sábado, 25 de janeiro de 2014

ATENÇÃO FARMACÊUTICA: CONCEITO E DESAFIOS

ATENÇÃO FARMACÊUTICA: CONCEITO E DESAFIOS

 Centro Universitário Newton Paiva, Juliana Leandro de Barros, Tayane Oliveira do Santos, Atenção Farmacêutica:Conceito e desafios, Belo Horizonte, 2008
Projeto de Monografia apresentado ao Curso de Graduação de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva, como requisito parcial à obtenção de crédito na disciplina de Leitura e Produção de texto Científico.
Orientadora: Daniela Machado. Belo Horizonte.2008
RESUMO
A Atenção Farmacêutica, prática relativamente recente no Brasil e no mundo, pode se entendida como um atendimento diferenciado do farmacêutico com o paciente. Individualidade, monitoração da farmacoterapia e o uso racional de medicamentos são algumas das características atribuídas à essa prática.
A implantação da Atenção Farmacêutica encontra dificuldades em diversos aspectos como, por exemplo, o desinteresse dos proprietários de farmácias e dos próprios farmacêuticos, a necessidade de uma infra-estrutura adequada e a disponibilidade do profissional em tempo integral.
A partir disso, foi realizada uma revisão de literatura seguida de uma pesquisa de campo, na qual elaborou-se questionário destinado a farmacêuticos em farmácias comunitárias privadas, com intuito de conhecer um pouco sobre a realidade da Atenção Farmacêutica no município de Belo Horizonte. Os resultados obtidos demonstram que a implantação dessa prática profissional é complexa, devido ao desconhecimento da prática, à necessidade de ambiente adequado e o desinteresse dos proprietários dos estabelecimentos farmacêuticos.
Assim, observou-se a importância de mobilizar os farmacêuticos para divulgação e difusão da implantação da Atenção Farmacêutica, a começar pela própria conscientização dos profissionais e empresários, já que ela contribui para a promoção da saúde.
Palavras-chaves: Atenção Farmacêutica; implantação da Atenção Farmacêutica; Promoção da Saúde.
1. INTRODUÇÃO
O medicamento é importante para a melhora da saúde, entretanto sua eficácia depende, dentre outros fatores, do seu uso racional 2 cuja orientação é realizada pelo farmacêutico. Esse profissional, por sua vez, deve realizar atividades vinculadas à promoção da saúde, tendo em vista o bem-estar do paciente. A recente prática profissional da Atenção Farmacêutica é um importante instrumento na promoção da saúde já que nela, o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico. 3
Para efetivar essa atividade, os profissionais farmacêuticos precisam, antes de qualquer coisa, conhecimento ou atualização nessa nova prática e dispor de fontes de informação independente e imparcial sobre medicamentos. 4 É preciso que os proprietários de farmácias comunitárias, em especial, tomem consciência da necessidade de implantá-la em seu estabelecimento, e criem um ambiente adequado para a execução desta atividade.
Atualmente, a farmácia comunitária é vista como um comércio e não como um estabelecimento de saúde. Quando presente, na maioria das vezes, o farmacêutico acumula funções gerenciais , burocráticas 4 e administrativas, assim não lhe sobra tempo para atender os pacientes de forma completa que seria a prestação de não apenas uma orientação de balcão, mas também a Atenção Farmacêutica.
Na condição de estabelecimento que integra os sistemas de saúde, a farmácia comunitária apresenta vantagens, tais como: fácil acesso a um profissional de saúde; condições adequadas para participação em campanhas sanitárias; redução de gastos com tratamentos, por possibilitar intervenção primária e encaminhamento à assistência médica; aumento na observância à terapêutica farmacológica prescrita,4 com conseqüente melhora na qualidade de vida do usuário.
O farmacêutico, mais do que nunca, tem um papel importante junto à construção de um novo modelo de atenção à saúde, onde ele possa estar inserido como profissional do medicamento, atuando como referência na orientação, cumprimento, acompanhamento e monitoramento da terapia farmacológica.
2. OBJETIVO
2.1. Objetivo Geral
Conceituar Atenção Farmacêutica e conhecer a atuação do farmacêutico neste contexto, verificando seus desafios.
