terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

DROGAS : ÁLCOOL

DROGAS : ÁLCOOL




Imagine-se voltando no tempo até a época em que nossos antepassados ainda habitavam as cavernas; há alguns dias o tempo está bom, o sol iluminando e aquecendo a terra depois de vários dias de chuva.

Frutas maduras estão caindo das árvores; por mais algum tempo seus problemas de alimentação estarão resolvidos. Colhendo algumas destas frutas, repentinamente você sente sede.

Vê no chão um abacaxi com um pequeno buraco no meio, cheio de água. Sem pensar duas vezes, apanha-o, bebendo sofregamente.

A partir deste instante, sentimentos estranhos e agradáveis tomam conta de você, fazendo-o sentir-se eufórico (apesar de que este conceito ainda não foi inventado, pois a própria comunicação ainda é muito primitiva).

Passam algumas horas e este efeito se desvanece. Muito tempo depois, ao beber a água contida em outra fruta nas mesmas condições, a sensação volta a tomar conta de você, que chega a conclusão que é esta água dentro da fruta que produz estes efeitos.

A partir de então, você passa a procurar frutas caídas no chão com o único objetivo de beber a água dentro delas. Pronto, você se tornou o primeiro alcoolista da história.

O álcool é a droga mais antiga utilizada pelo homem. A pequena estória acima ilustra como esta droga pode ter surgido, através da fermentação da água da chuva em uma fruta sob os efeitos do sol e do tempo.

O vinho e a cerveja desenvolveram-se praticamente junto com a agricultura.
No antigo Egito, a embriaguez fazia parte dos ritos e cerimônias religiosas em louvor à Osiris, deus protetor da agricultura.

Na tumba de um faraó que morreu aproximadamente há 5.000 anos constava o seguinte epitáfio: "Sua estada terrestre foi devastada pelo vinho e pela cerveja, e o espírito lhe escapou antes que fosse chamado".

As referências bíblicas sobre bebidas alcoólicas são inúmeras. Filósofos da antiguidade como Hipócrates, Sócrates e Platão já alertavam para os malefícios do álcool. Com o aperfeiçoamento das técnicas de destilação e fermentação, espalharam-se pelo mundo diversas qualidades de bebidas alcoólicas, disseminando seu uso.

Os tipos de álcool existentes são os seguintes:

Etílico: Obtido por fermentação de substâncias açucaradas ou amiláceas (que contém amido), ou mediante processos sintéticos. Este é o álcool encontrado em bebidas alcoólicas.

Cetílico: Álcool saturado, sólido e incolor.

Isoamílico: Com odor pouco agradável, presente no resíduo de algumas fermentações, usado como solvente e em sínteses orgânicas.
Isopropílico: Líquido incolor, volátil, com odor característico, usado como solvente ou antisséptico.

Metílico (metanol): Líquido incolor com cheiro etílico, formado na destilação da madeira, usado como solvente ou combustível. Mais tóxico.

Pirúvico: Líquido incolor com cheiro agradável.

Portanto, para o que se propõe este texto, quando a palavra álcool for utilizada estará subentendido que é uma referência ao álcool etílico.

Cada tipo de bebida tem uma concentração diferente de álcool por volume. Convencionou-se então que o álcool puro existente em cada dose de bebida seria conhecido por unidade de álcool, equivalente a aproximadamente oito gramas. Por exemplo: um copo de chope ou cerveja equivale a uma dose de cachaça, vodca, rum, gim ou uísque, que são iguais a uma taça de vinho ou um cálice de xerez.

Para o homem, o limite considerado seguro para beber é de no máximo 21 unidades distribuídas nos dias da semana; para a mulher, este limite é de 14 unidades semanais.

Esta diferença acontece porque o homem possui maior quantidade de água no organismo do que a mulher e o álcool, ao ser distribuído pelos líquidos orgânicos, apresenta maior concentração nos indivíduos que possuem menor quantidade desses líquidos.

Outros fatores que influem nesta diferença é o tamanho geralmente menor das mulheres e o fato de que seus corpos contém mais gordura, onde o álcool se concentra. Alguns estudos também mostram diferenças enzimáticas que retardam o metabolismo do álcool na mulher.

Mas é importante saber que estes são limites de segurança para o organismo. Ao ingerir bebidas alcoólicas, a pessoa sofrerá diminuição dos reflexos, predispondo-a a acidentes de todo tipo, desde um pequeno tropeço até graves acidentes automobilísticos.
Exemplo: se um uísque tiver 35% de álcool, significa que 100 ml (1/2 copo) terá 35g de álcool.

