com ação da gravidade, processo que pode ocorrer de forma isolada ou aglomerada. Alguns fatores favorecem a deposição mais lenta:
1. < Tamanho das partículas;
2. < Densidade das partículas dispersas;
3. > viscosidade da fase dispersante;

AGENTE SUSPENSOR

1. O agente suspensor aumenta a viscosidade da fase externa da suspensão, retardando a floculação e reduzindo a velocidade de sedimentação.
2. Eles formam uma película em volta da película, como se estivesse protegendo uma partícula da outra;
3. Retardam a floculação e reduzem a velocidade de sedimentação do material suspenso;
4. Na escolha do agente suspensor, deve-se considerar o pH do meio, a via de administração, a estabilidade e a incompatibilidade com os componentes da suspensão;

As funções do agente suspensor são:

1.    Manter as partículas insolúveis em suspensão;
2.    Evitar a flutuação, facilitando a penetração do líquido no pó (tensoativos, CMC, goma arábica e veegum) Aumentam a viscosidade da fase líquida;
3.    Permite a redispersibilidade, facilitando a ressuspensão das partículas.

Os tipos de agentes suspensores são:

1.    Goma-arábica: de 5% a 15%
2.    Goma adragante: 1% para via oral e 2% para uso externo;
3.    Metilcelulose, CMC, carbopol 940 e veegum: de 1,5% a 3%

REDISPERSIBILIDADE

A sedimentação de forma aglomerada, embora em geral seja mais rápida, leva à formação de sedimento floculado, o qual é facilmente redispersível.

Já a sedimentação de forma isolada leva à formação de sedimentos compactos muitas vezes irredispersíveis, devendo, portanto, ser evitada.

Para entender os processos de sedimentação devem-se compreender quais os tipos de interações interpartículas envolvidos.

Em resumo: A sedimentação pode ser de dois modos: REVERSÍVEL (forma aglomerada) e IRREVERSÍVEL (forma isolada). No primeiro ocorre a ressuspensão, já no segundo, não se consegue ressuspender.

OBSERVAÇÕES

A floculação é um processo no qual as partículas dispersas, se agrupam formando aglomerados frouxos;

Os agentes umectantes são acrescidos nas formulações de suspensões com o objetivo de auxiliar a dispersão do fármaco;

Os conservantes previnem o crescimento de fungos e bactérias na preparação. De preferência devem ser adicionados na fase oleosa, uma vez que esta fase é a mais susceptível à contaminação microbiana;

A Levigação é o processo de redução do tamanho de partículas sólidas por trituração em um gral ou espatulação, utilizando uma pequena quantidade de um líquido ou de uma base fundida na qual o sólido é solúvel;

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

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3.    AULTON, M.E. Delineamento de Formas Farmacêuticas. Trad. De George Gonzalez Ortega et. all. 2ª. Ed., Porto Alegre, Artmed
4.    BATISTUZZO, JOSE ANTONIO. Formulário médico-farmacêutico . Ed. 3. Editora Tecnopress. 2006
5.    VILELA, M. A. P; AMARAL,M. P; H Controle de qualidade na farmácia de manipulação. Editora Omega, 2009
6.    FERREIRA, A.O. Guia Prático da Farmácia Magistral. 3. ed. São Paulo: PharmaBooks, 2008. v.1 e v.2

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