2.2. Objetivos Específicos
1.     Conceituar Atenção Farmacêutica;
2.     Conceituar Promoção da Saúde, relacionando à Atenção Farmacêutica;
3.     Descrever atividades pertinentes à Atenção Farmacêutica;
4.     Demonstrar se a realidade permite a implantação da Atenção Farmacêutica, através de revisão de literatura e pesquisa de campo;
5.     Elaborar um questionário para realização de entrevistas com farmacêuticos que trabalhem em farmácias comunitárias;
6.     Conhecer as atividades desempenhadas pelo farmacêutico na Atenção Farmacêutica;
7.     Avaliar os farmacêuticos enquanto prestadores ou possíveis prestadores da Atenção Farmacêutica.
3. METODOLOGIA
A Metodologia empregada no estudo a respeito de Atenção Farmacêutica iniciou-se, num primeiro momento, com uma revisão de literatura em sítios consagrados como Scielo e Ministério da Saúde (ANVISA) que visou um conhecimento básico sobre o assunto, incluindo conceito e práticas pertinentes ao exercício da Atenção Farmacêutica, além de verificar a importância do profissional farmacêutico na promoção da saúde.
A partir desse conhecimento,baseando-se no artigo científico “Obstáculos da atenção farmacêutica no Brasil”5 foi preparado um questionário (Apêndice 1) com dez perguntas a serem realizadas para farmacêuticos que atuam em farmácias comunitárias a fim de avaliar sua satisfação enquanto profissional atuante nessa área e questionar a respeito da implantação da Atenção Farmacêutica nestas.
A terceira etapa foi reunir os resultados com a finalidade de organizar os dados coletados e compará-los analisando as conclusões da pesquisa de campo. Concluída esta etapa, finalizou-se a revisão de literatura, inserindo novos conteúdos, comentários e conhecimentos adquiridos na pesquisa de campo. E assim foi possível formular nossas próprias conclusões e considerações sobre o assunto.
4. REVISÃO DE LITERATURA
4.1.Cconceitos de Atenção Farmacêutica
A Atenção Farmacêutica, prática desempenhada pelo farmacêutico, foi inserida, de certo modo, recentemente na Assistência Farmacêutica. O termo Atenção Farmacêutica foi utilizado pela primeira vez por Mikeal (1975) como sendo “[...] a assistência que um determinado paciente necessita e recebe, que assegura um uso seguro e racional de medicamentos.” 3
Posteriormente, em publicações de ciências farmacêuticas, a primeira definição de atenção farmacêutica surgiu em um artigo publicado por Brodie et al (1980):
[...] em um sistema de saúde, o componente medicamento é estruturado para fornecer um padrão aceitável de atenção farmacêutica para pacientes ambulatoriais e internados. Atenção farmacêutica inclui a definição das necessidades farmacoterápicas do indivíduo e o fornecimento não apenas dos medicamentos necessários, mas também os serviços para garantir uma terapia segura e efetiva. Incluindo mecanismos de controle que facilitem a continuidade da assistência. 6
O conceito clássico dessa prática, formulado por Hepler & Strand (1990), baseia-se na responsabilidade farmacoterapêutica orientada com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes, atingindo, assim a promoção da saúde através da cura de uma doença; eliminação ou redução dos sintomas do paciente; interrupção ou retardamento do processo patológico, ou prevenção de uma enfermidade ou de um sintoma. idem
Segundo Linda Strand(1997), 6 o conceito de Atenção Farmacêutica estava incompleto, passando então a defender a definição como prática na qual o profissional assume a responsabilidade pela provisão das necessidades farmacoterápicas do paciente, visando o compromisso de resolvê-las.