O álcool ingerido é metabolizado pelo fígado e desdobrado em outros elementos, sendo então neutralizado e eliminado pela urina e suor.

Esse processo leva em média uma hora para cada unidade de álcool ingerida e é cumulativo, ou seja, duas unidades levariam duas horas e assim sucessivamente.

Em As drogas e a vida: uma abordagem biopsicossocial, livro organizado por Richard Bucher, encontramos um pequeno texto sobre álcool que vale a pena reproduzir:

"Depressor do SNC, promove em pequenas doses euforia e desinibição, sendo que em doses maiores provoca depressão."

"Aqui estamos diante de uma 'patologia' basicamente de adulto, enquanto para as outras drogas, trata-se em geral de uma patologia de adolescente."

"Com relação ao álcool, é preciso que se denuncie a hipocrisia das sociedades que toleram ou mesmo encorajam seu uso.

Sabemos que ele provoca os mesmos problemas de dependência física, dependência psíquica e tolerância que as drogas ilícitas. A mortalidade devida à cirrose hepática de origem alcoólica é altíssima. A maior parte das internações em hospitais psiquiátricos são causadas pelo alcoolismo."

É preciso destacar que, apesar de ser mais comum entre os adultos pelo tempo que leva para aparecer os primeiros problemas, o alcoolismo também surge entre crianças e adolescentes. Mas afinal de contas, o que é alcoolismo?

O que separa o chamado "bebedor social" do alcoolista? Eis algumas das respostas:
J. Bertolote: "Intoxicação crônica repetida de que resultam consequências físicas, psíquicas e sociais."

Mário Tannhauser, Semíramis Tannhauser, Helena Maria T. Barros e Cláudia Ramos Rhoden, autores de Conversando sobre drogas: "O alcoolismo (etilismo) ocorre quando o uso de bebidas alcoólicas ocasiona prejuízos ao indivíduo, à sociedade ou a ambos.

“Ou seja, quando a pessoa, por ficar alcoolizada, apresenta problemas com a saúde, com os relacionamentos ou com a sociedade.”

Jandira Masur: "Alcoolismo é a perda da liberdade de beber."

Podemos sintetizar os ensinamentos adquiridos acima com a afirmação de que alcoolismo é quando o ato de ingerir bebidas alcoólicas deixa de ser um prazer e passa a ser um problema.

É importante saber ainda que o alcoolismo é uma doença, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Considerar que uma pessoa bebe porque quer, porque é sem-vergonha ou porque não presta (como ainda é praxe em nossa sociedade), não é apenas discriminação, mas também caminhar na contramão dos conhecimentos adquiridos nos últimos anos.

Bebedores sociais que eventualmente tenham se excedido em uma festa ou num final de semana não se enquadram na definição de alcoolista, mas se isto tornar-se frequente pode indicar uma tendência ao alcoolismo.

Quando a bebida passa a ter demasiada importância na vida da pessoa e esta não consegue mais controlar o ato de beber, desenvolvendo tolerância a quantidades cada vez maiores de bebida alcoólica, estamos diante dos sintomas iniciais da doença.

A ingestão de álcool ocasiona vasodilatação (aumento do diâmetro dos vasos) e perda de calor pela pele, diminuindo a temperatura corporal. Uma pessoa alcoolizada não deve ser exposta ao frio (banhos frios, ficar 'pegando ar fresco'). Pelo contrário, deve ser aquecida com agasalhos.

O nível alcoólico máximo permitido para motoristas é de 80mg% que é atingido em uma hora, quando um adulto bebe o correspondente a 2 copos de cerveja. É preciso salientar ainda que, por causa da tolerância, o organismo das pessoas que bebem regularmente acaba acostumando-se com o álcool, demorando mais para surtir os mesmos efeitos.

Portanto, as pessoas que se consideram "fortes para a bebida" correm maiores riscos do que aquelas que ficam alteradas com uma ou duas doses.
Os danos causados pelo álcool são inúmeros. Podemos catalogá-los em três categorias, sejam elas:

Problemas sociais: desajustes no lar e separação conjugal, perda de emprego, incapacidade de desempenhar papéis sociais, endividamento, acidentes de trânsito e demandas legais.

Distúrbios psíquicos: empobrecimento da autoimagem, perda de memória, problemas de orientação temporal e espacial, delírio alcoólico, desestruturação da personalidade, ciúme patológico, alienação e demência.

