terça-feira, 28 de janeiro de 2014

BACTERIOSES : ESCARLATINA

BACTERIOSES : ESCARLATINA


A escarlatina é uma doença infecciosa transmitida através da saliva, tosse, espirros, respiração ou por meio de objetos e roupas contaminadas.  Atinge principalmente crianças e geralmente é uma doença benigna.  

Como toda doença infecciosa, se não for tratada adequadamente, a escarlatina pode ter complicações como sinusite, otite, pneumonia e, em alguns casos problemas cardíacos, artrite, abscessos cerebrais e meningite.
O período de incubação é de 2-4 dias, com extremos de 1 a 7 dias.  A doença é iniciada abruptamente com febre, vômitos, dor de garganta e sintomas constitucionais como cefaléia, calafrios e mal-estar.  

Cerca de 12-48 horas após surge a erupção típica.  Em alguns casos a dor abdominal surge desde o início e de modo importante.  A associação dessa manifestação (dor) com vômitos pode sugerir a possibilidade de abdômen cirúrgico.
Os achados objetivos significativos são:  febre, enantema e exantema.
Febre – No caso típico a temperatura sobe abruptamente a 39,5­º C e atinge seu máximo em torno do segundo dia.  Em 5-6 dias começa a cair, por lise.  Um caso grave tem uma curva térmica mais elevada e demorada.  Ocasionalmente, nos casos leves de escarlatina, a temperatura pode ser baixa (menos de 38,5º C) ou mesmo normal.
A frequência de pulso normalmente está aumentada, desproporcionalmente à temperatura.  Atualmente, com o uso precoce de penicilina, a temperatura começa a cair em 24 horas e raramente observa-se uma curva térmica típica.
Enantema – O enantema inclui lesões das amígdalas, faringe, língua e palato.  

As amígdalas ficam aumentadas, edematosas, avermelhadas e cobertas com placas de exsudatos.  O faringe também fica edemaciado e avermelhado.  

Nos caso leves as amígdalas e o faringe apresentam-se eritematosos, mas com pouco ou nenhum exsudato.  

Os casos graves podem ser caracterizados por amigdalite ulcerativa.  A língua apresenta alterações no decorrer da doença.  Nos primeiros dois dias o dorso reveste-se de uma camada branca, ficando a ponta e as margens laterais avermelhadas.  

Quando as papilas começam a se hipertrofiar projetam-se através a camada branca, originando o aspecto chamado de “framboesa branca”.  Pelo quarto ou quinto dia o revestimento branco desaparece. A língua avermelhada, com as papilas hipertrofiadas, passa então a ser chamada de “framboesa vermelha”.  

O palato geralmente fica coberto de lesões puntiformes eritematosas e ocasionalmente com petéquias.  A úvula e a margem livre do palato mole ficam vermelhas e edemaciadas.
Exantema – A erupção geralmente surge 12 horas após os primeiros sintomas; ocasionalmente pode demorar até 2 dias.  O exantema é uma erupção eritematosa puntiforme que embranquece à pressão.  As lesões do tamanho de cabeça de alfinete dão à pele uma textura que lembra uma lixa grossa.  A erupção da escarlatina lembra uma queimadura solar.
O exantema apresenta as seguintes características:
1.  Expande-se rapidamente, geralmente em torno de 24 horas.
2.  As lesões puntiformes geralmente não são encontradas na face.  A testa e as bochechas ficam vermelhas, lisas e a área em torno da boca empalidece (palidez circum-oval).
3.  É mais intenso nas dobras cutâneas como as axilas e virilhas e nas áreas de pressão, como nas nádegas.
4.  Tem áreas de hiperpigmentação, ocasionalmente com tênues petéquias nos sulcos das dobras das articulações, particularmente na prega antecubital.  Estas lesões formam linhas transversais (sinal de Pastia) que persistem em torno de um dia após o desaparecimento da erupção.
5.  Se a erupção é intensa, lesões vesiculares mínimas (miliaria sudamina) podem disseminar-se pelo abdômen, mãos e pés.
Apresenta descamação. Erupção, febre, dor de garganta e outras manifestações clínicas desaparecem em torno de uma semana.  O período de descamação vem logo em seguida.
Descamação – Este é um dos aspectos mais característicos da escarlatina.  A extensão e a duração da descamação são diretamente proporcionais à intensidade do exantema.  Começa a manifestar-se na face, sob a forma de uma escamas que se desprendem, ao fim da 1ª semana.  

Daí, estende-se ao tronco e finalmente às extremidades, tornando-se generalizada ao fim da 3ª semana.  A descamação da pele do tronco apresenta escamas mais grosseiras.  As mãos e os pés são os últimos a descamar, o que geralmente ocorre entre a 2ª e a 3ª semanas.  As pontas dos dedos mostram rachaduras na pele próxima à margem ungueal.  

Nos casos mais leves a descamação pode estar completa em 3 semanas; nos caos intensos pode demorar até 8 semanas.  Algumas vezes podemos fazer um diagnóstico retrospectivo com base na verificação da descamação cutânea e uma história de angina associada a uma erupção, algumas semanas antes.  Ocasionalmente pode não haver qualquer erupção.