Na ótica da OMS a Atenção Farmacêutica é
[...] um conceito de prática profissional na qual o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico. A atenção farmacêutica é o compêndio das atitudes, os comportamentos, os compromissos, as inquietudes, os valores éticos, as funções, os conhecimentos, as responsabilidades e as habilidades dos farmacêuticos na prestação da farmacoterapia com o objetivo de obter resultados terapêuticos definidos na saúde e na qualidade de vida do paciente. 6
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) propõe que Atenção Farmacêutica seja:
[...] um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e co-responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando um farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. 3
Esse conceito proposto pela OPAS foi adotado em 2005 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Na Espanha a atenção farmacêutica está desenvolvendo intensamente. O Consenso de Granada definiu atenção farmacêutica como:
[...] a participação ativa do farmacêutico na assistência ao paciente na dispensação e seguimento do tratamento farmacoterápico, cooperando com o médico e outros profissionais de saúde, a fim de conseguir resultados que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. Também prevê a participação do farmacêutico em atividades de promoção à saúde e prevenção de doenças. 3
Espejo acredita que essa atividade está inclusa no âmbito clínico, e uma de suas principais atividades é a farmacoterapia, definida como:
[...] a prática profissional na qual o farmacêutico se responsabiliza pelas necessidades do paciente relacionadas com os medicamentos mediante a detecção, prevenção e resolução de problemas relacionados com os medicamentos (PRM), de forma contínua, sistematizada e documentada, em colaboração com o próprio paciente e com os demais profissionais do sistema de saúde, com o propósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do paciente. 3
4.2. Conceitos de Promoção da Saúde
Os profissionais de saúde estão sendo cada vez mais cobrados para que sua atuação vá além de prevenir e recuperar a saúde, que inclua sumariamente a promoção da saúde no seu conceito mais completo. Para bem exercer as atividades pertinentes à promoção da saúde, é necessário ter conhecimento a respeito de seus conceito mais conhecidos:
Promoção da saúde é o conjunto de atividades, processos e recursos, de ordem institucional, governamental ou da cidadania, orientados a propiciar o melhoramento de condições de bem estar e acesso a bens e serviços sociais, que favoreçam o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e comportamentos favoráveis ao cuidado da saúde e o desenvolvimento de estratégias que permitam à população o maior controle sobre sua saúde e suas condições de vida, a nível individual e coletivo. 7
Para outro autor, promoção da saúde inclui a resolução dos problemas sociais a partir da integração de todos os grupos sociais:
A promoção da saúde como vem sendo entendida nos últimos 20-25 anos, representa uma estratégia promissora para enfrentar os múltiplos problemas de saúde que afetam as populações humanas e seus contornos nesse final de século. Partindo de uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus determinantes, propõe a articulação de saberes técnicos e populares, e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados, para seu enfrentamento e resolução. 7
A promoção da saúde, como uma das estratégias de produção de saúde, ou seja, como um modo de pensar e de operar articulado às demais políticas e tecnologias desenvolvidas no sistema de saúde brasileiro, contribui na construção de ações que possibilitam responder às necessidades sociais em saúde. 8
4.3. Origem da Atenção Farmacêutica
No século XX, o papel do farmacêutico associava-se à produção e comercialização de produtos medicinais, além disso, esse profissional apresentava grande vínculo com equipes de saúde e com o próprio paciente. No entanto, essa atuação tradicional sofreu uma diminuição, a partir da Segunda Guerra Mundial, em função do desenvolvimento da indústria farmacêutica. 9
Esse fato levou a um descompasso entre a formação do profissional e as ações demandadas pela sociedade, gerando uma frustração em alguns profissionais, pois os conhecimentos adquiridos na graduação já não eram mais aplicados de forma permanente na prática diária e acabavam se perdendo. 9
A partir de então, o farmacêutico relacionado à área assistencialista distanciou-se das equipes de saúde e dos pacientes, passando a ser visto apenas como um dispensador de produtos fabricados.
Nesse contexto surgiram, na década de 1960, líderes profissionais e educadores norte-americanos que organizaram um movimento profissional com a finalidade de questionar a formação e as atitudes do farmacêutico, bem como corrigir possíveis erros cometidos no exercício de sua profissão. Além disso, discutia-se o conceito de “orientação ao paciente” cuja conseqüência foi à criação do termo Farmácia Clínica, a qual é “compreendida como uma atividade que permitiria novamente aos farmacêuticos participar da equipe de saúde, contribuindo com seus conhecimentos para melhora o cuidado com a saúde do paciente”. 9
Segundo o Comitê de Farmácia Clínica, da Associação dos Farmacêuticos de Hospital dos EUA, a Farmácia Clínica é uma ciência da saúde cuja responsabilidade é assegurar, mediante a aplicação de conhecimentos e funções relacionadas com o cuidado dos pacientes, que o uso dos medicamentos seja seguro e apropriado, necessitando de educação especializada e/ou treinamento estruturado. Requer, além disso, que a coleta e interpretação de dados sejam criteriosas, que exista motivação pelo paciente e que existam interações interprofissionais. 9
Esses conceitos, após serem difundidos mundialmente, despertaram interesses no Brasil na década de 1980, especialmente na área hospitalar. Entretanto, a atividade clínica exercida pelo farmacêutico não deve ser restrita a uma determinada área, pois a exposição de agravos relacionados aos efeitos medicamentosos está presente em qualquer ambiente que haja usuários de medicamentos. 9
A Farmácia Clínica, por sua vez, significou a introdução da orientação prática farmacêutica ao paciente, mesmo apresentando ainda alguns conceitos que enfatizavam o medicamento e não o paciente. A partir então surgiu, entre o final da década de 1980 e o início de 1990, o conceito de Atenção Farmacêutica, a fim de redirecionar o farmacêutico clínico à prestação de serviços para a assistência individual. 9
Assim, a proposta da Atenção Farmacêutica é baseada no acompanhamento farmacoterapêutico do paciente por meio de sua orientação, associado a prestação de serviços farmacêuticos de qualidade, o que contribui para prevenir e detectar resultados negativos da farmacoterapia para serem solucionados.