Doenças físicas: hepatite, cirrose hepática, inflamação dos nervos dos braços e pernas (polineurite), problemas do coração, disfunções do pâncreas, gastrites e úlceras estomacais, deficiências vitamínicas, traumatismos, redução da coordenação motora, impotência sexual e lesões cerebrais.

Durante a gravidez, o álcool não deve ser consumido em qualquer quantidade. Os problemas decorrentes da ingestão de bebidas alcoólicas podem ser inúmeros no recém-nascido: retardamento mental, deformidades da face ou da cabeça, doenças cardíacas, retardo do crescimento e problemas de coordenação motora são alguns efeitos que podem surgir nestes casos.

São frequentes ainda as ocorrências de dificuldades do aprendizado e problemas psicológicos à medida que a criança cresce. Se a mãe é alcoolista, existe a possibilidade de que a criança apresente síndrome de abstinência alcoólica e convulsões. A natimortalidade também ocorre com maior frequência nas gestantes que bebem demais.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, cerca de 9,8% da população brasileira bebe em excesso. Isto significa que aproximadamente 16 milhões de pessoas tem problemas com a bebida no país.

As perdas daí resultantes são assustadoras. Não existem muitas pesquisas confiáveis no Brasil, mas estima-se que um quinto dos acidentes de trabalho são provocados pelo álcool, e geralmente acontecem no início dos turnos ou após o almoço, ocasiões em que o trabalhador está sob o efeito de bebida alcoólica.

Isto sem falar na impontualidade, faltas repetidas, mau desempenho, ocorrências disciplinares, longas e frequentes licenças-saúde e a aposentadoria precoce.

Mas é a relação álcool-volante que revela a faceta mais cruel deste problema: em cerca de 75% dos acidentes com vítimas fatais nas ruas e estradas de nosso país existe um motorista alcoolizado envolvido.

O Brasil está no topo da lista de países com o maior número de acidentes de trânsito do mundo, com 1 milhão de acidentes por ano.

Resultam daí 300.000 vítimas, 50.000 fatais. As autoridades têm conhecimento do tamanho do problema, e chegam até mesmo a computar alguns números. Sabe-se, por exemplo, que nas noites de sexta-feira, sábado e domingo, quando os excessos alcoólicos são mais comuns, os acidentes com vítimas triplicam.

O que falta é fiscalizar e punir, utilizando-se para tanto de experiências que já deram certo em outros países, ou adaptando-as a nossa realidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, a polícia submete os motoristas a constantes vistorias e à aplicação do teste do bafômetro.

No Japão, se um convidado sair alcoolizado de uma reunião etílica e bater o carro, o dono da festa será autuado como corresponsável pelo acidente. O envolvimento da sociedade neste processo também é necessário, e em vários países as autoridades têm feito parcerias para combater o problema. O sindicato das boates e danceterias da França proibiu seus manobristas de entregarem a chave do carro para os motoristas que estivessem embriagados. ]

Na Suécia, donos de bares ou garçons devem avisar a polícia se algum de seus clientes saiu dirigindo depois de beber em excesso.
Aqui no Brasil, poderíamos começar com uma medida bem simples: não incentivando outros a beberem.

O número crescente de jovens alcoolistas é um alerta que não deve ser desprezado. As últimas pesquisas têm colocado em dúvida o tempo necessário ao organismo para desenvolver dependência do álcool, estimado em torno de 15 a 20 anos.

Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), em 1987 o índice de estudantes de 1o e 2o graus da rede estadual da cidade de São Paulo que começam a beber por conta própria entre 10 e 12 anos era de 64,2%. Em 1993, este número subiu para 70,4%.

O impacto deste índice pode ser ainda maior se compararmos com os números do Japão (52,6%) e Estados Unidos (50,2%). Outra pesquisa, esta realizada em Porto Alegre pelo psiquiatra Flávio Pechansky, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade da Pennsylvania (EUA), revela que na maior parte das vezes a idade do primeiro gole é aos 10 anos, e a do primeiro porre aos 13 anos. Apesar de não haver estudos anteriores a 1987, estima-se que nos anos 70 o primeiro gole acontecia entre os 13 e 15 anos. Segundo Pechansky, "está baixando a idade para o acesso a tudo: ao sexo, ao crime e ao álcool".

O psiquiatra Jorge Gomes de Figueiredo complementa ao dizer que "é um erro brutal do governo colar a imagem do capeta na maconha e na cocaína e ignorar o álcool nessas campanhas (antidrogas)".

