PRÁTICA DE FARMACOTÉCNICA
FORMAS
FARMACÊUTICAS OBTIDAS POR EXTRAÇÃO.
I. Fatores que influenciam
a extração.
Princípios ativos de origem
vegetal ou animal raramente são administrados diretamente na forma bruta, normalmente,
eles são administrados na forma de extratos. A utilização de extratos permite ter
um princípio ativo em quantidade e qualidade definida, além de ser, obviamente,
muito mais fácil e agradável sua ingestão.
Em termos gerais dois são
os métodos de extração utilizados:
1. a maceração ou extração em batelada, onde a droga é colocada em contato com
o solvente por um tempo e temperatura determinados. Neste caso através da difusão
ou osmose dos constituintes solúveis obtém-se no final o extrato ou macerado;
2. a lixiviação, percolação ou deslocação. Neste caso o processo é dinâmico com
renovação do solvente.
Na etapa
de extração dos constituintes das drogas a maior parte fica a dissolver. Diversos
fatores influenciam a eficácia do método de extração:
·
o
aumento da superfície de contato das drogas (drogas contundidas, cortadas ou reduzidas
a pó) aumenta a capacidade de extração, entretanto, pode aumentar também o teor
de impurezas presentes no extrato obtido;
·
a
agitação evita saturações das soluções extratoras;
·
o
aumento da temperatura pode facilitar a extração do princípio ativo desejado, porém,
pode também aumentar o teor de impurezas no extrato obtido;
·
os
próprios componentes da planta podem facilitar a solubilização ou a precipitação
do componente desejado.
Ex.1: Alcalóides + Ácido
orgânico (mecônico): maior solubilização do p.a.
Ex.2: Alcalóides + Taninos:
ocorre precipitação do p.a.;
·
o
uso de tensioativos melhora a extração do p.a. (molhantes, solubilizantes);
·
a
seletividade do extrato está baseada na escolha do solvente ("semelhante dissolve
semelhante"), do pH empregado e do tempo de extração.
Normalmente os extratos
obtidos possuem uma composição complexa. Neles estão constituintes com atividade
farmacológica (alcalóides, heterosídeos, taninos, flavonas, essências, etc) e constituintes
sem atividade farmacológica (açúcares, amido, gomas, mucilagens, proteínas).
A qualidade do extrato obtido
é dependente do método de extração empregado, do local e da época do ano em que
as matérias primas foram coletadas, e até mesmo, da idade do vegetal (no caso de
fitoterápicos) ou do animal (no caso de opoterápicos).
Por isto, a legislação não
permite que eles sejam feitos na farmácia sem que haja uma padronização (controle
de qualidade).
O usual é comprar extratos de firmas estabelecidas que possuem um
controle de qualidade dos extratos produzidos e a partir destes fazer os "pseudo-extratos":
Os "pseudo-extratos"
permitem ainda suprir a ausência de plantas no mercado e facilitam muito o trabalho
técnico.
· Pseudo-hidrolato (Essência + água)
· Pseudo-alcoolato = Espíritos (Essência + álcool)
· Pseudo-infuso ou decocto (Extrato fluído + água)
II. Técnicas gerais de
extração.
Processo de Extração
|
Extrato obtido
|
Síntese do procedimento
|
Percolação
|
Extrato fluído
Tintura
|
1g da droga ±1 mL extrato
≥ 20% álcool
|
Destilação
|
Hidrolato
Alcoolato
|
Droga + água
Droga + álcool
|
Maceração
|
Infuso
Decocto
Tintura
|
Água fervente sobre a
droga + repouso
(Droga + água) + ferver
por 15 minutos
Droga + álcool
|
II.1 Tinturas (≥ 20%
álcool)
As tinturas são medicamentos
líquidos resultantes da extração de drogas vegetais e animais. Elas são preparadas
à temperatura ambiente por percolação ou maceração. Os líquidos extratores são álcool,
álcool/água, éter alcoolizado ou acetona.
II.2 Extratos fluídos
Os extratos fluídos são
preparações oficinais líquidas obtidas de drogas vegetais e manipuladas de maneira
que cada 1 mL contenha os princípios ativos solúveis de 1 g da droga respectiva,
devidamente dessecada ao ar livre. Eles são preparados, em sua maioria, por um dos
quatro processos gerais de percolação designados pelas letras A, B, C e D na Farm.Bras.II.
II.3 Águas aromáticas
As águas aromáticas são
soluções saturadas de essências ou outras substâncias aromáticas em água destilada.
Elas podem ser preparadas por destilação ou simples dissolução de substâncias aromáticas
em água destilada. No primeiro caso constituem os HIDROLATOS e no segundo os PSEUDO-HIDROLATOS.
II.4 Espíritos (Pseudo-alcoolatos)
Os espíritos simples que
substituem os antigos alcoolatos devem ser preparados, salvo indicação contrária,
com essência da respectiva planta e álcool, de acordo com a seguinte fórmula geral.
Essência 50 mL (5% v/v)
Álcool 80% qsp 1000 mL
Observação: Quando se menciona
apenas álcool, refere-se ao produto que contém cerca de 95% de etanol. É o álcool
simples.
II.5 Infusos
Os infusos são usados como
veículos de preparações farmacêuticas ou como forma farmacêutica de preparação extemporânea.
Salvo indicação contrária do médico eles são preparados pelo seguinte processo geral:
Droga em pó grosso 50 g
(5% p/v)
Água deionizada qsp 1000
mL
Quando não há especificação
a concentração da droga será a 5% p/v, entretanto, a preparação de infusos contendo
drogas heróicas como ACÔNITO, BELADONA, DEDALEIRA, IPECACUANHA e NOZ-VÔMICA, devem
ter a dose especificada pelo médico ou de acordo com as seguintes quantidades (vide
Farm.Bras.):
Aconitina 0,3 % p/v
Beladona 0,3 % p/v
Digital 1,0 % p/v
Jaborandi 2,0 % p/v
Noz-vômica 0,5 % p/v
II.6 Decoctos
Os decoctos, assim como
os infusos, são usados como veículos de preparações farmacêuticas ou como forma
farmacêutica de preparação extemporânea. Salvo indicação contrária do médico eles
são preparados pelo seguinte processo geral:
Droga em pó grosso 50 g
(5% p/v)
Água deionizada qsp 1000
mL
NOTA: Para os decoctos preparados
com drogas muito ativas, seguir as instruções dadas para infusos.
II.7 Pseudo-infuso ou
pseudo-decocto
Os pseudo-infusos (ou pseudo-decoctos)
podem ser preparados na prática farmacêutica com extrato fluído e água destilada
ou deionizada na proporção de 5% v/v, sendo feita neste caso simplesmente uma diluição
do extrato fluído.
Este processo se justifica pela facilidade de trabalho técnico
já que os extratos fluídos contém praticamente todos os princípios ativos das drogas,
ou seja, 5 mL de Ext.Fl. correspondem a 5 g da droga pulverizada. Uma outra vantagem
está relacionada a falta de plantas no mercado nacional de drogas.
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