4.4. Atividades Pertinentes à Atenção Farmacêutica
Segundo o Código de Ética da Profissão Farmacêutica, “o farmacêutico é um profissional da saúde, cumprindo-lhe executar todas as atividades inerentes ao âmbito profissional farmacêutico de modo a contribuir para a salvaguarda da saúde pública e, ainda, todas as ações de educação dirigidas à comunidade na promoção da saúde”.10
Sendo o farmacêutico um profissional muito próximo das pessoas e das comunidades, tem grandes possibilidades de interação e de influenciar em vários âmbitos. 11Dessa forma é importante que o farmacêutico desenvolva atividades que modifique positivamente o comportamento da comunidade, já que nesta posição estratégica, ele é capaz de orientar o paciente e atuar como agente sanitário de acesso fácil para a população e suas funções não se limitam à dispensação, devendo abranger um ato profissional muito mais amplo, em que deve expor todo seu conhecimento especializado, orientando também mudanças em hábitos alimentares e estilo de vida. Mas isso só é possível se o profissional estiver disposto e disponível para atuar veemente na construção da Atenção Farmacêutica, principal atividade vinculada a estes cuidados.
Além desta, existem algumas atividades essenciais para considerá-la implantada. Dentre as principais atividade que a caracterizam inclui-se a detecção de suspeita de reações adversas e de intoxicações por medicamentos, orientação ao paciente, comunicar ao prescritor e notificar o evento.
Segundo Vidotti e Silva 12, a implantação de ações de Atenção Farmacêutica são muito importantes para aumentar a aderência ao tratamento, prevenir intoxicações, promover o uso e armazenamento de forma segura, prevenir o surgimento de problemas relacionados aos medicamentos (PRM), melhora na qualidade de comunicação com o paciente, elaboração de educação em saúde e campanhas vinculadas às necessidades da comunidade.
Em um programa de Atenção Farmacêutica, o farmacêutico passa a conhecer melhor o paciente. Sabe não apenas que medicamentos ele toma e de que maneira o faz, mas também como se sente com o tratamento e com seu problema de saúde. Na prática, o farmacêutico, de maneira organizada, coleta e avalia informações sobre o paciente, incluindo a identificação possíveis Problemas Relacionados ao uso de Medicamentos (PRM). Identificado o problema, busca a solução, formula e coloca em prática um plano para corrigi-lo. Para executar este programa de atenção farmacêutica, o profissional necessita ampliar suas habilidades e conhecimentos além daqueles utilizados na prática tradicional. 12
Outras atividades também são muito úteis e poderiam ser desempenhadas na farmácia comunitária, respeitando a legislação sanitária: aconselhamento ao paciente; educação e promoção da saúde; aconselhamento em planejamento familiar e teste de gravidez; participação em campanhas de sanitárias, apoio à interrupção do fumo,12 entre outras.
Através da Atenção Farmacêutica, o profissional pode levar o paciente a realizar atividades de auto cuidado, a partir do aconselhamento sobre o fornecimento de um medicamento ou outro tratamento que levam os pacientes à automedicação gerar a consciência de que o paciente guarda para si o controle e a responsabilidade sobre sua saúde. 12
Adicionalmente, o desenvolvimento de programas de Atenção Farmacêutica deve ser feito com planejamento, implementação e avaliação dos resultados. Por isso, o registro das atividades faz parte do processo da Atenção Farmacêutica,12 o que permitirá a análise do acompanhamento farmacoterapêutico, se as atividades executadas melhoram o estado de saúde do paciente.