A legalidade da droga, apesar da proibição de se vender álcool para menores de 18 anos, também é um dos fatores que empurram os jovens na direção do alcoolismo. "Os adolescentes abusam porque sabem que não vão ter uma overdose e existe a comodidade de que a bebida é legalizada", afirma o psiquiatra Jair de Mari, professor da Escola Paulista de Medicina.

Cabe aos pais conscientizar-se de que a bebida na adolescência pode não ser um problema passageiro e tratar o uso abusivo como o problema médico que ele realmente é. Observar o comportamento dos filhos é o melhor método de avaliação.

Os problemas escolares também podem ser bons indicadores dos sintomas do alcoolismo. São comuns entre os adolescentes que bebem demais as perdas de memória, capacidade de concentração e de raciocínios abstratos.

Manias de perseguição e agressividade também surgem em alguns casos. A escola acaba tornando-se um verdadeiro fardo para o jovem alcoolista, e as repetências de ano acontecem porque ele perde a capacidade de associar.

Como toda droga, o álcool também está cercado de mitos, e muitos deles dizem respeito sobre o que fazer quando alguém bebeu demais. A este respeito, reproduzimos abaixo uma série de orientações originalmente encontradas no livro Conversando sobre drogas:
Ø  Leve-o para casa; não o deixe dirigir automóvel ou moto.
Ø  Se estiver inconsciente (desmaiado) leve-o para um pronto-socorro.
Ø  Não o deixe nadar.
Ø  Passe um agasalho por seu corpo para mantê-lo aquecido; é prejudicial dar banhos frios.
Ø  O uso de café forte não melhora a intoxicação.
Ø  Não existem remédios que previnem os efeitos do álcool.
Ø  Se estiver agitado, procure ajuda e não remédios calmantes.
Ø  Se desmaiar deite-o de lado para evitar que aspire ("sufoque") caso vomite; se estiver consciente deixe-o sentado ou deitado de lado.
O alcoolismo é uma doença incurável; pode apenas ser controlada como o diabetes, a hipertensão e as artroses. A única maneira realmente eficaz de controlá-lo atualmente conhecida é parar de beber. No link Tratamentos já vimos como isto pode ser feito.

No Brasil, apenas um antigo remédio, o Antabuse, tem sido recomendado em alguns casos para auxiliar no tratamento do alcoolismo, já que causa diversas reações aversivas como náuseas e vômitos em pacientes que insistem em beber.

Assim mesmo questionado por vários médicos que não vêem eficácia alguma nestes desconfortos físicos, já que, segundo sua óptica, o principal seria o fator psicológico da doença.

A possibilidade de riscos para a vida do paciente que se utiliza deste medicamento também é questionada.

Mas nos Estados Unidos foi recentemente liberado pelo FDA, rigoroso órgão americano que controla alimentos e remédios, um novo medicamento que promete ajudar na recuperação de pacientes alcoólicos.

Produzida em associação pelos laboratórios DuPont e Merck, a naltrexona, nome do princípio ativo do remédio (que já era usado na recuperação de dependentes de heroína), tem o efeito de impedir a sensação de euforia e bem-estar provocada por doses de bebidas alcoólicas, diminuindo o apetite para o álcool, sem contudo dispensar assistência psicológica.

Nos testes que foram realizados, a naltrexona diminuiu os casos de pacientes que têm recaída depois de abandonar a bebida por algum tempo. No grupo que não tomou o remédio, 79% voltaram a beber. No grupo em que o medicamento foi utilizado, o índice caiu para 39%, e apenas 10% dos pacientes deste grupo apresentaram efeitos colaterais como náuseas, ansiedade, nervosismo, dores no estômago e na cabeça.

"Não é uma pílula mágica", ressalva Enoch Gordis, diretor do Instituto Nacional para o Abuso de Álcool e Alcoolismo dos Estados Unidos. Comecializada sob o nome de Revia, a naltrexona pode ser importada pelos Correios com prescrição médica.

FONTES
  1. - Enciclopédia Exitus
  2. - Enciclopédia Barsa
  3. - Enciclopédia do Estudante
  4. Compton's Interactive Encyclopedia
  5. Drogas - Wilson Paulino
  6. - Internet: ( Comem Jundiaíwww.jundiaí online.com.br
  7. ( Projeto Cara Limpa): www.caralimpa.com.br
  8. - Enciclopédia Abril. Volumes: I, VIII, X, XI, XII
  9. - Jornal: O Estado de S. Paulo (reportagem do Zap)


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