Diagnóstico


  • Ÿ  Anamnese
  • Ÿ  Exame físico
  • Ÿ  Exame clínico
  • Ÿ  Exames laboratoriais
  • Ÿ  Cultura de material da garganta
  • Ÿ  Teste de Schultz-Charlton ou prova de classificação do exantema
  • Ÿ  Sinal de Rumpel-Leede positivo
  • Ÿ  Sinal de Filatov positivo
  • Ÿ  Sinal de Pastia positivo.

Tratamento

Ÿ  Específico:  terapêutica antimicrobiana.
Ÿ  Sintomático:  conforme os sintomas apresentados e suas intercorrências.
Ÿ  Hospitalização só é necessária em casos muito graves ou quando houver complicações.
Ÿ  Repouso relativo no leito pelo menos durante 8 dias, para evitar complicações.
Ÿ  Isolamento é necessário pelo menos durante 5 dias.
Ÿ  Antibiocoterapia deve ser administrada imediatamente, conforme prescrição médica.
Dietoterapia leve conforme a aceitação do paciente e com muitos líquidos oferecidos ao paciente.
Ÿ  Analgésicos para aliviar as dores, conforme prescrição médica.
Ÿ  Antitérmicos para combater a febre conforme prescrição médica.
Ÿ  Drenagem dos abscessos se for necessário, sob prescrição médica.
Ÿ 
O banho deve ser tomado o mais rápido possível apenas para refrescar uma vez por dia, principalmente quando o paciente estiver no período exantemático pois a pele está muito sensível devido a descamação, não sendo interessante ser muito manipulada nem esfregada; não deve ser utilizada esponja; o sabonete deve ser neutro ou medicinal; se o paciente estiver muito debilitado talvez seja necessário o banho de leito de preferência com chumaços de algodão.
Ÿ  
Exame de urina deve ser feito periodicamente durante o curso da doença, e após o tratamento para afastar complicações renais.
Ÿ  
O paciente deve ser alertado quanto a não interrupção do tratamento por causa do risco das complicações, e principalmente porque o tratamento é a base de antibióticos, logicamente se for interrompido, as bactérias podem se tornar resistentes.

Tratamento

     O tratamento das infecções estreptocócicas, incluindo a escalrlatina, foi revolucionado pela terapêutica antimicrobiana.  A penicilina representa, sem dúvida, a droga de escolha.  As raças de estreptococos do grupo A são uniformemente sensíveis à penicilina.  

O tratamento com a penicilina é seguido por uma diminuição dramática da intensidade de febre e dos sintomas constitucionais.  O “tratamento ótimo” erradica os estreptococos do local da infecção, previne complicações séticas e reduz a incidência da febre reumática.   Tratamento com penicilina aos primeiros sinais da doença interfere com o desenvolvimento da ASO e de outros anticorpos.
     A terapêutica ótima com penicilina pode ser conseguida por vários esquemas.  A finalidade é manter níveis sanguíneos adequados de penicilina, contra o estreptococo do grupo A, pelo menos durante 10 dias.  Este período com níveis adequados de penicilina pode ser conseguido tanto por via oral como pela parenteral.  A via oral não é de muita confiança porque depende muito da cooperação do paciente durante esses 10 dias.  O tratamento é feito, geralmente, usando-se a penicilina G benzatina.

Complicações na Gravidez
     Na mulher grávida a Escarlatina pode causar uma febre muito alta e dependendo da época da gravidez, pode trazer complicações ao feto, principalmente a infecção puerperal que pode resultar em aborto ou parto prematuro.
     Portanto é imprescindível que a mulher grávida não entre em contato de maneira nenhuma com pacientes com escarlatina ou com qualquer outro paciente portador de doença contagiosa, mesmo que o paciente esteja no final do tratamento ou que esteja em período de convalescença.  Algumas doenças contagiosas ainda são transmissíveis mesmo depois de terminado o tratamento, principalmente pelas vias aéreas superiores.

Sequelas


  • Ÿ  Febre reumática
  • Ÿ  Glomerulonefrite difusa aguda
  • Ÿ  Doença reumática

Profilaxia

     Medidas gerais:
Ÿ 
 Roupas de cama e do doente devem ser lavadas separadamente;
Ÿ  Aconselhável que os utensílios do doente sejam separados;
Ÿ  Isolamento domiciliar é necessário, pois se trata de uma doença contagiosa e transmitida por gotículas de saliva, tosse ou espirro;
Ÿ  
Se o paciente for uma criança, é interessante que, a pessoa que for dar banho, faça uso de luvas de procedimento, pois a descamação da pele é uma fonte de infecção;
Ÿ  
Constantes e peridomicilares devem fazer profilaxia à base de sulfas e antibióticos, quando o teste de Dick for positivo.

FONTE

MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. GUIA DE BOLSO, 6ª edição revista Série B. Textos Básicos de Saúde, brasília / DF, 2006

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Bibliografia Complementar

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