Segue uma figura que descreve sucintamente todas as atividades relacionadas com a Atenção Farmacêutica. A figura deixa claro a necessidade de feedback, já que desta forma é possível prever novas situações, realizar uma devida programação, além de, é claro realizar a farmacovigilância. É válido lembrar que as atividades a serem realizadas estão diretamente ligadas ao comportamento dos pacientes, e devem estar sempre voltadas para o bem-estar destes.
4.5. Desafios para a Implantação da Atenção Farmacêutica
A Atenção Farmacêutica no Brasil encontra obstáculos para a sua implantação, em função, por exemplo, do desinteresse tanto por parte dos proprietários de farmácias comunitárias, quanto dos farmacêuticos em aderi-la.1
A prática dessa atividade profissional “exige ampla mobilização de profissionais e acadêmicos.” Para isso, inicialmente houve a elaboração da Proposta de Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica e de novas diretrizes curriculares dos cursos de farmácia, as quais:
“[...] enfocam a atuação como profissional da saúde, e exige do farmacêutico a busca de um nível de aperfeiçoamento interdisciplinar condizente com as novas responsabilidades, remetendo-o a assumir efetivamente a autonomia de seu cargo liberal, incorporando os componentes da moral, ética e ideologia dentro de sua atuação.“ 1
A contribuição da Atenção Farmacêutica para a sociedade, tendo em vista o uso racional de medicamentos e a melhoria da qualidade de vida do paciente em conseqüência da promoção da saúde, ressalta a importância dessa atividade ser implantada. Para isso, o desafio deve ser enfrentado a partir dos próprios farmacêuticos.
“Neste contexto, ocorre a necessidade do estímulo aos acadêmicos e profissionais recém-formados, os quais possuem íntegra a energia e o anseio de colaboração com a saúde da comunidade, de modo que ultrapasse as barreiras para realização de programas de Atenção Farmacêutica, implantando-os além das perspectivas de aceitação pela administração geral do estabelecimento farmacêutico e promovendo admissão e entendimento da real necessidade do programa por parte da comunidade atendida.” 1
4.6. A Atenção Farmacêutica na Promoção da Saúde
Em 1962, ocorreu uma epidemia de focomelia ocasionada pelo uso da talidomida por gestantes, o que desencadeou uma reflexão sobre o uso dos medicamentos, fazendo surgir ações de farmacovigilância. Com intuito de desenvolver maior atenção à saúde do paciente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou na década de 1970 documentos que motivaram diversos países a promoverem uso racional de medicamentos. Para isso, a atuação do farmacêutico na farmacoterapia fazia-se relevante.11
Nesse contexto, avaliou-se a possibilidade de intervenção desse profissional na efetividade terapêutica a partir da Atenção Farmacêutica, por meio de:
• Acompanhamento e educação do e para o paciente;
• Avaliação dos seus fatores de risco;
• Prevenção da saúde;
• Promoção da saúde e vigilância das doenças;
• Disposição de serviços de prevenção clínica;
• Vigilância e publicações em saúde pública e
• Promoção do uso racional de medicamentos pela sociedade. 11
Os serviços fornecidos pela farmácia devem complementar o serviço médico na atenção à saúde. O paciente com acesso a um tratamento prescrito que atendesse à racionalidade terapêutica, juntamente com a avaliação de fatores que podem interferir em seu tratamento, teria uma segurança maior na resolução de seus problemas. 11 A Atenção Farmacêutica visa proporcionar benefícios como esse, o que reforça a importância de sua implantação.
A conduta do farmacêutico deve basear-se em responsabilidade, respeito, consciência, entre outros, para a promoção da saúde. Afinal, ele “é o último profissional de saúde que tem contato direto com o paciente depois da decisão médica pela terapia farmacológica”. 11
O farmacêutico está voltando a cumprir o seu papel perante a sociedade, corresponsabilizando-se pelo bem estar do paciente e trabalhando para que este não tenha sua qualidade de vida comprometida por um problema evitável, decorrente de uma terapia farmacológica. Este é um compromisso de extrema relevância, já que os eventos adversos a medicamentos são considerados hoje uma patologia emergente e são responsáveis por grandes perdas, sejam estas de ordem financeira ou de vida. 10
Além da humanização profissional, há também aspectos relacionados ao ambiente do atendimento para se realizar a Atenção Farmacêutica. É necessário que haja instalações adequadas o suficiente para causar bem-estar e confiança ao paciente, fazendo com que o farmacêutico possa atendê-lo em sala reservada, de forma a garantir a privacidade no atendimento. 11
E partindo do pressuposto que a promoção da saúde é o processo que permite às pessoas aumentar o controle sobre, e melhorar, sua saúde, e que a farmácia comunitária é o local de atenção primária mais acessível da comunidade, o farmacêutico comunitário tem grande importância nesse processo, não somente no ato de dispensar medicamentos, mas também como educador em saúde e promotor do auto cuidado que são práticas incluídas na Atenção Farmacêutica. 3
5. Resultados e Discussão
A prática e a ideologia de Atenção Farmacêutica são recente no contexto da promoção da saúde no Brasil. Sua implantação tem encontrado inúmeros obstáculos como infra-estrutura, disponibilidade do farmacêutico, número de funcionários, falta de conhecimento por parte da população e dos farmacêuticos com formação anterior ao surgimento da Atenção Farmacêutica ou com formação deficiente neste âmbito.
No período de 21 de maio a 2 de junho, foram realizadas 13 entrevistas com farmacêuticos que atuam em farmácias comunitárias no município de Belo Horizonte, a fim de verificar a realidade da Atenção Farmacêutica, bem como avaliar a satisfação do profissional em atuar nessa área.
Dentre os entrevistados, 92,30% gostam da área em que atuam já que é possível terem contato direto com a população. Todos dizem que possuem liberdade para atuarem plenamente como farmacêuticos, ainda que 69,23% precisem dividir seu tempo com as atividades administrativas e gerenciais na farmácia comunitária. No entanto, quanto ao aspecto financeiro, os entrevistados acreditam que a remuneração é incompatível com as responsabilidades que eles assumem; houve queixas a respeito dos profissionais que aceitam trabalhar com remuneração abaixo do estabelecido pelo piso salarial, situação proibida pelo Código de Ética do Farmacêutico 10 e que inclusive contribui para a desvalorização do profissional.
Quanto à formação dos farmacêuticos entrevistados, observou-se que 38,46% possuem cursos de pós-graduação, 7,69% estão cursando e 53,84% não possuem cursos de pós-graduação e não possuem perspectivas de fazê-lo devido a questões financeiras e relativas a tempo disponível.
Em relação às perspectivas de crescimento dentro da empresa, 20,07% não possuem nenhuma perspectiva, 38,46% possuem possibilidade de subirem de cargo de acordo com seu desempenho e tempo de experiência e 38,46% são proprietários ou já atingiram o nível máximo de crescimento dentro da empresa.
Tendo em vista o atendimento aos clientes no balcão,verificou-se que 76,93% dos farmacêuticos entrevistados não recebem comissão sobre vendas e por isso não são rejeitados pelos balconistas; 23,07% recebem comissão sobre vendas o que às vezes causa concorrência entre o farmacêutico e o balconista.
Durante as entrevistas, questionou-se a respeito da implantação da Atenção Farmacêutica, 38,46% acreditam que já estão a colocando em prática, entretanto observou-se que estes entrevistados desconhecem o que de fato é Atenção Farmacêutica, e confundem com a simples orientação dada a qualquer paciente que peça alguma informação ou esclarecimento de dúvidas no ato da dispensação. Observou-se também a existência de farmacêuticos que vêem no atendimento diferenciado de grupos de pacientes, com destaque para diabéticos e hipertensos, como sendo uma prática da Atenção Farmacêutica.
Já 61,54% dos entrevistados sabem que não colocam em prática a Atenção Farmacêutica e justificam a ausência desta como sendo devido a impossibilidade de permanência de um farmacêutico em período integral apenas para realizá-la, além disso, seria necessário um ambiente organizado de forma específica para esse atendimento com formulários para o arquivamento do histórico de saúde e uso de medicamentos dos pacientes.
Na opinião desse último grupo de farmacêuticos, a Atenção Farmacêutica é uma prática interessante que contribuiria para a promoção da saúde, visto que o paciente seria melhor orientado, faria o uso racional dos medicamentos e a detecção de Problemas Relacionados a Medicamentos (PRM), durante o tratamento, seria mais eficiente.
6. CONCLUSÃO
A Atenção Farmacêutica apresenta conceito abrangente, o qual envolve a prestação de uma assistência individualizada voltada para a avaliação da terapia farmacológica, as reações adversas, uso racional de medicamentos, eficácia do tratamento e outros Problemas Relacionados a Medicamentos (PRM).
Para efetivar a prática da Atenção Farmacêutica, é necessário a adesão dos farmacêuticos, dos proprietários de farmácias comunitárias e da população que, em geral, desconhece essa prática. Sendo assim, a implantação da Atenção Farmacêutica exige investimentos nos aspectos financeiros e acadêmicos, além da motivação dos farmacêuticos no seu exercício profissional.
De acordo com a pesquisa de campo realizada, constatou-se que a Atenção Farmacêutica enfrenta desafios para sua implantação. A disponibilidade do farmacêutico, o conhecimento sobre essa prática, a infra-estrutura adequada e o interesse de investimentos dos empresários são elementos fundamentais para a implantação da Atenção Farmacêutica. Observou-se a ausência desses elementos nas farmácias comunitárias visitadas, além do que alguns farmacêuticos, apesar de acreditarem que praticam a Atenção Farmacêutica, não conhecem realmente o que é essa prática profissional.
A implantação da Atenção Farmacêutica beneficiaria toda a população, uma vez que ela reduziria os agravos relacionados a medicamentos. Dessa forma, o envolvimento do farmacêutico com a Promoção da Saúde seria maior, sua atividade estaria diretamente vinculada ao bem estar do paciente o que reforça a importância de colocar a Atenção Farmacêutica, atividade que implementa os serviços farmacêuticos, em prática.
7. REFERÊNCIAS
1.     SANTOS, M.S., LIMA,L.T., VIEIRA, M.R.S. Por que o farmacêutico se afastou das drogarias? Análise do interesse dos farmacêuticos da cidade de Santos (SP) em trabalhar com dispensação de medicamentos. Revista Infarma., Santos, SP, v.17,n.5/6,p.78-82, 2005.
2.     Seminário Internacional: Os Desafios para uma Assistência Farmacêutica Integral; 30 de setembro a 2 de outubro de 2002 OPAS/OMS - Brasília/DF, Brasil. Disponível em: . Acesso em 07 de junho de 2008.
3.     NASCIMENTO, YONE ALMEIDA; UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG . Faculdade de Farmácia.Avaliação de resultados de um serviço de atenção farmacêutica em Belo Horizonte. 2004. 130 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Farmácia
4.     Vidotti, C.C.F. ; Silva,E.V., Apoio à transformação do exercício profissional do farmacêutico na farmácia comunitária Ano XI Número 01 jan-fev/2006 Ano X Número 05 out-dez/2005 Conselho Federal de Farmácia Centro Brasileiro de informação sobre Medicamentos CEBRIM/CFF FARMACOTERAPEUTICA Disponível em: Acesso em 10 de junho de 2008.
5.     OLIVEIRA, Andrezza Beatriz et al. Obstáculos da atenção farmacêutica no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas., Curitiba, PR.,v. 41, n.4, p.409-413, out./dez., 2005.
6.     REIS, A.M.M. Atenção Farmacêutica e o uso racional de medicamentos. Disponível em: atencao
farmauso.doc>. Acesso em: 28 maio 2008.
7.     Freitas,C.M.; Czeresnia,D.,Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências  Dina Czeresnia, Carlos Machado de Freitas (org.)Rio de Janeiro: Fiocruz, 2004.
8.     Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde 2006. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. Disponível em: . Acesso em 21 de maio de 2008
9.     REVISTA RACINE. São Paulo, SP.: Grupo Racine, n.103, mar./abr., p.8-22, 2008.
10. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Resolução nº 417 de 29 de setembro de 2004. Código de ética da profissão farmacêutica. Brasília, DF; 17 nov. 2004. , Seção 1, pp. 306/307. Disponível em . Acesso em: 26 de maio 2008.
11. VIEIRA, F.S. Possibilidades de contribuição do farmacêutico para a promoção da saúde. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, RJ., jan./mar. 2007. Disponível em . Acesso em: 28 de maio 2008.

12. Vidotti, C.C.F. ; Silva,E.V., Elementos para apoiar a prática farmacêutica na farmácia comunitária Ano XI Número 03 mai-jun/2006 Conselho Federal de Farmácia Centro Brasileiro de informação sobre Medicamentos CEBRIM/CFF Farmacoterapêutica. Disponível em: Acesso em 09 de junho de 2008

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